Análise DOOM Eternal (PS4)
DOOM Eternal eleva a franquia a outro patamar ao combinar uma jogabilidade com adrenalina no máximo a visuais impecáveis e uma trilha sonora incrível.
Quando DOOM Eternal foi anunciado na E3 2018 meu primeiro pensamento foi em como seria difícil para os desenvolvedores ultrapassar a qualidade de DOOM (2016) e não cair na tentação de repetir o mesmo jogo só que maior.
Eu devia ter acreditado mais no amor desse time pela franquia, por que sim, DOOM Eternal é maior em escopo, mas o mais importante é como ele consegue ser melhor em todos os aspectos comparados ao anterior.
Tem gráficos surpreendentemente melhores e mais detalhados além de estar ainda mais frenético, sanguinário e mais difícil, especialmente nas últimas fases dependendo da dificuldade escolhida.
Embora esse salto de dificuldade não seja de todo ruim já que te incentiva a ser melhor e se tornar um mestre na arte de dilacerar demônios das formas mais acrobáticas possíveis.
E se de toda forma você achar que está muito difícil ou complicado passar alguma fase ou Chefe, não existem punições por diminuir a dificuldade e é possível fazer isso a qualquer momento.
Com dublagem e legendas em português do Brasil DOOM Eternal foi desenvolvido pela id Software e publicado pela Bethesda Softworks para PlayStation 4, PC, Google Stadia e Xbox One e lançado em 20 de março de 2020.
Uma versão para Nintendo Switch foi anunciada, mas ainda sem data de lançamento definida.
A riqueza está nos detalhes
Dublagem e legendas em português são muito importantes aqui visto que mesmo que o DOOM Slayer seja um sujeito de poucas palavras existem outros personagens que interagem com ele através de hologramas, gravações, comunicação via rádio, etc.
E tudo bem se o seu interesse em DOOM Eternal for apenas na jogabilidade e se para você a narrativa se resume basicamente ao seu personagem ser a última linha de resistência contra uma invasão demoníaca.
E apesar desse ser um resumo bem honesto, DOOM Eternal traz uma expansão gigantesca do universo, bem interessante, se você curtir esse aspecto.
Um extenso Códice, que pode ser consultado a qualquer momento no menu de pausa, aprofunda a lore da série como um todo, trazendo desde a história de como a humanidade enfrentou essa ameaça até as tradições ancestrais da classe de guerreiros a qual o DOOM Slayer pertencia, além claro de diversas dicas em como enfrentar os diferentes tipos de demônios.
Então sem aprofundar muito, inclusive para evitar spoilers, para cessar a invasão demoníaca, que eliminou 60% da população mundial, o nosso personagem precisa encontrar e derrotar três sacerdotes demoníacos e sua comandante que estão escondidos em diferentes localidades, de onde coordenam a invasão infernal.
E o fato de estarem separados é a desculpa perfeita que os desenvolvedores tiveram para variar os cenários, e você percorre várias áreas distintas, desde locais na Terra tomados por um inferno orgânico de sangue e carne até áreas nevadas, instalações industriais e estações espaciais em outros planetas.
A variedade impressiona frente as áreas mais contidas do jogo de 2016, mas muito além disso o que se destaca nem é a quantidade e sim a qualidade na construção desses cenários titânicos.
Os gráficos e níveis de detalhas nas construções, no próprio DOOM Slayer, inimigos, paleta de cores e efeitos são simplesmente incríveis, e talvez esse seja um dos jogos mais bonitos dessa geração.
Todas as screenshots deste texto foram tiradas por mim em um PS4 base e é de cair o queixo o quanto de zoom é possível a imagem e continuar com uma qualidade impecável.
Esse salto tecnológico foi possível pela capacidade da nova engine proprietária, a id Tech 7, que foi usada pela primeira vez aqui em DOOM Eternal.
Sem entrar em muito detalhes técnicos, mas para que se tenha uma noção do avanço dela em relação a id Tech 6, usada no jogo anterior e em Wolfenstein: Youngblood, a nova engine possibilita que DOOM Eternal tenha 10 vezes mais polígonos e fidelidade gráfica.
Vou repetir: 10 vezes mais polígonos e fidelidade gráfica. É muita coisa.
Quando a primeira cutscene terminou eu demorei literalmente uns 3 segundos para entender que já estava no comando do personagem já que o gráfico continuava impressionantemente o mesmo da CG.
Balé da carnificina
Como beleza não é tudo, de nada adiantaria ser um game lindíssimo e não ser divertido e gostoso de jogar.
