Análise Greak: Memories of Azur (PS5)
Além de lindo, Greak: Memories of Azur acerta na fluidez da jogabilidade entre personagens, trilha sonora épica e é recomendação garantida.
É interessante pensar como alguns jogos se tornam referência ou inspiração para o desenvolvimento de outros títulos dentro de um gênero em particular, ou mesmo criam suas próprias categorias.
Foi assim com Rogue (1980), que inventou os parâmetros adotados pelos rogue-like’s tempos depois. De forma similar, Super Metroid (1994) e Castlevania: Symphony of the Night (1997) juntos influenciaram características de jogabilidade que, em conjunto, agrupariam jogos inspirados por elas sob o termo metroidvania. Ou quando DOOM (1993) e Quake (1996) criaram as bases dos jogos de tiro em primeira pessoa e multiplayer modernos.
E embora esse destaque que determinados títulos alcançam leve a uma série de cópias a aspirantes a próximo sucesso de crítica e público (por vezes dentro das próprias desenvolvedoras com sequências pouco inspiradas), existem estúdios empenhados a elevar a barra e evoluir as fórmulas estabelecidas. Como o caso da Team Cherry, com Hollow Knight (2017).
De certa forma, Hollow Knight não é um marco de inovação, mas soube aproveitar, de forma impecável, as características mais fortes de suas influências (metroidvanias e souls-like’s) em um pacote com arte, trilha sonora e combate únicos. Assim, ele se tornou a referência imediata a quem jogos do estilo pagarão tributo e se inspirarão, se não em um todo, pelo menos em parte.
No caso de Greak: Memories of Azur a influência de Hollow Knight pode ser sentida de forma mais direta na sua arte, incrivelmente linda desenhada a mão, do que na jogabilidade. O que inclusive, considero um ponto a favor do título.
A jogabilidade de Greak: Memories of Azur é inicialmente bem simples, mas é uma simplicidade que aposta na eficiência de suas mecânicas. O time da desenvolvedora mexicana Navegante Entertainment, em parceria com a Team17, conseguiu chegar a um ótimo balanço na dificuldade, que nunca se torna injusta, mas que vai aumentando em complexidade de forma gradual conforme você encontra os outros personagens.
Mas antes de falar das mecânicas em si, do que se trata o jogo?
Greak é um game de ação e aventura single-player com elementos de plataforma, combate e resolução de quebra-cabeças, em que o jogador pode controlar até três personagens ao mesmo tempo, enquanto explora os cenários do mundo lindo e perigoso de Azur.
Inicialmente você tem controle apenas de Greak, que está em uma missão para encontrar seus irmãos mais velhos, Adara e Raydell, que se separam de você em virtude das batalhas que estão acontecendo por toda a região. Os irmãos pertencem a uma raça mágica e pacífica chamada Courines, que sofre com as investidas e invasões de uma facção inimiga e impiedosa, os Urlags.
A narrativa é muito bem construída utilizando como base a clássica Jornada do Herói, de Joseph Campbell, que já mencionei aqui no Conversa em diversos outros textos. E se você gostar desse elemento é possível conhecer mais dela através da leitura de livros espalhados pelas fases ou conversando com NPCs, o que recomendo por conta da profundidade e urgência que isso dará à missão dos protagonistas.
Após encontrar Adara, o que acontece rápido, o duo combina forças para continuar as buscas por Raydell, enquanto cumpre missões para ajudar o povoado a escapar das garras da tirania Urlag. E aqui volto a tocar novamente na importância de um balanceamento bem-feito, o que Greak: Memories of Azur com certeza tem.
Cada personagem tem suas virtudes e fraquezas, e é preciso entender cada uma delas para conseguir ter sucesso no game.
Greak, por ser o irmão mais novo, teoricamente seria o mais fraco dos três, mas tem a seu favor a agilidade e o tamanho pequeno o permite explorar túneis e chegar a áreas que os outros irmãos não conseguem.
Já Adara, com seu treinamento em magia arcana é capaz de usar ataques a distância e levitação para cruzar distâncias que Greak não conseguiria com seu pulo duplo, além de conseguir prender a respiração por mais tempo, o que é usado para explorar áreas inundadas.
Raydell, por outro lado, seria o brutamontes do grupo, com sua espada longa ele consegue atacar a uma distância maior que Greak, e com seu escudo é possível absorver golpes e projéteis dos inimigos, além de um gancho usado na travessia de passagens que nem Greak ou Adara são capazes.
É normal preferir um dos personagens no começo, mas todos são úteis em momentos diferentes e é preciso mudar constantemente entre eles como controle principal. Dessa forma esse favoritismo não deve durar muito.
