Análise Wolfenstein: Youngblood (PS4)
Parceria entre a MachineGames e Arkane Studios traz mudanças positivas para Wolfenstein: Youngblood, mas nem tudo são flores.
Após libertar os Estados Unidos da ameaça nazista, B.J. Blazkowicz leva uma vida normal e pacífica em sua propriedade no interior americano com sua esposa e filhas.
O herói americano agora é um pai de família comum, ao menos essa é a primeira impressão.
Mas quando se nada com tubarões por tanto tempo o cheiro de sangue na água é muito chamativo e desperta instintos adormecidos ou cuidadosamente escondidos.
Esse pacífico B.J. desaparece sem deixar explicações e cabe às suas filhas gêmeas Jessie “Jes” e Zofia “Soph” Blazkowicz descobrir as motivações do pai para ter sumido tão repentinamente.
Após descobrir um esconderijo do pai e juntar alguns pontos as pistas levam as adolescentes a Paris, que neste universo oitentista ainda está sob o jugo nazista.
E após contato com a Resistência local as meninas precisam abrir caminho através do território sitiado coletando pistas do paradeiro de seu pai, enquanto ajudam a pintar as ruas francesas com sangue nazista.
Wolfenstein: Youngblood é o novo jogo da linha moderna de uma das franquias FPS mais famosas do mundo e se passa 19 anos após o fim dos eventos de Wolfenstein 2, feito pela MachineGames em parceria com a Arkane Studios e publicado pela Bethesda Studios, lançado em 26 de julho de 2019.
O game tem dublagem em português do Brasil, mas isso depende do idioma do seu console, não existe a opção de alternar através do menu do jogo.
Brincando com possibilidades
A parceria com a Arkane é facilmente percebida em uma das mudanças mais perceptíveis e bem-vinda do título: a verticalidade dos cenários.
Soph e Jes usam um power suit que além de servir como armadura também permite ao jogador ficar invisível e usar um pulo duplo (olá Crysis) e isso faz com que quase qualquer ambiente possa ser escalado, criando várias possibilidades de aproximação.
Por ser um jogo mais contido em termos de ambientação e por ter que visitar várias vezes o mesmo local durante missões secundárias, essa variação de abordagem é essencial.
Ao começar é possível escolher uma das irmãs como personagem, mas a escolha é apenas visual sem nenhuma influência na jogabilidade e a outra irá te acompanhar, seja controlada por uma inteligência artificial ou por outro jogador online.
O co-op é muito orgânico e durante uma partida você pode jogar com diversos jogadores.
Se no meio da missão a sua parceira sair, a IA assume automaticamente o controle da outra personagem ou mesmo outro jogador poderá entrar a qualquer momento, sem retornos para lobby ou algo do gênero. Mas se preferir, existem ainda opções de jogar estritamente off-line ou apenas com jogadores convidados.
Em relação ao restante da franquia os elementos de RPG foram ampliados em Youngblood.
A árvore de habilidades agora tem 3 ramificações: Mente, Músculo e Poder e cada uma têm um estilo próprio, seja focado em abordagens mais furtivas, ação e “porradaria” ou uma mistura de estilos, a escolha é sua.
Além disso existem ainda Sinais de Ânimo, que são gestos que as personagens fazem uma para a outra dentro de um raio de ação, e que concedem um bônus por tempo determinado ou definitivo, seja um boost de armadura, vida, aumento de dano ou aumento de defesa.
Esses sinais são adquiridos com moedas do jogo e podem ser trocados durante o gameplay, inclusive podem (devem) ser escolhidos sinais diferentes para cada personagem para maximizar o seu uso, já que contam com um tempo de carregamento.
Também é possível customizar o visual da sua personagem utilizando essas mesmas moedas ou nesse caso específico através de dinheiro real.
Já as melhorias de armas só podem ser compradas com o dinheiro do jogo, então existem sim micro-transações em Youngblood mas elas se limitam a compras cosméticas.
As armas são um capítulo à parte, além de ser possível escolher todos seus componentes e visual, sempre que o jogador sobe um nível elas ganham um bônus de dano permanente.
Existe ainda uma característica chamada Domínio, quanto mais inimigos matar com essa arma, mais proficiência irá adquirir nela e maior será o bônus de dano dela.
Outro detalhe vital é que todas as áreas possuem inimigos com armadura e esses só começam a sofrer danos quando esta armadura for destruída. Existem 2 tipos diferentes de armadura e diferentes armas causam danos específicos para aquele determinado tipo de blindagem.
Qual arma é mais efetiva contra cada uma é representada por quadrados grossos ou retângulos finos ao lado da barra de saúde do inimigo, uma dica visual não muito consistente e intuitiva que pode ser difícil de perceber no meio de um tiroteio frenético.
Mas é possível remover a armadura e causar dano no inimigo utilizando a arma “errada”?
Sim, mas os inimigos que já são uma esponja de balas vão precisar levar muito mais chumbo para serem derrotados.
Nós sempre teremos Paris
Para ter acesso a localização do pai, as gêmeas precisam tomar Paris de assalto e entrar em 3 regiões diferentes onde estão localizados supercomputadores chamados Brother 1, 2 e 3, cada um protegido por uma miríade de nazistas e por um robô gigante chamado Übergarde, que atuam como mini-chefes do jogo.
A cada computador acessado novas informações ajudarão a Resistência e as irmãs a enfrentar os discípulos de Hitler e descobrir a localização de B.J.
