Análise Pathfinder Wrath Of The Righteous (PS4)
Pathfinder Wrath Of The Righteous é um CRPG clássico que exige dedicação do jogador e tem tudo para agradas os fãs de Baldur’s Gate.
Pathfinder Wrath Of The Righteous é um presente aos fãs de CRPG. Há cerca de 02 anos eu tive a oportunidade de experimentar Pathfinder Kingmaker, um jogo que abriria novos horizontes, adicionando uma nova gama de jogos que eu pudesse aproveitar no PlayStation. Havia algo diferente ali, pois embora eu já tivesse jogado Divinity: Original Sin 2, Kingmaker me chamou a atenção com o conjunto robusto de regras a serem assimiladas e um cuidado quase barroco com a apresentação, sobretudo da interface do jogador, com um estilo visual que se destacava dos demais jogos.
E não apenas gostei muito, como fiquei na expectativa para o lançamento do próximo jogo da série, Wrath Of The Righteous, que na época estava em fase de financiamento coletivo. Desde então, aguardei ansioso o lançamento para os consoles (já que jogar no PC não é meu forte) e posso afirmar que não me decepcionei.
Se você caiu de paraquedas nessa análise e não está familiarizado com esse tipo de jogo, a referência mais básica que pode ser trazida é de Baldur’s Gate, o mais famoso e celebrado RPG lançado para computadores em meados de 1998. Em Baldur’s Gate, a desenvolvedora BioWare (sim, a mesma de Mass Effect e Dragon Age), buscou traduzir o sistema Dungeons & Dragons para o videogame, utilizando todas as regras presentes nos livros e ambientando o jogo em um de seus cenários (Forgotten Realms).
Embora o Baldur’s Gate tenha feito sucesso, abrindo espaço para uma sequência e outros jogos como Planescape: Torment, Icewind Dale e Neverwinter Nights, o gênero acabou perdendo espaço com o advento de novos estilos de RPG sobretudo com elementos de ação como Diablo, World Of Warcraft, a série Elder Scrolls, Fallout e os próprios jogos da BioWare somente retornando aos holofotes com o sucesso do financiamento coletivo para o lançamento de Pillars Of Eternity, em 2015. E graças a Pillars Of Eternity, foram lançados Divinity Original Sin, Torment: Tides Of Numenera, Wasteland 2 e 3 e Pathfinder Kingmaker, o que nos traz a Wrath Of The Righteous.
Wrath Of The Righteous é, assim como os jogos mencionados acima, um jogo de RPG com visual isométrico em que controlamos um grupo de guerreiros em uma aventura baseada no sistema Pathfinder (derivado de Dungeons & Dragons) e tal qual Baldur’s Gate, é metódico e cheio de informações que o jogador deve observar para a ação de desenvolver.
A aventura começa na cidade de Kenabres, última das últimas linhas de defesa do mundo contra uma invasão de demônios, pois a cidade fica localizada próximo à uma fenda chamada Worldwound (algo como o portal subterrâneo de Pacific Rim). Logo no começo do jogo testemunhamos a queda das defesas de Kenabres e o início da invasão demoníaca que motivará o início de uma cruzada contra as forças de Baphomet.
Nada mudou (ainda bem)
Como um CRPG a jogabilidade se desenvolve com a interação no cenário e com personagens e pela com a movimentação do grupo de protagonistas utilizando os direcionais analógicos. Também podemos acionar a utilização de um ponteiro (como o mouse de um PC) para selecionar objetos do cenário. Dessa vez, é possível mover a câmera, pois os cenários são todos tridimensionais, um avanço em relação a Kingmaker.
O combate é um dos fatores mais relevantes do jogo, pois consegue englobar estilos bastante distintos: tempo real com pausa (RTWP) e turnos (turn-based), sendo que a podemos trocar o estilo a qualquer momento com um simples toque de botão. É também no combate que encontra-se a maior complexidade do jogo, exigindo que o jogador esteja atento às estatísticas do seu personagem e às do inimigo para poder acertá-lo efetivamente. Isso porque segundo as regras do sistema Pathfinder, qualquer detalhe pode influenciar a matemática dos dados.
Por exemplo, o jogador pode ser penalizado com pontos negativos pela utilização de uma arma que não possui proficiência ou pela utilização de uma armadura pesada demais para sua estatura; ou ainda por atirar uma flecha em um alvo coberto por outros jogadores. Mas o contrário também pode ocorrer: a utilização de magias e armas melhoradas podem adicionar 1 ou 2 preciosos pontos de bônus à rolagem de dados necessários para superar a defesa do inimigo. Tudo isso é mostrado explicitamente no relatório de combate fixado no lado direito da tela, fazendo com que o entendimento do que ocorreu a cada ataque seja imediato (partindo da premissa de que você entendeu as regras do jogo). Esse é, sem dúvida, o fator que irá atrair ou afastar a maioria dos jogadores.
