Análise Frostpunk: Console Edition (PlayStation 4)
Tome decisões complexas e teste suas habilidades como chefe de uma comunidade em uma corrida contra o frio congelante do ártico.
“A previsão do tempo indica: em dois dias a temperatura irá cair para -40ºC. Embora as casas estejam aquecidas para que os trabalhadores possam descansar, as condições de trabalho ainda são deploráveis. Me disseram que eu terei que escolher entre manter os doentes vivos e acamados ou amputar os membros congelados pelo frio. Além disso, a decisão de poupar as crianças do trabalho não foi muito bem recebida pelos colonos, que acham que se as crianças comem, também tem que trabalhar. Sinto que meus dias como chefe estão contados.”
E estavam mesmo. Não muito depois eu fui expulso do grupo e condenado a vagar solitário pelo ártico. Pelo menos foi um bom final, já que também cogitaram a possibilidade de eu ser executado no centro da comunidade. Isso é Frostpunk. Um jogo de estratégia e sobrevivência com uma premissa simples: se a população ficar insatisfeita, você perde. E tudo está contra o jogador.
Como um jogo de estratégia em tempo real (RTS), precisamos coletar recursos para manter a comunidade funcionando. No entanto, o ponto central jogo é o gerador que mantém toda a cidade aquecida. Quanto mais próximas do gerador, melhor o funcionamento das estruturas da cidade, mesmo que seja apenas uma casa. Existe um termômetro para cada construção e ficar abaixo da temperatura amena traz severas consequências para funcionamento da cidade. Trabalhadores precisam de conforto para descansar e realizar a coleta em locais gelados faz com que a população adoeça em uma taxa alarmante.
Diferentemente de jogos de estratégia tradicionais em que os personagens faziam todas as tarefas sem cessar, Frostpunk traz uma rotina de trabalho e descanso de todos os habitantes. Coletores trabalham de dia; caçadores trabalham de noite cozinheiros trabalham somente quando os caçadores retornam. Existe, portanto, uma dinâmica a ser considerada no fluxo de recursos, sobretudo em dias mais frios, quando todos os problemas parecem se acumular de uma só vez. Assim, um dos grandes desafios do jogo é encontrar a melhor dinâmica possível no fluxo de recursos enquanto nos esforçamos para manter todos aquecidos para que não adoeçam.
Os comandos de Frostpunk são muito bem otimizados para consoles. Os atalhos são simples e a grande sacada é que não controlamos as pessoas, mas sim as estruturas construídas. Assim que atribuímos um número de trabalhadores para determinada construção, aqueles que estão ociosos irão começar a trabalhar. Então nada de clicar e arrastar: um verdadeiro alívio para quem, assim como eu, não joga no PC.
Ainda tratando da parte técnica, os gráficos são muito bonitos e a direção de arte excelente. Embora o cenário do jogo seja simples, os conceitos visuais apresentados e a construção da ambientação traduzem muito bem a situação de uma população que se vê em situação precária, lutando para sobreviver. Da mesma forma o trabalho de som é incrível, com destaque para a trilha sonora bonita e melancólica.
Mas o ponto central de Frostpunk está nas escolhas feitas pelo jogador como chefe desta cidade em reconstrução. Se você jogou This War Of Mine, o trabalho anterior da 11bit Studios, sabe que um dos elementos presentes é justamente a pressão psicológica que acompanha as escolhas difíceis e aqui não é diferente. Podemos gerenciar a cidade por meio do Livro de Leis para governar os aspectos da vida das pessoas. Por exemplo, podemos autorizar o trabalho infantil, afinal os recursos são escassos e a cidade precisa do maior número de trabalhadores possível. Ou que tal parar de servir comida sólida e fazer a caçada render alimentando todos somente com sopa? Bom ou ruim, você decide.
Como nenhuma boa ação vem sem punição, existe um medidor de satisfação e frustração dos moradores, que vai sendo alimentado por cada decisão sua. Obviamente, nenhuma decisão vem sem quem uma parcela da população fique enfurecida e comece, pouco a pouco, alimentar a insatisfação com a sua administração. Encha completamente a barra de frustração e game over. É possível jogar cumprindo a campanha principal do jogo (que possui 03 atos/cenários) ou jogar no modo infinito, podendo sobreviver até o máximo de tempo que conseguir.
O que torna Frostpunk único é a forma de tratar as decisões do jogador como líder de uma comunidade e o paralelo com as lideranças do mundo real. É completamente possível tornar-se um tirano insensível às necessidades da população, mas que faz com que a cidade cresça e todos trabalhem mesmo reclamando, ou ter uma mão leve na hora de tomar medidas para a sobrevivência, buscando o bem-estar de um povo visivelmente machucado pelo frio e a escassez de recursos. Todos os caminhos são válidos, mas nenhum deles é fácil pois não existe decisão que agrade a todos. Existem muitos doentes? Ora, basta amputar-lhes os membros congelados e temos novos trabalhadores saudáveis. Faltam leitos nos hospitais, por que não colocar todos para dormir no chão? Uma frente fria vai chegar? Pois cancele o descanso dos trabalhadores! Frostpunk testa os nossos limites éticos com maestria.
Lançado para consoles em outubro de 2019, atualmente, Frostpunk possui 03 DLCs disponíveis somente para PC. O conteúdo adicional apresenta novos cenários para a campanha principal, sendo que o mais recente, The Last Autuum, foi lançado nas primeiras semanas de 2020. Por enquanto não há previsão para lançamento do conteúdo nos consoles, mas se você esta interessado pelo jogo, acredito que já pode aguardar com confiança por esse conteúdo adicional.
Se você é fã de jogos de estratégia em tempo real , vá correndo jogar Frostpunk!