Análise Mortal Shell (PS4)

Mortal Shell é um RPG de ação desafiador com um dos melhores combates inspirados em Dark Souls já lançados, mas com suas próprias inovações para o gênero.

Se você é um leitor frequente aqui do Conversa já deve ter percebido que um dos meus gêneros favoritos de jogos são aqueles com combate metódico regidos por estamina em que é importante estudar cada ação do inimigo e planejar a sua reação em um balé de violência e precisão.

Já escrevi sobre alguns deles aqui, como The Surge 2, Ashen e Hellpoint e joguei inúmeros outros dentre eles Nioh, Lords of the Fallen, Salt and Sanctuary e todos da From Software.

Esse gênero com fortes inspirações em Dark Souls ficou popularmente conhecido como souslike e assim como metroidvanias e roguelikes (que herdam o nome de suas maiores influências), categorizar um jogo assim ajuda a vender a proposta para os fãs ávidos por esse tipo de mecânica, todavia pode ser uma maldição.

Se o game tenta fazer tudo de acordo com a Cartilha Souls do Fã Xiita™ ele é uma cópia, e normalmente “copia só não faz igual” não é uma fórmula de sucesso a longo prazo, por outro lado ousar imprimir sua própria identidade é caminhar sob gelo fino com esses mesmos fãs e a recepção pode ser divisiva.

A atmosfera contribui para o tom sinistro do game

Mas ao terminar Mortal Shell posso dizer com tranquilidade que ele é ousado, consegue criar sua própria identidade e ser ao mesmo tempo familiar aos fãs do gênero e sem sombra de dúvidas é um dos melhores souslike lançados recentemente, e um bem desafiador.

Desenvolvido pelo estúdio Cold Symmetry, publicado pela Playstack com legendas em português do Brasil, Mortal Shell será lançado em 18 de agosto de 2020 para PlayStation 4, Xbox One e Microsoft Windows, sendo a versão de PC um exclusivo temporário da Epic Games Store, com lançamento na Steam previsto para 2021.

O invasor de corpos

A história de Mortal Shell é contada de uma forma indireta e cifrada através da interação com NPCs, leitura de objetos no cenário e descrição de itens e cabe ao jogador montar esse quebra-cabeças.

Mas basicamente o seu objetivo é encontrar locais de adoração ocultos, derrotar seus protetores e levar os espólios a um NPC chamado o Velho Prisioneiro para que ele possa cumprir seu objetivo, que obviamente não revelarei aqui.

Mortal Shell Mercador
Todo NPC pode ser seu amigo… por um preço.

Em um cenário em que o mundo está apodrecendo, onde só resta ruína, morte e decadência você é um ser frágil, desprovido de forma que para sobreviver parasita os restos mortais de guerreiros caídos em outras batalhas.

E daí vem o nome e uma das mecânicas principais do game: ao assumir a casca sem vida desses guerreiros além das suas formas físicas, você herda suas histórias e habilidades de batalha.

Esses receptáculos mortais funcionam como classes ou builds e essa é uma diferença fundamental em relação a outros jogos do gênero: aqui o jogador não evolui atributos tradicionais como vida, estamina, força ou o que o valha, o corpo escolhido é que ditará o quanto de de vida o seu personagem tem, se vai ser mais ágil e consequentemente mais frágil ou se será mais pesado e bruto, mas com menos estamina.

Isso pode parecer estranho e até tornar as coisas mais difíceis no começo para quem está acostumado com uma abordagem mais tradicional e esse choque inicial é excelente para agitar as coisas e tirar o jogador da zona de conforto já de cara.

A NPC mais importante, onde você melhora habilidades e salva o jogo

O primeiro corpo que pode ser habitado tem uma constituição mais balanceada e até que você encontre o que se adaptará melhor ao seu estilo de jogo (dentre os quatro existentes) esse terá que servir.

Eu testei todos, e é possível alternar entre eles em locais específicos ou utilizando um item consumível, mas na maior parte do tempo eu era Tiel, o Acólito, o equivalente a um assassino ou ladrão no RPG tradicional, tinha pouca vida e resistência, mas uma barra de estamina gigantesca, que me permitia golpear e me afastar rapidamente.

Um detalhe importantíssimo é que cada corpo tem um nome, e ao possuí-lo isso não é revelado ao jogador, e enquanto não descobrir quem você se tornou as habilidades e história desse corpo ficam bloqueadas.

Ao aprender seu nome as habilidades de cada casca são reveladas e podem ser adquiridas ao custo de Tar e Vislumbres (moedas do jogo) e essas variam de acordo com o corpo assumido, umas não gastam estamina ao correr, outras espalham uma nuvem de veneno ao derrotar um inimigo ou recuperam mais vida após um ataque especial, dentre outras.

Mortal Shell Tiel
Tiel, o Acólito foi o corpo que usei na maior parte do jogo

Mas uma habilidade comum a todos os corpos e liberada por padrão é a capacidade de Enrijecer, a outra mecânica vital de Mortal Shell.

