Análise Wartile (PS4)
Batalhas usando miniaturas, comandos simples e cenários bonitos fazem de Wartile uma transposição quase perfeita de jogos de tabuleiro para os videogames.
Para a maioria das pessoas a infância é uma fase mágica de muita fantasia, inocência e brincadeiras. Além disso, não precisar se preocupar com boletos torna tudo mais mágico ainda.
Uma parte nostálgica, que lembro com carinho, dessa época eram as batalhas e histórias mirabolantes que inventava brincando com os meus soldadinhos de plástico.
Um brinquedo muito simples, mas com inúmeras possibilidades.
Meus soldados enfrentavam guerras, monstros e até alienígenas. Eram companheiros leais e estavam sempre, heroicamente, prontos não importava o tamanho da ameaça.
Infelizmente, alguns morriam em batalha e era necessário dar a eles um enterro digno no quintal de casa, para desespero da minha mãe, que sempre reclamava quando tinha que comprar novos “hominhos”.
Tabletop Nórdico
Em um nível básico, Wartile é uma viagem nostálgica e uma reimaginação dessas brincadeiras de soldadinho transportadas para dentro dos videogames. A diferença é que agora as histórias são sobre Vikings, mais soturnas e violentas.
Wartile funciona como um jogo de tabuleiro de mesa em que os cenários são estáticos e o jogador movimenta as suas unidades em miniatura em um combate estratégico em tempo real.
Ao alcançar as posições definidas, as miniaturas realizam seus ataques básicos automaticamente enquanto o jogador gerencia comandos complementares como cura, armadilhas e magias utilizando um deck de cartas, que pode ser definido antes de cada partida.
Desenvolvido pela Playwood Project e distribuído pela Deck13 Interactive GmbH e disponível desde 2018 para computadores, Wartile fez o seu debute no Xbox One e PlayStation 4 em 24 de março de 2020.
E para quem prefere consoles, ou não gosta de jogar no PC, essa diferença de dois anos de espera valeu a pena já que a transposição dos comandos, que parecem muito naturais e simples em um teclado e mouse, para os controles do Xbox e do PS4 foi executada de forma perfeita.
Xadrex Viking
Wartile têm comandos bem implementados, e já no final do primeiro ou início do segundo tabuleiro você vai estar dominando todos eles naturalmente.
Basta segurar a peça que quer mover com o X, escolher a posição no grid, soltar o botão e pronto, seu boneco iniciará a batalha se os inimigos estiverem ao alcance.
Já as cartas contêm habilidades e armadilhas, e são alternadas através do L1 ou R1, cada uma tem um tempo de espera entre os usos e um custo em runas, chamadas de battlepoints, o que é representado por um número na parte superior da carta.
Ao completar ações como derrotar inimigos, abrir baús de tesouro, destruir construções ou completar objetivos secundários o jogador ganha esses pontos rúnicos, que são usados como cargas dessas habilidades.
E assim como nos jogos de mesa, parte fundamental para o sucesso em Wartile reside, justamente, no gerenciamento estratégico do uso desses recursos.
Em muitas situações usar uma carta com um poder mais forte e terminar a batalha rapidamente é a solução para evitar o desgaste das suas unidades. Por outro lado, cartas poderosas tem um custo de battlepoints maior, então é preciso fazer um balanço para não ser surpreendido em uma situação em que precise se curar e não ter pontos suficientes, por exemplo.
Em suas posições… Valendo!
Além das cartas, o outro fundamento principal de Wartile é o posicionamento.
Ao movimentar uma das miniaturas ou a unidade como um todo existe um pequeno tempo de espera até que a próxima ordem seja executada. Você pode até dar o comando, mas ele só será efetivado quando o tempo de espera do anterior terminar.
E como o game não é baseado em turnos e sim em tempo real, não é preciso esperar a ação do inimigo terminar para realizar a sua, o único impedimento é esse cooldown, e, obviamente, isso vale para os seus inimigos também.
Os tabuleiros têm diferenças na topografia, então buscar posições estratégicas mais elevadas, ou que permitem flanquear os inimigos, é vital, já que nesses dois casos o dano recebido pelas suas peças é menor e o dano causado maior.
Brincando de RPG
O jogo base vem com 11 cenários diferentes e outros podem ser adquiridos via DLCs, com recompensas diferentes em cartas e equipamentos, podendo ser repetidos quantas vezes o jogador desejar, ou em outras dificuldades, para novos loots e evolução das suas figuras.
Seus personagens sobem de nível de acordo com a utilização e novos podem ser desbloqueados e “contratados” na Taverna ao concluir determinadas missões, então se gostar da jogabilidade e habilidades de uma miniatura específica basta levar ela sempre com você e gradualmente elas ficarão melhores.
É possível comprar e vender armas e armaduras com o dinheiro ganho ao final de cada cenário, já cartas novas são recompensas por terminar fases em um determinado tempo, pontuação ou ao cumprir objetivos secundários.
Existe ainda um sistema de tokens, encontrados em baús das missões ou comprados na loja, que concedem vantagens como mais ataque, saúde, armadura, etc., e são equipados de acordo com o nível do personagem. Por exemplo, um personagem nível 3 pode equipar 3 destes perks, além de um token especial extra mais poderoso concedido em missões específicas.
O Norte se lembrará
Wartile é uma transposição quase perfeita de um jogo de tabuleiro de mesa para os videogames, mas não é isento de pequenos defeitos.
É um game simples de dominar e relativamente fácil nos tabuleiros iniciais. O verdadeiro desafio fica reservado para as versões destes cenários em dificuldades maiores, ou para quem quiser completar os desafios secundários das missões.
Os gráficos dos cenários e das miniaturas são muito bonitos, e, como o jogador pode girar livremente a câmera no local em que os personagens estão, é possível observar toda a riqueza dos detalhes dos mesmos.
Um ponto que particularmente não gostei foi um efeito desfoque aplicado nas bordas do seu campo de visão, dependendo do zoom aplicado.
É um efeito bonito, mas ainda assim eu preferiria poder ver tudo com a melhor nitidez possível.
Infelizmente, não existe um Modo Foto em Wartile, o que é uma pena já que esse recurso casaria muito bem com a proposta do jogo. Seria maravilhoso ter a opção de pausar uma batalha no meio da ação e tirar screenshots lindíssimas.
Assim como outros games nada impede que essa função seja incluída em um update futuro, mas devido ao escopo do jogo duvido que isso aconteça.
Outro detalhe que pode atrapalhar principalmente quem joga em TV e não em monitor é o tamanho das letras nas cartas.
Com o tempo você se acostuma com as figuras e vai decorar a função de cada uma, mas ler o que está escrito durante a batalha sentado no sofá não é uma tarefa fácil.
A trilha sonora é bem orquestrada, mas poderia ter uma presença maior. Já a história, narrada no início e no final de cada missão, é boa e bem dublada, e apesar da riqueza de narrativa que a mitologia nórdica poderia proporcionar, ela só começa a entrar no terreno das lendas nos tabuleiros finais, o que é uma pena.
Tirando essas pequenas considerações, de modo geral minha experiência com Wartile foi boa e gostei da jogabilidade simples e direta.
Wartile é recomendado para pessoas que gostam de jogos de tabuleiro e estratégia em tempo real, mas que não tem tempo para jogos de gerenciamento muito longos ou complexos e procuram uma experiência com partidas mais curtas e que podem ser jogadas em pequenos intervalos.
A análise de Wartile foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.