Análise 7th Sector (PS4)
Ambientado em um universo cyberpunk 7th Sector usa e mistura vários tipos de quebra-cabeças para contar sua história sobre fuga e regimes totalitários.
Ano passado fez 70 anos que o livro 1984 de George Orwell foi lançado e continua sendo influência atual para obras em todas as mídias e preocupantemente reflete cada dia mais para onde caminha a nossa sociedade em um nível global.
Os temas principais do livro são o controle, vigilância permanente e privação da liberdade dos indivíduos. E esses também são os pilares da narrativa de 7th Sector.
A diferença é que no jogo essa realidade distópica é construída com base em elementos sci-fi e cyberpunk onde o personagem principal se vê obrigado a assumir formas distintas para completar quebra-cabeças e fugir de seus perseguidores, sejam humanos e/ou principalmente máquinas.
Desenvolvido por Sergey Noskov e publicado pela Sometimes You e lançado em 05 de fevereiro de 2020, 7th Sector está disponível para compra no PC, Nintendo Switch, Xbox One e Playstation 4, e essa análise foi escrita com base em uma cópia de PS4 fornecida pela assessoria de imprensa do jogo.
Diversidade de problemas
Inicialmente e por uma parte considerável de 7th Sector não fica claro sobre o que ele é, mas gradualmente uma realidade cada vez mais soturna e pesada vai se revelando.
O jogador assume a forma de uma fagulha de eletricidade presa em uma TV que tem que se movimentar através da fiação e resolver quebra-cabeças de todos os tipos para liberar rotas e avançar no cenário.
As pistas normalmente estão bem próximas ao puzzle em si e quase todos são bem lógicos e poucas vezes fiquei realmente preso até entender as exigências do desafio.
E a quantidade, variedade e alternância entre quebra-cabeças é excelente e um entre muitos pontos altos de 7th Sector.
Existem puzzles que precisam ser completados em um determinado tempo, de posicionamento, de imitar uma determinada figura, de peso, de som, rotativos e matemáticos, embora esses últimos sejam quase todos opcionais e necessários apenas se o jogador quiser fazer todos os 4 finais do game.
E essa variedade me mantiveram sempre querendo mais.
Descobrir o próximo desafio era viciante e me fizeram não conseguir parar, todo o tempo eu ficava pensando: “só mais um” e quando me dava por mim já haviam se passado algumas horas.
Some a isso o fato da atmosfera sinistra e a trilha sonora fenomenal ajudarem a manter um certo senso de urgência e a história pesada que vai sendo revelada aos poucos e você tem então uma fórmula de sucesso para fisgar a sua atenção.
E quando parece que todas as regras estão estabelecidas 7th Sector surpreende mais uma vez.
Metamorfose ambulante
Como partícula existem certas possibilidades e limitações do que pode ser feito, mas com o passar do tempo o jogador ganha a habilidade de assumir novas formas e isso muda bastante a dinâmica do gameplay.
O primeiro objeto que pode ser “possuído” é um carrinho de controle remoto e com ele conduzir um robozinho e empurrar objetos para dentro de um elevador para atingir um peso específico e ativá-lo.
Logo após conseguir chegar na próxima área é o próprio robô bolinha que você precisará controlar e mais uma vez a dinâmica é alterada.
Como BB-8 genérico o jogador é mais rápido e tem propriedades magnéticas, mas nesse ponto 7th Sector insere um perseguidor armado, aumentando assim a agonia de ter que resolver situações enquanto foge desse perigo.
Vale ressaltar que os checkpoints são espaçados de forma que caso você morra não precise repetir grandes trechos, mas mesmo sabendo disso eu sempre ficava aflito quando esse inimigo aparecia.
E novamente quando essas regras são postas e você começa a se acostumar com as novas habilidades de esfera cibernética, 7th Sector, um jogo sobre resolver quebra-cabeças, que acrescentou a sua jogabilidade até agora elementos de perseguição e stealth vai somar uma nova mecânica e se tornar um shooter.
Atire primeiro, pergunte depois
Para integrar esses elementos de tiro o personagem assume uma nova forma forte e agressiva e abandona então sua carcaça defensiva e contida para se tornar uma satisfatória máquina de destruir.
E é fantástico como ao mudar de forma os novos puzzles se integrem tão bem e organicamente ao que os novos corpos podem fazer.
Não vou revelar aqui qual é esse novo avatar porque apesar dele estar presente no material de divulgação acho mais interessante você descobrir essa parte sozinho.
Com ele é possível destruir paredes, usar placas de pressão por peso e usar a mira laser para movimentar plataformas, além claro de poder sentar o dedo e meter bala nos inimigos que virão te atacar.
E apesar de ser sensacional poder dominar esse corpo em específico está na hora de experimentar outras possibilidades e alçar novos voos.
Fly high, free bird
Hackear outra máquina a essa altura do campeonato já não deveria me surpreender, mas ao tomar a forma de um drone e ter as dinâmicas de jogo alterada me deixou novamente com um sorriso no rosto.
O choque da transição entre a forma truculenta anterior e a graciosidade do drone novamente faz com que o que parecia ser um simples jogo de quebra-cabeças quando comecei seja muito mais do que isso.
Normalmente, ou pelo menos na minha percepção e experiência, puzzle games sempre foram feitos para relaxar e exercitar o raciocínio lógico.
É desafiador e recompensador, mas raramente divertido no sentido estrito da palavra.
A diversão e adrenalina ao derrotar um chefe em Dark Souls ou marcar um gol de virada no FIFA é muito superior comparada à recompensa ao resolver uma sequência de figuras e liberar uma porta.
Contudo, ao subverter a expectativa do jogador e alterar a todo momento como as coisas funcionam sem perder a essência confere a 7th Sector esse fator divertido que falta à maioria dos quebra-cabeças que joguei até então.
Liberte sua mente
E não para por aí, o final de 7th Sector reserva mais surpresas e se até agora a história estava sendo contada através de colecionáveis, observação de cenários e outras pequenas dicas ao assumir a forma final tudo fica mais claro e nítido.
Diferente das outras metamorfoses que quis detalhar para demostrar o quando 7th Sector é rico e diferente dos outros do seu gênero, essa última transformação prefiro não detalhar já que é muito legal fazer essa ponte e fechar o ciclo.
Existe uma grande chance ao jogar você entender quase de imediato para onde essa história vai, mas a forma e os detalhes como isso acontecem são muito interessantes e não quero estragar essa surpresa para ninguém.
Espero que esse texto possa ter despertado a curiosidade em você, caro leitor, e que eu tenha te instigado a jogar 7th Sector.
O jogo é bonito, inventivo, e apesar de alguns puzzles terem me feito travar em alguns momentos até entender o que era requerido, eu atribuo isso mais à minha interpretação e abordagem não estarem corretas para aquele conjunto de quebra-cabeças do que a complexidade deles.
A trilha sonora tão boa que estou escutando ela neste momento enquanto escrevo justamente por ter adorado as músicas, e recomendo pesquisarem o artista responsável por ela: Nobody’s Nail Machine.
Tudo isso coroado por uma jogabilidade que brinca com a expectativa devido às várias mudanças de ritmo e uma história sobre o valor da liberdade em uma sociedade que se acostumou com o controle total sob o pretexto da proteção.
Qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
É o que eles querem que você acredite.