Análise Grand Theft Auto The Trilogy The Definitive Edition (PS4 e PS5)
Após controversias e atualizações GTA Trilogy The Definitive Edition encontra um ponto de equilíbrio e traz três grandes jogos remasterizados.
Jogar Grand Theft Auto The Trilogy The Definitive Edition é voltar no tempo. Lá pelos idos dos anos 2000 eu não tinha um videogame. Eram tempos sombrios, cronologicamente inseridos entre o meu Sega Saturno e o vindouro Playstation 2, que só comprei no final da geração, por volta de 2008.
Nessa época, acho que esqueci um pouco de como era a sensação de sentar na frente da TV para jogar, pois a rotina do computador veio junto com os últimos anos da adolescência. Ali, entre o uso do PC para acessar um rascunho do que hoje são as redes sociais, eu conheci uma filosofia de game design que até então nunca tinha ouvido falar: o sandbox. O primeiro jogo que vi com essa filosofia foi Portal 2, um produto alucinado, com tudo que há de mais controverso em termos culturais. Mas o baque veio mesmo quando eu conheci a série Grand Theft Auto, com Vice City: um jogo cinematográfico que não tinha nenhum pudor em deixar claro que a receita da diversão era criar o caos. Tenho certeza de que muitos tiveram a mesma experiência que eu, seja no PC ou no console, pois GTA foi um fenômeno há 20 anos atrás.
Corta para 2021. Grand Theft Auto V é um fenômeno tão gigantesco que não existe sequer existem rumores da existência de sua continuação. E em um ano em que jogos-serviço e e-sports cresceram exponencialmente e com a consolidação (ainda que a passos tímidos) de serviços de streaming, a Rockstar relança os três jogos que definiram a série GTA, em coletânea remasterizada de GTA III, GTA Vice City e GTA San Andreas.
Independentemente de qual dos três jogos você jogar primeiro, tenho quase certeza de que a introdução do jogos vai te transportar lá pra década de 2000, seja com Claude (o protagonista silencioso de GTA III) dirigindo para 8-Ball, Tommy Vercetti sofrendo uma emboscada em Vice City ou Carl Johnson, o CJ, dizendo a célebre frase “ah shit, here we go again”.
GTA Trilogy Definitive Edition: o mundo é seu parquinho
Como você já deve saber, a série Grand Theft Auto trata-se de um jogo com proposta de mundo aberto, com mecânicas de tiro e direção de carros, aviões e barcos, com perspectiva em terceira pessoa, em que o protagonista deve cumprir missões para subir na vida, por assim dizer. Invariavelmente, o protagonista é um criminoso e sua ascensão ao poder.
Em todos os jogos, a aventura consiste em cumprir objetivos utilizando a linguagem universal da violência para ganhar dinheiro e avançar na campanha, cada um à sua maneira. Em GTA III, Claude segue uma trajetória bastante linear com a máfia italiana de Liberty City. Já nos jogos seguintes, Vice City e San Andreas foram incorporados elementos cinematográficos com mais desenvoltura e o desenrolar das campanhas é mais agradável por trazer elementos e referências que o jogador já está acostumado.
Para esse relançamento, os desenvolvedores escolheram alinhar a linguagem de gameplay com a de GTA V, trazendo recursos simples, mas que acrescentam qualidade como a roda de armas e melhorias no minimapa que não estavam presentes nos jogos originais. Embora seja algo simples, é bom começar um jogo e ter os controles à mão de maneira intuitiva.
No entanto, deixar a jogabilidade mais confortável não significa refazê-la para os padrões atuais da indústria, pois Grand Theft Auto The Trilogy The Definitive Edition (vamos encurtar esse nome, Rockstar?) ainda possui as características de jogos lançados há 20 anos, sobretudo na direção de alguns veículos e movimentação do personagem na exploração e combate, sendo este último o calcanhar de aquiles da série. Claro que seria um equívoco esperar que jogar esses jogos remasterizados fosse igual ao que temos hoje em dia em termos de física de objetos, mas ainda assim é impossível não estranhar, ainda que inicialmente, a diferença de gameplay.
