Análise Metal Tales: Overkill (PS4)
Metal Tales: Overkill é uma grande homenagem ao heavy metal formatado em um twin-stick shotter rogue-lite, mas não vai muito além disso.
Um dos maiores benefícios que escrever sobre games aqui para o Conversa me trouxe foi o quanto isso me tirou da zona de conforto em relação a estilos. Muitos títulos, ou mesmo gêneros, que talvez nunca jogasse, ou que não seriam, nem de longe, minhas primeiras escolhas acabaram se tornando alguns dos meus favoritos. Já outros nem tanto. E, Metal Tales: Overkill entra nessa segunda categoria.
Não que o jogo não tenha nada de bom. As homenagens e referências que ele faz ao heavy metal, as bandas que ele apresenta e a abertura em formato de HQ são os pontos altos dele. Mas, basicamente, é isso. Todo o resto é genérico ou pouco inspirado, e mesmo as ideias que poderiam ser interessantes nadam e morrem na praia.
Sempre levo em consideração escopo, orçamento e preço ao consumidor ao analisar um jogo, principalmente um produzido por um estúdio independente. Mas, com indies de qualidade excepcional sendo lançados todos os dias como Tunic, Death’s Door, Sifu e DARQ, só para citar alguns exemplos recentes, fica difícil não esperar ao menos algo que me convença a dedicar tempo em um título específico, seja apelo visual, uma jogabilidade diferenciada ou um conceito interessante.
E, embora Metal Tales: Overkill até cubra um pouco esse último quesito, os desenvolvedores da Zerouno Games falharam em me cativar nos outros, e não tenho como recomendar ele para você, caro leitor, a não ser que você seja um fã muito ávido de metal, e mesmo assim tenho minhas ressalvas.
Para começar, o game não é exatamente original: ele é na realidade um port/remaster de Metal Tales: Fury of the Guitar Gods, originalmente lançado em 2016 para computadores, pela Nuberu Games. Isso por si só não é um demérito, não tenho nada contra remasters, remakes ou ports, muito pelo contrário, mas como jogador, sempre espero que uma nova versão aprimore algum ponto do original, nem que sejam melhorias mínimas.
E, mesmo não tendo jogado o original, no trabalho de pesquisa que faço antes de escrever meus reviews aqui para o site, assisti a vários gameplays de Fury of the Guitar Gods, e a atualização para os consoles feita pela Zerouno se restringiu a adaptar os comandos para o controle e excluir algumas animações confusas ao final dos estágios.
Mas, afinal de contas, do que se trata o jogo?
Metal Tales: Overkill é um twin-stick shooter rogue-lite de visão isométrica em que você assume o papel de um metaleiro com a missão de libertar os deuses do metal, e seus fãs, que foram corrompidos e transformados em zumbis pelo demônio Kuk. Uma história simples, que serve apenas para dar o tom da aventura, mas que não evolui muito além da sua premissa básica.
Para isso o jogador está munido com sua guitarra que atira acordes de energia, amplificadores bomba, e uma série de melhorias como revistas que aumentam seu dano, um walkman que acelera a velocidade de movimento, tiro duplo, teleguiado, tiro aumentado e muito mais. Além disso, existem modificadores temporários como outras cordas para sua guitarra que transformam “o som” que ela faz, eletrificando, colocando fogo ou aumentando o poder dos seus acordes, e outras variações.
Você também encontra outros modelos de guitarra com cadências de tiro diferentes, e que homenageiam grandes nomes do gênero, como Tony Iommi, Randy Rhoads, Angus Young, etc. Essas referências, com certeza, são as melhores partes do game e para complementá-las ao derrotar cada chefe de fase o jogador ganha uma invocação, que pode ser usada em momentos estratégicos com efeitos diversos.
Não é exatamente claro o que cada um faz quando você os recebe, já que as descrições não são detalhadas, assim como a descrição de qualquer item no título. É preciso usá-los para saber o seu poder. Shavo Odadjian, baixista do System of a Down, por exemplo, desacelera o tempo, já Robert Trujillo, do Metallica, atira em todas as direções.
Essa parte mais referencial é muito legal para quem conhece as bandas e talvez se ele tivesse um orçamento maior poderia se tornar, no futuro, um clássico cult como Brütal Legend, mas, os principais pontos para a longevidade de um bom rogue-lite, como sentimento de descoberta e recompensa, loop de jogabilidade viciante e desafiador que faça com que o jogador repeta as fases dezenas de vezes é quase inexistente em Metal Tales: Overkill.
Os cenários gerados proceduralmente são desinteressantes, visual e estruturalmente falando. Eles seguem sempre a mesma linha: uma sala de desafio, uma com armadilhas, uma com uma loja, uma com um presente, algumas com inimigos comuns e a sala do chefe do estágio. Uma estrutura rígida que impede que qualquer elemento surpresa ou imprevisível apimente as coisas e acrescente variação ao título.
Já os inimigos mudam de acordo com os cenários, e os estágios finais tem quantidades e misturas de tipos suficientes para tornar as coisas mais interessantes, mas, infelizmente, a falta de detalhe na arte faz com que seja difícil apreciá-los de fato.
Durante as fases é possível coletar os itens e melhorias mencionados anteriormente, e elas duram até que o jogador morra. Quando isso acontece é preciso começar da primeira fase, algo normal no gênero rogue.
O que é mantido ao final de cada jogada é a moeda do game, metalium, usada para comprar upgrades persistentes para as próximas jogadas. Não que eles sejam realmente necessários, já que diferente da maioria dos jogos do estilo, Metal Tales: Overkill oferece um nível de desafio consideravelmente baixo, exceto por alguns chefes, um pouco mais difíceis, mas nada excessivo.
E se você por acaso der sorte e encontrar o upgrade Super Muscle, ele destruirá qualquer inimigo, mesmo chefes, com um tiro só. Ideal para speedrunners.
A trilha sonora, que deveria ser um destaque em um game dedicado a um gênero musical é muito mal utilizada. A trilha original é repetitiva, e a licenciada (utilizada nas lutas contra dos chefes ou na jukebox da loja) não contêm os vocais dos artistas, apenas o instrumental. A intenção em apresentar uma série de bandas de diversas vertentes do metal europeu é boa, a execução: nem um pouco.
Aliás esse é o grande problema do título, ele tem boas ideias e claramente foi feito por pessoas que amam um estilo musical com a intenção de homenagear suas bandas preferidas e o heavy metal como um todo. Os problemas começam quando essas ideias são soterradas por uma série de decisões ultrapassadas, simplórias ou permeada por bugs (e não foram poucos).
E se a introdução da música, The Metal, da banda Tenacious D diz que: “Você não pode matar o metal. O metal viverá!”, é uma pena que Metal Tales: Overkill não contribuiu para essa longevidade. Nem a do metal, e nem a própria.
A análise de Metal Tales: Overkill foi escrita com base em uma cópia de review gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game. Também disponível para Xbox, Nintendo Switch e computadores.