Análise Pumpkin Jack (PS4)
Pumpkin Jack presta homenagem aos clássicos jogos de plataforma 3D do PlayStation 2 e entrega uma experiência nostálgica, divertida, mas sem muito desafio.
França. Meados dos anos 2000. Muito antes de Pumpkin Jack.
Um garoto passa horas e horas na frente da TV brincando com seu videogame. Jak and Dexter e MediEvil são seus jogos favoritos, e ele já nem conta mais quantas vezes terminou eles. Sabe todos os caminhos, diálogos, e poderia jogar de olhos vendados e conseguiria terminar sem muito esforço, e ainda assim, continua amando eles como se fosse a primeira vez.
O garoto vive em uma cidade do interior, e as paisagens calmas rodeadas por milharais fazem a imaginação do menino voar.
Existe um sensação quase sobrenatural quando o sol começa a se pôr detrás de um milharal, e tudo começa quando o azul vivo do céu dá lugar ao laranja avermelhado. Nesse momento, não existem mais horas iluminadas e seguras, em alguns minutos a escuridão vai estender as suas garras frias sob o solo. A noite traz o silêncio e com ele o vento, que ao passar pelo milharal produz um som que faz até o mais corajoso sentir que ali não é o seu lugar. Não aquela hora. Não com tudo escuro.
A noite é escura e cheia de terrores, diria um famoso escritor.
Essa paisagem e jogos influenciariam bastante a cabeça e o início da carreira do jovem Nicolas Meyssonnier, que após três anos trabalhando quase exclusivamente como um time de um homem só, lançaria no Halloween de 2020 Pumpkin Jack para Nintendo Switch, PC e Xbox One. A versão de PlayStation 4 (que é a que joguei para este review) demorou alguns meses no forno e foi lançada recentemente em 24 de fevereiro de 2021, com distribuição pela Headup Games.
O game está totalmente localizado com legendas em português do Brasil, mas não possui dublagem no nosso idioma. Isso não chega a ser um problema, visto que os diálogos são todos feitos através de balões de texto, enquanto a dublagem é exclusiva do narrador, que conta os desdobramento da história entre os capítulos.
E por falar nela…
Era uma vez…
A história de Pumpkin Jack é simples, mas contada de forma divertida e cheia de humor.
O Diabo está muito entediado observando como os humanos levam a vida em Boredom Kingdom, nesse reino não existem guerras, fome ou invasões, e todos os habitantes vivem um conto de fadas em harmonia com a natureza. Um ambiente pouco propício a diabruras. Eis que então o Lorde do Inferno resolve lançar a Maldição da Noite Eterna sobre o reino e acordar monstros e demônios para agitar as coisas. Porém o Demônio, tal qual os vilões de Chapolim, não contava com a astúcia dos seres humanos para se defender.
Do lado da humanidade eles tinham ninguém mais ninguém menos que O Poderoso Mago (esse é o nome dele mesmo), que com os seus feitiços poderosos (afinal o que se esperar de alguém com esse nome além de feitiços de fato poderosos?), começou a virar o jogo e vencer essa guerra.
O Demônio não deixaria barato e propõem um acordo com Jack, O Trapaceiro, que já havia passado a perna no Capeta não uma, mas duas vezes e estava preso no Inferno. Se Jack cumprisse sua parte no acordo e derrotasse o feiticeiro ele estaria livre para aplicar seus golpes novamente em outro lugar. Sem muita escolha e com o direito de tocar o terror em Boredom Kingdom, Jack parte em sua missão de localizar e derrotar O Poderoso Mago.
No caminho do nosso vilão os obstáculos não serão os humanos, que já fugiram das áreas que os monstros conquistaram, mas sim as próprias forças do mal do demônio, afinal os mortos-vivos não são lá muito inteligentes e atacam tudo pela frente, inclusive Jack, o que não é problema para o nosso protagonista visto que ele gosta é da confusão.
Os fantasmas se divertem
Para acompanhar Jack em seu jornada ele tem ao seu lado um Corvo, que serve como uma arma de arremesso, além de também ser o responsável por fazer comentários e piadinhas infames. Jack também encontra outros NPCs pelo caminho, como uma Coruja, que é a vigia do Diabo e te dá instruções do que fazer, e um Mercador, que vende novas aparências para o nosso Cabeça de Abóbora, além de outros personagens em fases específicas que podem ajudar ou atrapalhar a vida de Jack.
