Análise Ashen (PS4)
Ashen é um RPG de ação cooperativo aposta em uma abordagem mais simples das mecânicas consolidadas na série Souls com uma arte única e uma história sólida.
No início o universo e escuridão eram um só e a Árvore dos Mundos florescia acima dos 9 reinos solitária em sua existência até que o mítico pássaro de luz Ashen ao pousar em seus galhos trouxe luz para o mundo.
Mas como o destino de tudo que vive é morrer, o pássaro tombou.
Sentindo que a escuridão retornava para devorar tudo que é vivo, Ashen com seus últimos suspiros criou as três eras de ouro da luz, impedindo que o mundo voltasse assim à escuridão primordial.
O jogador está vivendo o final deste último tempo em um mundo marcado por guerra, doença e ruína enquanto essa última luz vai apagando e a única forma de combater as Trevas Anciãs é garantir que a profecia do renascimento do Pássaro Deus se concretize.
E embora essa seja uma história simples, várias nuances são acrescentas ao longo da jornada, principalmente através do contato com NPCs, enriquecendo o mundo de Ashen.
Uma pequena contribuição dessa história é contida na descrição de itens, mas como essa é uma forma mais indireta talvez não atinja todos da mesma forma.
Ashen foi desenvolvido pelo estúdio Neozelandês A44 e publicado pela Annapurna Interactive, lançado em 12 de dezembro de 2019 para Playstation 4, apesar de já estar disponível desde 07 de dezembro de 2018 para Windows e Xbox One.
Nintendo Switch, Steam e GOG também foram contempladas com versões do game em 09 de dezembro de 2019.
Then, from the dark, they came…
Eu particularmente prefiro escrever sobre jogos evitando comparações diretas com outros games.
Se você está lendo esse texto agora é porque está interessado em Ashen e não em outro título, além do que quando faço muitas comparações estou assumindo que você leitor tenha jogado ou conheça a fundo o outro jogo, o que nem sempre é o caso.
Por outro lado, pode ser que seu interesse inicial para estar aqui seja justamente saber se Ashen faz jus a tantas comparações com os jogos da série Souls.
Então pensando em agradar esses dois públicos em potencial vou traçar alguns pontos em que o game da A44 se inspira nos produzidos pela From Software, mas explicando como Ashen consegue trilhar seu próprio caminho de luz e sombra dentro do gênero.
Uma progressão mais simplificada
A cadência do combate, a forma como o progresso é salvo e como o jogador lida com a morte são as relações mais diretas com os Souls-like, mas por outro lado a simplificação das mecânicas de evolução do personagem, o visual e a estrutura de missões torna Ashen diferente o suficiente para não ser apenas um clone barato, mas um título à altura da responsabilidade.
O combate também é regido por uma barra de estamina, que aqui se chama Vigor e todas as ações a consomem temporariamente, desde correr ou subir em uma estrutura passando pelo combate em si e o uso vestimentas/armaduras diferentes. É preciso planejar bem as ações para não ser pego de surpresa sem Vigor no meio de uma luta.
Ao completar a primeira missão o jogador libera duas coisas importantes: o uso de uma estrutura chamada Pedra Ritual, que são locais em que o progresso é salvo e onde itens de cura são recuperados, e uma vila chamada Descanso do Nômade, uma espécie de hub central para acolher NPCs e realizar melhorias nas armas e aceitar missões.
A forma escolhida tanto para a estrutura em que as missões funcionam e o progresso do jogador é o que menos se parece com Dark Souls e uma das coisas que mais se destaca em Ashen, depois do visual.
Inicialmente apenas um NPC vive no Descanso do Nômade, um construtor chamado Bataran e enquanto explora o mundo para cumprir missões você vai encontrar outros NPCs que também vão precisar de ajuda e irão se mudar para sua vila.
