Análise The Dark Pictures Anthology: Man of Medan (PS4)
Sobreviva a horrores em alto mar em Man of Medan, experiência interativa muito interessante trazida a vida pela Supermassive Games e BANDAI Namco.
Tão antigo quanto o ser humano é o medo, seja do desconhecido, do diferente ou do sobrenatural, o medo fez com que o homem primitivo pudesse sobreviver às ameaças da natureza e evoluir.
E depois que o perigo passa nós contamos histórias sobre esse medo, às vezes acrescentamos um tom mais sinistro aqui, exageramos um detalhe ali e a história vai tomando forma e sendo difundida entre conhecidos, que por sua vez vão contar para outros que irão acrescentar suas próprias experiências, confundir e mesclar essas com outras histórias parecidas e assim começam a surgir as lendas e os mitos.
E é baseado na lenda do navio fantasma SS Ourang Medan que a Supermassive Games resolveu dedicar o primeiro jogo da Antologia Dark Pictures: Man of Medan, lançado em 30 de agosto de 2019 para PC, Xbox One e Playstation 4, distribuído pela Bandai Namco.
A empresa tem um plano ousado para essa Antologia: entregar 8 jogos completos com 6 meses de intervalo entre os lançamentos com histórias independentes entre si, mas com um mesmo “narrador”, aos moldes de outras antologias de outras mídias como Contos da Cripta, Black Mirror e True Detective.
Apesar de ainda não terem sido divulgados se todos os jogos terão a mesma duração e preço, ao menos Man of Medan tem uma campanha curta, em torno de 5-6 horas no single player e noite de cinema e 3-4 no multiplayer online e custa metade do preço de um lançamento AAA.
Vai comparar com Until Dawn, não vai!?
Obviamente está é uma opinião pessoal, mas não gosto quando leio ou assisto um review e o tempo inteiro a única forma de análise é a comparação direta com outros produtos da mesma empresa ou gênero e não como obra própria.
Comparar é normal e ajuda quem está familiarizado com determinadas mecânicas a entender logo de cara do que um jogo se trata e como ele funciona, mas para quem não jogou a obra com a qual a outra está sendo comparada um texto assim funciona mais afastando do que atraindo o leitor.
Agora saindo do campo da opinião e indo para os fatos, não tem como negar que Man of Medan deve totalmente sua existência a Until Dawn e bebe tanto nas qualidades como nos defeitos do título de 2015, aprimorando algumas mecânicas e deixando em alguns casos outras a desejar.
Mas essa vai ser a única citação a ele nessa análise.
Conhecendo os peões do xadrez
O jogador começa sendo apresentado a um grupo de militares a bordo de um barco cargueiro voltando para casa após o final da 2ª Guerra Mundial, mas fica claro desde o primeiro minuto que eles não vão chegar ao destino devido a carga especial que estão transportando.
Após alguns acontecimentos somos apresentados ao misterioso Curador, uma espécie de narrador/conselheiro que tem uma espécie de biblioteca macabra, que ele chama de Repositório de Histórias.
Ele explica que essas histórias estão parcialmente escritas e compete ao jogador as preencher com suas decisões, determinando assim o destino dos personagens e até dando algumas dicas do que está acontecendo.
É uma quebra da 4ª parede muito interessante onde ele aparentemente está falando como você como jogador e não com um dos personagens da história que está acontecendo, apesar de não ficar claro.
Inclusive outra coisa que não é muito aberta é a própria natureza do personagem.
Seria o Curador uma pessoa normal ou uma espécie de entidade sobrenatural?
Mas não vai ser em Man of Medan que obteremos uma resposta para isso já que esse personagem estará presente em toda à Antologia.
Depois de conhecer o Curador de histórias o jogador é apresentado aos reais protagonistas do jogo: Alex, Conrad, Brad, Julia e Fliss.
Ao longo da história o jogador vai ter a oportunidade de controlar todos em diferentes momentos e situações e cada um tem uma personalidade inicial que pode ser moldada de acordo com as escolhas tomadas.
E essas escolhas não afetam só os rumos do personagem, mas também a relação entre eles, e isso implica em reações e diálogos diferentes ou mesmo trechos inteiros que não irão existir dependendo do desenvolvimento dessas relações.
Então talvez um personagem que em um primeiro momento seja alguém que você não tem empatia ou desgoste pode se tornar seu protagonista preferido.
Um barquinho do barulho com altas confusões
A aventura começa quando esses personagens descobrem o local de um naufrágio não catalogado e realizam um mergulho para explorar os destroços de um avião, só pela diversão e para explorar o desconhecido.
Por sua vez ao explorar o local descobrem as coordenadas de um navio perdido deste os tempos da 2ª Guerra, justamente o SS Ourang Medan mencionado anteriormente, e que se suspeita ter naufragado com uma carga de Ouro da Manchúria
De um mergulho simples e sem pretensões a promessas de riquezas, a vida dos jovens irá mudar no momento que subirem a bordo do navio fantasma e o que eles irão descobrir nesse túmulo aquático pode não ser nada do que esperam.
