Análise Liga da Justiça
Mesmo em meio a dúvidas, Liga da Justiça redefine o tom e mostra que podemos esperar um futuro cinematográfico menos sombrio para os personagens da DC.
Em 2014, quando a Warner Bros. anunciou seu calendário de produções do universo cinematográfico da DC Comics, nenhum outro filme chamou mais a atenção de fãs e do público geral do que Liga da Justiça. Muito mais até que Batman vs Superman: A Origem da Justiça, a “sequencia” de O Homem de Aço, que tinha como missão preparar o terreno para a tão aguardada reunião dos heróis da DC. De lá para cá, após três anos e com quatro filmes desse ambicioso projeto lançados, Liga da Justiça consegue estabelecer o universo compartilhado da DC nos cinemas fazendo frente a sua rival Marvel?
Dirigido por Zack Snyder, a mente responsável em conduzir os elos entre cada produção, Liga da Justiça é um ótimo filme. A mudança de tom tão procurada pela Warner nos últimos anos, realmente começa a se mostrar, mesmo que ainda tenha as suas falhas. Muito disso, devido aos impasses e decisões em arrumar um trem que está em movimento e à toda velocidade.
Se você não esteve em Marte nos últimos dois anos, sabe que o filme da Liga veio rodeado de turbulências, seja pelas opiniões divididas em torno de BvS, os resultados insatisfatórios de Esquadrão Suicida, os bons resultados de Mulher-Maravilha e a saída de Zack Snyder durante a pós produção, deixando o processo de finalização e refilmagens nas mãos de Joss Whedon, a mente responsável por Os Vingadores (2010).
Logo de início, o espectador já pode perceber a alternância entre a concepção das duas cabeças por trás do projeto (Snyder/ Whedon). O tom do filme está mais leve em grande parte, sai o peso dramático e denso estabelecido em BvS, e entra a leveza visual e “aventuresca” apresentado em Mulher Maravilha. O que já era esperado, já que o filme da amazona foi um trator nas bilheterias e um balão de oxigênio e ânimo para os projetos futuros da Warner/ DC.
Porém, se um por um lado tivemos a retomada de tom para os super heróis da DC, essa conquista também teve o seu custo, e isso é nítido no filme. A começar pelo desafio em introduzir novos personagens com seus próprios arcos antes de seus filmes solo. Apresentar Flash, Ciborgue e Aquaman implica em correr com a narrativa, caindo em um senso de urgência para dar espaço aos demais conflitos que o filme possuía, e não eram poucos. Apesar disso, o filme consegue segurar as pontas nas suas introduções, muito pelo carisma de Jason Momoa (Aquaman) e Ezra Miller (Flash) que apresentam muito bem seus personagens, onde a parte mais apática ficou com o Ciborgue (Ray Fisher), um personagem mais dramático em sua origem, mas com pouco tempo de tela.
Já para o lado dos principais heróis da Liga, temos uma Mulher Maravilha imponente e com um espírito de liderança que entra em sintonia com o clima do filme. Isso sem contar com o trabalho seguro desempenhado por Gal Gadot que praticamente se estabeleceu como a personagem, que já caminha para seu filme sequencia e é o maior acerto do longa.
O retorno do Superman é algo que também sofre com a urgência do roteiro, o que acaba deixando sem impacto a volta de um dos personagens mais importantes para a Liga. Em contrapartida, os fãs do herói podem finalmente abaixar a guarda, já que outro acerto do filme é finalmente apresentar a personalidade esperançosa e heroica do Superman, abandonando de vez a atmosfera escura e interiorizada mostrada em O Homem de Aço e BvS e resgatando as cores oficiais do herói.
Por fim, na busca por um tom mais leve para a Liga da Justiça, talvez quem mais tenha sofrido com as mudanças foi a personalidade do Batman de Ben Affleck. É aí que estão alguns escorregões do filme. O homem-morcego apresentado neste filme entra em choque direto com o vigilante vingativo e psicótico apresentado anteriormente, o que convenhamos é um ponto positivo, mas passa na medida do humor em alguns momentos, muito pelo roteiro reajustado. A veia cômica dada ao Batman tem alguns acertos, mas comete exageros que se tornam até desnecessários. A dose de humor funciona no geral para todos, mas quando passa da conta, alguns personagens ficam caricatos demais, mas ainda está longe de ser um problema da produção.
O maior mérito de Liga da Justiça está na sintonia entre seus integrantes em cena, seja durante as batalhas ou até mesmo em uma reunião séria. A química entre o grupo funciona, passando a credibilidade de um time e aumentando a vontade de ver a equipe em ação novamente. Mulher-Maravilha e Batman são um exemplo dessa química em vários momentos, assim como o Flash, Ciborgue e Aquaman. O maior deslize é sem dúvida o Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), que é resumido a uma junção de estereótipos previsíveis de um vilão e está na trama apenas para juntar o grupo, sem representar uma verdadeira ameaça aos heróis. Outro ponto fraco e urgente, está no próprio CGI às vezes apressado do filme, muito ainda pelo vilão que mais parece uma bola de borracha e por umas cenas ou outras que tiram o impacto pela artificialidade. Sim, o disfarce para o bigode de Henry Cavill se encaixa nesse quesito e é algo que a Warner precisa rever para os próximos filmes.
Liga da Justiça bota nos trilhos o que seria o seu universo compartilhado no cinema e por hora estabelece o tom a ser adotado para a DC no cinema. É um filme de aventura descompromissado e leve, sem o aprofundamento existencial e sombrio mostrado anteriormente. Ao mesmo tempo é um filme com passagem rápida, deixando a impressão de que poderia ser mais do que é, ainda devendo algo memorável. Liga da Justiça traz muitos acertos, algumas arestas a serem niveladas e outros detalhes a serem trocados. Fica um pouco de segurança de que a DC ainda pode ter filmes dignos de seus ícones daqui para frente e mostra que talvez a era de ouro dos super-heróis não tenha acabado.
Liga da Justiça está em cartaz em todos os cinemas do Brasil.