Análise Assassin’s Creed Origins
Depois de 10 anos de uma das mais relevantes franquias da indústria de jogos AAA, Assassins’s Creed deu claros sinais de necessitava de uma reformulação. Será que a Ubisoft conseguiu repetir o sucesso de Assassin’s Creed 2?
Voltando um pouco no tempo, lembramos que AC Black Flag e AC Rogue conseguiram atingir um patamar de qualidade acima de AC3, mas ainda assim não foi o suficiente para levar a franquia para o nível das aventuras protagonizadas por Ezio em AC2. E não há muito que falar sobre Unity, que embora não seja um jogo tão ruim, falhou em revitalizar a série na “nova geração de consoles”. Assim, quando AC Syndicate foi lançado em outubro de 2015, a franquia era vista com desconfiança pelos consumidores e a base de fãs da série já não era o bastante para absorver os lançamentos anuais da Ubisoft, mesmo com a “IP” sendo uma das mais rentáveis da desenvolvedora francesa. Essa queda de desempenho foi responsável por um hiato de dois anos, deixando os fãs sem um novo título em 2016. Mas a pergunta que não quer calar é: valeu a pena? A resposta não poderia ser melhor.
É oficial amigos: Assassin’s Creed voltou e está em grande forma! Desta vez ambientado no Egito Antigo (Século 2 A.C.), o jogo conta a história de vingança do protagonista, Bayek contra os responsáveis pela morte de seu filho. Logo de cara sentimos a primeira diferença do jogo com relação aos anteriores: começamos o jogo em um momento avançado, em que Bayek já deu cabo de parte de seus inimigos, pegando a história já em andamento para ir montando o quebra-cabeças de acontecimentos, enquanto o jogo se desenrola. Assim, Origins já começa de forma acelerada, colocando o jogador direto na ação. Ponto positivo. Bayek é o “Medjay” de província de Siuá, uma espécie de protetor do povo e do faraó. O novo protagonista é muito carismático e quando não está movido pela vingança, possui motivações nobres, buscando sempre cuidar do povo de seu país. Uma espécie de “Aladdin” assassino. Aliás essa semelhança com o herói árabe traz fortes ecos de Prince of Persia, franquia que inspirou o primeiro Assassin’s Creed, em 2007.
A primeira grande mudança que o Origins apresenta é o sistema de combate que foi totalmente reformulado. Como visto no trailer de anúncio, agora podemos fixar o ataque em um inimigo específico, com a possibilidade de esquivar e utilizar escudo para defesa e parry, como em Zelda ou Dark Souls, por exemplo. Esse novo sistema de combate melhora em muito a jogabilidade, proporcionando momentos épicos ao enfrentarmos diversos inimigos ao mesmo tempo ou mesmo quando estamos diante de um inimigo com nível acima do nosso.
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— there is no more time for pain no energy for anger (@tiagohardco) November 12, 2017
Falando em combate, AC Origins agora é um verdadeiro RPG. Aparentemente bastante inspirado por The Witcher 3 e The Elder Scrolls Skyrim, Origins traz progressão por pontos e experiência, com árvore de habilidades e customização dignas de grandes títulos de role playing, permitindo, por exemplo, trocar as vestimentas de Bayek e o conjunto de armas, a qualquer tempo e com uma excelente variação. Bayek pode levar consigo dois arcos diferentes (flechas rápidas e de precisão) e também dois conjuntos de armas, tal como espada e lança, alabarda e facas, maça e machado. A escolha é sua e você terá armas e mais armas à sua disposição, pois o sistema de loot deixado pelos inimigos mortos é bastante recompensador. Há ainda um sistema de crafting, onde Bayek consegue melhorar seus equipamentos utilizando itens como couro, madeira ou cobre, que são obtidos através da destruição de equipamentos ou da caça de animais selvagens.
Naturalmente, todas as melhorias feitas no sistema de combate elevam a experiência geral com o jogo para outro patamar. Como o sistema de escalada também foi refinado, a invasão de locais protegidos e a eliminação dos alvos são muito satisfatórias. Também temos um sistema sólido de furtividade, que possibilita Bayek esconder-se em arbustos ou mesmo esgueirar-se pelo cenário atrás do melhor ponto para infiltração, por exemplo.
Continuando com os sistemas de gameplay, como visto nos trailers, agora é possível usar a águia Senu para fazer reconhecimento dos locais, auxiliando-nos a planejar uma invasão a um local fortificado, por exemplo. A utilização de Senu é um dos pontos altos do jogo, pois garante uma ampla visão do mundo construído pela Ubisoft que é, para dizer o mínimo, incrível. Senu ainda pode distrair inimigos, marcá-los no mapa e ajudar em momentos de caça, indicando onde encontram-se cada recurso necessário para melhorar os equipamentos (é maravilhoso vê-la em ação, juntamente com Bayek). Aliás, ver o Egito pelo alto através da perspectiva de Senu, deixa uma gostosa sensação de nostalgia, trazendo lembranças de Age Of Empires.
