Análise Elden: Path Of The Forgotten (Nintendo Switch)
Elden: Path Of The Forgotten é um indie com gráficos pixelados típicos do início dos anos 1990 e um desafio à altura da época que busca resgatar. Confira a nossa análise!
Cada vez mais é fato que a indústria de jogos indies foi uma dos melhores acontecimentos que ocorreram no universo dos videogames. Com uma maior liberdade, apesar do orçamento limitado, essas desenvolvedoras independentes (às vezes composta por uma só pessoa) conseguem entregar experiências únicas que dificilmente seriam financiadas por um grande estúdio.
Elden: Path Of The Forgotten é um jogo indie de ação com visão isométrica e gráficos 2D em um estilo peculiar de pixel art, que remete ao Prince Of Persia original, de início da década de 1989. A aventura começa quando Elden, o protagonista, resolve seguir em busca de sua mãe que riscou um pentagrama no chão ao realizar um ritual mágico e abriu um portal para outra dimensão. O que poderia dar errado, não é mesmo? Seria o início de um sonho? Parece que não, pois tudo deu errado, já que somos levados a um universo de horror experimentados, tanto pelo protagonista como por nós mesmos enquanto tentamos superar os desafios propostos pelo jogo.
Gráficos
A apresentação do jogo é interessante. Os gráficos pixelados e a paleta de cores escolhida colocam o jogo em uma intersecção entre algo minimalista ou uma representação genuinamente pobre, por assim dizer. Se por um lado a simplicidade dos gráficos casa muito bem com a proposta do jogo de criar atmosfera de horror e deixa para a nossa imaginação os detalhes existentes nas criaturas que habitam o “Caminho do Esquecido”, essa abordagem simplista pode não funcionar com um público mais jovem, acostumado com polígonos em 3D ou a pixel art que emula as gerações de consoles de 8 ou 16bits.
Em alguns momentos é impressionante reconhecer um objeto ou figura representados por apenas um punhado de pixels, ainda que seja difícil de dizer o que exatamente são os itens que encontramos no jogo, pois estão mais próximos de borrões do que qualquer outra coisa. O desenho das fases é bem feito e os inimigos ficam em um meio-termo entre o grotesco e o involuntariamente engraçado ou fofo, como os pequenos diabos/goblins que nos atacam e também parecem um pouco com ursinhos carinhosos.
Som
Se na parte visual o benefício da dúvida favorece Elden: Path Of The Forgotten, o mesmo se aplica em relação ao desenho de som. A trilha sonora é muito competente em criar uma atmosfera de opressão, com ruídos e notas que parecem terem saído de filmes de horror japoneses. Já a qualidade dos efeitos sonoros sofre com a falta de um bom orçamento, pois são altos demais e por vezes possuem frequências que se embolam, criando uma massa sonora bem desagradável (ainda mais se você resolver jogar com fones de ouvido).
Muitos ruídos, estalos, grunhidos indecifráveis criam um contexto sonoro digno de um pequeno vilarejo localizado no inferno. Eu poderia dizer que é apropriado para a proposta do jogo, mas a verdade é que a bagunça sonora é resultado da falta qualidade mesmo. Ainda assim, não é o suficiente para estragar por completo a experiência do jogo, sendo apenas um ponto fraco.
Desafio!
O gameplay é simples mas nem sempre efetivo. Podemos andar, esquivar com um rolamento, atacar e usar magias ou itens. Simples, não? Nem tanto. Em Elden: Path Of The Forgotten apresenta um desafio rigoroso para os desavisados e por mais que os controles sejam simples, nem sempre é fácil lançar mão dos recursos disponíveis. Na maior parte das vezes encontramos inimigos fracos que servem como um bom treino antes de usarmos nossas habilidades contra os monstros mais fortes. E a prática é realmente necessária pois as limitações de movimento fazem de Elden: Path Of The Forgotten um jogo desafiador.
Os ataques são em sua maioria de corpo-a-corpo, com espada ou machado, por exemplo e possui um feedback visual incrível, com a tela toda estremecendo a cada acerto. O problema é acertar os inimigos, pois a movimentação é bastante truncada e o personagem move-se sem muita agilidade, a não ser quando usamos o rolamento para esquivar dos ataques dos inimigos (com alguma sorte, dá pra esquivar para a direção correta). Isso faz com que por vezes seja difícil até mesmo de utilizar os itens de cura, pois estamos ocupados demais nos movimentando para não morrer . No topo disso tudo, existe uma injustificável dificuldade em conectar alguns ataques, sobretudo em inimigos maiores que atacam à distância.
Cada ataque ou rolamento consome a energia do personagem, tal como em Dark Souls, por exemplo. Também existe uma barra de mana para utilização das magias, sendo que ambas restauram-se com o tempo, embora a recuperação de energia seja bem mais lenta. Para auxiliar em manter a vida, energia e mana sempre cheios, existem itens para recuperá-los. O problema é que nem sempre é fácil assimilar o que cada item faz, pois não há explicações ou tutoriais; sequer existem rótulos de texto nos itens que às vezes parecem apenas borrões na tela. Pelos menos alguns itens possuem cor correspondente ao efeito que causam, como o “borrão azul e branco”, que restaura a barra de mana.
Um dos aspectos interessantes de Elden: Path Of The Forgotten é a ausência de estatísticas a serem melhoradas ou pontos de experiência. Não existe a obrigatoriedade de derrotar todos os inimigos e isso não impacta em nada na nossa habilidade. Todavia, explorar o cenário é essencial para encontrar novas habilidades, itens ou armas, bem como para treinar ataques e esquivas com os inimigos e ficar com as habilidades na ponta dos dedos. Não existem mapas então saber onde estamos depende exclusivamente da nossa capacidade de memorizar o cenário, inclusive onde ficam os itens e pontos de salvamento.
Diversão?
Elden: Path Of The Forgotten trilha o mesmo caminho anteriormente traçado por outros indies e aposta em um jogo com estilo retrô, próprio de jogos para computador de meados dos anos 1990. É um jogo desafiador, mas muito de sua dificuldade vem dos controles e da movimentação travada do personagem, sobretudo nos combates. A atmosfera remete um pouco ao primeiro Diablo (guardadas as devidas proporções, claro), pelo clima misterioso e macabro, que o jogo consegue passar com competência, aliado aos ambientes característicos apresentados como florestas, tundras e desertos. Existem comparações do jogo com Dark Souls, mas não me parecem ser adequado, pois a franquia da From Software é muito mais do que dificuldade.
Elden: Path Of The Forgotten parece habitar um limbo em que suas qualidades e defeitos possuem o mesmo peso, criando um equilíbrio reverso que em vez de agradar, causa desconforto. Talvez o desconforto seja o lugar para onde a desenvolvedora queira nos levar, mas penso que poderíamos chegar nesse lugar com menos sofrimento.
Elden: Path Of The Forgotten foi desenvolvido pela Onerat Games e publicado em 09/07/2020 pela Another Indie para Nintendo Switch e PC (Steam e Utomik). A análise foi feita com base em uma cópia digital de Nintendo Switch, gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.
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