Por exemplo, Adara seria uma aposta segura para derrotar inimigos sem precisar entrar em combate corpo-a-corpo, correto? Não exatamente, já que cada projétil gasta de uma barra de magia, que demora alguns segundos para voltar ao normal. Considerando que essa mesma energia usada para sua levitação não é prudente atacar continuamente porque se for necessário usar o pulo e levitação para fugir de ataques você não conseguirá.
O mesmo acontece em relação as desvantagens dos outros personagens. Raydell pode proteger todos com o escudo, mas não consegue atacar durante o seu uso, além de ter golpes mais lentos o que o torna um alvo menos móvel do que Greak para inimigos mais velozes. Já o próprio Greak tem como penalidade o alcance da sua espada, que faz com que ele tenha que buscar o combate a distâncias mais curtas e consequentemente mais perigosas.
A decisão de não criar um jogo cooperativo e sim fazer com que o jogador controle os três irmãos cria uma dinâmica de combate e resolução dos puzzles bem interessante, similar ao feito em Brothers: A Tale of Two Sons na questão da movimentação dos personagens e de Trine 4: The Nightmare Prince em relação aos quebra-cabeças, embora esse último tenha componente multiplayer.
Como você precisa controlar diferentes personagens com diferentes mecânicas é importante que os controles sejam muito bem implementados. Enquanto os golpes do personagem principal ficam por sua conta, os ataques dos outros dois ficam a cargo da inteligência artificial do jogo, que basicamente é ativada por proximidade pelos inimigos, o que torna arriscado deixá-los por conta própria durante as batalhas, principalmente nas lutas contra os Chefões de Memories of Azur, que são muito boas e desafiantes.
O força deles está na união, em uma clara analogia a força da amizade e irmandade, dessa forma o ideal é mantê-los sempre que possível agrupados, o que pode ser feito segurando um botão para conseguir movimentá-los ao mesmo tempo. Pode ser um pouco confuso acostumar com essa mentalidade de conjunto, mas ela é tão orgânica que após pouco tempo jogando você já vai estar profissional nas nuances dessa mecânica durante o combate.
Contudo, o mesmo não pode ser dito da travessia dos ambientes. Tentar pular um abismo com os 3 irmãos é quase impossível na maioria das situações, devido a diferença de distâncias que cada um pode alcançar.
Recomendo nesses casos controlar um personagem por vez, o que é extremamente fácil e intuitivo: basta apertar o d-pad correspondente a cada um, soltar o comando de agrupamento durante os pulos e repetir o procedimento com os outros dois. Desse jeito não corre-se o risco e perder preciosos pontos de vida por uma queda em espinhos ou algum inimigo.
E por mais que essa questão de não conseguir pular em conjunto seja o único defeito que consigo apontar em Greak, vai ser preciso se acostumar a trabalhar com eles individualmente de qualquer forma, já que em vários momentos você precisa separá-los para trabalhar os quebra-cabeças de cada área. Tais puzzles, apesar de simples, são bem estruturados e não são do tipo que insultam a inteligência, esfregando a solução na sua cara.
Por falar em simplicidade sem ser simplório, Greak: Memories of Azur conta com um sistema de evolução de personagens que é simples, mas interessante. Ao invés de comprar upgrades de vida é preciso explorar, encontrar os templos sagrados dos Courines e completar o desafio do local para ter acesso a melhoria.
Existem também relíquias, que são encontras em baús, e permitem melhorar a eficiência das habilidades de cada um. Já os incrementos de inventário, esses sim, podem ser adquiridos com a moeda do jogo, contudo é preciso encontrar o local onde o vendedor estará em cada região.
Adicionar espaços no inventário é vital para que os irmãos consigam carregar mais comida, que é o consumível usado para recuperar os espaços de vida perdida. Durante o gameplay você encontra raízes, folhas, flores e legumes que podem ser preparados em caldeirões espalhados por cada fase para criar receitas únicas que recobram uma quantidade maior vida quando comparados ao consumo in natura de cada item, quando possível.
A forma como cada um desses sistemas foi implementado incentiva e premia o jogador por explorar bem os cenários, descobrir segredos, atalhos e completar suas missões secundárias.
Em um balanço geral, Memories of Azur me premiou desde o momento em que comecei o jogo, na verdade. Ele me premiou com a sua arte belíssima, sua trilha sonora épica e empolgante, seus puzzles, combate, encontros e desencontros e por sua história interessante.
O título será lançado em 17 de agosto de 2021 para PlayStation 5, Nintendo Switch, Xbox Series S|X e PC, está totalmente legendado para português do Brasil, e, na minha opinião, é obrigatório para quem gosta de um bom sidescroller, feito com o coração.
A análise de Greak: Memories of Azur foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 5 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game.