Análise Dragon Age: The Veilguard (PS5)
Depois de 10 anos Dragon Age volta à vida com Dragon Age The Veilguard, o quarto jogo da aclamada série de RPG.
Dragon Age The Veilguard é um jogo de ação com elementos de RPG, chegando próximo a um hack n’ slash (a referência mais recente de jogabilidade seria algo como Dragon’s Dogma 2 e Final Fantasy XVI). É importante destacar desde o começo que Dragon Age não é mais a mesma.
Após passar por problemas de desenvolvimento, ao que parece, o foco do time da BioWare foi entregar algo parecido com God of War de 2018 e Star Wars Jedi Fallen Order, esse último também publicado pela Eletronic Arts, contudo utilizando a rica mitologia do mundo ficcional de Thedas.
A parte boa
Em primeiro lugar, vamos falar de coisas boas que são as questões técnicas do jogo. Dragon Age The Veilguard foi lançado em um estado que dificilmente vemos hoje em dia. Atualmente, é comum que os jogos cheguem às lojas e logo recebam uma atualização gigantesca (o famoso “Day 1 patch”). Contudo Dragon Age The Veilguard foi lançado com um acabamento primoroso e, embora já tenha recebido uma atualização, poucas coisas foram corrigidas. Esse estado de polidez técnica se reflete no capricho visual do jogo, que é deslumbrante.
Como todos puderam ver desde os primeiros materiais de divulgação do jogo, em Dragon Age The Veilguard, a BioWare optou por uma direção de arte menos fotorrealista, dando uma aparência quase cartunesca aos personagens e ambientes do jogo. Uma das grandes vantagens dessa abordagem é que o jogo sustenta uma taxa de 60 frames por segundo utilizando o modo de performance, sem perder qualidade visual. O visual menos realista também auxilia na construção de cenários fantásticos grandiosos, que posso imaginar seja bem próximo das artes conceituais em que o limite é a imaginação do artista.
Também a apresentação do jogo, com menus animados e “cut-scenes” que trazem resquícios da direção de arte de Dragon Age Inquisition, sobretudo com belíssimas cartas de tarô utilizadas para apresentar os personagens e entradas na biblioteca do jogo.
Contudo, em alguns momentos a busca por elementos fantasiosos ultrapassa alguns limites, sobretudo no design dos personagens que por vezes parece não conversar com o contexto em que está inserido. A busca por atrair um público mais jovem levou a BioWare a optar por uma caracterização de personagens que lembra algo entre Fortnite e Overwatch e se as vestimentas dos modelos de videogames com temática fantasiosa já passam um pouco ao largo do que seria prático, em Dragon Age The Veilguard não há nenhuma tentativa de tentar fazer com que as roupas pareçam práticas, levando a resultados que mais parecem fantasias de carnaval.
Mas continuando com a parte boa do jogo, Dragon Age The Veilguard também traz uma jogabilidade de ação refinada, que lembra os melhores momentos de God Of War 2018. A ação do jogo chega a ser frenética em alguns momentos e a resposta dos controles corresponde bem à proposta. Um dos pontos mais interessantes é como Dragon Age The Veilguard conseguiu mesclar a jogabilidade de ação, quase hack n slash, com os comandos aos companheiros em um sistema de tempo real com pausa (clássico dos CRPGs como Baldur’s Gate 2, Pillars of Eternity e do próprio Dragon Age Origins).
Os companheiros também respondem rapidamente às ordens enviadas por meio da interface, sendo possível escolher qual habilidade será utilizada. Nesse particular, uma mecânica muito legal é a possibilidade de realizar combos com as habilidades dos companheiros. Assim, a escolha dos personagens que irão compor a party pode variar não apenas pelo tipo de habilidade ou classe (mago, guerreiro e ladrão, por exemplo), mas também de acordo com a harmonização das habilidades de cada personagem com as da protagonista, inclusive o entrosamento entre eles próprios.
