Análise Assassin’s Creed Mirage (PS5)
Assassin’s Creed Mirage busca conciliar passado e presente, trazendo de volta elementos dos jogos antigos da série. Confira nossa análise!
Assassin’s Creed Mirage tem tudo para conquistar o coração dos fãs da série que estavam com saudades do passado glorioso. Também tem potencial para agradar os jogadores que foram introduzidos à série com a trilogia de Ação/RPG iniciada no Egito antigo com AC Origins, passando pela Grécia em AC Odyssey até chegar na incursão viking na Inglaterra de AC Valhalla.
Como de costume na série, o jogo começa introduzindo o protagonista Basim Ibn Ishaq, um ladrão habilidoso que vive de pequenos crimes em Badgá (atual Iraque), mas anseia por uma vida melhor, não apenas para si, mas também para todos os que vivem nas mesmas condições precárias. Basim é acompanhado por sua amiga Nehal, uma ladra igualmente habilidosa, mas que não compartilha dos mesmos ideais de Basim. Ambos envolvem-se em um roubo frustrado e as coisas vão de mal a pior, até que Basim é obrigado a fugir de sua cidade natal e, não por acaso, acaba ingressando na Ordem dos Ocultos.
A partir do ingresso de Basim na Ordem, ele descobre sobre uma realidade escondida debaixo de seus próprios olhos no Califado Abássida, fonte de corrupção e morte àqueles se opõem.
Uma cidade viva
Assassin’s Creed Mirage não esconde a proposta de romper com os padrões estabelecidos nos últimos 03 jogos da série, mas ao invés de inovar, busca retomar a proposta de furtividade e parkour que fizeram a série famosa.
Esses aspectos ficam claros na relação entre a jogabilidade e a ambientação predominantemente urbana do jogo. Bagdá é, sem dúvida, um personagem com vida própria e a vida da cidade impulsiona o jogo em quase todos os aspectos. O escopo do jogo é muito menor do que os títulos anteriores, mas isso não significa perda na qualidade. Na verdade, Assassin’s Creed Mirage parece muito mais focado nos elementos que caracterizam a série do que qualquer outra coisa. As características políticas e socioculturais apresentadas na Bagdá do século IX são um prato cheio para retomar a sensação de estar jogando com verdadeiro um membro da Ordem dos Assassinos e não uma figura história que acaba vestindo um manto estiloso.
Comerciantes, transeuntes, guardas e imigrantes povoam as ruas da cidade e fazem com que a mais simples tentativa de furtar qualquer objeto seja facilmente reportada às autoridades – só que agora não é mais tão fácil enfrentar vários inimigos ao mesmo tempo. Um sistema de notoriedade, parecido com o existente em Odyssey, indica o nível de ameaça à Basim, acarretando em muita dor de cabeça para atravessar o cenário, pois se deixarmos o medidor cheio, somos facilmente reconhecidos por qualquer um na cidade e adeus stealth.
Como as atividades quase sempre se passam em algum distrito de Bagdá, as ocasiões são perfeitas para trazer de volta algumas mecânicas que estavam juntado poeira na série.
Uma viagem rumo à nostalgia
O esconderijo da Ordem dos Ocultos foi atacada e um de seus membros desapareceu buscando informações sobre os agressores. Agora tudo que se sabe é que a pessoa com a informação sobre o mandante do ataque está sendo torturado no presídio de Bagdá e caberá a Basim resgatá-la. A missão descrita acontece no começo do jogo e apresenta quase todas as mecânicas principais de Assassin’s Creed Mirage. Assim como na trilogia original, Mirage coloca o protagonista para ouvir a conversa alheia fim de obter informações; vasculhar o cenário atrás de uma oportunidade de infiltração e realizar muitos assassinatos furtivos (não pude deixar de lembrar da falecida série Splinter Cell).
