Análise Chorus (PS4 e PS5)
Com uma história de ficção científica riquíssima e combate preciso, Chorus é um jogo de combate espacial surpreendente.
Eu adoro space shooters, desde os mais simples e de velha guarda como Space Invaders e Gradius, ainda em perspectiva 2D, passando pelos já clássicos Star Wars: Rogue Squadron e EVE Online, até o recente, ótimo e injustiçado Star Wars Squadrons.
Dessa forma, quando Chorus chegou aqui na redação eu não podia deixar a oportunidade passar. Eu não tinha, até então, visto nenhum trailer ou acompanhado o desenvolvimento do game, e, de certa forma, isso foi muito bom porque pude ser surpreendido — muito mais do que poderia imaginar — frente a qualidade narrativa e de combate do jogo.
Desenvolvido pela alemã Deep Silver Fishlabs e publicado pela Deep Silver, Chorus é um game de tiro espacial em terceira pessoa que conta a história de Nara e a sua jornada em busca de redenção.
Nara fazia parte do esquadrão de elite de pilotos do Círculo, uma espécie de culto religioso sob o comando do Grande Profeta que prometia trazer paz e harmonia para a galáxia, arrasada por guerras civis e pela falta de um comando central. O objetivo do Círculo era essencialmente bom, e por muito tempo sua dedicação em seguir os ensinamentos do Chorus era o que trazia equilíbrio ao caos. Contudo, os métodos empregados pelo Profeta, após um determinado evento, começaram a se tornar mais perversos. Os ideais deram lugar a uma fé cega, o que levou ao massacre de planetas inteiros que se recusassem a aceitar o Chorus.
Dessa forma, Nara abandona seu posto de mão direita do Grande Profeta e passa a viver como uma exilada, escondida do culto. Para isso ela abdica de sua nave e suprime os seus poderes, chamados Ritos, para que assim ela não possa ser localizada. Mas, como em toda história sobre a Jornada do Herói, ela vai ser obrigada a abandonar esse esconderijo quando as pessoas que ela passou a chamar de amigos se tornam alvo do Círculo.
A história de Chorus não é essencialmente nova, existem influências óbvias a Star Wars, Star Trek e Battlestar Galactica na forma como a narrativa é construída, mas os desenvolvedores conseguiram criar uma aventura sci-fi com seu próprio tempero e reviravoltas, e que a tornam super interessante. Um desses diferenciais narrativos é a nave de Nara, Forsaken.
Forsaken é uma nave senciente, ela pensa, fala, tem sua própria personalidade e os diálogos entre ela e Nara são tão orgânicos que praticamente ela atua como um segundo protagonista do jogo. Forsa não é uma inteligência artificial propriamente dita, de certa forma é como se ela fosse um outro ser vivo, e descobrir como ela foi criada é um dos mistérios mais interessantes da história, que, obviamente, não vou contar aqui. Vale muito a pena você descobrir sozinho.
Infelizmente, o efeito dessa senciência da nave é apenas narrativo, não existem implicações na jogabilidade que diferenciem Forsaken da nave com a qual você começa o jogo, por exemplo. A nave é equipada com 3 armas: um laser que destrói escudos, um conjunto de mísseis teleguiados e uma metralhadora montada.
O que diferencia o gameplay de Chorus para outros jogos de nave são os Ritos de Nara, poderes especiais que ela pode acionar durante as lutas com pequenos intervalos de espera.
Como ela precisou inibir essas habilidades para se esconder, é como se ela tivesse uma espécie de amnésia em relação a eles, assim é necessário que Nara encontre memórias que a relembrem dos Ritos para conseguir usá-los novamente.
E cada um muda muito a jogabilidade, acrescentando camadas de complexidade e letalidade a ela e a Forsaken. Inicialmente, temos apenas uma espécie de sonar, que permite encontrar objetos nos cenários e indicações de caminhos a se seguir. Esse sonar, chamado de Rito dos Sentidos, é talvez o poder mais útil por um lado e o mais inútil por outro, ao mesmo tempo.
Ele é extremamente útil visto que as áreas que o jogador visita variam muito em tamanho. Não é fácil se orientar nas imensas áreas abertas do espaço, e é comum se perder nas estruturas contidas e labirínticas de um asteroide, por exemplo, e, portanto, esse Rito será usado inúmeras vezes. Contudo, a interface minimalista destacada pelo uso do Rito, além de ter uma duração muito curta, acaba se misturando com os efeitos de partículas dos cenários, o que faz com que seja necessário usá-lo várias vezes até conseguir de fato enxergar onde os pontos de interesse estão. Nada que quebre o jogo, mas uma cor diferente da branca utilizada nas minúsculas setas desses indicadores já ajudaria.
