Análise Tunic (Xbox)
Tunic é fofinho como antigos jogos da franquia Zelda, desafiador como Elden Ring com uma pitada de Metroidvania
Muitos estão chamando o novo jogo do estúdio Finji de “Zeldinha do Xbox” e essas pessoas estão mais certas do que erradas.
Várias coisas em Tunic são inspiradas na lendária franquia da Nintendo, começando pelo personagem principal e sua roupa verde como quase sempre Link utiliza. Mas as semelhanças não param por aí. Muitas armas, mecânicas, cenários e missões claramente vieram de Hyrule.
Certo, então tem cara de Zelda, cheiro de Zelda mas e o sabor? Esse sim é muito mais amargo. O jogo tem uma dificuldade bastante elevada e é exageradamente confuso e obscuro. Desafiador é pouco. E, justamente por isso, é comum fazer referência a outros jogos e estilo, os famigerados e hypados souls-like. Isso fica claro na forma coma história é (ou não é) contada e, principalmente, nas batalhas contra inimigos fortes e chefes gigantescos.
Início
Você é uma charmosa raposinha que acorda em uma ilha misteriosa (como tudo no jogo) e simplesmente não sabe o que fazer. O jogo não te dá nenhuma dica. No início a exploração é prazerosa. O mundo é cheio de mistérios, então a toda hora você acha itens, armas e passagens. Só que logo esse prazer se transforma em agonia. Não há nenhuma orientação, não há ao menos um objetivo claro.
Manual
Um dos pontos altos do jogo é uma espécie de manual como que se fosse de papel. Muito semelhante aos manuais que vinham em cópias físicas de alguns jogos de Nintendinho e Super Nintendo, explicando parte da história, personagens, armas e mecânicas do jogo, pura nostalgia! As páginas desse manual estão espalhadas pelo mundo e você consegue ir completando aos poucos. Só que aí entra outra característica que trouxe a minha infância a memória.
Os textos desse manual estão em outro idioma ou criptografados. Você vê as imagens mas não entende os textos, fica imaginando o que significa cada palavra e era exatamente assim que me sentia quando pegava um manual desses em inglês ou até mesmo em japonês. Com o desenrolar do jogo algumas dessas palavras são “traduzidas”. Mas já no fim do jogo a maior parte do meu guia ainda está criptografadas e eu não aprendi como fazer para traduzir.
Sons e Gráfico
O jogo em si é muito bonito. E o estúdio utilizou muitos truques para driblar a falta de recursos. É possível perceber que são poucas as texturas e objetos. Mas cada ambiente conta com uma iluminação gerando características e sombras diferentes, e outro ponto muito legal é a movimentação da câmera que ajuda a dar vida aos ambientes.
A trilha sonora apesar de ser simples é bastante competente, assim como os efeitos sonoros. Não foi algo marcante, precisei jogar novamente para reparar mais.
Segredos, segredos e mais segredos!
Para quem gosta de explorar, Tunic é um prato cheio. Todos os cantos têm uma passagem secreta, um caminhão por trás das construções ou uma escada escondida. É de se valorizar como um mapa relativamente pequeno é tão recheado e conectado. Várias regiões que aparentemente são distantes, podem ser acessadas quando você descobre como fazer isso. E esse será um problema para muitos aventureiros.
Boa parte das mecânicas do jogo (como a viagem rápida) já está disponível desde o início mas você sofre por horas até descobri-las. Isso também ocorre na progressão de nível do personagem. É comum jogadores chegarem em partes bem avançadas do jogo com o setup inicial, tornando a jornada quase impossível.
Outro problema é que muitos caminhos obrigatórios estão escondidos. Não é só uma passagem secreta, ou uma sala com um tesouro, é o caminho principal do jogo. Um lugar que é obrigatório acessar, mas facilmente você não irá encontrar antes de rodar por horas e horas. Muito desses caminhos não tem nem aquela “textura diferente” para gerar suspeitas. Tudo é nesse jogo.
Combate
Outro ponto alto do jogo são os combates. Tudo funciona muito bem. Suas armas, habilidades, a movimentação, esquiva e fôlego. Basta você entender os inimigos e ter alguma perícia no controle. Muitos inimigos são possíveis matar apenas batendo muito rapidamente antes deles reagirem. Mas alguns é preciso achar o ponto certo, seja um contra ataque, após uma defesa ou uma esquiva.
Cada chefe age de um jeito como um bom souls-like até chegar em um ponto que apenas um ataque deles tira toda sua vida. Para muitos a dificuldade será exagerada e não existe níveis de dificuldade. A única opção possível é de se tornar imortal, o que acaba totalmente com a graça do jogo. Assim você poderá passar de qualquer combate e acompanhar a história, mas vamos combinar que a narrativa não é o ponto forte do game.
Conclusão
Tunic é um jogo que precisou de sete anos de desenvolvimento. E boa parte desse tempo Andrew Shouldice trabalhou sozinho, esse feito é notável. Realmente é impressionante um jogo com essa qualidade ter sido desenvolvido com tão pouco recurso. Tunic é bonito, criativo, quase sem bugs, com excelente combate e com momentos de pura nostalgia. Mas também é importante pontuar que a dificuldade parece ter sido exagerada para aumentar o tempo de jogo, tanto em combate quanto para descobrir o que precisa ser feito para a narrativa andar.
A forma como a história é contada acompanha os jogos inspirados em Demon’s Souls, mas com menos NPCs ainda. Quase tudo que se mexe na tela é um inimigo e ninguém vai te dizer nada. O jogo está disponível no Game Pass e para quem assina o serviço vale muito dar uma chance. Já a compra recomendo apenas para quem gosta de quebrar a cabeça e sofrer muito para passar de um cenário ou chefe.
No momento da publicação deste texto Tunic está disponível para Xbox One, Xbox Series e computadores através do serviço de assinatura do Xbox Game Pass.