A aventura do Medjay acontece em um imenso mapa de mundo aberto, onde é possível viajar pelo deserto de camelo ou cavalo e ainda pelos rios utilizando barcos. Após a conclusão do prólogo em Siuá, todo o mapa está liberado para exploração, dando ao jogador a liberdade de percorrê-lo como melhor desejar. A recriação do Egito antigo é primorosa, com cidades famosas como Alexandria e seus pontos de referência como a Biblioteca e o Farol. Não posso deixar de mencionar as pirâmides que estão lá, tão acessíveis ao jogador quanto qualquer outro ponto visto no mapa ou pelos olhos de Senu. Nas cidades, tudo é dinâmico. Os trabalhadores (aqui entre nós, escravos), estão ocupados com seus afazeres, vendedores chamam seus clientes, templos estão cheios com fiéis e suas oferendas. Podemos melhorar nossas armas no ferreiro e comprar novas vestimentas na tecelã ou ainda comprar e vender camelos no estábulo. As influências dos RPGs de ação modernos foram muito bem assimiladas por Origins.
Mas nem tudo são flores no deserto. Durante o jogo fui lembrado de que ainda estou jogando um título da franquia Assassin’s Creed quando vi que embora o jeito de contar a história tenha melhorado bastante, ainda é enfadonho, com Bayek soltando frases de efeito ao assassinar um alvo importante, que acontece em uma cena de diálogo que ignora completamente o contexto do jogo em que eu estava inserido. Mesmo melhorado, o combate também traz pequenos problemas, sobretudo na hora de travar a mira no adversário, o que ocorre de um jeito um pouco atrapalhado. Não chega a arruinar o jogo, mas parece faltar um pouco de sensibilidade e refinamento. As opções de customização do HUD no PlayStation 4 também deixam a desejar se comparadas com as de Ghost Recon Wildlands. Podemos tirar um pouco da poluição visual, mas alguns elementos importantes são sacrificados, como mensagens de solução de quests ou a indicação de que estamos com o inventário de flechas cheio, por exemplo. Além disso ninguém parece ter convencido a Ubisoft de que colocar um contorno branco em volta dos inimigos não é legal.
Mas preciso voltar a falar sobre os pontos fortes de Assassin’s Creed Origins, pois acredite, ainda não acabaram. Os fãs de AC Unity irão notar a ausência de um modo multiplayer cooperativo. Ainda assim, Origins traz ferramentas sociais simples e bastante interessantes: o compartilhamento no mapa do jogo de fotos tiradas com o modo de fotografia e a possibilidade de vingar jogadores mortos em suas sessões single player. É bem legal punir os responsáveis pela morte de um companheiro da ordem dos assassinos (e ainda garante XP adicional). Aliás, em um jogo tão bonito, seria um pecado não ter um modo de fotografia. Felizmente a Ubisoft não decepcionou e trouxe a ferramente perfeita para podermos compartilhar os momentos épicos do jogo. Aliás, dê uma olhada nos tweets abaixo para entender as possibilidades do jogo.
Check out some of our favourite videos from Assassin's Creed Origins that you've shared with us!
Keep them coming 👍https://t.co/YtYockcNj0
— Ubisoft (@Ubisoft) November 13, 2017
Também foi aperfeiçoada a quantidade de conteúdo extra disponível ao jogador. Se em jogos anteriores existia um emaranhado de ícones no mapa que ofereciam atividades vazias apenas para inflar o conteúdo (é você mesmo, AC Unity), em Origins as missões paralelas servem a um propósito dentro do jogo. Na vasta maioria dos RPGs, os moradores de qualquer cidade/vilarejo não conseguem resolver seus problemas sozinhos e sempre precisam de ajuda de um protagonista caridoso, e em Origins não é diferente. Mas aqui, essas side quests nos ajudam a conhecer melhor Bayek e suas motivações. Também vale destacar que todos os tesouros mostrados no mapa são úteis: ou são ouro (utilizado para comprar equipamentos) ou trata-se de alguma arma nova, o que motiva a realizar cada tarefa mostrada no mapa. Tudo de forma orgânica e com recompensa ao jogador.
No geral a impressão deixada por Assassin’s Creed Origins é muito boa. É prazeroso de jogar e bonito de se ver. A implementação de novas mecânicas, a melhora de outras e a nova ambientação trazem uma experiência digna da importância que a franquia possui dentro da indústria dos games. Com Origins, a Ubisoft mostra que soube olhar para os problemas de seus jogos e consolida uma fase de ótimos lançamentos como Watch Dogs 2, Rainbow Six Siege, Ghost Recon Wildlands e por que não, Mario + Rabbids Kingdom Battle.
No fim das contas é muito gratificante afirmar que Assassin’s Creed Origins vale cada centavo investido pelo jogador. Com uma melhora precisa nos pontos fracos dos jogos anteriores, a Ubisoft mostra que soube corrigir os erros do passado e que a franquia da Ordem dos Assassinos ainda tem potencial e folego para competir nesta geração.
Pode tirar qualquer dúvida do coração: Assassin’s Creed Origins rivaliza facilmente com The Witcher 3 – Wild Hunt e Horizon Zero Dawn, como um excelente representante dos jogos de ação/aventura em terceira pessoa. Com uma ambientação maravilhosa, jogabilidade renovada e refinamento de mecânicas, temos a impressão de que no Egito antigo nada é proibido, tudo é permitido! Recomendo com todas as forças!
Assassin’s Creed Origins foi lançado no PC, PlayStation 4 e Xbox One. Análise feita a partir de uma cópia da versão PlayStation 4 cedida pela assessoria de imprensa da Ubisoft.