Análise FIFA 21 (PlayStation 5)
FIFA 21 não reinventa a roda, mas aperfeiçoa o que já era bom e traz inovações muito bem-vindas ao universo dos jogos de futebol. Confira nossa análise!
Há muito tempo os jogos da série FIFA são o padrão da indústria quando se trata de videogames de futebol. Existem alternativas, poucas na verdade, mas é inegável o tamanho da franquia da EA no cenário de esportes em videogames. Ao mesmo tempo em que isso demonstra a inegável competência dos desenvolvedores, coloca sobre eles uma responsabilidade singular. Veja bem, os jogos da série FIFA são lançados anualmente. Então, como fazer para atrair a atenção do consumidor sem alienar a base de fãs com jogos repetitivos e manter a franquia com um número de vendas esperado? FIFA 21 consegue manter o frescor necessário para justificar uma nova compra ou o ingresso no mundo do futebol simulado.
Que beleza!
O futebol em si, é um esporte fascinante. Vidas são transformadas dentro e fora de campo pelo talento de um atleta e a batalha travada pelas equipes naqueles 90 minutos constrói narrativas poderosas de superação, garra e humildade na vitória e na derrota. É essa atmosfera do esporte que “é muito mais do que um jogo” que FIFA 21 apresenta logo na cena de introdução que nos leva à primeira partida, sem qualquer preparação. Isso porque não é preciso ser um pro-player para se divertir com FIFA 21, o jogo é acessível a todos. No entanto, a máxima “fácil de jogar, difícil de dominar” se faz verdadeira.
De um modo geral, a apresentação visual da série continua excelente. Os gráficos dentro do jogo são muito bonitos, dentro do que se espera no contexto de um videogame de futebol. A aparência dos jogadores está muito próxima do correspondente na vida real, com destaque para a versão de PlayStation 5, onde as animações faciais são muito boas. Mas o que eu gosto mesmo nos jogos da série são os detalhes que nos fazem sentir que estamos assistindo uma partida de futebol pela televisão, como elementos na tela (placares e informações) no padrão visual da liga em que jogamos ou mesmo a marca do spray de espuma para marcar a batida de uma falta, por exemplo. Esses pequenos detalhes, que se repetem todo ano, deixam a experiência de ver e jogar futebol muito gostosa e verdadeira.
Mas a exuberância visual do FIFA 21 aparece de verdade no modo VOLTA Football, com quadras e campos de todo tipo, desde os mais glamourosos, como o campo no em Dubai, ou os mais “pé no chão” como no México ou São Paulo. Essa riqueza visual também está presente nos jogadores, com vários estilos diferentes e a possibilidade de personalização com itens cosméticos como roupas, chuteira, cabelo, barba, meias e até mesmo a roupa que fica por baixo do uniforme de jogo (que pode ser até mesmo um moletom).
No entanto, um aspecto negativo na parte visual é a possibilidade de as cores da bola e da quadra se confundirem. Em uma partida, por exemplo, joguei em uma arena toda vermelha que mais parecia uma quadra de tênis. Mas toda a maravilha visual acabou atrapalhando o jogo pois a bola também era vermelha e mal se podia enxergá-la durante a partida. O mesmo aconteceu em uma partida do FIFA Ultimate Team (FUT21) em que eu e meu adversário tinham camisetas muito parecidas (preta com detalhes em branco e dourado), o que atrapalha a experiência de jogo e compromete um aspecto competitivo tão importante do game.
Outro aspecto negativo é a completa ausência de times brasileiros. Não há campeonato brasileiro, apensa uma genérica “Liga do Brasil” que traz uma meia dúzia de times com nomes e escudos oficiais (Flamengo, São Paulo, Corinthians, Atlético MG e alguns outros), mas nenhum com os jogadores reais. Fico pensando qual seria a dificuldade dos times do Brasil em negociar licenças com a EA sem prejuízo de outras empresas como acontece com demais clubes grandes da Europa. Também é notável a ausência de grandes times da liga italiana como Roma e Juventus.
Em relação ao áudio, tudo funciona como deveria e a vasta gama de sons ajudam na nossa imersão no universo existente dentro das quatro linhas. Inclusive, se você for jovem o bastante, a seleção de músicas licenciadas pela EA que sempre toca nos menus do jogo certamente vai te agradar (ou não). No meu caso, o jogo todo estava em inglês (conforme o código da versão digital fornecido, utilizável na PlayStation Store US). Uma pena não poder instalar a tradução de menus e narração via DLC. Em todo caso, aqueles que comprarem o jogo nas lojas brasileiras terão o jogo completamente em português, inclusive com a narração de Gustavo Villani, que substitui Tiago Leifert.
Quem não faz, leva
A jogabilidade de FIFA 21 é primorosa, para dizer o mínimo. Controlando jogadores de alto nível é possível vivenciar um espetáculo esportivo com lances sofisticados e de pura genialidade. Não é por acaso que a série FIFA é tão popular, pois a emoção experimentada é digna de uma partida real do seu time do coração.
Embora a fórmula do FIFA 21 e as habilidades utilizadas em uma partida ainda sejam basicamente as mesmas de edições anteriores, tive a sensação de que os passes, chutes e a movimentação em geral parece ser mais fluída desde o último game da série que eu joguei (FIFA 18) para o bem e para o mal, já que o adversário também faz uso de todas as melhorias em campo, não é mesmo? Por outro lado o modo de bater faltas e pênaltis sofreu alterações na interface, exigindo um novo aprendizado para conseguirmos colocar la pelota no fundo da rede adversária.
