Análise Assassin’s Creed Valhalla (PlayStation 4)
Em Assassin’s Creed Valhalla, a Ubisoft entrega um exuberante mundo aberto tão grandioso que mal cabe no console veterano da Sony.
A essa altura do campeonato, mesmo a fórmula renovada da série Assassin’s Creed já é bastante conhecida e consolidada após os dois celebrados títulos, Origins e Odyssey. Valhalla, o terceiro e atual jogo pós reinício, refina a jogabilidade que absorveu elementos leves de RPG e nos coloca na pele de Eivor, membro do Clã do Corvo e guerreiro viking cujo objetivo de vida é a honra conseguida na batalha – e azar de quem esteja no caminho.
Viemos da Terra do Gelo e da Neve
Assassin’s Creed Valhalla começa dramático com Eivor sobrevivendo à sua primeira de muitas batalhas e se tornando o guerreiro que será conhecido como “Eivor Marca-de-Lobo”. O apelido em inglês, Wolf-kissed, não faz distinção então Eivor pode ser homem ou mulher, sendo que ambos gêneros são igualmente aplicáveis ao mesmo personagem já que, diferentemente de como as coisas foram arranjadas em Assassin’s Creed Odyssey, aqui é possível trocar de aparência a qualquer momento.
Após o prólogo, Valhalla nos coloca imediatamente numa busca por vingança que leva o clã a fazer aquilo que todo mundo já esperava de um bando viking: montar em um barco e rumar para oeste em busca de terra e riquezas, não importando de quem sejam. E assim, velejamos e cavalgamos por algumas das paisagens mais bonitas que já passaram pelo PlayStation 4. Montanhas geladas, campos com grama verde e florestas densas passam a sensação legítima de que estamos em um lugar onde as histórias épicas acontecem.
Um ponto que me surpreendeu positivamente, foi ver como o sistema de missões contribui muito para essa a exploração e para o aprendizado das mecânicas do jogo pois quando pisamos os pés no território britânico, colocamos em prática aquela que é uma das ações básicas do jogo: pilhamos e conquistamos o nosso primeiro acampamento e assim desbloqueados um dos sistemas principais de Valhalla.
Sabe como as bases vão ganhando mais funções quando a gente cumpre missões em The Division 2? A nossa base, chamada Ravensthorpe, fundada pelo clã, pode receber diversas melhorias conforme Eivor direciona recursos para ampliar as diversas funções do lugar e uma dessas construções possui relação com um certo grupo que alega – ponto para quem acertou – caminhar nas sombras para servir à luz, fazendo a ponte entre os vikings e os donos da série, os Assassinos. Essa introdução ao universo da (hoje lendária) série é responsável pela ampliação dos objetivos do jogo e, francamente, ao conjunto de desafios mais interessante, – pelo menos para mim – capaz de motivar o jogador a encarar aquele grinding que seria impensável em outras circunstâncias: rastrear e derrotar inimigos de alto nível.
Essa necessidade de melhorar o personagem, obtendo pontos de destreza, habilidades especiais e equipamentos é o motor por trás do ciclo que seguimos quando não estamos cumprindo as missões da história, que para dizer a verdade, não se afastam tanto assim do ciclo “invadir, matar, saquear e atear fogo em tudo na saída”. E pra não dizer que não falei das flores, Assassin’s Creed Valhalla também aprendeu com The Witcher 3 a construir missões paralelas que se não são profundas e ramificadas como as do jogo da CD Projekt Red, ao menos se afastam do modelo “garoto entregador” e proporcionam momentos divertidos e alguns mistérios interessantes.
O Martelo dos Deuses Levará Nossos Navios
Bem, todo esse novo continente também trouxe consigo alguns problemas. Uns inerentes ao jogo e outros atrelados à versão e ao console. Começar por esses afirmando o óbvio: Assassin’s Creed Valhalla está rodando no PlayStation 4 por pura magia e a ausência que o poder da nova geração é capaz de proporcionar fica bastante visível em certos aspectos do jogo. Elementos que não são poligonais como fumaça, fogo, água e o efeito causado no cenário pela “Visão de Odin” tiveram sua resolução reduzida além do aceitável e parece pixelados na televisão. Dá pra dar relevar o efeito da Visão de Odin e relacionar a aparência com o fato de jogarmos as memórias digitais de um DNA antigo, mas para um jogo que nos pede o tempo todo para saquear e navegar, a aparência do fogo está terrível no PlayStation 4 base.
A performance do jogo, no entanto, está bastante satisfatória – se você não se importa em jogar a 30 frames por segundo – e ele não engasga tanto, mesmo durante as batalhas (eis o motivo do fogo pixelado) além do tempo de carregamento também estar aceitável: um trecho de espera longo no início e intervalos mais curtos a cada morte. Nada mal para o console que já encerrou sua juventude e hoje é um veterano.
