Análise West of Dead (PS4)
West of Dead mistura Velho Oeste e sobrenatural em um twin stick shooter com jogabilidade baseada em cobertura e entrega um rogue-lite desafiador e viciante que vai te prender por horas.
Cresci assistindo a inúmeros faroestes e lembro claramente quando vi pela primeira vez Clint Eastwood tirar satisfação sobre o senso de humor da sua mula em Três Homens em Conflito ou quando Terence Hill, que na época eu conhecia apenas como Trinity, A mão direita do Diabo, saia no braço em um bar sujo qualquer.
Então quando West of Dead foi anunciado fui imediatamente fisgado pelo game.
Além da temática western me agradar o estilo gráfico estilizado muito inspirado nos quadrinhos desenhados por Mike Mignola, principalmente em Hellboy, completaram o pacote do hype.
O que não tinha como saber na época, mas que pude confirmar agora é o quão gostosa, desafiadora e viciante a jogabilidade dele é e já adianto que caso você seja um fã de twin stick shooters vale muito a pena conferir esse título.
Desenvolvido pelo estúdio Upstream Arcade e publicado pela Raw Fury, West of Dead foi lançado em 05 de agosto de 2020 para PlayStation 4 e uma versão de Nintendo Switch prevista para dia 26, apesar de já estar disponível para Xbox One e Microsoft Windows desde junho deste ano.
O game conta com legendas e localização em português, um ponto positivo que sempre destaco nos meus reviews já que isso amplia o acesso a jogadores que não entendem ou tem pouca familiaridade com a língua inglesa, o que possibilita que ninguém perca nenhum detalhe da história de West of Dead.
Um morto entra em um bar
Em West of Dead você é um pistoleiro que foi morto de uma forma cruel em uma espécie de ritual macabro e agora precisa resolver as pendências com os seus algozes para encontrar a paz e deixar o Purgatório de vez e até conseguir alcançar esse objetivo o seu personagem vai morrer e voltar ao mesmo bar onde toda a jornada recomeça e recomeça e recomeça.
Esse pano de fundo é a desculpa perfeita para encaixar uma narrativa que justifique os ciclos de gameplay de West of Dead, já que por se tratar de um rogue-lite todas as vezes que morrer, independente do quão avançado estiver voltará ao início do jogo.
É importante ressaltar as diferenças entre roguelikes e rogue-lites para aqueles que ainda tem dúvidas quanto a isso. No caso do primeiro todo o progresso é apagado após a morte do jogador e no caso do último alguns itens, avanços ou recursos são mantidos.
Eu particularmente não gosto de roguelikes, mas adoro o ciclo de jogabilidade de rogue-lites como Rogue Legacy, Streets of Rogue, Children of Morta e o próprio West of Dead por sentir que ao manter algum progresso, mesmo na derrota, estou avançando e sendo recompensando por melhorar gradualmente a cada partida.
Esse tipo de mecânica pode ser frustrante e afastar muitos jogadores, mas garanto que ao finalmente conseguir superar uma fase específica em que morreu outras vezes a sensação de vitória que você terá é extremamente satisfatória.
E nesse sentido a estrutura de West of Dead acerta em cheio ao não deixar os momentos mais frustrantes sobrepujarem os momentos de superação.
O game é dividido em capítulos e cada um desses em fases com cenários distintos, se o jogador finalizar uma fase ele retorna aos fundos do bar, onde é possível gastar os Pecados que conseguiu ao derrotar inimigos e trocar por armas ou itens de habilidade que então poderão ser encontrados nas próximas fases para coleta ou upgrades dos cantis de cura, esses sim liberados imediatamente assim que desbloqueados.
As dungeons em si são geradas proceduralmente, mas todas conservam determinadas características comuns: em toda fase haverá um vendedor que aceita Ferro (a outra moeda do jogo além do Pecado) em troca de armas mais potentes; duas estações de upgrade em que é possível escolher melhorar um dos três atributos: mais vida, mais dano das armas ou maior dano das habilidades e um baú com um item aleatório.
O desafio fica por conta de percorrer o mapa dividido em corredores e salas amplas onde o combate acontece e encontrar esses recursos e upgrades para chegar ao próximo mapa melhor equipado, o que é absolutamente necessário já que a cada novo cenário o game torna-se mais desafiador.
Para isso o jogador conta com duas armas iniciais, espaço para duas habilidades ativas que podem ser utilizadas após intervalos específicos, e uma habilidade passiva, que é ativada em determinadas situações, como uma que recupera parte da vida do jogador caso ele acerte um inimigo logo após sofrer dano, por exemplo.
As armas e habilidades são bem variadas e podem ser alteradas a qualquer momento desde que encontre ou compre outras com o Mercador, mas as melhores precisam ser desbloqueadas com a Bruxa nos fundos do Bar para que possam estar disponíveis nos próximos cenários.