Haja coração
Apesar de ser um survival horror, Man of Medan nunca vai deixar o jogador aterrorizado ao ponto de ter que recorrer a vídeos de gatinhos no youtube para conseguir dormir, mas prepare-se para uma quantidade gigante de jumpscares vindo de todos os lados.
Estruturalmente é um jogo bastante simples, você vai alternar o controle de cada um dos personagens em diversos momentos e explorar os cenários coletando itens e documentos para encontrar uma saída desse barco infernal.
A câmera acompanha o jogador de uma perspectiva em terceira pessoa, mas muitas vezes ela fica estacionada em ângulos inusitados para criar um sentimento de estranheza e para induzir o jogador a se sentir perdido em um labirinto.
O personagem não consegue correr mas consegue andar mais rápido segurando L1.
Os itens passíveis de interação têm um brilho quando você passa por eles e é possível interagir com eles usando o X ou R2.
E um desses tipos de itens são quadros que quando examinados revelam uma premonição de um possível destino de um dos personagens, então se você viu alguém morrendo por algum motivo é bom tomar cuidado quando estiver em um local parecido com o da premonição para tentar evitar que ela aconteça.
Man of Medan também utiliza e muito a mecânica de quick time events onde é necessário apertar uma sequência de botões em um determinado espaço de tempo e mesmo que errar um ou outro botão não tenha maiores consequências, erros constantes em um mesmo QTE pode significar a morte de um dos garotos.
Esse é outro ponto em que o game acerta em cheio: qualquer personagem pode morrer a qualquer momento e a história tomar outro rumo a partir disso, o que gera uma tensão grande em diversos momentos.
No meu primeiro gameplay dois personagens morreram por erros bobos e decisões ruins, já no segundo todos estavam vivos até um determinado momento e isso mudou totalmente a história, o que garante ao jogo um fator replay enorme.
Quem tem amigos não precisa de inimigos
Outra coisa que garante que o jogador experimente mais do que uma jogada em Man of Medan são os dois modos multiplayers existentes.
Existe o multiplayer online, que se chama História Compartilhada e o multiplayer local para até 5 jogadores chamado Noite de Cinema.
No História Compartilhada você precisa convidar um amigo ou ser convidado já que não existe matchmaking e cada um vai jogar cenas do jogo ao mesmo tempo.
Então enquanto um jogador está no barco controlando Conrad enquanto ele dá em cima da Fliss, o outro vai estar jogando a parte de mergulho com Julia e Alex.
Você não vai saber quais decisões ele tomou e nem ele vai saber quais você tomou, a não ser que vocês estejam se comunicando por chat de voz, mas aí qual é a graça?
O único prompt que você vai ter é a mensagem “jogador X está fazendo uma escolha”, o que gera uma desconfiança legal, será que seu amigo está tentando fazer o grupo sobreviver ou se está preocupado apenas com o próprio destino?
Obviamente em alguns momentos vocês vão estar no mesmo ambiente, quando os personagens obrigatoriamente se reúnem, mas na sua maioria por serem cenas intercaladas o tempo da campanha será reduzido para quase metade.
Já o modo Noite de Cinema talvez seja o couch co-op mais divertido caso consiga reunir uma galera para jogar localmente.
Nesse modo cada um escolhe qual ou quais personagens irá controlar, se só duas pessoas estiverem jogando uma vai controlar 3 dos protagonistas e a outra 2, mas o que é potencialmente mais divertido é conseguir juntar mais 4 pessoas e cada um controlar um dos jovens.
Cada um joga uma cena e ao final aparece a mensagem: “agora é a vez de fulano”, o controle é passado e essa pessoa faz a jogada dela até aparecer a mensagem de que é a vez de ciclano.
Diferente do outro modo multiplayer, neste todos vão ver as decisões que você está tomando e com certeza vão opinar e muito no que você está fazendo, o que rende muita discussão e boas risadas.
Ao final de cada conjunto de capítulos um menu com uma classificação aparece dizendo quem foi melhor em um ponto e quem foi melhor em outro, o que é um toque interessante para esse tipo de jogo.
Será esse o fim?
Man of Medan é uma experiência interativa muito interessante, principalmente por tentar transformar o jogo em uma espécie de party game com o seu multiplayer local, com uma duração boa e um fator replay alto, mas que apresenta alguns pequenos problemas de performance.
A movimentação dos personagens pode ser um pouco estranha para quem não está acostumado com movimentação de jogos do tipo walking simulators ou adventures point and click de onde o jogo tira grande inspiração.
Outros problemas que podem ser facilmente corrigidos com um patch são por exemplo como as legendas ficam cortadas na tela quando a diálogo é muito extenso, como se não houvesse uma quebra de linha e algumas texturas que demoram um pouco mais para carregar ou quando o cenário dá leves travamentos e o personagem fica com a animação com flickers.
Mas nenhum desses problemas me faz tirar pontos das qualidades que Man of Medan tem e estou ansioso para o próximo jogo da série Dark Pictures, que inclusive tem um teaser na cena pós-créditos do game.
Ele irá se chamar The Dark Pictures Anthology: Little Hope e a temática serão histórias de bruxas, previsto para 2020, mas ainda sem data de lançamento.
A análise de The Dark Pictures Anthology – Man of Medan foi feita através de uma cópia de PS4 fornecida pelo desenvolvedor.