No entanto, não é o que vai mantê-los jogando, pois essa responsabilidade recai sobre o ritmo de jogo. e nesse quesito Wrath Of The Righteous repete o andamento de Kingmaker com um começo lento que se desenvolve e expande conforme avançamos. A nova ambientação também é muito bem-vinda, deixando de lado a aventura mais mundana, por assim dizer, com administração política de reinos e trazendo um embate épico entre o bem e o mal.
Mais é mais
Ao iniciar uma nova campanha, logo de cara somos recebidos por uma enxurrada de informações na criação do personagem. Na realidade, até a seleção da dificuldade do jogo é tão complexa que bons minutos podem ser perdidos nesse momento e, sem exagero, algumas horas podem passar de forem observadas cada opção de classe e subclasse, vida pregressa e deidade disponível ao jogador na tela de criação do personagem.
Por outro lado, a variedade de classes e arquétipos (subcategorias) auxilia na construção de uma experiência única para cada pessoa que se aventure no jogo. Não fosse o suficiente, ainda é possível escolher outra classe mais adiante, quando fica disponível o chamado “Caminho Mítico” ou “Mythic Path” em que o personagem ascende para uma espécie de semideus (ou anjo/demônio, você escolhe). Essa versatilidade é muito bem vinda e acomoda a imaginação fértil do público de RPG. Uma pena que a vastidão de opções na escolha da classe não se repete na hora de criar o visual do personagem, pois as opções acabam por diminuir consideravelmente.
A vastidão de conteúdo também se reflete nos diálogos, pois somos convidados a ler páginas e páginas de conversas sejam elas descontraídas ou cruciais para o futuro de Kenabres. Obviamente a quantidade de textos e informações sobre o mundo de Golarion e aspectos da sociedade, deuses e tudo mais que compõe o pano de fundo da aventura também é gigantesco, sendo um prato cheio para quem gosta jogar com calma e apreciar cada detalhe da aventura. Um problema enorme é que o jogo não possui suporte para português e, infelizmente, aqueles que não sabem inglês ficarão de fora.
Se com tanta informação sobre classes, itens, deidades, raças e uma biblioteca inteira de diálogos escritos você está achando pouco, após algumas horas (muitas na verdade) Wrath Of The Righteous ainda apresenta um novo modo de jogo chamado Cruzada em que devemos comandar o exército da 5a cruzada contra hostes demoníacas em uma abordagem mais próxima de jogos de estratégia. A alternância dos modos de jogo ajuda no ritmo do jogo em geral, tirando um pouco da monotonia da exploração de cenários e cavernas e deixando a experiência mais agradável.
Além do acréscimo de conteúdo no jogo em si, também há uma sensível melhoria em relação aos gráficos ao se comparar com Kingmaker. A dedicação da desenvolvedora Owlcat é visível sobretudo nos cenários que, além de serem tridimensionais, possuem detalhes que exploram bem a iluminação e reflexos. A interface do jogador permanece a mesma, embora tenha recebido novas cores que casam com a identidade visual própria de Wrath Of The Righteous. A ressalva continua em relação aos modelos 3D dos personagens que não refletem os retratos disponíveis para escolha pelo jogador e também não ajudam na visualização das armas e armaduras usados pelos personagens.
Por fim, é importante destacar que, em termos técnicos, Wrath Of The Righteous não decepciona. Como a versão de console está sendo lançada cerca de 1 ano após o lançamento original para PC, muitos dos bugs relatados já foram corrigidos. Inclusive aqueles que tiverem a boa sorte de encontrar a versão física do jogo para venda, irá receber as DLCs já lançadas até aqui e itens de colecionador (como encarte e adesivos).
E se os gráficos do jogo são muito bonitos, a trilha sonora tampouco fica para trás, com temas orquestrados que dão o tom épico da aventura. O desenho de som também é muito bom e tal como em Kingmaker, traz com muitos dos personagens com dublagem completa e efeitos sonoros de qualidade.
Acerto Crítico
Se você procura um RPG para passar muitas horas imerso em um mundo de fantasia épica, Pathfinder Wrath Of The Righteous é a escolha certa. Não é um jogo perfeito e seus excessos pode assustar aqueles que não estão acostumados com o gênero CRPG. Somente é necessário lembrar que não é um jogo de ação e, em certos momentos, lembra muito um jogo de tabuleiro. O objetivo da Owlcat em emular um RPG de mesa é alcançado com sucesso e, sem dúvida, é o videogame que mais se aproxima dessa abordagem. Com conteúdo de sobra, Wrath Of The Righteous é o CRPG mais ambicioso lançado até hoje, sendo um excelente jogo para ocupar a nossa vida enquanto aguardamos Baldur’s Gate 3.
Pathfinder Wrath Of The Righteous foi desenvolvido pela Owlcat Games e publicado por Postmeta Games Limited para PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch (versão em nuvem) pela em setembro/2022. A versão de PC está disponível desde setembro/2021.
A análise foi feita com base em uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente fornecida pela assessoria de imprensa do jogo.