Além dos movimentos clássicos de parkour (que aqui valem-se da ótima fluidez dos jogos mais recentes) Mirage também nos coloca para investigar e descobrir a identidade dos antagonistas em uma aventura digna do Batman ou talvez Geralt de Rívia. O próprio menu do jogo não traz a divisão das atividades em missões, mas mostra “investigações” em aberto, deixando claro que Basim Ibn Ishaq é mais do que apenas um ceifador de vidas.
Falando em ceifar vidas, o combate de Assassin’s Creed Mirage também retrocede um pouco para buscar a forma trazida nos primeiros jogos da série. Não há mais uma infinidade de armas disponíveis e Basim conta apenas com sua cimitarra e uma adaga, que usa para aparar ataques dos soldados ou mercenários inimigos. As animações, porém, não são como nos jogos antigos e Basim consegue ser bastante ágil em um sistema de combate de prima pela simplicidade.
Para completar as mecânicas que compõem o núcleo da jogabilidade de Assassin’s Creed Mirage, Basim também tem ferramentas à sua disposição. No entanto, esses periféricos não vem em grande quantidade e não são variados o suficiente para facilitar a vida.
Inclusive, o progresso para desbloqueio dos itens é um tanto lento, fazendo com que Basim se vire com as poucas opões existentes, em mais uma decisão consciente do time de desenvolvimento.
Mil e Uma Noites
A apresentação visual do jogo é nada menos que magnífica. Ignorando a semelhança com a ambientação de AC Origins por motivos óbvios, Assassin’s Creed Mirage foca na ambientação da cidade muito mais do que no deserto da Mesopotâmia. Utilizando registros históricos, a Ubisoft foi capaz de recriar uma cidade no auge de seu desenvolvimento e que já foi destruída completamente algumas vezes.
Como nos últimos jogos, a Ubisoft aproveita para dar uma aula de história trazendo informações relevantes à medida em que encontramos algum ponto de interesse cultural, jogando luz sobre a realidade do mundo árabe de 1200 anos atrás. Inclusive, existe a possibilidade de jogar com a dublagem toda em árabe, o que eu recomendo muito para quem quiser uma imersão maior no mundo do jogo. Também podemos colocar o jogo 100% em português do Brasil, com áudio e legendas, como vem sendo o padrão dos lançamentos da Ubisoft.
Os aspectos técnicos continuam no padrão AAA no tocante à trilha sonora e design de som, com destaque para os sons da cidade que refletem a cultura islâmica, com cânticos religiosos em momentos de calmaria, por exemplo. O lado ruim continua em relação aos NPCs, que por vezes tem uma expressão facial congelada ou fora de sincronia, sobretudo aqueles que não são relevantes para a trama. Acho que não custava caprichar um pouco mais.
A trama também é interessante, mostrando Basim amadurecendo desde seus dias como ladrão, retratando sua ascensão na Ordem dos Ocultos, embora com momentos previsíveis para quem já é veterano na série. Os melhores momentos surgem da interação de Basim com sua mentora Roshan e a amiga Nehal, que fazem um prenúncio do personagem que veremos em AC Valhalla.
Conclusão
Assassin’s Creed Mirage consegue aliar elementos novos e antigos em um jogo coeso e divertido. Não é completamente diferente dos jogos anteriores, mas consegue se afastar o suficiente dos elementos de Ação e RPG a ponto de resgatar verdadeiramente o sentimento dos jogos clássicos (desde o Asssassin’s Creed original até AC Black Flag), sobretudo pelo aspecto da furtividade, chegando a evocar muito da finada série Splinter Cell, também da Ubisoft.
Com uma ambientação incrível e aspectos técnicos de alto nível, Assassin’s Creed Miragem tem tudo para ser lembrado por muitos anos como um ponto alto da série.
Assassin’s Creed Mirage foi desenvolvido e publicado pela Ubisoft e lançado em 05/10/2023 para PlayStation 4 e PlayStation 5, Xbox ONe e Xbox Series X/S e PC.
A análise foi feita com base em uma cópia digital de PlaySation 5 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.