No mais, ajustando as expectativas em relação à jogabilidade, tudo funciona de modo competente, afinal a série Grand Theft Auto foi responsável por um enorme salto tecnológico no início dos anos 2000, estabelecendo os mapas em mundo aberto como padrão da indústria para jogos de ação em terceira pessoa. Também é importante acrescentar, acaso você tenha alguma dúvida, que os jogos que estão presentes no pacote GTA Trilogy Definitive Edition (acho que é melhor chamar assim) continuam divertidos.
O jogo que tirou o Axl Rose do limbo
Se no campo das mecânicas GTA Trilogy Definitive Edition destaca-se pela inovação e diversão, a trilha sonora da trilogia está entre as melhores da série e na minha opinião é superior às de GTA IV e V. Com uma incrível seleção de músicas, ouvir as rádios, sobretudo de Vice City e San Andreas, são indissociáveis da experiência do jogo, já que os jogos passam-se na década de 1980 e 1990, respectivamente. As trilhas são um elemento essencial para sedimentar a atmosfera pretendida pela Rockstar.
Além da trilha sonora, a dublagem dos jogos também dá um show, com destaque para Vice City e San Andreas que elevaram a um novo patamar a linguagem cinematográfica dos video games, inclusive trazendo atores famosos para interpretar personagens, como Ray Liotta e Danny Trejo em Vice City e nada menos que Samuel L. Jackson e Axl Rose para San Andreas. Um espetáculo!
Mas de nada adianta as melhores mecânicas de jogo, trilha sonora e dublagem hollyoodianas se visualmente o jogo deixa a desejar, não é mesmo?
Reformar não é reconstruir
Logo após o lançamento, GTA Trilogy Definitive Edition foi alvo de grande controvérsia por causa dos gráficos do jogo. A Rockstar ficou responsável pela publicação e delegou a remasterização para a Groove Street Games (que já havia trabalhado em versões portadas da série Grand Theft Auto para celulares) e o resultado não agradou a todos. Muitas das reclamações foram direcionadas aos modelos dos personagens que pareciam estar deformados, mas também houve questionamentos mais técnicos como a densidade da chuva que não atrapalhava completamente a visão do jogo em San Andreas. Outro aspecto interessante é que, pelo que aparenta, o remaster começou com capricho em GTA III e os demais jogos foram trabalhados com prazos mais curtos, de maneira que a aventura de Liberty City está visivelmente mais polida que as demais.
Contudo, a era dos consoles offline e conexões discadas no PC ficou para trás e atualmente jogos lançados com problemas podem ser corrigidos de acordo com a necessidade e GTA Trilogy Definitive Edition já recebeu melhorias significativas em seus gráficos, de modo que, no meu ponto de vista, encontra-se em ótimo estado para ser jogado, sobretudo nos consoles em que eles não estavam sequer disponíveis para serem comprados.
Apesar de o trabalho feito pela Groove Street Games poder ser questionado pelo estado do jogo lançado no mercado, não há milagre a ser feito quando o material base do trabalho possui limitações. Não podemos nos esquecer que essa trilogia clássica de GTA foi lançada há cerca de 20 anos e o que os próprios modelos de personagens possuíam baixa resolução e eram excessivamente caricatos e estereotipados. Ainda bem que atualizações existem e os erros puderam ser corrigidos próximos do lançamento para que nós possamos reviver as experiências de jogos tão icônicos de forma agradável.
No fim das contas, considerando a extensão do conteúdo e as melhorias apresentadas, não há como não recomendar a compra àqueles que se interessarem por essa coleção.
Grand Theft Auto The Trilogy The Definitive Edition foi lançado em novembro/2021 para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch, havendo precisão de novas versões mobile para 2022.
A análise foi feita com base em uma cópia digital para PS4 e PS5 gentilmente fornecida pela assessoria de imprensa do jogo.