Análise Call of Duty Modern Warfare: Warzone

Call of Duty Modern Warfare lançou seu próprio Battle Royale gratuito chamado Warzone e ele é um dos melhores jogos do gênero.

Apesar da impressão de que o gênero/modo Battle Royale estaria ficando saturado, o fato é que o mercado dos BR gratuitos é uma pilha gigantesca de dinheiro que não cansa de dar lucro para as publicadoras que já estão nesse nicho. Com a enorme base de jogadores que a franquia Call of Duty já possui e após o sucesso do CoD Mobile, nada mais natural para a Activision/Infinity Ward do que lançar um produto completo do gênero para os consoles e PC. Mas o que ele tem de bom? Leia mais abaixo.

Three Little Birds

Warzone é um Battle Royale e em pleno 2020 A.D., todo mundo já sabe do que se trata. Ainda assim, o jogo trouxe uma adição interessante ao colocar 150 jogadores no mapa único e bastante variado. Locais de interesse estão organizados em uma área de 81 km² (e não 9km² como havia escrito antes) que é majoritariamente urbana mas que possui setores visualmente bem distintos como uma madeireira com galpões (o mapa Vikendi possui um local similar lá no PUBG), uma represa congelada e um aeroporto com hangares amplos, bem como um cemitério de aviões. Mapa CoD Warzone

Maior que Erangel e Miramar.

São cinquenta equipes com três jogadores em cada uma (dá pra fechar o lobby se quiser jogar solo ou em dupla) e muita gente cai junto para tentar os pontos mais disputados atrás dos equipamentos mais raros, o que não significa que aqueles que fugirem dessas zonas sairão no prejuízo já que por todo o mapa é possível ouvir o som emitido pelas caixas contendo equipamentos. Sim, exatamente como em Fortnite.

Warzone modifica um pouco as convenções mais comuns presentes em todos os outros jogos do gênero, começando pelo pulo do avião, fase em que dá pra cortar o pára-quedas, mergulhar em direção ao chão e abri-lo novamente quantas vezes forem necessárias. Também já começamos com uma pistola equipada para lidar com os inimigos desde o início, uma decisão absolutamente coerente com o produto, já que todos os jogadores estão equipados apropriadamente para o campo de batalha, com fardas, botas e capacetes. São três soldados por time em vez de três pessoas com roupas coloridas e nesse aspecto Warzone já me agrada mais do que os seus concorrentes. Apesar de que eu não ficaria surpreso se visse trajes coloridos correndo por todo lado. Um jogo gratuito precisa vender alguma coisa, afinal.

Ainda acho curioso que os grupos estejam divididos em trio e não quatro jogadores mas isso é detalhe. O sistema mais relevante trazido de Apex Legends é o de marcação de equipamentos, lugares e inimigos que é fundamental mesmo jogando com amigos e conversando via party ou discord, já que um Battle Royale exige mais coordenação que outros modos multijogador.

Warzone loot box
Cuidando caixão.

 

Warzone também tem um sistema distinto de proteção e cura. No início da partida, caímos com 100 pontos de vida mais duas placas de proteção com 50 pontos em cada. Podemos acrescentar uma terceira placa, totalizando 250 pontos de vida e ainda guardar mais 5 placas extras no inventário que podem ser inseridas segurando triângulo. A troca leva um tempo, mas não muito, e é absolutamente necessário usar todas as placas possíveis ou doar algumas extras para os companheiros do trio com o menu acessado pelo direcional para baixo.

Esse menu também guarda granadas ou itens de cura (a seringa de ressuscitamento é o único, na verdade) que ficam acessíveis com L1 e R1 em duas categorias: L1 para itens táticos como seringa, granada de gás, sensor de batimentos cardíacos (alô, Rainbow Six!) – e R1 para itens letais – granada padrão, granada thermite, molotov, C4 – e como só dá para ter um tipo de cada categoria por vez (C4 ou molotov, não ambos), o jogador terá mais uma decisão para tomar durante a partida. Nada que não possa ser combinado com os demais jogadores do time.

A Volta do Boêmio

Warzone foi talhado para se encaixar bem no centro de dois espectros já existentes: não é tão difícil e punitivo como PUBG e apesar das facilidades, se mantém afastado da fantasia dos heróis com habilidades do Apex Legends ainda que empreste desse a possibilidade de retornar ao campo de batalha após morrer num tiroteio, fazendo isso do seu próprio jeito, claro. Uma partida completa no Warzone deve demorar cerca de meia hora e nos primeiros dezoito minutos, todos os jogadores mortos serão levados para a Gulag, onde irão disputar a chance de retornar ao time em uma luta com outro jogador, cada um com uma arma aleatória, similar ao modo Gunfight do Modern Warfare (2019). Caso vença, o jogador cai do céu novamente bem acima do seu time e caso perca, ainda há a chance de ser comprado de volta pelos amigos. Cada jogador morto custa 4.500 dinheiros para ser revivido e só pode ser comprado em estações espalhadas pelo mapa, onde o jogador também pode adquirir habilidades e conjuntos de equipamentos – customizados fora do jogo conforme evoluímos e chamados para a partida por meio de caixas. É um sistema que parece mais complexo de explicar do que é de verdade, porque é bastante fácil de entender quando se está jogando, pode acreditar.

