Análise Outriders (PlayStation 5)

Outriders é um jogo de ação cooperativa em terceira pessoa que apresenta novidades muito bem-vindas para o gênero RPG Looter Shooter.

Outriders capa

“Um looter shooter RPG que funciona” é uma boa definição para Outriders. Após ter amargado a rejeição do público com Marvel’s Avengers, um produto que tinha tudo para dar certo, a Square Enix publicou no dia 1º de abril um segundo jogo, dessa vez desenvolvido pela People Can Fly (Gears of War Judgement, Bulletstorm), também com loot boxes, microtransações e planos para futuras DLCs que manterão o serviço vivo por anos a fio.

Mas dessa vez, Outriders entrega o que promete e mais um pouco em um pacote bem acabado que é o paraíso para quem gosta de jogos de tiro cooperativo e estava se coçando de vontade de correr atrás de armas e roupas cada vez melhores por horas e horas. Como nada é perfeito, Outriders passou (e ainda passa até esta data) por problemas técnicos que precisa vencer para se firmar como um jogo acima da média.

Outriders co-op duo
Passeando em dupla por Enoch.

Não Existe Planeta B

A premissa da história é que a Terra estava dobrando o Cabo da Boa Esperança e por conta disso, um plano de colonização espacial foi montado e executado por equipes de cientistas que tinham os Outriders como uma força de reconhecimento e defesa designada para assegurar o planeta onde a colônia terrestre se instalaria. Resumindo para não entregar a história (baixe a demo!), jogamos com um desses soldados que agora possui poderes, graças a um fenômeno chamado de “Anomalia”.

Por conta desse infortúnio (pra eles porque eu achei foi divertido), nós podemos escolher uma das quatro classes de poderes disponíveis para o nosso personagem: Technomancer, Pyromancer, Trickster Devastator. Cada uma delas dará ao jogador poderes baseados em Tecnologia, Fogo, Agilidade e Resistência.

Se você ainda não viu um vídeo ou não jogou a demonstração gratuita, Outriders é, mecanicamente, The Division só que em outro planeta. O fato de envolver viagens espaciais (e não possuir o nome Tom Clancy) abre possibilidade para o uso indiscriminado de poderes ora científicos, ora fantásticos tanto pelos soldados quanto pelas criaturas inimigas que aparecem na tela. De cara, uma das melhores características da jogabilidade é a maneira como o jogo lida com os pontos de vida e a cura do personagem: se um inimigo morre sob efeito de um dos poderes do jogador, este recebe pontos de vida automaticamente, recompensando estratégias agressivas que dão origem a trechos incríveis de tiroteio sangrento em meio a hordas de alienígenas, soldados ou criaturas.

outriders mapa
A campanha de Outriders se desenvolve gradativamente.

Ainda assim, o combate passa longe de ser um passeio no parque graças a um sistema de nível dinâmico que eleva a dificuldade do mundo conforme subimos de nível e que seria fruto de muita frustração caso não fosse possível ajustá-lo a qualquer momento, uma excelente maneira de calibrar o desafio à nossa preferência. Quer avançar na história e ver as áreas do final do jogo? Deixe tudo no nível 02 ou 03. Quer ser reduzido a uma pilha de poeira brilhante a cada sessão? Basta deixar que o jogo faça o trabalho dele e mesmo com seus poderes, você terá que comer o pão que o diabo amassou e se virar no tiroteio. Tudo isso é permeado por um sistema de checkpoints com bandeiras distribuídas a cada trecho das fases que permitem ao jogador sair da ação e voltar para a base de operações vender e comprar equipamento, aprimorar os atributos das roupas e armas ou mudar o visual, sem que percamos parte significante do progresso pois a próxima área da história estará sempre ali, próxima à última bandeira.