Aliás, vale dizer que a atmosfera cartunesca assombrada de Pumpkin Jack é claramente muito inspirada por MediEvil, mas a jogabilidade com seus elementos de plataforma 3D e a dinâmica entre Jack e o Corvo é totalmente calcada em Jak and Dexter. A grande diferença é que na série da Naughty Dog a exploração é feita em um mundo aberto e aqui ela é completamente linear.
As áreas do game são divididas em fases, cada uma com a sua própria temática e cenários diferentes entre si, seja uma simples Fazenda, um Cemitério, um Castelo sitiado ou o Polo Norte. Cada local é recheado com colecionáveis, mini-games, quebra-cabeças próprios, estilos de plataformas diferentes e Chefes também bem distintos.
Diferente dessa variedade nos locais, o combate não apresenta tanta mudança ou complexidade. A luta contra os inimigos comuns é super simples, consistindo em golpear com um botão, desviar com o outro e pular com outro, e a não ser que seja cercado por uma horda de mortos-vivos (e vacile muito no tempo de esquiva) raramente estará em perigo.
Por outro lado, os Chefes, apesar de também serem fáceis, são mais interessantes e exigem um pouco mais de pensamento do jogador, já que algumas batalhas funcionam mais como quebra-cabeças do que como luta tradicional, o que dá uma dinâmica diferente para cada batalha.
Jack recebe uma arma nova ao final de cada fase, e apesar dos movesets únicos de cada uma, não existem melhorias para serem aplicadas ou incentivo para a alternância, como inimigos que só podem ser atingidos com um tipo específico de arma ou algo parecido. A arma que o game coloca na sua mão no início da próxima fase é suficiente para você concluir ela e não existe uma razão muito forte para mudar para a do cenário anterior, a não ser preferência pessoal mesmo.
Além das inspirações óbvias e declaradas como Jak and Dexter e MediEvil, existem mecânicas de jogabilidade que homenageiam Donkey Kong, com um mini-game de carrinho na área das minas passando por Super Mario Kart em outro trecho em que Jack precisa derrotar guardas morto-vivos em um corrida, ou ainda um puzzle musical baseado no jogo Genius.
Várias referências de outras mídias também estão presentes em Pumpkin Jack, e vão desde livros de Stephen King, do folclore como A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e filmes como O Estranho Mundo de Jack, passando por Assassin’s Creed, O Senhor dos Anéis, League of Legends e South Park (quê!?).
Vale a pena?
Pumpkin Jack é uma carta de amor aos jogos clássicos de plataforma 3D do PlayStation 2 e isso se reflete tanto na sua estética, que tem uma arte poligonal baseada em jogos dessa época, mas com todas as melhorias modernas de textura e iluminação, como no seu gameplay mais direto e simples.
O título tem potencial para agradar tanto quem busca a nostalgia de uma época mais simples como novos jogadores que não tem tanta familiaridade com o gênero de plataforma 3D, ou até pessoas que estão começando a jogar videogames agora, justamente por conta do seu nível de desafio relativamente baixo.
Eu, particularmente, prefiro jogos mais desafiadores, mas mesmo assim me diverti com os diferentes mini-games, cenários charmosos e atmosfera de Halloween que permeia todo o jogo.
Em relação à duração, Pumpkin Jack é relativamente curto e explorando bem é possível terminar a campanha em mais ou menos 6 horas. Eu consegui o troféu de platina com 7, por conta de alguns colecionáveis que perdi ao longo do caminho, mas o sistema de seleção de fases a qualquer momento e as estatísticas apresentadas de forma clara ajudam muito nesse ponto.
Considerando que ele foi feito quase em sua totalidade por uma única pessoa é impressionante o que o jovem Nicolas Meyssonnier conseguiu alcançar com esse título. E jovem não é um eufemismo, o rapaz tem só 23 anos.
Imagino que se o pequeno Nicolas, no interior da França, soubesse que no futuro faria um jogo que seria comparado de igual para igual com os seus games preferidos da época, ele ficaria muito orgulhoso.
Imagino que o do presente esteja.
A análise de Pumpkin Jack foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.