Astro Bot prova que a maior tecnologia nos games ainda é a criatividade

Em meio a jogos ultrarrealistas e complexos, Astro Bot e sua simplicidade, mostram que ele é mais videogame que quase tudo lançado recentemente.

Astro Bot

Videogames se tornaram intrigantes de se gostar e falar sobre em 2024. Digo isso porque estamos enfrentando, nos tempos atuais, um claro choque de gerações onde temos a galera, da qual faço parte, que começou a jogar lá nos anos 90 e viu, praticamente, o surgimento dos vídeos games; e uma geração que começou a jogar no final da primeira década do século e viu essa realidade meio truncada de quem começou lá trás. E tudo bem! Afinal de contas, isso é comum em todas as mídias. Mas, então porque estou dizendo isso?

Simples, para quem começou a jogar nos anos 90, sabe que jogos eram bem mais simples. Basicamente você tinha telas fixas em que você seguia para frente, enfrentado inimigos que eram derrotados com desafios de plataformas ou só pulando em suas cabeças e pronto.

Mario

Mas por conta da evolução dos jogos, superproduções que miram um realismo absurdo, gameplay aprofundada e história melhor elaborada, esse tipo de jogo mais simples se tornou algo mais comuns a jogos indies ou de algumas empresas específicas. E para mim, isso é uma pena.

Porque jogos não são só sobre realismo e narrativas marcantes, mas é, e sempre será, sobre diversão. É sobre o quanto um jogo consegue te distrair e fazer com que você passe horas preso em algo que parecem minutos.

Infelizmente, com o passar dos anos, obviamente a indústria também notou esse movimento e franquias deste estilo foram morrendo, ou se adaptando a forma “normal” de se fazer videogames, como vimos na franquia Castlevania por exemplo. Claro que algumas desenvolvedoras ainda lutam e temos jogos que souberam se inventar muito bem dentro deste gênero AAA, se tornando verdadeiros clássicos.

Konami - Castlevania

Mas meu ponto não é nem sobre o gênero em si, mas sobre a simplicidade de só andar e vencer alguns desafios. Você pode até pensar que isso pode ser chato e com o tempo se tornaria cansativo, pode até ser para alguns jogos, mas com tanta tecnologia e com desenvolvedores cada vez mais capazes, é impossível acreditar que eles não conseguiriam criar algo que fosse brilhante dentro de uma estrutura simples.

E bom, eu não estava errado mesmo.

Na verdade, essa fórmula já vem sendo resgatada há algum tempo. O caso mais emblemático recente, na minha opinião, é de It Takes Two, que foi o vencedor de melhor do jogo ano em 2021. O jogo da Hazelight Studios usa exatamente deste recurso que citei. Ser simples dentro de sua proposta, mas usar e abusar da criatividade e interatividade, para criar fases extremamente divertidas e gostosas de se jogar.

No caso de It Takes Two, eu me lembro perfeitamente como em seu anúncio não chamou atenção de quase ninguém, exatamente por não atender as preferências exigidas nos tempos atuais que citei lá trás, mas conforme as pessoas foram jogando e vendo o brilhantismo que ali tinha, foram dando uma oportunidade e viram novamente que jogo, não é só sobre gráfico ultrarrealista.

EA - It Takes Two

O fato de citar o jogo publicado pela EA, foi extremamente intencional, pois a reação foi exatamente igual com o anúncio de Astro Bot, no State of Play da PlayStation, onde ele foi revelado como a principal atração do evento.

E olha, talvez não exista um público mais difícil de agradar do que este.

Isso porque a empresa ficou mundialmente conhecida com seus jogos que seguem exatamente o padrão atual da indústria. Inclusive, eu diria que ela foi a responsável por popularizar esse formato e desta forma, influenciar as outras desenvolvedoras a investirem cada vez mais em seus personagens e narrativas.