Eu costumo ter sorte com os jogos da Ubisoft e dessa vez não foi diferente. Quase não encontrei bugs e o mais comum foi a dessincronização do áudio em certas cutscenes e o corvo que não foi carregado, por alguma razão, quando o jogo abriu. Por uma vez o jogo congelou e fechou quando apareci dentro de um edifício e abri a porta para sair para o mundo aberto mas isso foram problemas pontuais que na minha opinião não estragam o jogo, já que ele tem seus próprios problemas nas mecânicas, especialmente durante as batalhas.
Quando começamos o ataque a um acampamento, o jogo assume uma perspectiva mais ampla e afasta a câmera de modo que possamos prestar atenção ao nosso redor, e ele faz isso de maneira bem competente até que você precise usar suas habilidades de parkour pelo cenário. Se por acaso você estiver perdendo uma briga e decidir fugir para cima de um prédio, de repente Eivor se transforma num boneco desengonçado e incapaz de executar os mesmos movimentos que faz tão bem quando ninguém o está vendo. Isso é o que acontece quando toda essa movimentação é feita automaticamente pelo jogo e não pelo jogador, o que nos leva a uma conclusão: em vez de fugir, você deve lutar e nesse aspecto, Assassin’s Creed Valhalla brilha.
Além da variação golpe fraco e forte, o uso de escudo e a possibilidade de contra-atacar devolvendo o golpe do adversário (parry), a implementação de diferentes habilidades que aprendemos em livros espalhados pelo mapa e as finalizações que lembram muito aquelas mostradas em For Honor, deixam as batalhas ainda mais interessantes e empolgantes. Uma pena que o combate é apenas levemente inspirado em jogos como Dark Souls e não possui movimentos mais refinados como os da série criada por Hidetaka Miyazaki.
Ainda assim, invadir um acampamento sem ser detectado e convocar seu clã – Eivor tem um chifre só pra esse propósito – para tocar o terror e roubar os tesouros é a parte mais divertida do jogo, especialmente porque cada acampamento é guardado por um inimigo mais desafiador que faz as vezes de chefe de fase e vai testar toda a sua habilidade – e te dar várias surras se o nível for alto demais.
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— Diego Matias (@DiegoMatias) November 15, 2020
Valhalla, Estou Chegando
Eivor ainda lida com outros sistemas e minúcias que será melhor aprender dentro do jogo do que nesse texto mas que você já deve ter conhecimento se jogou algum dos títulos anteriores. A Ubisoft fez um bom trabalho em melhorar o inventário e agora é bem mais simples decidir qual equipamento ou qual conjunto equipar porque não há mais aquele código de cores que se tornaram padrão em jogos focados em Loot. O sistema de destreza está mais direto, embora pareça um pouco confuso de início já que cada conjunto de pontos desbloqueados amplia a árvore de atributos mais e mais e não sabemos o que terá pela frente até que ela esteja totalmente ampliada.
Em resumo, Assassin’s Creed Valhalla é tanto agradável e empolgante quanto maior for a sua tolerância para adaptações gráficas feitas para que o jogo funcione em hardwares veteranos. Se você não se importa em experimentar a versão menos robusta do atual jogo da série, tenho certeza que vai se divertir tanto quanto eu, principalmente se gostar de combates brutais e execuções com desmembramento estilo Mortal Kombat. Caso sua tolerância para sangue e decapitação seja alta mas para taxa de quadros e resolução seja pouca, talvez o fato de que a compra dessa versão te garante o upgrade para a versão digital do jogo no PlayStation 5 sirva de alento. Para mim, serviu.
Fico feliz que Valhalla tenha a escolha do jogador como base para decisão elementos narrativos e cosméticos dentro dele e que a comunidade de fãs da série Assassin’s Creed e o grupo de desenvolvedores que tinha suas sugestões barradas, saíram vitoriosos, assim Eivor pode ser um personagem único, tanto faz se o jogador escolhe um avatar masculino ou feminino.
Para um jogo cujo sacrifício para rodar em todos os hardwares disponíveis (você não, Nintendo Switch) e assim ser jogado pelo maior número de pessoas possível é tão visível, a liberdade de escolha dentro dele finalmente parece estar alinhada com aquela famosa frase que vemos em todo jogo da série. Agora só falta o multiplayer cooperativo.
Assim como todos os jogos da Ubisoft, Assassin’s Creed Valhalla está totalmente localizado para português brasileiro.
You can pet the dog in Asssassin’s Creed Valhalla
A análise de Assassin’s Creed Valhalla foi feita com base em uma cópia digital do jogo para PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.
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