Análise Wasteland 3 (PlayStation 4)
Se você gosta de RPGs e apocalipse nuclear não pode deixar de jogar Wasteland 3! A InXile Entertainment caprichou nesse game incrível que pode ser jogado inteiramente em modo cooperativo online!
Lançado em 1988, o primeiro Wasteland foi impactante o suficiente para inspirar nada menos que o desenvolvimento da franquia Fallout. Mas com as grandes mudanças de Fallout 3, que deixava para trás a roupagem de CRPG isométrico para abraçar o estilo de RPG de Ação, a desenvolvedora InXile buscou recursos com a base de fãs por meio de uma campanha de financiamento coletivo para produzir Wasteland 2. Deu tão certo que a ressurreição da franquia ganhou mais um jogo: Wasteland 3.
Começando pelo básico, Wasteland 3 é um CRPG isométrico com combate em turnos. O jogo se passa em um futuro pós-apocalíptico, resultado de uma guerra nuclear travada entre Estados Unidos e URSS. Nele, controlamos os Desert Rangers, que viajaram do Arizona até o Colorado buscando ajuda para reconstruir sua base (completamente destruída no jogo anterior), aceitando a oferta de Saul Buchanan, conhecido como “O Patriarca”. Após os Desert Rangers caírem em uma emboscada, cabe a nós jogadores continuar a missão original de restabelecer uma base de operações em troca de colocar os filhos do Patriarca na linha. Nada como uma boa troca de favores em um mundo sem lei, ou pior, onde um homem é a lei.
Wasteland 3 destaca-se da maioria dos demais CRPGs logo no início, uma vez que pode ser jogado inteiramente em co-op online. Mas caso você não tenha amigos na vida real, Wasteland 3 possibilita a criação de um segundo personagem principal, para nos acompanhar durante o inverno nuclear do meio-oeste americano. Se mesmo assim, você quiser mais tranquilidade, o jogo oferece personagens um conjunto de duplas pré definidas para você escolher. Essa dupla de personagens pode ser acompanhada por mais 4 outros, formando uma party de, no máximo, 6 Rangers. Podemos também recrutar NPCs, mas esses vem com suas próprias habilidades (que podem ser melhoradas) e personalidade.
Tiro, porrada e bomba nuclear
O gameplay é bastante fluído e podemos movimentar a câmera livremente ao redor dos personagens, mas há um limite de distância que podemos ver à frente (uma limitação da Neblina de Guerra). O combate acontece por turnos, com a movimentação limitada por Pontos de Ação (Action Points) e podemos utilizar objetos no cenário para nos proteger (proteção completa ou parcial), exatamente como na franquia XCOM, facilitando para aqueles que já conhecem o sistema.
Diferentemente dos CRPGs mais tradicionais como Divinity: Original Sin e Pathfinder: Kingmaker, a organização da batalha não está subordinada aos pontos de iniciativa de cada personagem, mas na abordagem que fazemos com a party. Se surpreender os os inimigos com um ataque, podemos jogar com todos os nossos personagens logo no primeiro turnos. O inverso também ocorre, se alguém da nossa party é detectado, podemos perder a oportunidade de atacar primeiro ou mesmo escolher uma proteção adequada. Não recomendo.
O combate é divertido e a exploração é recompensadora. A quantidade de armas disponíveis é grande e cada equipamento possui modificadores que podem ser instalados para aumentar seus atributos como ataque ou defesa, ou mesmo a taxa de recuperação ao usar itens de cura. Mesmo assim, a quantidade de informações não sobrecarrega o jogador, sendo bastante confortável de assimilar e gerenciar, adicionando mais uma camada de estratégia nas batalhas.
As batalhas são desafiadoras e divertidas, de dificuldade equilibrada. É bastante raro encontrar uma luta com inimigos de nível muito acima do nosso, o que elimina o fator de frustração (um dos piores inimigos de qualquer RPG ou jogo de estratégia). Por outro lado, demora um pouco para acostumar com o manuseio dos menus e habilidades. Não que sejam complicados ou escondidos, mas a adaptação da interface para na navegação com um controle não é das mais intuitivas. No entanto, não é nada que não se consiga acostumar após alguma horas de jogo.
Os inimigos são variados e chegar despreparado em uma batalha é a receita para a derrota certa, seja contra humanos, robôs, androides ou mutantes (lembre-se de recarregar suas armas enquanto não estiver em combate, para evitar surpresas desagradáveis). As aparências enganam e não raras vezes me peguei perguntando se realmente eu estaria correto em atacar esse ou aquele inimigo ou facção. Essa ambiguidade é provavelmente a melhor características de Wasteland 3 e acrescenta um fator de replay muito bem-vindo.
O sistema de progressão dos personagens é bastante amigável, até para aqueles que não estão familiarizados com RPGs. As habilidades e atributos podem ser aumentados de forma individual, havendo uma explicação bem simples sobre quais atributos podem ser melhoradas para aumentar esse ou aquela habilidade. Para um Sniper, por exemplo, é melhor investir em sorte, percepção e coordenação. Isso facilita muito na hora de alocar pontos a cada nível, sobretudo por que não há uma ordem a ser obedecida e podemos primeiro conferir as habilidades disponíveis, a dica sobre os atributos e subir de nível da melhor maneira possível, minimizando o risco de errar na hora de construir o personagem (build).
Existe uma camada a mais de gameplay nas viagens pelo mapa, onde podem acontecer os encontros aleatórios. Estes somente ocorrem durante a travessia do mapa e podem ser evitados se a pontuação de furtividade dos personagens for alta. Também podemos fazer melhorias no veículo utilizado pelos Rangers (um tanque de blindado), que também pode tomar parte em alguns confrontos, por meio de controle remoto (sem necessidade de um personagem ficar dentro do veículo). É realmente uma mão na roda.