E isso é feito de uma maneira tão orgânica que é impossível perder ou não encontrar um personagem já que eles sempre vão estar no caminho ou ser objeto de missões de outros NPCs e gradualmente o seu pequeno acampamento vai sendo construído e tomando forma, o que cria um senso de progressão maravilhoso toda vez que você precisa retornar para casa.
Não existem status complicados em Ashen, não é preciso se preocupar se é necessário aumentar força ou destreza primeiro, se o correto é escolher entre inteligência ou fé para usar determinados itens, aqui basta completar missões e a barra de vida ou a de vigor é aumentada ao entrega-la ao NPC que te pediu ajuda.
Outra forma de aumentar esses dois status é encontrando penas da Ashen espalhados pelo cenário, mas elas oferecem uma recompensa bem menor comparadas as missões, além de dependerem da exploração que cada um irá fazer.
Talismãs e traquitanas
Ao completar essas Jornadas, sejam da história principal ou secundárias, são desbloqueadas a criação de Talismãs e itens consumíveis que variam desde itens de cura ou regeneração de vigor até peças usadas na fabricação de poções, lanças e upgrade de armas.
Esses Talismãs são modificadores que conferem vantagens ao jogador, como aumento de resistência a dano, mais vida, menos consumo de vigor, etc.
Existe um número grande de talismãs, mas apenas 4 podem ser equipados ao mesmo tempo, além de uma Relíquia, que em termos básicos é um talismã superpoderoso, que é conseguido derrotando os chefes de Ashen.
Um detalhe que pode desagradar é que o jogador não possui esses itens em si, após desbloqueá-los é necessário pagar para os equipar e se quiser experimentar os efeitos de outro e voltar para o anterior vai ter que pagar novamente.
Apesar do custo para troca de Talismãs ser baixo, o para trocar Relíquias é relativamente alto e felizmente acumular o dinheiro usado para equipar esses itens é tranquilo a partir de um determinado ponto.
Vale notar que o upgrade da quantidade de itens de cura, a força deles e a melhoria de armas também usa esse mesmo recurso, então é preciso escolher qual batalhas travar e onde gastar o seu rico dinheirinho.
Comparado a Dark Souls e seus milhares de status para itens, armas, armaduras e personagem essas são simplificações bem convidativas principalmente para quem quer começar no gênero.
Mas não se engane Ashen pode ser mais simples, mas isso não quer dizer que seja mais fácil.
É muito difícil?
A dificuldade em Ashen depende de alguns fatores, como a arma escolhida, se o jogador prefere ser mais ou menos agressivo, Talismãs equipados, quantidade de vida e vigor, etc., mas o principal deles é relativo à sua companhia nas missões.
Essencialmente Ashen é um título concebido para ser multiplayer, você sempre tem um companheiro do seu lado, que pode ser controlado pela inteligência artificial ou por outro jogador aos moldes do que foi feito em Journey em que você não sabe quem é a outra pessoa e não pode se comunicar por voz com ela.
A interação aqui se resume a um botão que emite um som e um indicador visual para que o outro jogador te localize.
Para quem não gosta desse tipo de mecânica também é possível desabilitar o multiplayer ou criar um código para convidar especificamente um amigo ou se preferir jogar totalmente sozinho desabilitar completamente a IA.
Porém visto que ele foi pensado para ser jogado em dupla, algumas áreas podem ser mais difíceis do que deveriam se estiver sozinho, o que incentiva o co-op constante.
Infelizmente não consegui testar o gameplay com jogadores humanos e joguei 100% do tempo com a Inteligência Artificial, que pode ser bem útil nas lutas ou como chamariz, mas que em vários momentos se mostrou ser tão inteligente como uma batata.
Quando a barra de vida é zerada o jogador fica caído e precisa ser ressuscitado pelo companheiro e para isso não há limite de tempo. Mas se depois disso cair de novo ou se seu amigo cair antes de te reviver você morre de fato e retorna à última Pedra Ritual usada.
