Análise Darksiders: Warmastered Edition
Nos colocando no papel de um dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, Darksiders: Warmastered Edition é um excelente jogo para os fãs de um bom hack ‘n’ slash com um belíssimo cenário e criaturas mitológicas.
Darksiders é produto de uma escola artística. Um período criativo na história dos jogos iniciado ou ao menos popularizado por God of War: jogos de ação no estilo hack ‘n’ slash em que cada inimigo derrotado rende pontos coletados através de Orbs coloridos que voam em direção ao protagonista. É isso.
Essa remasterização do jogo de 2010, subtitulado Warmastered Edition deixou ainda mais bonita a direção de arte marcante da série Darksiders e é uma boa oportunidade pra quem sente falta do gênero de ação em terceira pessoa muito popular na geração passada (PS3 e Xbox 360).
War. It’s fantastic.
Darksiders usa como cenário de fundo os elementos do juízo final da mitologia cristã (paralelo explícito com a franquia da Sony, baseada na mitologia grega) e nos coloca no controle de Guerra, um dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, que precisa restabelecer o equilíbrio entre bem e mau pois o juízo final foi iniciado antes da hora e ele foi considerado o responsável pelo fim dos tempos.
O cenário urbano do jogo, embora vazio de pessoas comuns, procura trazer a trama mais pra perto do jogador e assim avançamos por ruas, prédios e esgotos em meio a carros abandonados e estações subterrâneas. Após uma introdução rápida em que Guerra é mostrado como um guerreiro no auge de seus poderes, somos introduzidos à sua busca por redenção e é nessa hora que entra em cena aquele recurso bastante explorado em séries de ação: perdemos todos os equipamentos e teremos que recuperar nossas habilidades novamente. Pelo menos ganhamos um guia cuja voz é feita pelo querido mestre Jedi, Mark Hamill, na figura do demônio conhecido como Observador.
Eu sou mesmo exagerado
Salta aos olhos a direção artística dos personagens que faz todos serem brutamontes saídos de quadrinhos dos anos 90. É como um filme animado que usa estética de personagens oitentistas e essa decisão impõe um peso em Guerra que acaba atrapalhando a fluidez da progressão pelo cenário.
O herói é lento e mesmo com a habilidade de dar pequenos impulsos como em Megaman X, nem sempre é prazeroso percorrer a quantidade de corredores e ruas presentes nos cenários. O oposto ocorre quando mergulhamos em áreas com água; o efeito visual da submersão é bem simples mas me agradou bastante e nessa situação, nadar e usar o botão de impulso é bem divertido (uma área me lembrou muito Duke Nukem 3D, adorei), pena que o jogo não explore fases aquáticas de maneira mais complexa.
Se o jogo tem poucas áreas embaixo d’água, o mesmo não pode ser dito dos puzzles, a ponto de tornar o combate um elemento secundário em certas vezes. Toda progressão pelas áreas do jogo está condicionada à resolução de enigmas com caixas, bombas, elevadores e alavancas e mesmo com alguns sendo bastante inteligentes, eu acabei achando cansativo – enquanto eu queria avançar na história, o jogo me presenteava com salas complexas e mecanismos vez após vez até eu alcançar o chefe da fase.
A parte boa é que mesmo os chefes são enigmas vivos e requerem mais do que só força para serem derrotados, alguns são bastante interessantes como uma aranha gigante com partes feitas de cristal e um verme gigante que te persegue por baixo da terra como em Ataque dos Vermes Malditos (OK, Shadow of The Colossus também mandou lembranças).
Metrô 743
A dinâmica da porção principal do jogo se desenvolve com Guerra viajando por diversas fases distintas a fim de recuperar o coração de cada um dos 4 chefes principais para que no final o caminho esteja livre e enfrentemos o Destruidor, entidade responsável pela bagunça toda. Sendo 4 chefes, o jogo se divide distintamente entre labirintos e áreas amplas onde é possível correr com agilidade.
A questão da agilidade é resolvida com um auxílio obtido a certa altura do jogo, já a primeira parte é que sofre pois se passa quase toda em linhas de transporte subterrâneo. Usamos os túneis do metrô como corredor, vagões de metrô como plataformas e peças de puzzle, mergulhamos pelas linhas de metrô submersas e isso fica tão cansativo quanto ler “metrô”” 4 vezes seguidas numa só sentença. Ainda bem que esse excesso de corredores é amenizado pelo combate baseado em combos, poderes e movimentos de finalização em câmera lenta. Guerra evolui comprando habilidades e recebendo alguns ítens após certas batalhas como uma foice e um gancho para alcançar áreas secretas. O menu de itens desbloqueáveis é compatível com a evolução da nosso aprendizado e assim o combate nunca se torna enfadonho – a habilidade de se transformar em um demônio alado gigante é um ponto altíssimo!
Fantasia Mitológica não é bagunça
Darksiders não é um jogo AAA e tampouco pode exibir qualidades a frente do seu tempo mas algumas inconsistências acabam roubando a imersão e curiosamente o que é coerente com o estilo artístico do jogo nem sempre funciona no universo que ele apresenta. Um exemplo é que nas fases aquáticas, Guerra, o cavaleiro do apocalipse, precisa enfrentar peixes elétricos mutantes. Ainda que o design dos monstros esteja em sintonia com o ambiente à sua volta, ele bate de frente com a temática do jogo do mesmo jeito que a repetição excessiva de áreas no metrô.
Além disso, tive que passar por uma espécie de tutorial atrasado, em que precisei entrar em 4 arenas pra derrotar grupos de inimigos utilizando técnicas de combate específicas em um período de tempo. Não tem nada de épico nisso. Mesmo com essas escorregadas, o jogo é sólido e não presenciei bugs ou glitches, exceto um logo no início da campanha: precisei comprar um artefato que seria usado pra abrir uma passagem. Algo aconteceu errado porque não recebi o item e ele sumiu do inventário do Vulgrim, o demônio comerciante nesse universo. Reiniciei o jogo, repeti a área e segui normalmente.
Smells Like Teen Spirit
Darksiders: Warmastered Edition me parece uma ótima indicação para jovens adolescentes ou pra quem ainda não viu muita coisa em termos de jogos de ação e um ponto que reforça isso são suas escolhas de temática e design (mesmo as inconsistências). Ele não se coloca como um jogo para adultos como God of War que possui certo grau de nudez e violência gráfica e a história dele também não procura levantar questões sobre fatalidade das escolhas e destinos amaldiçoados como Castlevania Lords of Shadow.
Darksiders se coloca bem entre esses dois títulos com gráficos vibrantes e uma história simples protagonizada por guerreiros que podem não ser muito realistas mas possuem personalidades valorosas e carisma.