Análise Resident Evil 3 (PlayStation 4)

Resident Evil 3 é uma excelente reedição e homenagem imperdível para esse clássico survival horror.

resident evil 3 capa

Em 2018, ano em que finalmente comprei um PlayStation Vita, meus primeiros jogos adquiridos foram Resident Evil 1, Resident Evil 2 e Resident Evil 3 Nemesis. Eu tenho os dois primeiros jogos como obras primas imaculadas no meu conceito (quem não tem?) e por algumas razões específicas RE3 era uma mancha no meu currículo principalmente por causa do Nemesis me perseguindo o tempo todo. Isso mudou hoje.

Jill Valentine
A lendária Jill Valentine.

All Nighmare Long

Sem qualquer outra exposição, exceto pelas notícias sobre o caos que tomou conta de Raccoon City, começamos o Resident Evil 3 controlando Jill Valentine, policial membro do time alfa dos S.T.A.R.S. que planeja o momento em que deixará a cidade. O plano dela vira de ponta cabeça quando se dá conta que toda a população da cidade virou zumbi e que está sendo caçada por uma criatura gigantesca.

Só posso imaginar como deve ser a experiência de quem não jogou a série clássica e está conhecendo Resident Evil pelos remakes. Lembro da estranheza que senti quando os protagonistas do primeiro jogo foram trocados na sequência e prevejo a mesma sensação naqueles que aguardavam o retorno da dupla Leon e Claire nesse novo capítulo e receberam a mestre das fechaduras e tocadora de piano dos S.T.A.R.S. no lugar. Eu que adorei jogar com a Claire no RE2 2019 (leia a análise de Resident Evil 2), fui pego de surpresa e adorei o retorno da clássica co-protagonista da série porque Jill Valentine, diferentemente de Claire Redfield, não é uma novata. Chamada de “Supercop” por alguns personagens secundários, Jill é precedida pela sua reputação e seu encontro anterior com a Umbrella moldou a maneira como a policial encara sua missão e as pessoas que encontra no caminho – ela é muito mais assertiva e cínica sobre tudo o que está acontecendo na cidade.

Re3 UBCS
Jill encontra novos “amigos”.

Essa postura agressiva até no modo de falar caracteriza muito bem a personagem, é a melhor defesa contra tudo o que a cidade joga contra ela e condiz muito com a jogabilidade. Não existe qualquer dúvida de que essa moça é capaz de lidar com todas as criaturas que aparecerem na sua frente usando preparo físico, tiro e faca, tanto que na prática, sua agilidade é demonstrada pela “nova” mecânica de esquiva que quando for executada no momento perfeito, garante ao jogador uma desaceleração breve no tempo, suficiente para enfileirar alguns tiros na cabeça do zumbi que tentou agarrá-lo. Pode parecer difícil de executar no início mas com prática dá pra usar esse movimento contra todos os inimigos, inclusive o maior deles.

True Survivor

Mais do que uma releitura do jogo de 1999, Resident Evil 3 possui uma relação muito próxima com o RE2 2019 tanto nas similaridades – engine, movimentação, jogabilidade, mecânicas – como nas diferenças e o Resident Evil 3 é deliberadamente distinto do anterior em sua estrutura porque enquanto o RE2 2019 apresentava dois personagens pegos de surpresa pela pior circunstância possível, a aventura da Jill Valentine começa com os dois pés no acelerador, o que causa uma agradável superposição de significados: Jill não precisa de tempo para se ambientar porque já está preparada, assim como o jogador já está preparado pois jogou o último Resident Evil.

Além dessas diferenças, Resident Evil 3 amplia o pouco que se viu das ruas de Raccoon City e não apenas troca a ordem como remove cenários inteiros do jogo original para criar a sua própria versão da fuga de Jill. Algumas intersecções entre esse jogo e o do ano passado dão a sensação de que eles não são apenas sequência mas complementos, como se RE3 fosse um disco extra naquela coleção. Uma maravilhosa surpresa para os fãs e uma elaboração da ambientação original. Valentine passa um bom tempo em uma missão específica pelas ruas e edifícios da cidade (a missão da demonstração) que dão propósito aos pequenos puzzles e à busca por equipamentos fazendo com que as ações sejam mais orgânicas do que acontecia na versão original, melhoria que também vale para os personagens secundários, incluindo o presumidamente brasileiro Carlos Oliveira, membro da U.B.C.S. (o exército da Umbrella) e personagem jogável.