O dinheiro acumulado até o momento da morte fica no exato local em que você foi derroto e pode ser recuperado ou perdido, caso morra novamente antes de chegar até o ponto.
Já quem prefere um desafio extra ao derrotar o terceiro chefe e concluir a missão de uma NPC um novo modo de jogo opcional chamado Crianças de Sessna é liberado e nele a sua barra de vida e vigor são drasticamente reduzidas, os inimigos causam mais danos e inteligência artificial morre muito mais rápido.
O mesmo esquema de progressão continua, então é possível da mesma forma aumentar vida e vigor concluindo as missões dos personagens e encontrando penas da Ashen, mas as porcentagens dessas melhorias são bem mais limitadas.
Então ao se aventurar nesse modo esteja pronto para ser um ninja da esquiva já que o gasto de vigor ao usar um escudo praticamente consume a barra toda, além de que a maioria dos chefes pode te matar com um ou dois golpes tranquilamente.
Na noite mais escura
Por falar em Chefes, Ashen tem apenas cinco e eles são e combatem de formas bem diferentes uns dos outros e são gradualmente mais difíceis, com um certo pico de dificuldade e agressividade nos dois últimos.
Mas o que pode ser uma barreira e causar frustração não são as batalhas com os Chefes, mas chegar até eles.
As áreas em que esses inimigos te aguardam, diferentemente do mundo exterior que é mais aberto e com várias rotas e acessos, são locais mais fechados e opressivos, sejam cavernas ou palácios todas são verdadeiros labirintos intrincados e cheio de perigos em cada curva.
Além de serem áreas imensas e com checkpoint apenas antes da batalha com o Chefe, a maioria é bem escuro e para cruzá-los você equipa uma lanterna na mão esquerda e uma arma de uma mão na direita, então diga adeus ao seu escudo ou à sua arma de duas mãos enquanto explora essas dungeons e se prepare para passar um pouco de raiva até decorar o melhor caminho.
Cheio de qualidades e defeitos mínimos
Em matéria de arte Ashen aposta em um visual menos realista e trabalha com um visual poligonal, mas diferente de outros jogos que usam a técnica aqui ela é cheia de detalhes, além de uma iluminação simplesmente fantástica.
E isso cria um contraste excepcional entre o que em um primeiro momento parece simples, mas que se destaca em vários outros pela sua beleza e atenção aos detalhes.
A trilha sonora também é ótima e é usada sempre nos momentos certos.
Na maior parte do game ela é quase um ruído branco, meio que imperceptível, mas que escala de uma forma maravilhosa principalmente na exploração das masmorras contribuindo para a tensão e alcança momentos épicos nas batalhas contra os Chefes.
Mas como nem tudo são flores Ashen não está livre de defeitos, como mencionado anteriormente a inteligência artificial do jogo pode te deixar na mão em momentos cruciais.
Os itens conseguidos através da exploração do cenário raramente compensam por serem quase sempre os mesmos e se acumularem em uma velocidade recorde.
As roupas/armaduras não tem status muito diversos entre si que valha a pena a alternância, então escolha a que achar mais bonita e que não tenha uma penalidade muito grande no vigor e tudo certo.
Encontrei pequenos erros de concordância nas traduções para o português, mas nada que incomode e atrapalhe a experiência, apesar de ser estranho querer descer uma escada e no prompt de comando estar escrito subir.
Mas a quantidade de acertos é tão maior que os pequenos defeitos que tudo isso vira mero detalhe ou nota de rodapé frente ao excelente game que temos aqui.
Ashen é feito tanto para fãs da série Souls como para quem quer começar a se enveredar por combates mais cadenciados e metódicos e procura um jogo relativamente mais simples e não tão longo, coroado por uma arte linda e uma história muito bem construída.
A análise de Ashen foi escrita com base em uma cópia de PS4 fornecida pela assessoria de imprensa do jogo.