Análise Warhammer 40,000: Shootas, Blood & Teef
Shootas, Blood & Teef traz o run and gun de clássicos como Metal Slug e Contra para o universo Warhammer 40,000 de uma forma muito divertida.
Mesmo que você não seja familiarizado com o universo Warhammer Fantasy, com certeza, já deve ter ouvido esse nome em algum lugar, seja referenciando a obra original — o RPG de mesa e suas miniaturas pintadas à mão criado pela Games Workshop em 1983 — ou os vários jogos eletrônicos desenvolvidos através da licença da franquia. E não foram poucos… De 92, quando foi publicado o primeiro jogo de videogame baseado na propriedade, Space Crusade, até chegarmos em Shootas, Blood & Teef foram lançados 96 títulos alicerçados no universo Warhammer.
Se contarmos o próprio Shootas o número sobe para 97. NOVENTA E SETE. Neste momento, o número 16 que acompanha o vindouro Final Fantasy XVI (embora ele também não seja o 16° jogo da franquia) parece ridiculamente baixo quando comparado a quantidade de jogos Warhammer.
Entretanto, diferente da recepção quase sempre positiva para maioria dos jogos lançados pela Square Enix com o selo Final Fantasy, os games lançados por diversos estúdios — de tamanhos, investimentos e talentos também diversos — com a licença Warhammer nem sempre conseguem o mesmo tratamento e holofote.
A bem da verdade, a maioria desses jogos nem chega ao conhecimento do grande público. E, exceto pelos games desenvolvidos por estúdios mais consagrados, a recepção nesse caso costuma ser um espelho da qualidade dos produtos.
Mas de vez em quando, no meio de um mar de ideias mal aproveitadas ou mal implementadas, é possível encontrar verdadeiros diamantes. E um desses diamantes, mesmo que com menos quilates, é Warhammer 40,000: Shootas, Blood & Teef.
Não vou fingir que sou um grande conhecedor da história por trás das diversas facções, comentários sociais, intrigas políticas, filosóficas e até místicas que envolvem o universo 40,000 — apesar de ter estudado partes da lore quando escrevi sobre Necromunda: Hired Gun. Minha esperança é que a série produzida e estrelada por Henry Cavill me esclareçam bastante sobre essa obra no futuro, já que todo esse universo parece ser muito interessante.
Contudo, para entender a história de Shootas, Blood & Teef não é preciso conhecer nada de Warhammer, já que a narrativa existe apenas para dar motivação para o jogador atirar. Obviamente, para quem conhece o material original com profundidade é espetacular ver como representaram mesmo que de forma cartunesca os Orks, Astra Militarum, Genestealers, Space Marines e muitos outros.
E se talvez já esteja ficando complicado para quem não é adepto aos conflitos espaciais densos que Warhammer traz consigo, a jogabilidade não poderia ser mais simples: Shootas, Blood & Teef é um run and gun 2D aos moldes dos clássicos Metal Slug e Contra com a adição de uma verticalidade característica à jogos de plataforma e uma pitada de twin-stick shooter. Já o visual remete ao dos jogos Guns, Gore & Cannoli — até então os títulos mais conhecidos do estúdio Rogueside.
Andar, atirar, destruir e se vingar. Simples, efetivo e recheado de piadinhas e trocadilhos de Orks para temperar essa mistura. Tudo isso embalado por uma trilha sonora de Heavy Metal excelente e que torna difícil a missão de não bater a cabeça junto, além de efeitos sonoros bem implementados e por vezes propositalmente cômicos.
O jogador pode escolher entre quatro facções de Orks (que alteram a jogabilidade) e quatro clãs (que alteram os visuais de cada um), todos com vantagens e equipamentos diversos:
Os Assaltadôs usam uma bomba de fragmentação e sua habilidade de corrida incendia inimigos no caminho. Os Flash Git podem não consumir munição ao atirar e possuem uma granada incendiária. Já os Rapaizlôco usam uma granada de choque e soltam raios em seus ataques corpo a corpo. Enquanto os Beastsnagga Boy são equipados com uma bomba squig que persegue e explode ao encontrar um alvo, além de usar uma lança explosiva arremessável.
Atirar com qualquer uma dessas classes em Shootas, Blood & Teef é muito satisfatório e apesar do combate corpo a corpo ser bom, ele é pouco efetivo, visto que te expõem a danos desnecessários. Atirar é a lei, já que estamos falando de um run and gun ora bolas, mas o combate melee poderia ser melhor.
Por outro lado, mirar usando o analógico direito para arremessar as bombas e granadas é sofrível. Essa porção twin-stick shooter é minha única reclamação em relação à jogabilidade e, na minha opinião, isso poderia ser resolvido com um sistema de mira automática para arremessáveis. Mas não foi o caso.
Shootas, Blood & Teef é um jogo single player, mas que também pode ser jogado cooperativamente de forma local ou online com até quatro jogadores, sendo muito mais divertido assim. Para este review terminei ele solo uma primeira vez, e depois joguei com um brother online e foi muito mais interessante assim, além de ser mais fácil — mesmo no Hard.
E, apesar de não ser um jogo desafiador demais — além de ter opções de níveis de dificuldade — alguns Chefes deram muito mais trabalho quando joguei sozinho. Mesmo com checkpoints generosos durante as fases, ao morrer numa luta contra um Chefe, se ele tiver mais de uma fase, como alguns tem, a batalha começa do início (desculpem o pleonasmo aceitável), o que pode ser frustante para alguns.
As derrotar inimigos e descobrir baús escondidos nas fases o jogador acumula dentes (o Teef do título) que podem ser trocados por armas novas ou chapéus. Recomendo experimentar as armas primeiro (20 no total), já que elas são bem variadas e ter a combinação certa contra determinados inimigos é essencial, enquanto os chapéus possuem apenas finalidade estética.
Estar na moda é importante, mas ficar vivo é mais — na maioria das vezes, pelo menos.
Vale a pena?
Apesar da simplicidade narrativa e de gameplay, Shootas, Blood & Teef é divertido, engraçado, gostoso de jogar e a abordagem mais leve e cartunesca dentro das temáticas sombrias que compõem o universo Warhammer combinaram muito com o estilo de jogo que ele se propôs a ser.
Uma recomendação fácil.
A análise de Warhammer 40,000: Shootas, Blood & Teef foi escrita com base em uma cópia de review gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game. Também disponível para PlayStation 4, Xbox One, Xbox Series, Nintendo Switch e Microsoft Windows.