Alguns mapas específicos contam com lutas contra mini-chefes e por mais que inicialmente possa parecer um bom negócio evitar as suas arenas ao derrotá-los runas muito úteis são liberadas, uma por exemplo, permite acessar os terminais de teletransporte no mapa, o que facilita muito a exploração e diminui o backtracking.
E ao final de cada capítulo o jogador precisa derrotar uma versão do Pastor, o seu grande inimigo e o responsável por tudo de mau que está acontecendo no Purgatório.
O que torna West of Dead único?
Uma dos pontos que destacam West of Dead de outros rogue-lites, além do seu estilo de arte único, é como o game lida com luz e sombras, transformando essa dicotomia em um quebra-cabeças que precisa ser resolvido já nos primeiros segundos ao entrar em uma arena.
West of Dead é o Purgatório, um lugar vil, cheio de dor e lamentação e com monstros espreitando no canto mais escuro do cenário. E para derrotar esses monstros é necessário trazer um pouco de luz para combater as trevas e isso é feito através de lampiões que precisam ser acessos durante o combate.
Você pode até matar todos os inimigos usando a pouca luz que existe naturalmente, mas a precisão das suas armas não é muito boa no escuro, então é necessário avançar de cobertura em cobertura até o local desses lampiões para tornar o cenário mais claro e facilitar as coisas.
Outro detalhe importante é que assim que a luz é feita os inimigos no raio de ação da sua luminosidade ficam atordoados por alguns segundos, o suficiente para escapar de uma situação ou aproveitar para finalizar um ou outro oponente.
Esse elemento em conjunto com o sistema de cobertura tornam West of Dead menos caótico e mais estratégico que outros jogos do gênero, mas nem por isso mais fácil, muito pelo contrário.
Quando o jogador estiver protegido por uma cobertura a recarga das armas (que é feita automaticamente após determinado tempo e variando de acordo com cada uma) é mais rápida e é impossível ser acertado mesmo quando estiver mirando em um inimigo, porém quase todas essas são destrutíveis, então movimento constante entre elas é fundamental.
Além do combate o outro destaque fica por conta dublagem em inglês do seu personagem feita por ninguém mais ninguém menos que Ron Perlman, o primeiro Hellboy nos cinemas (deu para perceber que os desenvolvedores gostam de Hellboy né!?). E para aqueles mais familiares com seriados vão lembrar-se dele como Clay Morrow de Sons of Anarchy (Recomendo).
Não existe diálogo que não seja por texto em West of Dead, mas sim uma narração em off dos acontecimentos e lembranças encontradas pelo nosso personagem e a voz do senhor Perlman combinam muito bem com o clima soturno e surreal do game.
Após um determinado acontecimento no game o jogador poderá enfrentar Foras da Lei que ao serem derrotados deixam memórias que podem esclarecer o passado esquecido do nosso personagem e ajudar a montar a sua narrativa por completo.
Também é possível encontrar Almas Perdidas que oferecem recompensas caso você aceite trocar itens por uma maldição da qual eles precisam se livrar. Essa maldição consiste em morrer com apenas um hit até que 6 inimigos sejam derrotados, o que acrescenta uma camada a mais de desafio caso o jogador comece a enjoar do loop de gameplay de WoD.
Isento de defeitos?
Infelizmente o maior defeito de West of Dead reside em como os cenários são montados.
Por apostar em uma geração procedural criada antes de cada partida algumas fases têm mapas maiores, mais complexos e interessantes, enquanto em outros o sentimento é de que o algoritmo ficou preguiçoso e criou cenários muito simples e repetitivos.
Esse problema não afeta apenas West of Dead e a maioria dos jogos que apostam nesse tipo de mecânica para construir fases e cenários sofre com essa escolha e manter as coisas interessantes nesse caso é bem difícil.
A visão isométrica em conjunto com a escuridão me atrapalhou um pouco no início até conseguir diferenciar o que eram paredes e onde estavam as portas, já que essas estruturas desaparecem ao chegar perto para que você enxergue a próxima sala, mas me acostumei bem rápido a isso e ficar sempre de olho no minimapa ajuda muito.
Um dica que dou a todos: joguem usando fones de ouvido. Além da trilha ser bem legal existe uma dica sonora quando você derrota todos os inimigos de um cenário e considerando que ser pego de surpresa por um malfeitor em um canto escuro pode acabar com a sua partida essas vírgulas sonoras ajudam muito.
E exceto por uma fase ou outra que me pareceram um pouco desbalanceadas em relação a dificuldade da anterior, West of Dead é um rogue-lite incrível tanto por sua temática e estilo visual como por suas mecânicas únicas, e se você é fã desse tipo de jogabilidade e gosta de um desafio justo na maior parte do tempo recomendo muito conferir o game e descobrir se existe descanso na vingança.
A análise de West of Dead foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.
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