Esse sistema se relaciona com uma das maiores diferenças em comparação com The Division ou Destiny, por exemplo, e que o aproxima mais à aventura dos heróis liderados por Steve Rogers: Outriders não é um jogo de mundo aberto. Outra característica “emprestada” do jogo entregue pela Crystal Dynamics é que o nosso personagem é alguém com passado, personalidade e linhas de texto que estão muito bem dubladas, com uma boa dose de humor e carisma, algo imprescindível para manter o jogador investido na história e que faz muita falta na franquia da Ubisoft, pelo menos.

Cross-play e o saldo positivo

Não tenha dúvida que Outriders é um jogo bem acabado e divertido de se jogar com amigos. No entanto, o que no papel existe sem qualquer restrição graças ao sistema de cross-play com os consoles da Sony e Microsoft e também com os jogadores de PC, esteve durante um bom tempo sendo impossível de conseguir graças ao desempenho ruim dos servidores dedicados ao jogo. No lançamento do jogo e agora com menor frequência, não foram raras as vezes em que fui chutado para fora da partida por problemas de conexão com o servidor ou porque o jogo simplesmente se fechou sozinho, algo impossível de prevenir e absolutamente frustrante, especialmente nos chefes que naturalmente exigem várias tentativas do jogador. Tomara que isso tudo já tenha sido resolvido na data de publicação dessa análise.

Outro ponto que merece atenção é o sistema desnecessariamente complicado de entrar em partidas com outras plataformas. Em vez de designar um nome de usuário para o jogador como fazem outros jogos (Call of Duty Warzone, por exemplo), Outriders gera um código alfanumérico para ser compartilhado entre os jogadores, algo que exige que as pessoas entrem em contato entre si fora da plataforma do jogo. Um método que se não dificulta, também não facilita em nada as partidas entre amigos em consoles distintos.

Se os problemas listados parecem poucos é porque eles de fato são mínimos, especialmente a essa altura do campeonato quando as empresas colocam mundo afora todo tipo de jogo incompleto e quebrado. A People Can Fly entregou um jogo sólido e fresco de um gênero que já não é nenhuma novidade e que possui, assim como os já conhecidos Destiny,  Division e o finado Anthem, todo o alicerce para ser um mais um Game as a Service (GaaS) na corrida pelo seu e pelo meu dinheiro.

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Se você visse o que eu vi…

O que coloca Outriders em uma posição de destaque, é a maneira como ele propõe novidades àquela fórmula já tão conhecida. Se a mudança entre posições de cobertura não é tão ágil como no jogo da Ubisoft, os poderes que utilizamos durante o combate mais do que compensam essa falta, especialmente porque a dinâmica de uso e recarga dos 3 poderes que podemos usar nos dá a legítima sensação de que sempre temos um último truque na manga à disposição. E se todas as habilidades estiverem em cooldown, talvez a nossa arma possua um efeito oriundo da anomalia e possa congelar ou enfraquecer o inimigo. Ou talvez esse atributo esteja vinculado ao capacete do seu Outrider. Seja como for, nunca estamos desamparados no campo de batalha, o que nos garante a sensação de poder e de que estamos preparados para qualquer briga. Esse efeito é ajudado por cada um dos elementos elencados no texto, da personalidade do Outrider ao modo como as fases se distribuem fazendo com que o jogador precise se esforçar muito para não passar horas jogando, apesar da relativa repetitividade das missões iniciais.

Se você já conquistou tudo o que havia para conquistar no seu RPG de ação preferido e estava em busca de novidades, Outriders é provavelmente uma escolha óbvia. Você pode até achá-lo pouco variado nas fases comuns (espere até chegar na primeira chefe gigante pra ver que não tem nada de comum naquilo) mas ele não fica atrás de nenhum jogo quando se trata de criatividade, desafio e carisma. Especialmente se for jogado com amigos. Recomendadíssimo!

Outriders chefe morto
Esse era dos grandes
Diego Matias
Além dos reviews, escrevo no Riffs & Solos e faço vídeos com meu irmão no canal SuperContra. Passa lá!