Análise The Surge
Sendo uma “sequência não direta” de Lords of The Fallen, The Surge é o segundo título da Deck13 a implementar as boas mecânicas de combate baseadas em ataque e esquiva e traz um ambiente cyberpunk com máquinas e humanos que usam exoesqueletos.
Nem todo jogo precisa reinventar a roda, ser pioneiro estabelecer os novos padrões da indústria, etc. The Last of Us por exemplo, é amado e reverenciado por 10 entre 10 pessoas que testemunharam o trágico fim da aventura de Ellie e Joel não por ser revolucionário, mas o ápice (ou quase) da fórmula apresentada em Resident Evil 4 – esse sim, foi divisor de águas.
The Surge foi anunciado em 2016 e é uma espécie de “sequência” de Lords of The Fallen, embora não tenha qualquer relação com a trama desse jogo e sejam similares no sistema de combate fortemente inspirado na série “Souls”, pela qual a From Software ganhou fama.
O jogo da Deck13 Interactive vem para preencher a lacuna deixada pelo encerramento da série Dark Souls, após o terceiro título e dessa vez – assim como fez Bloodborne – deixa de lado a temática medieval em favor de um ambiente industrial, levemente cyberpunk. Deu certo? A Deck13 é a nova From Software? Temos um sucessor digno de redimir o fraco Lords of the Fallen? Sim e não.
Iron Man
No universo criado pelado Deck13, as coisas estão ruins a ponto de Warren, nosso protagonista, aceitar ter um exoesqueleto implantado pela companhia CREO. Parece um exagero distópico até que temos conhecimento do fato que torna essa escolha plausível:
Eu só comecei #TheSurge e já gostei de controlar uma cadeira de rodas pela primeira vez num videogame pic.twitter.com/kHnSFFprCE
— Diego Matias – #SuperContraPodcast (@DiegoMatias) May 19, 2017
Após esta breve introdução, o jogo nos mostra o pesadelo em que Warren se meteu e mesmo com novas habilidades, precisamos lutar pela sobrevivência numa fábrica destruída e cheia de gente e equipamento hostis e é aí que entra a jogabilidade inspirada no padrão popularizado pela From Software, com algumas diferenças notáveis.
Em The Surge, Warren “veste” seu exoesqueleto que funciona para proteção corporal e usa diversas ferramentas como arma, como cortadores industriais, alguns são elétricos outros são uns “porretões” enormes mesmo. O conjunto de armaduras varia em procedência – fabricantes mesmo – e é possível usar diferentes partes para pernas e peito, por exemplo, ou conseguir um conjunto com todas as partes de um fabricante único e, claro, receber um bônus por isso.
Conforme avançamos, é possível fabricar outras partes cujas instruções de fabricação estejam disponíveis e para isso utilizamos a melhor mecânica do jogo: o desmembramento! Os inimigos em The Surge também usam seus exoesqueletos que podem estar mais ou menos completos do que o nosso, o que torna o dano variável em cada parte do corpo e é bem simples identificar quais áreas estão desprotegidas pela trava da visão do Warren. Ao apertar o L3, a trava inicial é no peito do inimigo, com um toque do analógico pra qualquer direção e a trava passa a focar em um membro do corpo (cabeça, braços, pernas e peito) e se você acertar o membro o suficiente, pode remover o componente do seu interesse – juntamente com o braço, perna, cabeça ou partindo o inimigo ao meio!
Essa mecânica maravilhosa de desmembramento vem acompanhada de execuções em câmera lenta, um pouco ao estilo que vimos em For Honor , e como os encontros são feitos para serem difíceis é muito gratificante executar uma finalização. Além da armadura, temos à disposição um drone para auxiliar no combate, atraindo a atenção dos inimigos e atacando com de maneira autônoma ao custo de energia, uma barra que cresce com ataques simultâneos. Essa barra de energia também pode ser usada para outros benefícios, de acordo com os implantes utilizados pelo personagem, bastante similar a como acontece em NieR: Automata.
Fábrica
Lendo tudo isso, a impressão é de que The Surge acrescenta novidades a uma fórmula de combate já bem estabelecida, mas para um jogo se destacar, é preciso mais do que inovações. The Surge apresenta novidades muito bem vindas nos espaços que Dark Souls e Bloodborne não puderam chegar por imposições de design mas tropeça quando não consegue fazer o que a série japonesa faz com maestria: o combate.
O combate popularizado é o ponto alto em jogos em que a progressão redefinida pela nossa habilidade em vencer inimigos difíceis, afinal todos os elementos de cenário e inteligência artificial estão contra o jogador que tem à sua disposição apenas a possibilidade de se tornar melhor. Fosse o combate em Demon Souls frustrante e ele seria apenas um RPG japonês obscuro, não teria gerado ~sequências~ e eu sequer estaria aqui escrevendo sobre um jogo ocidental baseado nele. Infelizmente o combate em The Surge deixa a desejar quando não consegue entregar fluidez e variedade.
Golpes fracos e fortes dão lugar aos golpes horizontais e verticais e como estamos numa fábrica distópica, não temos escudo mas sim a própria arma/ferramenta para fins de defesa e aí está o problema: não é possível andar e defender ao mesmo tempo. O personagem tem uma esquiva, pode desviar de golpes altos se abaixando e de golpes baixos dando um pulo mas não sai do lugar como se estivesse apontando uma arma em Resident Evil 1. Isso atrapalha principalmente na hora da luta com o chefe porque Warren não é veloz como um caçador em Bloodborne – ele usa uma armadura de metal, oras – então temos que aprender a lutar apenas desviando e atacando. Algo como tentar jogar Dark Souls sem escudo. É possível mas também torna algumas lutas é difíceis e frustrantes especialmente nas lutas contra chefes, e não existe nenhuma opção de cooperação online.
O jogo se passa quase todo dentro das instalações da CREO e então não vemos uma grande variedade de ambientes mas por vezes passamos por áreas onde a pouca iluminação e a música ajudam a criar um clima bastante tenso que chega a lembrar títulos de Ficção e Horror como Alien Isolation ou Dead Space.
Wish you Were Here
A conclusão que se chega é a Deck13 está explorando um nicho que foi “abandonado” a fim de alegrar os fãs órfãos pelo fim da série Souls. As melhorias em relação ao seu jogo anterior – Lords of The Fallen – são visíveis e a mudança de cenário (de medieval pra sci-fi) foi muito boa. Apesar de ser um título mais modesto que o último lançamento da From Software, a Deck13 entregou um jogo que expande as possibilidades desse gênero tão querido e pode dar o pontapé inicial para uma excelente franquia e torço para que os próximos títulos tenham algum elemento de cooperação.