Análise Rise of the Ronin (PS5)
Combate refinado, personagens carismáticos e uma história envolvente ainda conseguem se sobressair aos tropeços de Rise of the Ronin.
Anunciado no State of Play de setembro de 2022, Rise of the Ronin o novo jogo do estúdio japonês Team Ninja, o mesmo de Nioh 1 e 2, gerou grande expectativas nos fãs do gênero souls like, já que o time se especializou neste modelo de jogo nos últimos anos. Porém, logo isso foi quebrado. Como uma forma de atingir um público maior, os diretores do jogo informaram a todos que o jogo seria “diferente” dos anteriores, se tornando um jogo de ação e aventura em mundo aberto com elementos de RPG, mas salientou que os fatores característicos do gênero ainda estariam lá.
Após 50 horas eu digo que de fato, Rise of the Ronin é bem diferente de tudo que a Team Ninja já desenvolveu, mesmo usando tudo que eles aprenderam nos últimos anos. Em entrevista para um site japonês, o diretor Fumihiko Yasuda disse que o novo jogo é maior e mais ambicioso projeto do estúdio, e isso é claramente percebido no escopo do game. Graças a isso, eu já adianto que ele me surpreendeu positivamente, apesar de alguns pontos bem baixos.
Do que se trata?
Se tinha algo que realmente tinha “certeza” que não seria lá essas coisas é a narrativa do jogo. Possuía este pensamento pois tanto Nioh 1 e 2 e Wo Long: Fallen Dynasty não foram jogos que conseguiram me conquistar pela história, na verdade, foi bem o contrário. Em todos os casos citados, eu simplesmente ignorei completamente a narrativa, não houve nada que me chamasse a atenção em algum deles, sentia que ela estava lá para me fazer enfrentar novos imigos e só, e bom, acho que isso foi ótimo para minha experiência com Rise of the Ronin.
Isso porque logo em suas primeiras horas, eu não sei nem explicar bem o porque pois não acontece nada de muito profundo ou inesperado, mas o jogo conseguiu me conquistar. Eu rapidamente fiquei intrigado com as questões históricas ali apresentadas e claro seu combate, mas este tópico eu falo depois.
Você está sob o controle de um Ronin no Japão no século XIX, no que historicamente, é o final da era Bakumatsu. Eu não sou nenhum grande conhecedor da história da região, mas o jogo apresenta o período em que o Japão sofreu com a invasão de vários países ocidentais, e graças ao seus grandes poderes de fogo causaram grande terror para aqueles que iam contra as invasões de territórios, principalmente dos britânicos, franceses e americanos.
Inclusive, nosso personagem acabou perdendo toda família em uma dessas invasões, onde você conseguiu fugir com seu irmão. Após este evento, ele acaba conhecendo um clã secreto chamado de “A Lâmina Secreta”, ninjas que andam sempre em duplas e possuem enorme destreza com a espada na mão.
Anos se passam e quando adulto, uma nova invasão acontece em seu clã, e dali em diante, você parte para a região central do Japão em busca de vingança. Aqui vale um adentro, pois ainda há um objetivo que considero ainda maior, porém, seria spoiler, então não irei falar, apesar dos trailers insinuarem isso, mas existe uma escolha que muda a trajetória do jogo, então, é melhor não comentar.
Como disse antes, nada de muito novo ou inovador, na verdade, é algo bem clichê considerando tudo que já vimos em jogos. Mas fato é que rapidamente o jogo consegue me inserir nessas questões políticas e históricas e com a inserção de novos personagens, a história vai ganhando peso, contexto e me senti altamente animado em prosseguir, e foi assim até o final.
E grande parte dessa empolgação é sem dúvidas pelos personagens secundários que são excelentes. E quando digo personagens eu falo em letra maiúscula, porque esse jogo tem muito, mais muito personagens secundário. E todos eles possuem linhas de histórias que se desenvolvem em missões principais e secundárias. Eu pouca vezes vi tantos personagens em um jogo como aqui, e todos possuem muita personalidade, com ótimas histórias que valem a pena serem ouvidas e seguidas, e por isso eu conclui basicamente todas as quests, e digo quase, porque mesmo depois de 45 horas, o jogo ainda me apresentava novos personagens.
