Análise Bloodroots (PS4)
Em Bloodroots assuma seu animal interior e embarque em uma jornada de vingança com muito sangue cartunesco, armas inusitadas e bom humor.
“A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena” já dizia o grande pensador Ramón Valdés, o Seu Madruga, mas felizmente não é assim que pensa Mr. Wolf e sua jornada em busca de um acerto de contas final com sua antiga gangue é implacável (e muito divertida).
Lançado em 28 de fevereiro de 2020, disponível para Playstation 4, PC e Nintendo Switch, desenvolvido e publicado pelo estúdio canadense Paper Cult, em Bloodroots o objetivo do protagonista é conseguir essa vingança das formas mais brutais e engraçadas possíveis.
Tudo isso com uma jogabilidade frenética, fases curtas, gráficos cartunescos e um grande fator replay, afinal o legal não é simplesmente completar as fases e sim transformar elas em um balé sanguinário perfeito e subir no ranking mundial de matadores.
Tony Hawk encontra Samurai Jack (dirigido por Tarantino)
As influencias dos desenvolvedores para construir o mundo de Bloodroots são bem ecléticas e vão desde inspirações mais diretas do mundo dos jogos como Hotline Miami a referências a Kill Bill; na traição sofrida por Leonardo DiCaprio em O Regresso; na trilha sonora que remete a faroestes clássicos como Por um Punhado de Doláres pontuadas por pitadas do desenho Samurai Jack na animação das cutscenes.
E embora essas referências acrescentem camadas em Bloodroots o que faz o game se destacar é a quantidade absurda de possibilidades para atravessar o cenário, seu arsenal de armas inusitadas e a velocidade em que o jogador precisa tomar decisões.
Improvisação e movimento constante são as palavras de ordem em Bloodroots.
Pegar uma arma no chão, usar e já trocar por outra, pulando de inimigo em inimigo traçando a melhor rota até o próximo checkpoint enquanto vai aumentando seu combo é maravilhoso e essa estrutura por incrível que pareça faz lembrar um jogo que não tem nada a ver com essa temática: Tony Hawk’s Pro Skater.
Apesar da comparação inusitada a sensação de realizar todas essas ações em um único combo exige exatamente a mesma fluidez que era necessária para completar os desafios e conseguir as melhores pontuações no game do skatista californiano.
Armado até os dentes, literalmente
Sobre o arsenal disponível, Mr. Wolf consegue se virar com basicamente qualquer coisa.
Existem escolhas óbvias como machados, espadas, armas de fogo, machetes, etc., mas as mais divertidas são as armas que você nem pensaria em usar para esse fim.
Já imaginou poder matar um inimigo com uma lata de atum ou com uma escada igual nos filmes do Jackie Chan, ou quem sabe ainda com uma alface ou cenoura?
Pois é, aqui o jogador pode fazer isso e vegetais são tão letais que você vai enxergar eles de uma nova forma a partir de hoje.
Além dessas você vai encontrar durante o caminho muitas outras mais normais e algumas bem diferentes como varas de pescar, crânios, bolas de neve, lightsabers, galinhas, guaxinins e até um escudo similar ao do Capitão América. Por quê? Porque não!?
Todos os inimigos morrem com um golpe (se não estiverem usando alguma proteção) e apesar de Mr. Wolf ser o McGuiver do improviso isso vale para ele também, mas não se preocupe a morte não é uma punição tão grande assim já que o retorno a vida é quase automático, sem telas de loading.
O personagem volta no último checkpoint e como eles são espaçados de uma forma coesa e frequente a morte não chega a ser frustrante (apesar de enervante) e pode servir para repaginar sua estratégia.
Agora você já terá todo um esquema estratégico na cabeça de como repetir aquela parte X, qual a melhor arma para usar naquele inimigo Y ou qual a melhor rota para aumentar seu combo e pontuação final.
Aliás, esse sistema de pontuação confere o fator replay que mencionei anteriormente, ao completar uma fase o jogador ganha uma pontuação baseada em combo, tempo, mobilidade e variabilidade na forma que matou os inimigos.
Além de se posicionar melhor na tabela de classificação, em algumas fases podem ser liberados novos chapéus para Mr. Wolf que concedem habilidades especiais como o chapéu de urso que garante ao jogador um soco que desintegra o inimigo ou o chapéu de peixe que inverte os controles, apesar de Bloodroots com controles normais já ser desafiador o suficiente.