Outra melhoria que pude notar: se você joga FIFA, deve ter passado por situações em que a IA do adversário parece ganhar superpoderes e faz os lances mais incríveis até culminar em um inevitável gol de bicicleta, por exemplo. Felizmente esses momentos parecem ter desaparecido e mesmo quando a IA faz seus movimentos “traiçoeiros”, por assim dizer, tudo é mais fluído e orgânico, sem a impressão de que o próprio jogo está usando de trapaças. Claro que no VOLTA Football esses momentos ainda estão mais presentes devido à própria natureza de espetáculo do modo de jogo, mas mesmo lá é possível parar o adversário com uma marcação eficiente.
Além das melhorias existentes nos sistemas de futebol em sim, a interface também parece mais fluída do que antes. Como FIFA 21 é um jogo predominantemente online, cada acesso a determinados modos de jogo e recursos precisa estar sincronizado com os servidores da EA, o que costumava ser algo bem lento, mas foi aprimorado de modo que, às vezes, a interface fica rápida até demais. Algo muito bem-vindo, sobretudo em relação ao gerenciamento dos elencos no FUT21. Para coroar essa fluidez na interface, também é possível gerenciar os times do FUT21 por meio de aplicativos de celular/tablet ou diretamente pelo navegador de internet de maneira mais leve e fluida ainda.
Uma vez freguês, sempre freguês
FIFA 21 é um jogo robusto. Muito robusto. São mais de 10 modos de jogo com opções de jogo online e offline, desde as mais simples partidas contra outro time, controlado pela IA ou por outro jogador (online ou local) até o VOLTA Football, uma espécie de FIFA Street, onde podemos criar times mistos para partidas com poucas regras e ritmo tão frenético que por vezes até mesmo tirar os olhos do campo para espiar o cronômetro/placar pode ser fatal para a partida.
Resumidamente, FIFA 21 conta com o modo FIFA Ultimate Team (FUT21), VOLTA Football, Modo Carreira e Pro Clubs. Desses modos derivam-se uma série de possibilidade de gameplay, seja jogando online ou contra a IA, como nas Batalhas de Elenco do FUT21, totalmente offline. Impossível não destacar o VOLTA Football, que descomplica as coisas em campo. Menos jogadores, não precisamos nos preocupar com condicionamento dos atletas e em algumas arenas nem mesmo com saída da bola pelas laterais. É perfeito para partidas rápidas e divertidas já que traz elementos visuais bem bacanas e a participação de celebridades no jogo como atletas veteranos do futebol ou outros esportes, como o surfista Gabriel Medina, por exemplo. A ideia de colocar o futebol dentro de um contexto urbano e universalizado é bem interessante e funciona.
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— tiagohardco – Canal #SóCurte! (@tiagohardco) January 29, 2021
Todavia, essa variedade de modos tem o custo da complexidade e uma considerável curva de aprendizado. Cada modo de jogo possui suas próprias características e mecânicas de funcionamento, como personalização de elenco e táticas. Embora alguns sistemas sejam compartilhados (como a personalização visual de um jogador, por exemplo), a cada novo modo que ingressamos somos recebidos com uma intensa carga de informação sobre como tudo ali funciona e FIFA 21 não economiza no gerenciamento de times e jogadores.
Não é só um esporte
Eu acredito que até mesmo quem não gosta de futebol possa se divertir muito com FIFA 21. Eu mesmo há anos perdi o encanto com o São Paulo Futebol Clube por diversos motivos e vejo que os jogos da série FIFA conseguem extrair o melhor desse esporte tão apaixonante com inovações relevantes como o modo The Journey (que ainda preciso terminar) a inclusão de times seleções femininas (que continua firme e forte nessa edição) e times mistos de homens e mulheres no VOLTA Football.
Além disso, FIFA 21 possui tanto conteúdo nos vários modos de jogo que pode agradar desde jogadores casuais até aqueles que querem um desafio mais intenso com microgerenciamento de todos os detalhes de um time e o meta-jogo do FUT21. Mesmo sendo uma franquia com atualização anual, podemos nos divertir o máximo possível em apenas um ou dois modos de jogo, fazendo valer o tempo e dinheiro investidos no jogo. Sem contar que, com o talento e dedicação suficientes, quem sabe você não se torna um pro-player no cenário de e-sports mundial, já que a própria EA investe pesado nisso. Apesar das imperfeições, FIFA 21 possui saldo muito positivo e vale o investimento, sobretudo se você optar pela assinatura do EA Play. Recomendo muito.
FIFA 21 é desenvolvido Eletronic Arts e publicado pela EA Sports em outubro/2020 (dependendo da geração de consoles). O jogo está disponível para PC, Xbox One, Xbox Series S/X, PlayStation 4, PlayStation 5 e Nintendo Switch.
A análise foi feita com base em uma versão de PlayStation 5 gentilmente fornecida pelo produtor da série FIFA (e fã de Fallout 4) Gilliard Lopes, apresentador do único podcast que você conversa com profissionais da indústria internacional de games, o excelente PodQuest. Você pode assistir a gravação dos episódios às quintas-feiras no Twitch ou ouvir o programa de áudio editado toda terça-feira pela manhã.