E vale ressaltar ainda que muitos deles foram figuras históricas reais. Isso é bem legal para dar um contexto bem bacana.
Japão
Outro aspecto que me mantinha um pouco longo do jogo era o fato dele ser mundo aberto. Nos últimos anos esse gênero me trouxe um grande cansaço por ter se tornado algo “mais do mesmo”. Dificilmente se encontra no mercado um jogo que destoe dessa estrutura de mundo aberto convencional.
É claro que mesmo alguns possuindo essa estrutura já muito utilizada, conseguem de alguma forma se destoar da maioria e trazer um aspecto novo ou divertido, mas eu vejo essa linha como algo muito fácil de tender para o tédio, e Rise of the Ronin bebe e muito dessa estrutura já bastante utilizada, e será um dos pontos que muitos irão gostar e outras não.
Felizmente o mapa não é muito grande. O Japão aqui é divido em diversas regiões representando importantes cidades do país e conforme você avança na trama principal ou vai progredindo em atividades secundárias, você vai liberando as atividades da região.
Algo positivo neste formato foi que a Team Ninja foi inteligente ao não inflar o jogo. É fato que as atividas do mapa como tirar foto de um monumento histórico, reconquistar uma base, orar em um santuário e outros, estão longe de serem algo nunca vistos, mas eles não são tantos assim se comparado aos jogos da Ubisoft por exemplo, além disso, essas atividades não demoram para serem feitas e as recompensas realmente valem a pena. Mas isso não muda o fato que a estrutura é cansativa e para aqueles que estão de saco cheio do modelo mundo aberto, isso será um ponto que afastará muitos.
Mas vale ressaltar que achei a apresentação do Japão aqui bem bonita. O contraste da cultura regional com a chegada de inúmeros estrangeiros é visto em construções e populares que andam pelas ruas. O jogo ainda teve o cuidado de dublar os NPC’s com as vozes dos países que pertencem.
E claro, o mundo aberto aqui é crucial para o avanço da histórias, praticamente todas as missões principais acontecem nestes monumentos históricos reais e isso passa um peso maior para aventura, além do que, o comportamento de algumas cidades é alterada de acordo com o avanço da história.
Sistemas de elos
Algo que gostei muito em Rise of the Ronin foi o sistema a elo que pode se chamar de nível de amizade. Como eu disse antes, o jogo possuí muitos personagens secundários e todos eles, possuem quests secundárias. E cada vez que você faz uma dessas missões seu nível de proximidade com o personagem aumenta, indo de zero a quatro.
E isso é sentido na gameplay e na história. Rise of the Ronin também possui um sistema de escolha, ao longo da jornada suas linhas de amizades e suas decisões irão levar você para o xogunato, ou seja, você é a favor da invasão ocidental, ou anti xogunato, onde você é contra a invasão.
E não é uma escolha que você faz e pronto, na primeira parte do jogo você pode ir pendendo para os dois lados, porém, ao fazer algumas missões a favor do xogunato, você encontrará personagens que são contrários e eles irão questionar sua real intenção, podendo destruir seu elo de amizade com aquele personagem. Em um caso específico, eu fiz uma missão com americanos e tive que lutar contra uma amigo de elo nível dois, e fui questionado pelo personagem ao termino da luta, e precisei fazer uma nova missão com ele, para reconquistar sua confiança.
E claro que em suma maioria esse sistema não consegue ser tão perfeito, porém, o jogo com esse esquema de decisões, irá levar você a confrontos com amigos caso você aja a favor do outro lado. Isso perde somente o peso, após a metade da história, que dali em diante não é possível mais mudar de lado.
Eu escolhi a linha anti xogunato e fiquei muito curioso para saber se realmente existe diferença da história caso você escolha o caminho xogunato. E como disse, seu elo também afeta em sua gameplay, pois em todas as missões principais, você pode escolher até dois aliados para te auxiliar, porém, só é possível escolhe-los caso você tenha um elo de nível dois com os personagens e claro, após o termino da missão o nível de proximidade sobe muito.
Gameplay
Aqui para mim é chover no molhado. Qualquer pessoa que já tenha jogado qualquer jogo da Team Ninja sabe que os caras sabem fazer combate e, para mim, eles chegaram em seu ápice. Sei que isso não será um consenso, mas sem dúvidas o combate de Rise of the Ronin foi oque mais me trouxe diversão ao longo de todo jogo.