Em vez de carregar um escudo, o jogador se torna o seu próprio ao se transformar em um bloco de rocha sólida indestrutível, pelo menos até sofrer um impacto, afinal não existiria jogo se você pudesse virar o Coisa do Quarteto Fantástico do começo ao fim.

Diferenças positivas

Apesar de comparar a mecânica de Enrijecer a um escudo capaz de negar dano ela tem muitas outras funções além disso e é uma importante ferramenta na estratégia de Mortal Shell.

Ao segurar um botão é possível se transformar em pedra pelo tempo necessário ou até receber um golpe, e durante a efetividade desse status o jogador fica protegido e recupera estamina normalmente, o que transforma a mecânica em um salva vidas em diversas situações.

Mortal Shell Hadern
É possível Enrijecer no meio do ataque como estratégia

Imagine que em uma luta contra um Chefe o personagem esteja sem estamina para desviar e esteja prestes a receber um golpe mortal, ao Enrijecer além de não receber dano o adversário ficará atordoado por um momento, e isso pode ser suficiente para recuperar a estamina que faltava para conseguir fazer um rolamento para longe de um próximo golpe e se recompor ou atacar de volta já que nesse estado de atordoamento o inimigo recebe mais dano.

Obviamente mesmo recursos fantásticos precisam ser bem gerenciados e existem intervalos de uso entre um enrijecimento e outro. Dependendo do corpo escolhido e das habilidades desbloqueadas esse tempo pode ser menor ou maior, o que cria uma camada extra de planejamento envolvido.

De qualquer forma se toda essa estratégia der errado e a barra de vida zerar o jogador não morre de imediato e sim é expulso do corpo, se conseguir retomá-lo existe uma última chance de continuar, aos moldes de Sekiro: Shadows Die Twice, a diferença é que fora da casca apenas um golpe é suficiente para te matar.

Fora do corpo a barra de vida é minúscula e você morre com um golpe

Outro diferencial em Mortal Shell é como o uso de itens funciona e embora tenha adorado como isso é apresentado sei que muita gente vai odiar isso com igual força.

Ao encontrar um item não é possível saber o que ele faz até que seja consumido, após o uso uma descrição simples é descoberta, mas como nem todo item é benéfico eu vejo muita gente se revoltando por usar itens em momentos inoportunos.

Por outro lado, ao usar um número X desse mesmo item você ganha familiaridade com ele e ao chegar ao nível máximo, os benefícios aumentam enquanto as partes negativas diminuem.

Existem itens que curam sua vida, mas são um pouco lentos tanto no efeito como no uso durante o combate e apesar de ser absolutamente viável usá-los em momentos oportunos existe uma outra forma de recuperar vida: através de um Riposte Poderoso.

Exemplo de como o sistema de Familiaridade funciona

O Riposte Poderoso pode ser usado quando o jogador deflete o golpe de um inimigo no tempo correto e tem barras de Determinação suficientes para isso.

Além da barra de vida e estamina em Mortal Shell cada corpo possui um status chamado Determinação que é alimentado todas as vezes que você derrotar inimigos ou conseguir executar deflexões no tempo correto.

Com duas barras de Determinação é possível realizar uma aparada e na sequência um Riposte Poderoso e assim recuperar parte da vida perdida ou usar uma habilidade especial de arma.

Será que vale mais a pena usar um item de cura e ser pego no meio da animação?

Ou é melhor ir para o tudo ou nada e tentar um parry/riposte e recuperar vida e causar um dano considerável no inimigo?

É o xadrez do risco recompensa e eu adoro isso nesse tipo de jogo.

Preparando para executar um Riposte Poderoso

Vale a pena?

Existem diversas outras coisas que diferenciam e destacam Mortal Shell dentro do gênero souslike, mas se for discutir todas as minucias, como evolução de armas dentre outros, esse texto ficaria imenso, mas creio ter abordado o principal e garanto que caso você seja fã desse tipo de combate cadenciado você precisa experimentar esse game.

Os gráficos são muito bonitos, com pequenos defeitinhos aqui e ali relacionados a motion blur, mesmo desligando ele nas opções, mas nada que atrapalhe significativamente.

E considerando que ele foi desenvolvido por um time de 15 pessoas é impressionante o que conseguiram alcançar em matéria de qualidade.

O game tem visuais muito bonitos

No quesito dificuldade Mortal Shell é bem desafiador, principalmente no trecho final, por subverter diversas mentalidades e formas de jogar que veteranos no gênero já tem como bagagem consolidada, e tem potencial para ser brutal com quem não está acostumado com esse tipo de gameplay.

Mas assim como em outros soulslike existe o incentivo do jogador aprender com os próprios erros e ser melhor a cada curva sombria desse mundo.

No final a recompensa é proporcional ao tamanho do desafio e conseguir dominar Mortal Shell é fantástico.

Mortal Shell Alaúde

A análise de Mortal Shell foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.


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Papai Platina
(Pouco) conhecido como Willian. Marido, pai de três filhos maravilhosos, fã de Stephen King, filmes toscos e trophy hunter nas horas vagas. No Twitter como @papaiplatina e willianmarques na PSN.