Análise Vengeful Guardian: Moonrider (Nintendo Switch)
Em Vengeful Guardian: Moonrider, a JoMasher acerta na identidade retrô ao mesmo tempo que trata de questões bem atuais.
A primeira vez que ouvi falar da desenvolvedora brasileira JoyMasher foi quando li, em alguma revista, que havia um jogo super difícil com estética 8 bits feito por brasileiros. Oniken era o nome dele. Foi após alguns anos, quando Odallus foi bem recebido como um indie competente inspirado em Castlevania que eu resolvi seguir a JoyMasher mais de perto apenas para ficar encantado pelo projeto seguinte deles, o elogiadíssimo Blazing Chrome. Enquanto eu aguardava a aventura de Mavra e seu robô convertido em soldado da resistência humana (onde foi que vi essa história antes…?), Danilo Dias, artista criador dos personagens da JoyMasher, postava vídeos de um novo herói pixelado: um samurai ciborgue que eventualmente seria o protagonista quarto jogo retrô do estúdio: Vengeful Guardian: Moonrider.
Moonrider é uma das armas cibernéticas criadas pelo governo para reprimir protestos e controlar a população, mas após uma chacina ocorrida durante um protesto na cidade de Nonwan, o Guardião Vingador acorda de seu sono de máquina em busca de consertar o que existe de errado no governo. Para isso, ele vai atrás de cada um dos seus ex-colegas robóticos que servem como guardiões da ditadura em Penrai.
Nós perseguimos os inimigos livremente, escolhendo qual deles iremos enfrentar em um menu de seleção de fases um pouco mais simples do que aquele que vimos em Blazing Chrome mas com alguns detalhes sobre as fases onde Moonrider irá atacar. Além de escolher a fase, nós também podemos escolher quais melhorias vamos aplicar ao guerreiro, melhorias que estão escondidas e precisam ser encontradas nas fases – um bom meio de manter o jogador atento aos caminhos dentro de cada nível. Bom frisar que mesmo tendo bifurcações, as fases são basicamente lineares e sempre nos levarão para os mesmos chefes.
A maior novidade, pra mim que tenho Blazing Chrome como jogo referência do estúdio, é a presença de chefes humanóides que possuem as mesmas características do herói, exceto por suas habilidades especiais. Todos os outros seis chefes são ciborgues que lembram muito, não por acaso, os heróis e vilões dos seriados Tokusatsu que passavam na TV nos anos 90. A referência mais óbvia, pra mim, são os Cybercops, mas o próprio Danilo disse ter sido muito influenciado por Kamen Rider, outro clássico que tem temporadas até hoje.
A jogabilidade é uma mistura de Shinobi com Mega Man X, em que cada inimigo derrotado fornece um novo upgrade para o Cavaleiro da Lua: corrida super rápida, bumerangue de fogo, ciclone e etc. No final das fases, nosso vingador está bastante poderoso e apto para enfrentar o último chefe, exceto que ele sempre esteve. Deixando de lado a fama de Oniken e, definitivamente, Blazing Chrome, as fases e os chefes/subchefes em Vengeful Guardian: Moonrider não são tão difíceis, exceto por um pico de dificuldade que encontrei no último nível (malditas plataformas com canhões laser!).
As habilidades obtidas pelo samurai de aço são suficientes para dar conta de tudo o que encontramos pela frente, tanto é que um dos espaços para melhorias ficou ocupado pelo item que auxilia na descoberta de segredos o tempo todo em que joguei, em vez de usá-lo para acrescentar um upgrade no meu ataque ou defesa. Acredito, inclusive, que as habilidades escondidas no cenário são mais cruciais para a vitória contra os chefes do que aqueles obtidas ao vencê-los, talvez a exceção seja a Geocrusher, um super golpe no solo que libera energia e causa dano em tudo o que estiver próximo ao nosso personagem, especialmente os outros guardiões.
Sucessor espiritual
Os jogos da JoyMasher, exceto por Odallus, parecem compartilhar um universo de futuro totalitário, mas esse talvez seja o que aborda o conflito de maneira mais pessoal. Visualmente, Moonrider se assemelha bastante a Blazing Chrome por preferir uma palheta de cores avermelhadas, adequadas ao clima de destruição. Moonrider também possui um filtro CRT para aqueles saudosistas que desejem avançar pelo jogo com a sensação de jogar em uma TV de tubo e, apesar de eu achar que o filtro clareou a imagem um pouco demais, o efeito que ele cria é incrível e deixa a experiência muito mais autêntica.
Em termos gerais, Moonrider parece simplificar alguns aspectos se comparado ao jogo anterior como o menu de seleção de fases e até a música parece ser mais discreta, o que confere uma certa urgência e ao mesmo tempo brevidade a ele. Eu gostaria muito que ele tivesse atualizações adicionando duas coisas: o nome do boss que estamos enfrentando (na caixa de diálogo ou próximo à barra de vida) e uma legenda para as falas desses personagens, um detalhe que acrescenta muita personalidade aos bonequinhos de pixel.
Isso nos leva ao aspecto mais interessante de Vengeful Guardian: Moonrider: personalidades. Cada guardião tem uma postura diferente ao encontrar o nosso samurai retrô e o diálogo entre eles revela um pouco do passado em comum desses personagens e também algo sobre o mundo em que eles vivem, deixando migalhas para a nossa curiosidade tentar entender como se deu a “revolução” que tomou Penrai e qual era a relação entre eles, inclusive antes de se tornarem guardiões cibernéticos. Quem é o ministro Duas e de onde ele veio? Moonrider levanta essas questões de maneira mais pertinente que Blazing Chrome e deixa esse mistério no ar graças, em parte, à sua duração e ao seu cadenciamento. A única questão sobre a qual não há dúvida é a motivação do guardião vingador: ele está lá para derrubar a ditadura ou irá morrer tentando. Jogue!
Essa análise de Vengeful Guardian: Moonrider foi feita graças a uma cópia digital gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo que também está disponível para PC e PlayStation.