Já os outros poderes: Transe de Deriva, o Rito da Caçada, o Rito da Tempestade e o Rito da Estrela são adições imensas a jogabilidade de Chorus e, aliado a precisão dos controles, realmente transformam o jogo em algo único.
O Transe da Deriva é uma espécie de derrapagem, e com ele o jogador pode fazer curvas muito fechadas e mudar o curso de pilotagem instantaneamente, o que cria uma grande vantagem de combate, tanto para ataque como para defesa.
O Rito da Caçada permite que você seja transportado para a retaguarda do inimigo, não importa a distância que esteja dele, o que é vital contra naves com escudos frontais poderosos. Uma alternativa para casos em que esses escudos envolvem completamente o inimigo é o Rito da Tempestade, que cria um pulso eletromagnético que desabilita defesas e desorienta as naves momentaneamente, transformando elas em alvos fáceis. Já o Rito da Estrela faz com que Forsaken atravesse inimigos causando grandes estragos, sem sofrer danos de colisão.
E embora pareça complicado usar esses poderes no meio do combate (eu apanhei um pouco para o drift), como eles são liberados gradualmente o jogador tem bastante tempo para se acostumar com o seu funcionamento, até o momento em que todos estarão à sua disposição e você torne a máquina de combate perfeita.
Existe ainda um Rito secreto, liberado no terço final da história, mas como ele é um segredo, vamos mantê-lo assim.
E, por mais que eu ressalte aqui como o combate de Chorus é incrível, ele é um daqueles jogos em que é preciso jogá-lo para entender toda a sua fluidez.
Destruir as defesas de uma nave maior, voar por dentro dela, aniquilar seu núcleo e escapar antes da explosão é muito satisfatório. E, fazer tudo isso enquanto manobra escapando de lasers e destruindo adversários menores com os diversos Ritos de Nara, alternando entre as armas para maximizar o dano é simplesmente fantástico.
Além disso, a parte de customização do título é bem sólida. É possível obter armas melhores e reforços de materiais para Forsaken com itens ganhos como recompensa das missões, ou mesmo adquirir essas melhorias com os créditos que ganha ou encontra em caixotes espalhados pelos cenários.
Algumas dessas armas e conjunto de equipamentos secundários têm bônus para quando você equipa o conjunto completo, o que garante efeitos variados, como maior velocidade de manobra, redução no aquecimento de uma determinada arma, etc. Existe ainda um sistema de Maestria interessante, em que uma habilidade ou arma fica mais forte após um número de inimigos serem abatidos com elas, o que incentiva a alternância entre dispositivos.
Contudo Chorus não é um game sem defeitos. A estrutura de missões, por exemplo, pode ser tornar um pouco confusa em alguns casos.
Existem missões principais, secundárias, encontros aleatórios e cadeias de missões secundárias que se desdobram em várias etapas. O problema é que as estruturas entre elas são muito parecidas, o que faz com que esse conteúdo secundário se torne repetitivo. E, mesmo que algumas dessas missões levem a alianças importante, ou aprofundem o entendimento desse universo, alguns desses conteúdos parecem encheção de linguiça. Além disso, várias vezes que uma missão secundária me levava a áreas em que uma missão de história se desenrolaria, o jogo mudava para a missão principal, sem que eu quisesse.
Existem boss fights em Chorus, e essas se desenrolam em etapas, e, por mais que sejam interessantes, algumas dessas fases podem ser bem confusas pela quantidade de coisas acontecendo ao mesmo tempo na tela. A sorte é que durante essas lutas os checkpoints são bem generosos, então mesmo que você morra (e eu sei do que estou falando, já que morri bastante no primeiro Boss), o sentimento de progressão ao menos não é tão prejudicado.
Contudo, pelo menos para mim, esses problemas citados foram mínimos, pontuais e não estragaram minha experiência geral.
Ajuda muito também os gráficos serem bonitos; a estabilidade de frames ser ótima; a IA dos inimigos ser muito boa, o que vai te dar um sufoco em determinados momentos; a dublagem em inglês acima da média, e mais importante ainda para o nosso mercado: as legendas em português do título. Em resumo, o game foi uma ótima surpresa nesse final de ano.
Se você gosta de uma boa história de ficção científica, com várias camadas e desdobramentos, e, acima de tudo um ótimo combate de naves, Chorus está entre os melhores, e é essencial para quem gosta do gênero, sem sombra de dúvidas.
Mais do que recomendado.
A análise de Chorus foi escrita com base em uma cópia de review gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game. Também disponível para computadores na Steam ou Epic Games Store, Xbox One, Xbox Series S e X, Google Stadia e Amazon Luna.