Warzone gulag
No Gulag com os amigos

Além desse, há vários outros sistemas em funcionamento que estão ali para rechear a partida com mais coisas para fazer do que apenas procurar equipamento e se preparar para os confrontos. Missões rápidas são espalhadas pelo mapa para incentivar os jogadores a explorar e já que a morte não encerra a partida de vez, sempre vale a pena considerar cumprir os objetivos para ganhar equipamentos e dinheiro. Se não fosse possível reviver os amigos, talvez esses contratos ficassem restritos aos jogadores mais experientes e os iniciantes julgassem mais seguro avançar em segurança, sem arriscar perder um membro do time (ou todos).

Warzone resolve até mesmo um problema que PUBG resolveu só após uns bons anos: um modo que sirva como treino para se habituar ao jogo principal. Além de ter um Battle Royale com bots, tem o modo Plunder que funciona no mesmo mapa e tem uma premissa própria para incentivar os jogadores. Nele, você e seu time têm a missão de acumular 1.000.000 de dinheiros antes dos demais times, sendo possível extrair parte dele via helicóptero (oi, The Division!) ou balões (oi, MGSV Phanton Pain!) e aqui o reaparecimento ocorre após algum tempo. Ótimo pra quem quer praticar antes de encarar o desafio principal.

Warzone Gulag sucesso
Fuga da Gulag.

What a Wonderful World

Tudo isso seria perfumaria se o jogo não funcionasse a contento, a exemplo do H1Z1 que também é gratuito e infelizmente não faz muita coisa direito. CoD Warzone é um jogo ágil, bastante refinado e lindo, graças ao motor do Modern Warfare. Ainda que os detalhes mais sofisticados sejam suavizados para uma experiência estável, o multiplayer roda a 60 quadros por segundo mesmo no primeiro modelo do PlayStation 4.

Pequenos detalhes como a animação do soldado recarregando sua arma – ele sempre tem um pente extra à mão e dá pra ver que ele jogou fora o que estava vazio – ou substituindo uma placa de proteção do colete à prova de balas adicionam muito à imersão mesmo que os itens apareçam flutuando no cenário ou pulando para fora de um corpo caído. Os prédios possuem iluminação e renderização únicas, cada um com uma aparência distinta por dentro – um hospital possui corredores limpos e amplos, uma casa tem quartos com papel de parede, jornais nas janelas e plantas, um galpão terá muitas caixas e barris metálicos espalhados – e essa variedade de construções junto com o para-quedas que está sempre à disposição adicionam uma boa dose de verticalidade às batalhas que podem acontecer em telhados ou nas escadarias dentro de um prédio de apartamentos.

O design de som do jogo é incrível. O som das armas é brutal e recomendo muito jogar com fones de ouvido para ter a melhor experiência, mas o a mixagem do jogo poderia ter menos inserções do narrador dizendo coisas como “seu amigo foi para o Gulag, se ele vencer, volta para a partida” ou “você perdeu mas seu time pode te comprar de volta”. Se for possível desligar essa conversa toda, é melhor. O mesmo talvez sirva para a trilha sonora ocasional que é discreta, mas também não ajuda em nada e pode atrapalhar o jogador, mesmo que o radar mostre os inimigos que estejam atirando ao nosso redor.

Warzone já ultrapassou a marca de 6 milhões de jogadores nas primeiras 24 horas e conforme a Activision for atualizando o jogo/serviço, mais e mais pessoas irão tentar a sorte nesse Battle Royale gratuito. Estou muito satisfeito com o jogo – apesar de ser o rei da derrota e não sendo fã da franquia Call of Duty – e sentindo a mesma distinta euforia que tive quando joguei Battlefield 3 pela primeira vez. Espero muito que esse jogo pressione outras desenvolvedoras a elevar a qualidade seus jogos (cadê o Rainbow Six Battle Royale?) e que esse gênero, que hoje é o meu preferido para multiplayer, se torne cada vez mais popular. Recomendadíssimo!

Warzone vitória
Na minha primeira vitória, é claro que eu tirei foto da tela errada…
Diego Matias
Além dos reviews, escrevo no Riffs & Solos e faço vídeos com meu irmão no canal SuperContra. Passa lá!