Crítica Assassin’s Creed (2017)
Com enredo simples porém bem adaptado ao presente, Assassin’s Creed faz sua estréia no cinema trazendo uma história inédita e fazendo bom uso dos elementos e mecânicas já conhecidas do jogo, confira nossa crítica do filme da Ubisoft.
Esqueça a história. Se apegue ao conceito. Esse é o primeiro passo para que você possa aproveitar a experiência que o filme de Assassin’s Creed tem a lhe oferecer, o maior problema dos filmes “baseados” em jogos é a expectativa errada do expectador que vai ao cinema esperando ver um jogo em live action.
Eu sei, a série Assassin’s Creed é o que é devido a sua história e os personagens icônicos que dela fazem parte, mas convenhamos que muito do que vimos e passamos no jogo, não seria bem adaptado para as telonas e causaria histeria nos fãs, por outro lado, não segui-la também causaria, ou seja, temos um impasse. Repito agora o que eu disse no começo da crítica: se apegue apenas ao conceito.
A proposta da Ubisoft para os cinemas é ousada, no jogo, o jogador é levado ao seguinte cenário: os descendentes dos assassinos pertencentes ao Credo de diferentes épocas são levados a reviver as memórias dos seus antepassados através de um sistema chamado Animus, que usa os traços do seu DNA para estimular suas memórias.
A empresa por trás de tal projeto é a Abstergo, uma organização que diz buscar a paz mundial, mas que na verdade tem suas raízes ligadas aos templários, cavaleiros comandados pela igreja e inimigos do Credo dos Assassinos, e que buscam a extinção do livre-arbítrio através da Maçã, um antigo artefato que contém o código genético humano.
O filme, usa estes elementos de forma sábia, conectando-os com o tempo presente (o filme se passa em 2016), mas dando vez a um novo protagonista e seu antepassado, Callum Lynch é um criminoso que viu sua mãe ser assassinada por seu próprio pai, que vestido de assassino o mandou fugir para que “eles” não o encontrassem. Seu antepassado é Aguilar de Nerha, membro do Credo na época da Inquisição Espanhola e o homem que colocou as mãos por último na Maçã.
Logo de cara é possível compreender a que o filme veio, fazendo uso do contexto e do conceito criado nos jogos da série, a Ubisoft desenvolveu uma inédita e “versão atualizada” de tudo que o jogador viu até agora, fazendo uso de uma linguagem mais atual e bastante utilizada nos filmes de ação e ficção.
É claro, nem tudo são rosas, o personagem de Lynch tem uma origem um pouco confusa, diria até que rasa, mesmo a atuação de Michael Fassbender não foi suficiente para torná-lo um “queridinho” dos fãs como Ezio Auditore ou Edward Kenway, ambos personagens do jogo. Porém, ao decorrer do filme, o espectador passa a entender suas motivações e torcer por ele, ainda assim, só lhe é dado um motivo para estar ali e lutar pela causa próximo do final do filme.
Felizmente, essa falta de “simpatia” é preenchida por incríveis cenas de ação e uma fotografia incrível. O filme sabe dosar bem as cenas do passado com o presente. Em alguns momentos, ambas as “linhas temporais” se intercalam, quando conectado, Lynch parece não ter consciência de suas ações como Aguilar, tudo o que acontece é uma representação fiel dos fatos da época, sendo reproduzidas visualmente por ele e através de projeções por aquelas presentes na sala do Animus.
Falando em ação, ponto super positivo para o filme nesse quesito, tanto as coreografias de luta quanto as cenas de Parkour e perseguição foram muito bem feitas. É comum em filmes e séries que tem inspiração em combates “fantasiosos” vermos coreografias que parecem terem sido feitas de forma amadora, felizmente em Assassin’s Creed isso não acontece, aliadas a uma empolgante trilha sonora, todas as cenas prendem a atenção e nos fazem até pensar que estamos dentro do jogo.
O Animus do filme é diferente do que vimos no jogo, ao invés de deitar numa cama/cadeira e usar uma espécie de capacete, no filme, um braço articulado se prende a cintura de Lynch, uma Hidden Blade é colocada em cada uma de suas mãos e a conexão neural é feita através de um dispositivo conectado a espinha do protagonista. Dessa forma, ele consegue reproduzir suas ações para quem o assiste. Os fãs mais atenciosos vão conseguir identificar alguns easter eggs em algumas cenas, como a cadeira usada no jogo, ao fundo da sala.
Particularmente achei essa abordagem mais instigante, já que no jogo, o “mundo real” é explorado de forma chata e rasa, diferente do filme, onde a trama está diretamente conectada ao mundo presente, reservando-nos inclusive diversas cenas de ação e algumas surpresas, que dão liga ao filme e tem suma importância para os acontecimentos de uma possível continuação.
Como todo filme baseado em jogo, a história tem seus furos, algumas coisas parecem meio bobas, mas olhando por uma perspectiva menos “fan service”, o filme é seguro e bem feito, fazendo jus ao seu orçamento e a nomes de peso da indústria do cinema no elenco. Um paralelo a Assassin’s Creed no cinema é o filme também baseado em um jogo da Ubisoft, Prince of Persia.
Calma, Prince of Persia peca por tentar ser um grande sucesso da Disney, e apesar das incríveis cenas de ação, tem demasiadas cenas de humor e um tom mais infantil, o que não acontece com Assassin’s Creed, que mantem um tom adulto e sóbrio durante todo o tempo.
Para quem nunca jogou ou sequer ouviu falar sobre Assassin’s Creed, o filme pode deixar algumas lacunas, talvez alguns diálogos a mais ou flashbacks fossem uma forma de contar um pouco sobre a Abstergo ou mesmo sobre o Credo. Se você é fã da franquia, não se deixe abalar por comentários ou críticas ao filme, Assassin’s Creed vale o seu ingresso e é uma excelente forma de expandir o universo da franquia, podendo quem sabe no futuro servir de conexão para os jogos e vice-versa.