Eu vou te procurar, vou te encontrar e vou te matar
E embora Bloodroots tenha comandos simples e seja fácil de entender e pegar o ritmo, de forma alguma ele é fácil no sentido estrito da palavra e mesmo terminar o game vai exigir destreza e muita tentativa e erro.
E caso queira realmente ficar bom e figurar no topo da leaderboard é mais difícil ainda.
Inicialmente a quantidade de inimigos por área é limitada e a abundância de armas é alta, mas com o avançar dos capítulos as coisas ficam mais complexas.
Inimigos mais fortes, com proteção e mais rápidos são adicionados aos inimigos comuns e planejar a sua rota se torna cada vez mais importante.
Além disso mais elementos de plataforma vão sendo integrados, assim como perigos naturais, artificiais e abismos malditos para você cair no final da área e chorar sangue por ter perdido um combo perfeito.
Os cenários são bem variados na sua estrutura, mas na paisagem de fundo nem tanto e a maioria das fases se desenvolve em áreas simulando deserto.
Eventualmente são inseridos elementos neon futuristas em alguns capítulos e apesar de destoante da temática central, combina perfeitamente com a trilha sonora que mistura temas clássicos de faroeste com música eletrônica de uma forma muito orgânica.
Já as áreas nevadas são um show à parte, tanto por introduzir um visual contrastante como por apresentar elementos que acrescentam camadas à jogabilidade ao requerer que jogador lide com física de vento e gelo escorregadio em sessões de plataformas e com a raiva quando cair delas.
Bloodroots é divido em 3 Atos, cada um 6 subcapítulos e 1-2 fases bônus e na última parte de cada um desses o jogador enfrenta um Chefão, antigo membro da gangue de Mr. Wolf, As Bestas Sangrentas.
As batalhas com cada esses Chefões são excepcionais, tanto pela diferença de jogabilidade como por sua dificuldade, umas irão exigir que o jogador derrote vários minions enquanto persegue o Chefe desviando de perigos, enquanto outras são contidas em uma arena que transforma o jogo em um verdadeiro bullet hell.
Pequenas pedras no meio do caminho
Apesar de todos os pontos positivos Bloodroots não é isento de defeitos, mas no final são apenas 2 reclamações menores de um velho ranzinza e felizmente nenhuma delas estraga o jogo.
Da mesma forma que reclamei de algumas sessões de plataformas de Darksiders Genesis que foram prejudicadas pelo tipo de ângulo de câmera (que você pode ler nesse link), em Bloodroots não é diferente e o problema é bem similar.
Por vezes errei um pulo mesmo sabendo que estava na distância perfeita de execução e tive que repetir o trecho e embora isso não tenha me deixado nervoso, fases com muitos elementos de plataforma estão entre as que menos gostei e menos repeti depois para me classificar melhor.
O último ponto que tenho em desfavor do game é que em alguns poucos momentos para mostrar os inimigos e possibilidades dos cenários como um todo a câmera se distancia e o personagem fica muito pequeno, o que mais prejudica do que ajuda por ele se misturar com alguns elementos e criar confusão na tela.
Uma surpresa agradável
Mas isso é o de menos, além do gameplay divertido, violento e viciante, a história também é bem interessante a vai ficando cada vez mais sombria com o passar do jogo e motivações vão sendo melhor compreendidas.
E para aqueles que estiverem achando Bloodroots muito difícil, existem opções de acessibilidade que permitem que o jogador elimine todos os inimigos da área, se só quiser explorar para encontrar segredos que faltam, ou se tornar invencível e não morrer para nenhum golpe.
A penalidade para o uso dessas facilidades é não poder se posicionar na tabela de classificação, mas se isso é a menor das suas preocupações essas opções está lá e podem serem usadas.
Mas no geral Bloodroots é uma surpresa extremamente agradável de um estúdio indie em início de carreira que conseguiu apresentar um título extremamente gostoso de jogar e fácil de recomendar se você gosta de jogos rápidos, frenéticos e bem-humorados.
Com certeza é um estúdio que vou acompanhar de perto para saber o que vão aprontar daqui para frente e se seguirem a linha de Bloodroots com certeza serão altas confusões com uma turminha do barulho.
A análise de Bloodroots foi escrita com base em uma cópia de PS4 fornecida pela assessoria de imprensa do jogo.