Mas não é somente a interação no combate que figura como ponto alto no jogo, pois as conversas entre os personagens continua sendo uma das melhores ferramentas para exploração da personalidade de cada companheiro, ainda mais em um elenco tão diversificado. Cada um dos sete companheiros Bellara, Davrin, Emmrich, Harding, Lucanis, Neve e Taash possuem raízes em Thedas e pertencem a alguma facção que também dá apoio à causa. O encontro inicial com cada um deles é um pouco apressado demais (sobretudo o encontro com Lucanis), mas conforme os eventos do jogo vão se desenvolvendo, as interações com os companheiros desdobram se em bons diálogos que revelam mais a fundo quem eles são, permitindo uma conexão mais profunda com esses personagens.
Mas se a parte técnica de Dragon Age The Veilguard está caprichada, o mesmo não se pode dizer da narrativa.
A parte ruim
Sabemos que videogames são produtos de entretenimento e que existem empresas por trás do desenvolvimento, cuja finalidade não é a filantropia, mas ao contrário, gerar lucro.
Nesse sentido, é natural que a Eletronic Arts, dona e proprietária da BioWare, procure correr o mínimo de riscos para aumentar o retorno com as vendas do jogo, percorrendo caminhos mais seguros na hora de posicionar o jogo no mercado. Mas Dragon Age era uma série de CRPG (inclusive a BioWare havia desenvolvido Baldur’s Gate 2) e embora o gênero estivesse revivendo aos poucos, ainda era bastante reservado a um público menor.
Acredito que pensando nisso, a BioWare buscou outros caminhos para atingir uma audiência maior e tentou, mais uma vez, utilizar a roupagem de jogo de ação, mas dessa vez, buscando um público mais jovem.
O resultado disso é que Dragon Age The Veilguard passa tempo demais fora dos trilhos para, ao meu ver, tentando capturar a atenção de uma audiência acostumada a dar apenas 30 segundos de palco para qualquer assunto. O começo da narrativa de Dragon Age The Veilguard é exageradamente apressado, com diálogos tenebrosos que impedem qualquer pessoa de somar A + B e chegar a uma conclusão.
As ameaças do jogo são estabelecidas em diálogos pouco convincentes, deixando a ação bastante alienada, pois sabemos que devemos avançar derrotando monstros e afins, até chegar no elfos antigos, mas sem um verdadeiro propósito para tudo que fazemos.
Felizmente, depois de 10 horas de jogo, as coisas melhoram, mas a sensação é de que após alguns meses de desenvolvimento, a BioWare percebeu que o ChatGPT não é uma boa ferramenta de roteiro e resolveram contratar um profissional para assumir a função.
Outro aspecto que não conversa muito bem com o passado da série é a quantidade escassa de armas e armaduras para utilização (além de grande parte deles serem simplesmente feios). Claro que o excesso de itens leva à chateação do gerenciamento de inventário, mas Dragon Age The Veilguard desacelera e puxa o freio de mão com força nesse sentido, sendo que existem um punhado de itens que são encontrados mais de uma vez para gerar melhorias.
Essas características não estragam o jogo, mas o quanto antes a gente se despedir da franquia Dragon Age como conhecemos melhor pode ser a nossa experiência.
O resultado final
Assim, em resumo, o produto final de Dragon Age The Veilguard é uma mistura esquisita de bons elementos de jogabilidade, um excelente acabamento técnico, mas com uma narrativa bem abaixo da qualidade esperada e com elementos acessórios ruins, como a disposição de itens para melhorias.
Tive a impressão de que o desenvolvimento do jogo sofreu uma guinada depois de algum tempo, mas sobretudo que o público de RPG não é mais o alvo da BioWare, que parece buscar a audiência mais jovem, acostumada com tudo rápido demais. Ainda assim, Dragon Age The Veilguard não é um desastre e vale a pena descobrir o final de mais uma aventura em Thedas.
Dragon Age: The Veilguard foi desenvolvido pela BioWare e publicado pela Eletronic Arts para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S.
A análise foi feita com base em uma cópia digital de PlayStation 5 fornecida pelos nossos parceiros da Nuuvem e você pode adquirir o game com eles clicando aqui.