Mas essa é uma preocupação que acaba já nos primeiros segundos da campanha. DOOM Eternal não é só mais um shooter, mas sim uma maravilha que mistura ritmo, violência e adrenalina em primeira pessoa.
E por mais bizarro que possa soar essa comparação, ele é quase um game de ritmo e já explico o porquê.
O DOOM Slayer é um figura mítica e justamente por ser essa lenda, a única forma de tentar acabar com ele é através de números, e por conta disso a quantidade de inimigos que te atacam de uma só vez é algumas vezes quase injusta.
E embora você tenha armas poderosas é necessário explorar a fraqueza específica de cada demônio variando constantemente as armas no meio de uma luta campal sanguinária.
Acerte um inimigo com uma granada, pule e mude para a escopeta, mate outro, mude para a motosserra para executar um terceiro e recuperar munição, alterne para o lança-foguetes e acerte um inimigo mais forte, faça uma execução gloriosa para recuperar saúde enquanto recarrega o lança-chamas para conseguir armadura, use o gancho para alcançar um inimigo mais distante e finalizar a batalha com um soco poderoso.
A principal característica de DOOM Eternal é isso: movimentação. Você precisa estar móvel o tempo todo e mirar com calma é um luxo que poucas vezes o jogador vai ter.
Pode parecer muita coisa para estar atento no início, mas quando se pega o ritmo, e isso acontece bem rápido, ele se torna quase um jogo de ritmo mesmo, em que o Slayer é o maestro e vai dilacerando os inimigos um a um em uma dança de pura violência e raiva.
Você sabe instintivamente qual o próximo passo antes mesmo de dar o atual por saber como o inimigo reagirá a sua ação, e é bom pensar rápido, mesmo sendo o fuzileiro mais bruto da galáxia morrer em DOOM Eternal é muito fácil caso você hesite.
E pode se acostumar, a morte será um companheiro constante na sua jornada em DOOM Eternal.
BFG Division
Mas não se preocupe muito em morrer, os loadings são muito rápidos e a morte no final das contas vai servir como aprendizado.
Para te auxiliar no estraçalhamento dos demônios o game fornece um arsenal muito bom de armas, entre eles 8 “armas de fogo” e acessórios como motosserra, granadas, lança-chamas e uma surpresinha nos capítulos finais.
Duas armas são equipadas por vez e podem ser alternadas rapidamente com o toque de um botão.
Se preferir o jogador pode acessar um menu radial e escolehr uma das 6 outras, mas ao acessá-lo a ação não para, só o tempo que desacelera um pouco, então seja rápido.
Cada arma (exceto uma especial) tem dois acessórios que modificam o seu modo de tiro, que pode ser alternado com um toque no d-pad a qualquer momento. A escopeta, por exemplo, tem um lança-granadas e um modo metralhadora, já a balista tem um tiro explosivo e um dardo que quando concentrado ataca em área como uma lâmina.
Para desbloquear essas modificações é preciso explorar os cenários e encontrar totens flutuantes da UAC e após liberadas cada uma tem duas categorias de melhorias que podem ser compradas com pontos de armas, ganhos ao derrotar inimigos.
É tentador gostar de uma arma específica e querer usá-la o tempo todo, mas como mencionado anteriormente, inimigos diferentes exigem abordagens distintas e até a ordem para eliminá-los é importante, então trocar as armas no meio do combate é a chave para o sucesso.
Obviamente é possível ser teimoso e usar só uma arma durante quase o game inteiro e eventualmente você vai conseguir matar os demônios, mas será necessário gastar muito mais recursos para isso e eles são escassos em DOOM Eternal, apesar disso poder ser facilmente contornado com ferramentas que o próprio jogo te apresenta.
O lança-chamas, por exemplo, faz inimigos soltarem partes de armadura, já a motosserra recupera munição e as Execuções Gloriosas, que são possíveis de serem realizadas quando o inimigo brilha indicando que pode ser finalizado, fornecem vida ao Slayer.
Além de possuírem animações visualmente grotescas e lindas ao mesmo tempo.
Por outro lados todas essas ferramentas têm tempo de carregamento e é preciso as utilizar na hora certa para que não seja surpreendido no meio do combate sem alguma, já que isso pode ser a diferença entre conseguir ficar vivo ou ser humilhado nas arenas.
Dividir, conquistar e explorar
Mas DOOM Eternal não é frenético o tempo inteiro e a estrutura das fases possibilita momentos onde é possível respirar e abaixar a adrenalina.
Como os mapas são imensos eles são divididos em várias pequenas arenas e por conta da grande verticalidade das áreas e da extensa mobilidade do Cara do DOOM existe um foco grande em sessões inteiras de plataforma e exploração.