Astro Bot

Então, revelar que um dos seus principais jogos do ano será o jogo de um robozinho, trouxe um gosto bem amargo para os fãs da marca.

Bom que nunca fui um desses. Pelo contrário — desde o momento em que soube da sua existência, eu tinha certeza absoluta que seria incrível.

Isso porque o Astro’s Playroom, a tech demo que vem junto do PS5, que serve basicamente para mostras todas tecnologias do Dualsense, é simplesmente fantástico e sem exagero nenhum, ainda é um dos meus jogos favoritos do console. Então saber que o Team Asobi, teria a oportunidade de demonstrar toda aquela criatividade em um jogo completo me encheu de alegria.

Astro Bot é uma aventura fantástica que mostra o quanto um jogo pode ter uma gameplay profunda com apenas um apertar de botão. Há vários momentos marcantes na aventura que faz você abrir um sorriso no rosto com tamanha diversão. Na verdade, eu passei o jogo todo rindo.

Astro Bot

O robozinho que vem para tampar a falta de uma mascote na marca PlayStation esbanja carisma e faz você se apaixonar não só por ele, mas por tudo que o cerca.

Sua estrutura ainda é muito similar do jogo anterior. Mas, com mais tempo e dinheiro, o estúdio conseguiu criar fases ainda mais criativas e poderes ainda mais divertidos de usar.

Meu favorito, com certeza foi o “Poder do Ratinho”, que faz você ficar do tamanho original ou pequenininho. A fase toda é projetada para que você mude o tempo todo de tamanho para progredir e isso o torna simplesmente brilhante com um recurso tão simples. Em uma única fase o jogo consegue mudar sua perspectiva de 3D para 2D, muda para um ação e aventura e depois para um jogo de plataforma. Isso tudo em uma única fase.

Astro Bot

O mais bizarro deste exemplo, é que é difícil pôr em palavras a real experiência que você sente ao sentir essas mudanças de perspectivas, porque para quem assiste pode parecer simples, mas para quem joga, traz sempre um alívio que empolga e faz você querer sempre mais.

Todas as fases seguem o mesmo padrão de vencer desafios de plataformas e matar inimigos pulando neles, mas o poder da criatividade que essa simplicidade trás, faz com que cada fase se torne algo muito especial e marcante. Isso sem contar com a trilha sonora brilhante que o jogo trás.

Existem poucos jogos que joguei em minha vida em que eu não consigo apontar tantos defeitos, e Astro Bot é certamente um deles. E isso na verdade é um tapa na cara de tantos desenvolvedores que gastam milhões de dólares para desenvolver seus jogos – e muitas vezes na ânsia de criar um gameplay versátil, enchem seus games com coisas inúteis que são quase nunca utilizadas.

Astro Bot não inventa nada. Pelo contrário, ele pega tudo que vídeo game sempre foi desde de sua criação e aperfeiçoa para ser acessível a todos públicos. A criança e o adulto irão se divertir de forma igual aqui. E falo isso com propriedade, já que joguei o game todo com meu filho de 10 anos, e isso só tornou essa experiência ainda mais mágica.

Astro Bot

E por experiências como esta que tive, que jogos “simples” assim devem a continuar existindo. Embora eu esteja bastante cético a quanto tempo eles ainda irão existir. Pois, mesmo Astro Bot tenha a PlayStation Studios por trás, tenho receio que ele não venda tanto quanto as franquias gigantes que a Sony tem costumam vender.

Mas o que fica, para mim, da experiência de como o jogo é que ele não só é um sopro de alívio em meio a tantos jogos “cópia e cola”, mas que são esse tipo de games que faz a indústria caminhar, mostrando que a maior tecnologia que todo desenvolvedor pode ter acesso — é sua criatividade.


Esse artigo sobre Astro Bot foi escrito com base em uma versão digital de PS5 fornecida pelos parceiros da Nuuvem. Garanta já o seu no site da Nuuvem clicando aqui!