Análise Not For Broadcast (PC)

Poderia ser somente um simulador de edição de TV ao vivo, mas Not For Broadcast usa muita criatividade para entregar um ótimo jogo.

not for broadcast art

É comum aparecer discussões que os grandes jogos atuais não tem tanta criatividade como em outros tempos. E que essa inventividade e originalidade aparecem mais frequentemente em jogos indies e de menores orçamento. Not For Broadcast é um excelente exemplo disso.

O jogo, na sua maior parte do tempo, é um simulador de edição de programas de TV ao vivo. Ou seja, você estará na cabine de controle escolhendo em qual câmera estará no ar, escolhendo cortes, matérias, reportagens e até os comerciais que serão exibidos. Mas isso é apenas a primeira camada do game.

Cabine da TV
Cabine da TV

Vamos pra história então. Not For Broadcast se passa em um país fictício em que um grupo extremista acabou de chegar ao poder e você é apenas o faxineiro da TV. Um dia o responsável pelo programa resolve não ir trabalhar e te deixa instruções de como operar a ilha de edição ao vivo do programa. Tudo bem simples, não é? Não mesmo.

Em pouco tempo é possível perceber que suas decisões impactam não só sua quantidade de audiência como o rumo de carreiras de celebridades, empresas e até questão fundamentais da sociedade.

Mas você não passa o tempo inteiro nessa sala. O jogo acompanha sua vida e de sua família fora da TV. E acontece uma grande mudança estética do título. Na TV boa parte das imagens são filmagens de atores reais misturada com objetos (muito bem feitos) em três dimensões da sala. Não a toa o jogo é bem grande, ocupando 90gb de memória.

Já essa parte exterior é bem simples. A maior parte são textos exibidos sobre alguma animação que deixa você entender que está em casa, seja na sua sala, cozinha ou quarto. É curioso pois a parte estética muda completamente junto com a jogabilidade, que nesses momentos é bem lenta, pois além de você ter todo tempo do mundo pra ler a informação, também pode pensar muito bem em suas respostas, que, com certeza, trará algum impacto em como seguirá o rumo da história.

Um dos pontos altos de Not For Broadcast, como já mencionado, é sua criatividade. O roteiro é totalmente absurdo, me lembrando autores ingleses como Terry Pratchett e Douglas Adams, políticos e celebridades (e as vezes até os apresentadores) falam absurdos ao vivo com uma naturalidade única. E as próprias sequências de acontecimentos são bastantes malucas, pra dizer o mínimo. Essa grande aleatoriedade de eventos é muito bem encenada (de forma canastrona) pelos atores reais do elenco.

A dificuldade do jogo é bem balanceada, o modo padrão pode ser um pouco elevado para jogadores menos atento. A velocidade em que as coisas acontecem e a quantidade de coisas que você precisa controlar ao mesmo temo necessitam de uma concertação alta e constante. Uma sessão de algumas horas de jogatina pode deixar os jogadores cansados. E, definitivamente, é praticamente impossível jogar e fazer outra coisa ao mesmo tempo.

A trilha sonora é bastante básica, mas é imersiva. E somos premiados com diversas apresentações musicais, sempre com o nível de humor absurdo com qual já estamos acostumados. Infelizmente, Not For Broadcast não está disponível com dublagem em português, o que é bastante compreensivo pela quantidade diálogos que o jogo tem para o orçamento do jogo. Por outro lado, todo o jogo está legendado e de forma bastante competente. Então é completamente possível aproveitar o título, mas cria uma camada a mais de dificuldade na gameplay.

Definitivamente Not For Broadcast é um dos títulos mais inventivos e originais que joguei nos últimos anos. Talvez com o apoio de um grande estúdio ou publicadora os desenvolvedores poderiam conseguir ir mais longe, mas o trabalho feito pela NotGames é exemplar e não a toa colecionou prêmios ainda em acesso antecipado e após o seu lançamento. Além de conquistar, segundo o Guinness Book, o título de “Maior Full Motion Video em um videogame” pelas mais de 40 horas de imagens gravadas disponibilizadas na versão completa.


Jogamos Not For Broadcast em um PC, e a cópia foi disponibilizada pela tinyBuild. O jogo também está disponível para PlayStation 4 e 5, Xbox One e Series, além de contar com uma versão VR.