Ao final de cada missão o jogador poderá escolher se continua explorando a cidade ou se volta para as Catacumbas, espécie de central da Resistência, povoada por NPCs que irão te incumbir das missões do jogo.
Cada uma dessas missões rende XP, dinheiro e pontos de habilidade ao serem completadas e entregues ao NPC.
Existem várias missões secundárias, porém o game não oferece uma marcação distinta entre qual é a principal e quais são secundárias, o que pode deixar a impressão de um jogo inflado e repetitivo, atrapalhando muitas vezes o fio condutor da história.
Outra mecânica nova na franquia são as vidas compartilhadas, seja em co-op ou com a IA as gêmeas têm 3 vidas conjuntas.
Caso receba dano suficiente para zerar a barra da saúde a personagem não morre imediatamente e fica caída por um curto período de tempo e nesse interim pode ser reanimada, mas caso isso não ocorra uma dessas vidas compartilhadas é perdida.
Apesar dessa mecânica parecer impiedosa em texto, se Wolfenstein: Youngblood for jogado sempre prestando atenção na sua parceira vai ser difícil perder todas as vidas em uma missão, mas se acontecer o jogador vai precisar iniciar novamente desde o início da fase, mesmo que esteja quase no final.
Porém eventualmente jogando com a IA como parceira é possível cair e não ser socorrido mesmo que esteja ao lado dela, e apesar de isso ser facilmente corrigido através de um patch, na versão atual do game é possível que isso ocorra (comigo aconteceu 2 vezes).
Mas além dessas 3 vidas também existe ao menos uma caixa bônus por missão que contêm um refil de vida, então mesmo perdendo alguma ou algumas vai ser tranquilo encontrar outra.
E nas Catacumbas também tem uma dessas caixas, além de refis de munição, saúde e armadura que são renovados em ciclos, então reiniciar fases completas não será tão frequente quando parece.
Mas e a história!?
Diante de todas essas opções e possibilidades de jogabilidade Wolfenstein: Youngblood seria excelente se não fosse o elemento que mais se destacou nos jogos anteriores: a história.
A mitologia base continua fantástica, o mundo imaginado através de uma vitória nazista já foi tratado de outras formas em outras mídias, mas o nível de detalhe, escatologia e galhofa que é abordada na série Wolfenstein é maravilhosa.
Tudo que conhecemos de mundo é rearranjado, existem os Beatles alemães, por exemplo, filmes famosos são subvertidos para celebrar a horripilante cultura ariana e até os videogames são refeitos de acordo com a estética nazista.
Porém talvez devido a liberdade que é dada ao jogador para escolher como abordar as missões, a história é deixada parcialmente de lado e serve apenas como um pano de fundo um tanto quanto fraco comparado aos últimos jogos.
Isso pode irritar ou afastar jogadores acostumados com os jogos anteriores que amavam os plot twists (apesar deles ainda existirem), decisões difíceis que o protagonista precisava tomar, além da tensão e seriedade de diversos momentos em que B.J. com tudo a seu desfavor se infiltrava na cova dos leões.
O diálogo entre as irmãs soa forçado, raso e pouco natural, quem tem irmãos sabe que nenhum trata o outro daquela forma ou fala daquele jeito e as soluções e conclusões delas para alguns assuntos deixam um pequeno sentimento de vergonha alheia.
Pode ser que tudo isso tenha sido intencional para representar a visão que adolescentes sem experiência teria desse mundo, mas é um ponto de recuo. E mesmo sendo tratado como um interim entre Wolfenstein II: The New Colossus e futuramente Wolfenstein III, Youngblood faz pouco para avançar a mitologia da série.
A caçada
Quem quiser obter o troféu de platina em Wolfenstein: Youngblood pode ficar feliz e triste ao mesmo tempo.
Talvez esse seja o mais fácil entre os 4 jogos lançados de 2014 para cá, não existe nenhum troféu de dificuldade, então sinta-se livre para jogar naquela em que se divertir mais, porém possivelmente seja o mais demorado para platinar.
Existem muitos troféus relacionados a colecionáveis, comprar todas as habilidades da personagem, obter todas as modificações de todas as armas e chegar ao nível máximo com todas elas.
O nível das armas aumenta a cada 40 ou 60 nazistas mortos, dependendo da arma escolhida, portanto para chegar ao nível máximo de cada será necessário dizimar 400 ou 600 deles com cada arma do jogo, incluindo armas melee. Então a pilha de corpos vai ser grande.
Para comprar todas habilidades da personagem é necessário chegar ao nível 80, mas esse troféu será simples e desbloqueará com o tempo enquanto corre atrás dos troféus de mortes com cada arma.
Para os colecionáveis felizmente existe uma habilidade muito útil que é desbloqueada para compra quando o jogador atingir o nível 30 que revela os colecionáveis no mini-mapa, inclusive com posição, se estão abaixo, no nível do jogador ou acima dele.
Mas se o troféu de armas parecia um grinding gigantesco, sinto informar que essa é só a ponta do iceberg.
O que realmente tomará um tempo grande do jogador “trofeleiro” será juntar dinheiro suficiente para comprar todas as modificações de armas: um total de 138.820 moedas para comprar os 294 modificadores necessários.
Os demais troféus são simples, como abrir 200 caixas, entrar em todos os túneis subterrâneos, destruir 20 drones, etc., além dos relacionados a história.
No mais, é uma platina demorada mas pelo menos Wolfenstein: Youngblood é fluído, bonito e gostoso de jogar.
A análise de Wolfenstein: Youngblood foi feita através de uma cópia de PS4 fornecida pelo desenvolvedor.