Análise In Rays of the Light (PS4)
Explore In Rays of the Light, um walking simulator reflexivo sobre a solidão e o papel do ser humano na sociedade.
Terminar In Rays of the Light me deixou dividido.
O meu interesse no jogo surgiu quando descobri que o desenvolvedor dele era Sergey Noskov, o mesmo de 7th Sector. Se você não conhece 7th Sector, ele é um puzzle game muito interessante inspirado pelo livro 1984, de George Orwell e escrevi um review muito legal sobre ele aqui para o Conversa tempos atrás.
Contudo, In Rays of the Light tem pouco em comum com o game anterior do desenvolvedor além da publicadora, Sometimes You.
Na verdade, apesar de ser sido lançado após 7th Sector, o grosso de In Rays surgiu bem antes dele, já que o título é um remake de Light, do próprio desenvolvedor, lançado para PC em 2012. E mesmo não tendo jogado o original, os gameplays que assisti, como complemento de pesquisa para essa análise me mostraram que, basicamente, foi feita só uma atualização gráfica e de iluminação para os consoles.
E nesse ponto, não conhecer Light foi uma vantagem, já que dessa forma pude ser surpreendido por sua atmosfera e ambientação, que são os pontos mais fortes do jogo.
Não fica claro em que época ele acontece, mas em In Rays of the Light a humanidade parece não existir mais, ou pelo menos não no local que você explora. O reflexo disso pode ser observado em como a natureza está tomando conta de prédios, que parecem ter sido abandonados faz tempo, ou em como a solidão começa a mexer com sua cabeça e afetar o que você vê ou escuta.
Falando nisso, o som é espetacular, e muitas vezes pensei que talvez o jogo fosse embarcar em uma vertente de terror. Não foram poucos os momentos em que apesar de estar sozinho me senti observado, ou que minha espinha tenha ficado gelada, esperando o pior. Mas vou deixar em aberto se ele segue ou não por esse caminho, caso você fique interessado em jogar.
Mas a lição central no jogo é a reflexão do papel do ser humano na sociedade e a brevidade das nossas ações e até mesmo do nosso legado. Um discurso poderoso, mas que não causou em mim o impacto que o desenvolvedor provavelmente esperava. Talvez seja diferente para você.
Pelas anotações encontradas e pelo design em geral, imagino que o game se passe após algum conflito nuclear pós Guerra Fria, mas isso fica aberto a interpretações. Outro ponto também aberto desde o começo é a exploração. Por não existirem objetivos no jogo, você está livre para ir onde quiser e visitar qualquer área desde o começo.
Assim, como em muitos walking simulators mesmo essa liberdade é limitada, já que alguns locais precisam de certos itens para serem acessados ou são bloqueados por quebra-cabeças. Mas, não se preocupe, essa é uma parte muito tranquila. Todos os puzzles são fáceis e não vão impedir seu progresso por muito tempo.
Por falar em tempo, In Rays of the Light é bem curto. Em duas horas é possível terminar ele uma primeira vez, e em mais uma hora ou menos, já sabendo o que fazer, é possível alcançar o final secreto e pegar todos troféus ou conquistas, se você gosta disso.
E aqui retomo a primeira linha deste review, sobre ficar dividido. Apesar de ter gostado muito desse clima meio sinistro, meio solitário e meio triste, quando começaram os créditos eu não fiquei satisfeito. Parece que faltou alguma coisa mais substancial para fechar a história.
Como o jogo é cheio de analogias, talvez essa seja mais uma. Sobre como tudo termina sem avisos, ou algo assim. Mas aí sou eu querendo procurar sentido em algo que talvez não tenha essa intenção.
A minha decepção com esse final foi amenizada um pouco enquanto pensava em um final para esse texto e o random da minha playlist no Spotify tocou Rolling Stones. A música deles tinha o fechamento perfeito: “Você não pode ter o que quer sempre”.
A análise de In Rays of the Light foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game.
O jogo também está disponível para Nintendo Switch, Microsoft Windows, Xbox Series, PlayStation 5 e Xbox One.