Análise Resident Evil 2 – 2019 (PlayStation 4) Leon A
Passaram-se 4 gerações de consoles até que uma das obras-primas do PlayStation original fosse refeita, utilizando-se de todo o aparato de tecnologia de alto-processamento e alta-definição atuais, algo que os fãs esperavam desde que o primeiro Resident Evil foi atualizado para o Game Cube, em 2002.
Assim como Resident Evil 2 tem duas campanhas, também preparamos 2 reviews. Esse é o review baseado na campanha do Leon. Aqui está o review da Claire!
É real amigos! Depois de 20 anos, Resident Evil 2 foi atualizado. Passaram-se 4 gerações de consoles até que uma das obras-primas do PlayStation original fosse refeita, utilizando-se de todo o aparato de tecnologia de alto-processamento e alta-definição atuais, algo que os fãs esperavam desde que o primeiro jogo da franquia foi atualizado para o Game Cube, em 2002. Mas os fãs tinham esperança de sobra em relação a esse remake, também existia uma severa desconfiança: como fazer um dos jogos mais icônicos da série de survival horror destacar-se no ano de 2019, em meio a tantos lançamentos contemporâneos? E mais: como entregar entregar aqueles sentimentos experimentados por quem jogou o título há 20 para um público novo, sem alienar o público cativo da série?
A resposta a esses questionamentos foi lançada no dia 25 de janeiro de 2019 e é maravilhosa.
Resident Evil 2 entrega um perfeito equilíbrio entre mecânicas novas e a abordagem dos gênero vista nos três primeiros jogos da série (que, convenhamos, construiu o alicerce do que Resident Evil é hoje), com atualizações pertinentes, sobretudo trazidas de Resident Evil 4 e do Resident Evil Remake. Não se engane: Resident Evil 2 é um um autêntico jogo de terror de sobrevivência, mas vai fazer você sofrer com um sorriso no rosto.
Ação em 3ª Pessoa
Logo de cara vemos que, diferentemente do remake do Resident Evil original, RE2 abandonou a câmera estática para trazer uma câmera em 3ª Pessoa similar à que vemos em RE4 (curiosamente, ambos protagonizados por Leon Kennedy), posicionada atrás do personagem. Além de favorecer os personagens Leon e Claire, já que ganharam visual repaginado e bastante coerente com a abordagem moderna proposta, também ajuda na construção do clima de terror proposto pelo jogo. Nesse aspecto, RE2 investe pesado em áreas escuras, por exemplo, onde podemos enxergar apenas com a lanterna, criando uma tensão naturalmente causada pela escuridão (um dos fatores mais primários para o medo), mas também pelo foco claustrofóbico da luz, que esconde tudo que não é iluminado
Aqui vale pontuar que dentro da série principal, há tempos que Resident Evil não trazia os clássicos zumbis como inimigos e, nesse aspecto, a Capcom está de parabéns.
Sem economizar na carnificina e no grotesco, os zumbis e outros inimigos regulares de RE2 são um dos pontos altos do jogo. Embora lentos, zumbis são suficientemente ameaçadores para gerar a tensão necessária para resgatar o sentimento de ansiedade e apreensão do jogo original. Também carregam em si grande parte do esmero da desenvolvedora com este remake, tanto na direção de arte que faz com que os inimigos sejam variados e com características próprias, dependendo do lugar onde os encontramos, como pela maravilhosa possibilidade de desmembrá-los com tiros e ver o resultado desses sadismo gratuito com pixels moldados em forma humanoide se arrastando pelo chão sem braços e pernas.
Inclusive, Resident Evil 2 é também um competente jogo de tiro em terceira pessoa, com controles responsivos e bem ágeis, tudo é otimizado para fazer você se livrar dos inimigos da maneira mais simples possível. Mas fica o alerta: atirar enquanto se move aumenta significativamente as chances de errar, já que a mira se estreita depois de alguns segundos parados. E por mais que os zumbis sejam lentos, a movimentação errática deles contribui bastante para 3 ou 4 tiros errados (desculpem, sou ruim mesmo). As armas encontradas podem ser melhoradas com peças espalhadas pelo cenário (geralmente em algum cofre ou armário trancado, nada é fácil em RE2), e garantem maior estabilidade na mira, aumento no número de balas no seu pente e até aumento na taxa de tiros, por exemplo. Para aqueles acostumados com os Resident Evil 5 ou 6 fica o alerta: não desperdice seus tiros.