Bem-Vindos ao Colorado, Rangers
Depois da ambientação árida do Arizona, Wasteland 3 apresenta paisagens geladas, resultado do inverno nuclear. A apresentação do jogo se beneficia dessa abordagem, pois de um modo geral, as cores se sobressaem no contraste com o branco. Embora a visão do jogo seja isométrica, o mundo é construído 100% em 3D, inclusive os personagens, sem que haja qualquer comprometimento da performance. O preço a ser pago é a baixa resolução dos modelos dos personagens, que parecem ser mais bonitos no jogo do que nos menus (poderiam ter optado por representar os personagens em 2D).
Mesmo com pontos negativos em relação à resolução dos modelos personagens no PlayStation 4, a direção de arte do jogo é muito bonita, ajudando a contar a história do universo de Wasteland. Em Colorado Springs, por exemplo, encontramos um setor povoado com famílias nobres e um palácio suntuoso construído para O Patriarca, enquanto no centro da cidade comerciantes, cidadãos e refugiados buscam seu lugar sob o sol gelado, assistindo a aplicação da lei em praça pública. Em outras localidades, as ambientações também são únicas, ainda que o tom branco da neve seja predominante nas áreas externas. Em cada área existe uma história sendo contada, seja da atual situação do mundo ou do passado nem sempre glorioso do Colorado, antes do Patriarca estabelecer seu governo.
Os efeitos visuais também são muito bonitos, como fogo, partículas de raio laser, explosões e congelamento. Claro que Wasteland 3 é um jogo grande feito por um estúdio de porte médio (mesmo pertencendo à Xbox Game Studios), então não se pode esperar o polimento ou a apresentação de um jogo AAA. Com isso em mente, dá pra perceber o esforço da InXile Entertainment em colocar o máximo de informações visuais possível, sem poluir a tela.
Para ajudar na ambientação, o design de som do jogo também é bastante competente, com efeitos sonoros detalhados mesmo no caminhar dos personagens e diálogos completamente dublados (ainda que somente em inglês). Embora a trilha sonora não seja tão boa como em outros jogos (eu não consigo lembrar de um tema específico), existem trechos ambientados com música própria (com letra e tudo mais) remetendo a temas de que casam com o faroeste apocalíptico de Wasteland 3.
Para toda boa ação, uma punição
Colocando de lado os pontos negativos relacionados aos gráficos e à trilha sonora pouco memorável, Wasteland 3 é um jogaço que consegue atender tanto àqueles que gostam de CRPGs como jogadores casuais um pouco mais dedicados. Existem mecânicas próprias do gênero como estatísticas de acerto, efeitos de status e diálogos com escolhas para que possamos sustentar o perfil escolhido para o nosso personagem.
Falando em escolhas, Wasteland 3 é rigoroso nas consequências e quase sempre que pode coloca o jogador em situações delicadas, impedindo soluções de meio-termo. Até mesmo acabar com uma rede de tráfico de pessoas possui a delicada faceta de agradar grupos xenófobos que querem os refugiados longe de Colorado Springs. Enquanto uma facção se agrada com nossas escolhas, outras não nos verão com bons olhos, exigindo consistência na nossas escolhas, pois agradar a todos é inverossímil. Até mesmo a alocação de mods nas armas/armaduras exige um desapego, pois as mudanças são irreversíveis: se encontrarmos um item melhor, perde-se o mod.
Cada personagem possui características próprias e o bom gerenciamento da party é essencial para o sucesso nos combates e fora deles, como no desarme de alarmes e armadilhas ou abertura de portas e cofres. Cada ponto de habilidade conta para uma equipe multifacetada de Rangers para encarar os desafios das terras ermas do Colorado. Toda essa gama de qualidades é envolta em um humor ácido que mantém o clima do jogo sempre leve. Todavia, como não há tradução nem das legendas para o português brasileiro, apreciar o humor da escrita de Wasteland 3 vai exigir um pouco mais do jogador. Ainda assim, a carga de informações é moderada e pode facilitar a aproximação daqueles que não leem/compreendem o inglês ou demais línguas disponíveis.
Power Rangers
Enfim, Wasteland 3 é um jogão (e ainda pode ser jogado inteiramente em co-op)! Tem pequenos problemas mas que não comprometem em nada o conjunto da obra, sobretudo porque a InXile Entertainment está atualizando o jogo frequentemente desde que ele foi lançado no final de agosto/2020 (um bug no salvamento/carregamento de jogos single player/multiplayer já foi corrigido, por exemplo). Se você gosta de CRPG, de RPGs de modo geral, jogo de estratégias por turno ou mesmo de Fallout e sente que a franquia poderia ser melhor aproveitada, não pense duas vezes: o inverno nuclear te espera!
https://www.youtube.com/watch?v=gkD83u94_54
Wasteland 3 foi desenvolvido pela InXile Entertainment, publicado pela Deep Silver e lançado em 28/08/2020 para PC, PlayStation 4 e Xbox One.
A análise de Wasteland 3 foi feita com base em uma cópia digital de PlayStation 4, gentilmente cedida pela assessoria de imprensa da Deep Silver.
Nós do Conversa de Sofá acreditamos que o videogames são uma mídia poderosa e revolucionária e que somos muito privilegiados em poder ter acesso a essas obras desenvolvidas por pessoas talentosas do mundo todo. Por isso, nesta época em que somos ameaçados pelo Covid-19,fique em casae aproveite a oportunidade para jogar muito. Ficando em casa você não só pode apreciar os melhores jogos como também pode contribuir para que possamos voltar à nossa rotina o mais rápido possível, além de salvar vidas.