Análise Deathloop (PlayStation 5)
Em Deathloop o estúdio Arkane repete o feito de entregar um jogo de tiro criativo com um modo multiplayer muito bem amarrado à premissa de loop temporal.
Quebrar o ciclo ou defender o ciclo. Essas são as duas escolhas que Deathloop te exige logo na tela inicial, o que não faz nenhum sentido pois na nossa primeira vez jogando o novo título da Arkane Studios/Bethesda não sabemos sequer o do que o loop se trata. Mal sabia eu que essa ignorância seria condição essencial para entrar na pele do personagem já que, assim como nós, Colt Vahn não sabe onde está.
Colt acordou na praia de uma ilha gelada chamada Blackreef e acredita estar alucinando já que apenas isso poderia explicar as anotações que ele enxerga por todo lado para onde olha. Aos poucos aprendemos que as instruções foram deixadas por ele próprio no passado (ou futuro) e que estamos presos em um loop temporal, um dia da marmota que se repete indefinidamente e continuará se repetindo a não ser que ele faça alguma coisa. Decidido, Colt pega as armas que consegue encontrar, um aparelho que interfere em sinais eletrônicos e parte em busca de respostas.
Essa introdução ao conceito principal por trás do jogo responde a maioria das dúvidas deixadas pelos trailers e teasers apresentados nos últimos anos: o que é Deathloop?
Pois bem. Deathloop é um FPS de ação furtiva com foco na exploração repetitiva e progressiva das fases. Repetitiva porque estamos presos a um loop temporal e sempre voltaremos ao mesmo ponto de partida, a praia. Progressiva porque cada nova incursão em uma área nos leva um pouco mais adiante, uma vez que estaremos de posse de valiosas informações obtidas na partida anterior.
Esse texto não terá spoilers, então não darei mais informações do que o necessário sobre o loop.
Com o passado pela frente
A Arkane Studios, como disse na análise do último jogo dela, Prey, é uma melhoradora de jogos de tiro. A desenvolvedora francesa entrega jogos elegantes com premissas e mecânicas interessantes e que possuem uma construção de mundo invejável – especialmente em tempos de jogo-serviço cujas histórias cabem num guardanapo (e eu adoro!).
Tudo em Deathloop exala criatividade por conta da direção de arte que situa o jogo em algum lugar entre as décadas 60 e 70. Essa assinatura é visível pelo cenário populado com cartazes, revistas e pinturas que remetem à essa época e pelo groove de soul music que toca como trilha sonora (que trilha!). Além da direção, os próprios personagens principais dão ao jogo uma aura de cinema Blacksploitation com Colt fazendo as vezes de uma espécie de James Bond negro que precisa infiltrar uma instalação inimiga sem ser detectado. Além da direção de arte e trilha sonora, Deathloop é marcado pelos diálogos divertidos com a sua misteriosa nêmesis: Juliana.
A moça que desafia e provoca Colt pelo rádio é a responsável por proteger o loop e garantir que Colt acorde novamente naquela praia fria mais uma vez. Ela é a carta na manga da Arkane para dar a esse jogo o modo multiplayer que Dishonored e Prey nunca tiveram.
Se você escolher proteger o loop na tela inicial, será levado à sua área de preparação para se equipar e invadir uma partida em que Colt esteja tentando quebrar o ciclo e aí Deathloop se transforma em um jogo de caça em que qualquer vacilo por de te custar uma quantidade boa de recursos e equipamentos que só poderão ser mantidos se Colt extrair com sucesso da fase (como em Hunt: Showdown e Vigor).
Juliana precisa eliminar Colt antes que ele “danifique” o loop e ative a antena que libera as saídas da fase, trancadas com a invasão do jogador adversário e nessa hora não há regras. O invasor pode sair correndo pela fase ou esperar por Colt nos lugares relevantes da fase, e quanto melhor conhecer Blackreef jogando com Colt, melhor se sairá jogando com Juliana que também possui algumas habilidades na manga como poder se disfarçar como um dos inimigos da fase controlados pela IA do jogo (ou até como o próprio adversário).
Sempre inverno em Blackreef
Poder se disfarçar de um inimigo artificial é apenas uma das várias habilidades disponíveis para Juliana e Colt, uma característica que Deathloop herdou dos jogos anteriores da Arkane. Aqui eles funcionam como coletáveis de uso único ou permanentes, caso o jogador consiga acumular um recurso específico nas fases em quantidade suficiente para infundi-lo, então, quanto mais vezes você repetir fases e coletar recursos, maior será o seu arsenal.
Essa dinâmica de infiltração, coleta e caça é o centro de Deathloop e o que o torna único de verdade frente os outros jogos apesar dos pequenos problemas. Assim como Prey, Deathloop funciona melhor se você não esperar que ele tenha o melhor combate já feito. Colt tem opções interessantes e variadas que fazem bom uso do DualSense como espreitar nos cantos, se inclinar e poder equipar um par de pistolas simultaneamente, mas o mapeamento dos botões para executar essas trocas é pouco usual e fácil de ser confundido, o que pode ser resolvido colocando várias horas de jogo nas fases até aprender ou ser contornado com furtividade.
Além desses comandos mais específicos, os menus provavelmente são o calcanhar de aquiles do jogo, pelo menos nas primeiras horas, pelo motivo de priorizarem estilo e aparência à legibilidade e pela quantidade de informação despejada em cima do jogador. Felizmente, assim como Colt, nós também aprendemos a nos virar nesse complexo científico e isso deixa de ser um obstáculo.
Um loop a ser lembrado
Deathloop é uma novidade super bem vinda à coleção de jogos do PlayStation 5. Embora a experiência single player seja dividida em fases e não contínua como era em Prey, as variedades de horário em cada área (manhã, meio-dia, tarde e noite) geram variedade suficiente para manter os jogadores investidos em desvendar todos os mistérios do loop. Some-se a isso o sistema de invasões e Deathloop tem potencial para ser o clássico a ser lembrado por muitos anos como a despedida triunfal da Bethesda nos sistemas da Sony.
A análise de Deathloop foi escrita graças a uma cópia digital gentilmente fornecida pela assessoria de imprensa do jogo.