Análise Commandos 2 HD Remaster (PlayStation 4)
Commandos 2 HD Remastered busca trazer a experiência do jogo de estratégia 2001 para os dias atuais. Leia a nossa análise!
A franquia de estratégia reaparece do limbo com Commandos 2 HD Remaster, um excelente jogo lançado em 2001 exclusivamente para PC. Na época, o primeiro título da franquia trouxe algo novo para o gênero, somando elementos de furtividade e estratégia, além de apresentar um elenco de personagens com habilidades únicas que deveriam ser combinadas para obter sucesso em cada fase, exatamente como em Desperados III ou Shadow Tactics: Blades Of The Shogun.
Revitalizando um clássico
Como no jogo original, o jogador deve controlar um time de soldados especializados e completar objetivos estratégicos para garantir vantagens estratégicas para os aliados durante a 2ª Guerra Mundial, como infiltrar-se em bases nazistas para obter informações, sequestrar submarinos e libertar prisioneiros. Para tanto, deverá utilizar em conjunto as habilidades dos personagens disponibilizados para determinada missão: Tiny, a força bruta do time; Lupin, o ladrão; Inferno, o especialista em explosivos; Duke, o atirador de precisão; Tread, o piloto de carros e tanques; Spooky, o espião; Lips, a espiã sedutora e também atiradora; Fins, o mergulhador e Whiskey, o cachorro fofo.
O gameplay consiste em utilizar as habilidades dos soldados para completar os objetivos de cada fase de maneira furtiva, pois há soldados nazistas em toda parte. Nossa movimentação (andando, correndo ou rastejando) deve ser cautelosa, levando em consideração o campo de visão dos inimigos (exatamente como em Metal Gear Solid, por exemplo) para não alertá-los.
Commandos 2 HD Remaster não é um jogo fácil e algumas missões podem durar horas até que todos os objetivos sejam cumpridos. Para aumentar as chances em campo inimigo existem itens espalhados pelas fases e podem ser utilizados pelos personagens, como maços de cigarro e garrafas de vinho (itens de luxo no campo de guerra) que atraem a atenção dos soldados nazistas, abrindo uma janela de oportunidade para o ataque ou para o avanço no terreno. Também os próprios Commandos possuem itens próprios para a distração dos inimigos em seu inventário, como Tiny, que leva consigo um rádio apenas para emitir ruídos e distrair os inimigos ou Whiskey que usa latidos com o mesmo fim.
Na verdade, a lista de ações possíveis é imensa. Commandos 2 HD Remaster mostra que o jogo original era incrível na época em que foi lançado e dá pra perceber que pouca coisa ficou datada em termos de gameplay, considerando, logicamente, as características do gênero. Eu ousaria dizer que Commandos 2 Men Of Courage foi o melhor jogo de estratégia furtiva focado em equipe já lançado (minha opinião, claro).
O conjunto de habilidades e interações com dos personagens com os inimigos, com os objetos e com o cenário é muito rica, abrindo um leque de possibilidades para que possamos completar os desafios propostos em cada fase. Nesse aspecto, como em qualquer jogo que use a furtividade como mecânica, Commandos 2 HD Remaster coloca em cada cenário, uma espécie de quebra-cabeças para ser solucionado, mas se destaca dos demais com uma dificuldade acentuada, correspondente ao grande número de ferramentas à nossa disposição. É como se o quebra-cabeças fosse muito bem elaborado e com soluções criativas para o não-encaixe das peças, mas não há caixa para visualizarmos imagem completa montada: temos que descobrir por nós mesmos como montar. Toda essa riqueza e desafio estão mantidos aqui na versão remasterizada.
Desmontar é fácil. Remontar é complicado.
Todavia, Commandos 2 merecia uma remasterização melhor. Não se pode ignorar que o desenvolvimento de Commandos 2 HD Remaster teve uma tripla camada de desafios. O primeiro, visível a todos, é a remasterização em si, que consiste em melhorar os aspectos técnicos do jogo original, trazendo-o para o contexto atual de tecnologia, com maior qualidade de imagem e som.
Impossível negar a idade da obra original. Embora a resolução da tela acompanhe o padrão Full HD da geração passada, os cenários (pré-renderizados em 2D, como nos primeiros Resident Evil) possuem uma resolução menor e exibe um festival de pixels quando aproximamos a câmera dos personagens, o que é atenuado pela belíssima arte digital da ambientação, pano de fundo para a ação realizada com personagens em 3D.
As cenas em computação gráfica são um verdadeiro túnel do tempo e mostram como era a tecnologia há 18 anos atrás (uma atualização, ainda que leve, seria muito bem-vinda). Quanto ao áudio do jogo, é exatamente o mesmo do jogo original, com vários personagens dublados, inclusive com narração no início das missões. Não pude notar problemas com a qualidade do som, embora em alguns momentos os efeitos sonoros resolvam não acompanhar o que acontece na tela. Esses aspectos técnicos menores, embora não sejam os melhores, não comprometem a experiência do jogo e, pelo contrário, ressaltam como Commandos 2 é um jogo longevo e cumpre a missão mesmo não tendo sido atualizado tão bem.
Surgem então dois outros aspectos da remasterização, estes mais complexos que os gráficos e o som do jogo: a transposição do jogo dos PCs para os consoles e a performance do jogo. Infelizmente, no caso de Commandos 2 é como se Aquiles tivesse levado flechadas em seus dois calcanhares. Sabemos que transpor todos os comandos (rá!!!) de um jogo de PC que possui mais mais de 100 teclas e alguns botões no mouse para cerca de 16 botões em um controle não é tarefa fácil, sobretudo em um jogo tão rico em mecânicas e interações, mas as coisas aqui estão um pouco mais complicadas do que o necessário. Alguns imputs necessitam de uma combinação de botões e nem sempre os comandos são recebidos na forma desejada, pois esbarram em outros comandos parecidos (trocar a perspectiva da câmera e salvar, por exemplo). Commandos 2 HD Remaster também sofre com ações contextuais para compensar a ausência do ponteiro do mouse que nem sempre ativam da maneira mais fácil, obrigando-nos a usar a estratégia de tentativa/erro para selecionar a ação correta quando dois objetos estão próximos. Também não é fácil usar itens, já que as “regras” de combinação de botões funcionam com alguns e outros não.
Para fechar com chave de ouro, a performance em geral do jogo não é das melhores, pois embora tudo funcione é muito frequente perceber que alguns efeitos sonoros ou visuais não foram carregados no momento certo ou mesmo que alguns gatilhos de cutscene não foram ativados da forma correta. A impressão que dá é que o jogo vai travar a qualquer momento e é isso mesmo que acontece, pois fui premiado com algumas telas azuis no PlayStation 4 Pro.
Vale a pena?
Como sempre, a decisão de investir dinheiro ou não em algum jogo é muito pessoal. Commandos 2 HD Remaster deixa a desejar no aspecto técnico, o que impacta negativamente na experiência. Mas ainda assim, é a remasterização de um dos melhores jogos do seu gênero (senão o melhor), que entrega ferramentas ao jogador na mesma medida em que apresenta desafios, resultando em um equilíbrio perfeito. E apesar dos problemas, as qualidades do jogo original ainda permanecem intactas, o que me faz desejar a continuação da franquia ou um remake com tudo que a tecnologia atual tem para oferecer.
Commandos 2 HD Remaster foi originalmente desenvolvido pelo estúdio espanhol Pyro Studios. A remasterização ficou a cargo da Yippee! Entertainment e foi publicada pela Kalypso Media para PC, Mac, PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch, iOS e Android.
A análise foi feita com base em uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.