Quebra-cabeças
Como já dito, Resident Evil 2 não tenta reinventar a roda e traz a mesma abordagem para progressão trazida nos primeiros jogos da franquia: puzzles e mais puzzles ficam no caminho entre Leon e aquela chave para a próxima área. Assim, a palavra de ordem em RE2 é backtracking. Voltar para as salas por onde passamos anteriormente é um pouco cansativo, mas para aliviar essa pequena chateação, temos um excelente mapa que avisa quais as salas já visitadas anteriormente, quais os itens deixados para trás e se ainda existe alguma coisa a ser encontrado naquela área. Uma excelente herança trazida de Resident Evil HD, juntamente com a arma de defesa para livrar-nos das garras desse amor gostoso, digo, do abraço dos inimigos. Inclusive, quando Mr. X aparece, próximo da metade do jogo, o mapa passa a ser uma das ferramentas mais valiosas para encontrar o próximo objetivo, resolver puzzles e escapar de zumbis e lickers, escolhendo-se o caminho mais curto possível – afinal, esse senhor é imortal.
Como atualização das mecânicas, RE2 conta com salvamento automático nas campanhas em dificuldade normal, também permitindo o salvamento manual nas clássicas máquinas de escrever. Quem estiver com o corpo pronto para desafios, pode escolher a dificuldade “Insano”, onde os inimigos são mais difíceis e o salvamento é exclusivamente manual e através de fitas limitadas para utilização nas máquinas de escrever.
Cabe também aplaudir o trabalho da equipe de criação dos cenários do jogo e do universo quem a história se passa: tudo remete à tecnologia existente em 1998, como os carros (e suas chaves) e a interface dos computadores utilizados pelos personagens. Tudo autenticamente retrô.
Tecnicamente, não há pontos negativos no jogo. Os gráficos são lindos, a atuação dos personagens é excelente, o universo é extremamente bem construído com toda a atmosfera que se espera de uma obra de terror. Embora quase não exista trilha musical, o design de som é maravilhoso com grunhidos e gemidos dos zumbis e personagens, passos, ranger de portas e assoalhos, pisos, escadas. Recomendo muito jogar com fones de ouvido e, de preferência, durante a noite.
Um jogo híbrido
Um dos pontos altos de Resident Evil 2 sempre foi a existência de dois protagonistas, Claire Redfield e Leon S. Kennedy, cada qual com sua própria campanha, com eventos distintos, mas intercalando alguns acontecimentos. Isso significa que, dependendo de personagem que você escolher, altera-se até mesmo o filme de abertura do jogo (lembrando ainda, que cada personagem tem dois cenários (A e B), que inicia uma campanha nova e complementa a campanha do outro personagem). Todavia, neste remake existe uma certa falta de consistência entre as campanhas de Claire e Leon que atrapalha um pouco a imersão no universo – alguns eventos do outro personagem são preservados, outros não – mas nada que prejudique o resultado final do jogo: diversão.
Aliás, diversão é o que você encontrará em Resident Evil 2. Seja tendo calafrios com o avistamento de zumbis ou correndo apavorado do Mr. X, seja correndo loucamente pelas salas da delegacia de Racoon City para poder bater seu último recorde de tempo e desbloquear mais itens de customização dos personagens (inclusive, os trajes originais estão lá). Resident Evil 2 entrega uma experiência atualizada de uma das obras-primas da primeira geração de jogos em 3D: moderno o suficiente para atrair novos jogadores e competir com os títulos lançados atualmente e old school na medida certa para divertir como há 20 anos atrás. Vale cada centavo.