Existem checkpoints suficientes e bem espaçados, o que evita a repetição de grandes trechos se o jogador morrer.
Terminar uma batalha épica quase sempre significa que a próxima parte vai focar na exploração dos cenários ou em puzzles de plataforma.
E explorar é importante visto que existem itens escondidos que ajudam na melhoria tanto do traje do seu personagem, conferindo mais saúde e mais armadura, como runas que concedem modificadores de jogabilidade, passando por melhorias nas granadas que aumentam sua potência ou diminuem seu intervalo de utilização, por exemplo.
Outra parte não menos interessante que justifica essa caça a tesouros são os muitos colecionáveis estéticos, como action figures da horda infernal e discos contendo músicas de franquias da id Software que quando encontrados passam a integrar a memorabilia da sua base.
Isso mesmo, agora o Slayer tem uma fortaleza que flutua no espeço e é lá que ele relaxa lendo quadrinhos e revistas de armas, enquanto não está promovendo massacres a demônios, e é dessa base também que ele rastreias os sacerdotes infernais e abre portais para as diferentes missões.
Quando as missões terminam na maioria das vezes o jogador é transportado para a base e lá é possível interagir com todos os colecionáveis encontrados, além de vários easter eggs interessantes para os fãs da franquia.
Nessa base também é possível desbloquear trajes, ouvir os discos encontrados e se tiver achando todos os disquetes de trapaças (colecionáveis que permitem o jogador usar cheats) é possível jogar o primeiro DOOM clássico no Pentium 486 do nosso amigão matador de demônios.
Mas se você preferir DOOM II não tem problema, os desenvolvedores colocaram ele na outra pasta desse mesmo PC, basta descobrir um código secreto e você consegue acesso ao game.
Heavy Metal from Hell
E se um dos pilares da franquia DOOM é a sua jogabilidade violenta e frenética, o outro com certeza é a trilha sonora.
Mick Gordon que compôs a excelente trilha do jogo de 2016 retorna aqui em DOOM Eternal para fazer mais um trabalho fenomenal, distorcido e brutal.
É impossível pensar no game sem essa trilha sonora e muitas vezes nas partes mais frustrantes, onde estava morrendo mais do que gostaria de admitir, o que me dava um gás a mais para continuar era a guitarra de 8 cordas em conjunto a bateria selvagem e os sintetizadores distorcidos desse gênio.
Multiplayer competente
E se a excelente e extensa campanha não for suficiente para matar a sua fome de carnificina, o título conta também com um modo multiplayer chamado Battlemode onde dois jogadores assumem o papel de demônios e um jogador o papel do Slayer, em um esquema 2×1.
Pode parecer meio injusto pensar que são dois demônios poderosos contra um único jogador, mas é incrivelmente bem balanceado, apesar de eu preferir jogar como demônio.
O tempo de espera das habilidades dos demônios é maior se comparados ao do Cara do DOOM, que além de todo o arsenal a seu dispor também dispõem de mais vida e armadura que na campanha.
Por outro lado, um time bem coordenado que não dê tempo e espaço para o nosso herói pode acabar com a partida em poucos minutos.
Essas partidas são conduzidas em até 5 rounds em um esquema melhor de 3 e os papéis são definidos antes do início da mesma.
O Slayer pode matar os demônios várias vezes durantes os rounds, já que eles revivem depois de um intervalo de tempo, mas ao matar o segundo antes que o primeiro reviva o round acaba.
Já o time dos demônios precisa matar o Cara do DOOM apenas uma vez para obter a vitória naquela rodada.
É um esquema de multiplayer bem simples, mas ao mesmo tempo viciante e mesmo que você não seja muito chegado em componentes online em games recomendo jogar algumas partidas desse modo nem que seja para testar as diferenças na jogabilidade de cada demônio.
Vale bastante a pena.
Fechando a conta
Talvez nem precisasse desses últimos parágrafos visto que se você chegou até aqui já deve ter percebido o quanto eu achei o jogo excelente e viciante, mesmo em momentos em que a dificuldade escala um pouco além da conta, principalmente nas fases finais, além de lindíssimo e com um trilha sonora maravilhosa.
Mas se você ainda precisa ser convencido a única coisa que posso acrescentar é que DOOM Eternal é uma celebração e uma homenagem à franquia e tem potencial para agradar tanto os fãs antigos como os novos adeptos da arte de dilacerar e destroçar demônios.
E se eu fosse você não ficaria de fora dessa.
A análise de DOOM Eternal foi escrita com base em uma cópia de PS4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.