O jogo se inspira muito nos jogos anteriores da franquia com algumas adições. Diferente dos Nioh, Rise of the Ronin não possuí o esquema de posturas, mas incrementa um estilo bem parecido chamado de “estilos de combate”. Funciona assim, cada arma possuí ataques e estilos diferentes, que são apropriados para determinados inimigos.
Por exemplo, ao usar uma katana, você começa somente com um estilo de combate, e ao derrotar inimigos e aumentar sua proficiência de combate com ela, você irá liberar novos modos de ataques, ou seja, um inimigo que usa a mesma arma que a sua, é eficiente usar um estilo, mas contra um inimigo mais forte com uma arma diferente, é prudente usar outro estilo. Eu confesso que usar o “estilo errado” não tem um peso muito impactante na gameplay, mas é legal ter novos estilos de abordagem, somado ao fato de ver novas animações de combate. Além disso, vale ressaltar que cada forma de ataque, possui até três habilidades especiais.
No combate existe muita semelhança com Sekiro. Os inimigos possuem uma barra de vida e uma barra de equilíbrio. Defletir ataques ou aplicar golpes, dão dano de equilíbrio no inimigo que ao ter a barra zerada, é possível aplicar um golpe critico que tira muita vida. Mas diferente do jogo da From Software, aqui você precisa zerar a barra de vida do inimigo.
Por fim, o jogo ainda possuí inúmeras armas e um esquema robusto esquema de personalização de personagem, principalmente na quantidade de roupas.
É um jogo feio?
Desde de seu lançamento, o jogo sofreu inúmeras críticas na internet principalmente pelas questões de sua parte gráfica. Eu cheguei a ler que parecia jogo de PS3. É claro que isso foi dito na internet e de alguém que nem jogou o jogo e por isso em minha opinião não deve ser levado a sério, mas fato é que decepciona sim.
Essa questão técnica nunca foi um forte do estúdio, inclusive, eu mesmo critiquei essa questão em Wo Long, que para mim deixa muito mais a desejar do que aqui. Porém, por se tratar de um jogo de mundo aberto e ser exclusivo de PS5, eu esperava mais.
Eu não acho essa coisa horrível que muitos pintam, inclusive, como disse antes, existe cidades e cenários que são lindos, mas em sua maioria, não há nada que salte aos olhos, pelo contrário, em alguns locais chega a ser um pouco constrangedor.
Eu não sei o nível de investimento que a Team Ninja teve para um projeto tão grande, mas ainda assim, talvez a melhor escolha seria ter dado um passo para trás e ter mais atenção neste ponto, porque quem compra um Hardware caro como o PS5, tem direito em pedir gráficos melhores.
Isso infelizmente se reflete nas expressões faciais dos personagens que essa assim, deixam muito a desejar, principalmente no personagem principal que não é mudo, mas devia falar mais e se expressar mais. E isso para mim foi uma pena enorme, pois como disse antes, eu amei os personagens secundários deste jogo mesmo com este defeito. Ou seja, se esse aspecto técnico tivesse sido melhor trabalhado, eu com certeza iria amar ainda mais.
Vale a pena?
Eu definitivamente me diverti demais com Rise of the Ronin. Para mim acabou sendo uma enorme surpresa. Mesmo com o selo da PS Studios por trás, e pelos ótimos jogos que o estúdio já tinha, eu ainda tinha muitos receios que foram quebrados ao longo da minha jogatina.
Mais que isso, eu fiquei animado em continuar, principalmente para ver o desfecho de determinados personagens, além da vontade de continuar preso naquele gameplay.
É verdade que ele passa longe de ser perfeito, e apresenta muitos defeitos e alguns até graves, mas seus altos foram muitos mais satisfatórios que seus tropeços. Eu recomendo que quando você tenha chance, jogue, e não se deixa levar pelos comentários da internet, talvez você se encante da mesma forma que aconteceu comigo.
A análise de Rise of The Ronin foi escrita com base em uma cópia de review gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game. Disponível para PlayStation 5, e você pode adquirir o game com os nossos parceiros da Nuuvem com um preço super especial, clicando aqui.