Raccoon city 3
Raccoon City já foi melhor.

Eu não vou falar sobre as partes com ele mas saiba disso: Carlos é 100% carisma!

A decisão de alternar entre os dois personagens durante a trama é bem executada sem que um protagonista tire o brilho do outro e, como não poderia ser diferente em Resident Evil, sem que haja qualquer sombra de estereótipos como donzela em perigo ou brutamontes sem inteligência. A relação de amizade entre Jill e Carlos se desenvolve naturalmente conforme as circunstâncias exigem que eles tomem decisões e o ponto da troca é sempre interessante e sempre dá vontade de seguir com o personagem da vez.

L’America di Jill

A principal mudança que o RE3 trouxe com relação aos primeiros jogos da série foi o foco em apenas uma campanha e isso também foi replicado aqui sendo que a alternância entre os personagens cumpre o papel de acrescentar uma experiência diferente ao que de fato é um produto mais conciso do que os dois cenários da Claire e do Leon. Mas a campanha compactada não se resume a tiroteio e chutes como a série se transformaria em Resident Evil 4 porque mesmo com o jogo apresentando cenas de ação, ele ainda mantém a violência e o gore que fizeram muitos colocarem RE2 2019 como sério candidato a jogo do ano. Hordas de zumbis podem acabar com o jogador em cenas perturbadoras de terror gráfico, tem também criaturas com sérias influências de Alien, o 8º Passageiro que executam ataques grotescos e cenários com detalhes de revirar o estômago (um lugar em especial foi brutalmente devastado) que não deixam dúvida pro avaliador na hora de carimbar que esse é um jogo para maiores de 16 anos. A variedade de cenários é tão interessante quanto a variedade de inimigos e estratégias para combatê-los, e ainda tem o principal: Nemesis.

Re3 Nemesis
“STAAARS…”

Já li opiniões dizendo que o perseguidor implacável dos S.T.A.R.S. é só um boneco “scriptado” e outras dizendo que ele aparece pouco e deveria ter mais espaço. A minha opinião é que ele cumpre o seu papel melhor do que o Mr. X cumpriu o dele. Nemesis não aparece apenas para tirar o jogador da zona de conforto mas nas horas em que a fuga da Jill precisa avançar e, a melhor parte, nunca interrompe a exploração do cenário. Além disso, voltar ao jogo caso perca para ele é um milhão de vezes menos frustrante do que era no jogo do PlayStation 1. Um alento porque o gengivão tem vários truques debaixo do sobretudo de saco preto.

Re3 esgotos
“Algo não cheira bem nessa cidade…”

RE3 é como um ótimo filme de ação e terror com influências de Exterminador do Futuro, Alien(s), Fuga de Nova York, Bloodborne e, claro, George Romero. Mais do que isso, esse jogo é uma homenagem belíssima ao legado da própria Capcom cuja trilogia Resident Evil clássica é um marco. Se você é fã dos três jogos ou se você conheceu a série somente no ano passado e gostou, certamente irá gostar do RE3. A Capcom pegou o jogo com o qual eu menos me importava daqueles antigos e transformou em algo que eu não gostaria de perder por nada. Não consigo nem imaginar o que pode ser feito com a primeira missão com Jill Valentine e Chris Redfield na mansão Spencer mas se for tão bom quanto Resident Evil 3, eu posso fechar os olhos e esperar tranquilo.

Resident Evil 3 vem acompanhado do multiplayer assimétrico Resident Evil Resistance. Esse jogo vai ter sua própria análise em breve aqui no site.

A análise de Resident Evil 3 foi feita com base em uma cópia cedida pela assessoria de imprensa da Capcom.

Diego Matias
Além dos reviews, escrevo no Riffs & Solos e faço vídeos com meu irmão no canal SuperContra. Passa lá!