Análise Darksiders Genesis (PS4)
A câmera isométrica torna Darksiders Genesis o mais diferente da franquia, mas conserva a excelente mistura hack’n slash com elementos RPG dos jogos anteriores.
Inicialmente quero deixar claro que sou grande fã da franquia Darksiders e assim que o novo jogo, Darksiders Genesis, foi anunciado fui tomado por uma mistura de sentimentos conflitantes.
Já havia encarnado o papel de três Cavaleiros do Apocalipse e ainda faltava um, então eu queria um novo game para saber o que esse último personagem poderia trazer de novo, mas por outro lado, a mudança radical na câmera partindo de uma perspectiva em terceira pessoa com visão próxima ao personagem para uma visão isométrica, similar a Diablo e Gauntlet, me preocupou bastante.
Será esse novo capítulo da série Darksiders conseguiria conservar a mesma “pegada” e sensação dos três últimos ou essa mudança iria transformar a saga em algo muito diferente do que foi visto até aqui?
Felizmente a resposta para as duas perguntas é sim e, subvertendo expectativas, a desenvolvedora Airship Syndicate e a publicadora THQ Nordic conseguiram esse feito de uma forma extremamente positiva em ambos os casos, quando finalmente lançou em 14 de fevereiro de 2020 Darksiders Genesis para Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch.
Diferente na medida certa
Vale ressaltar que cada jogo da série Darksiders é relativamente diferente um do outro.
O primeiro tem combate bem similar a God of War, mas com estrutura de missões similares a Zelda; o segundo é um RPG de mundo aberto focado em loot bem característico de MMOs e já para o terceiro foi adotado um combate mais ritmado bem influenciado por jogos da série Souls, então de certa forma era de se esperar que para Darksiders Genesis novos caminhos fossem tentados.
Todavia um dos riscos em se fazer jogos tão diferentes e que passaram pela mão de diversas desenvolvedoras é manter uma coesão entre os títulos que possibilite ao jogador sentir que esses games são interligados e fazem parte de um mesmo universo.
E mesmo que algumas entradas sejam menos celebradas que outras, todos Darksiders têm em comum o mesmo combate hack’n slash, armaduras e armas exageradas, puzzles de cenários e equipamentos e obtenção de novas habilidades para explorar áreas antes inacessíveis.
E Darksiders Genesis conserva muito bem essa identidade desde o primeiro minuto ao manter todos esses elementos e trazendo como novidades para essa equação a já mencionada visão isométrica, onde o jogador vê o gameplay de cima de forma diagonal, um foco ainda maior em elementos de plataformas e co-op local ou online para dois jogadores.
Entre o novo e o clássico
Em Darksiders Genesis o jogador pode assumir o controle de Conflito ou Guerra se estiver jogando cooperativamente ou alternar entre os dois se preferir jogar sozinho e a história se passa antes dos eventos do primeiro jogo, daí o nome Gêneses.
Para quem não pôde ou não teve interesse em jogar nenhum dos outros é uma ótima oportunidade para pegar os bastidores da história principal e para quem já é veterano é uma faca de dois gumes.
Ao escolherem contar a gênese do conflito nenhuma das pontas soltas e plot twists dos outros jogos é amarrada aqui e quem esperava a conclusão da saga vai ter que esperar o próximo título.
Por outro lado, existem muitos jogadores que gostam de Darksiders pura e simplesmente pela jogabilidade, o que é perfeitamente compreensível visto que com tantos nomes de demônios, anjos e mudanças de lado às vezes é fácil ficar perdido.
Mas seja qual tipo de jogador você seja ou os seus interesses, uma coisa posso garantir: Darksiders Genesis tem uma história e um gameplay excelente e faz jus aos anteriores.
Dois Cavaleiros do Apocalipse entram em um bar…
Controlar o pistoleiro Conflito ou revisitar o brucutu Guerra enquanto rastreiam Lúcifer por diferentes partes do Inferno e do Céu foi um grande acerto e apesar dos estilos de jogabilidade bem diferentes elas se complementam muito bem.
Guerra combate a curta distância e tem golpes melhores em área para controlar multidões, utilizando a jogabilidade hack’n slash mais tradicional da série, enquanto Conflito com suas pistolas e vários tipos de munições especiais pode ser usado a distâncias maiores e mais seguras, mas apresenta menos opções quando muitos inimigos atacam ao mesmo tempo e quando controlado praticamente transforma Darksiders Genesis em um twin stick shooter, o que para quem adora esse tipo de jogo (como eu) é uma vantagem tremenda.
As personalidades diferentes trazem um balanço necessário para as diversas situações e deixam a dinâmica da interação entre eles bem interessante.
Guerra é justo, leal e tem o caráter bem definido, já Conflito é obtuso e por vezes sombrio, mas seu espírito zombeteiro traz o humor que anteriormente era reservado para um ou outro personagem secundário na franquia e é muito fácil gostar dele logo de cara.
Por já existir um jogo totalmente dedicado ao Guerra, preferi jogar a maior parte do tempo com Conflito, mas seja qual escolher é importante manter os dois com upgrades em dias, principalmente se estiver jogando solo.
Os capítulos do terço final são bem desafiadores se um deles estiver mais fraco que o outro, principalmente alguns chefes principais.
Cada um tem a sua própria barra de vida e de fúria, que é usada para golpes especiais, e para aumentá-las é preciso encontrar fragmentos espalhados pelas áreas ou comprar alguns com o mercador Vulgrim.
Ao completar o conjunto o atributo é aumentado permanentemente para aquele personagem específico.
Além desses upgrades individuais existe uma árvore de habilidades que é compartilhada entre os personagens, que concede características únicas a cada um e onde é possível personalizar o gameplay conforme suas necessidades e estilo.
Ao derrotar monstros, sub-chefes e chefes existe a chance de se obter itens chamados Cernes de Criatura e cada um desses pode ser equipado em um dos slots dessa árvore de habilidades de acordo com a afinidade.
Inimigos simples deixam cernes menores e chefes cernes maiores e cada um tem um atributo atrelado a si, seja aumentar ataque, fúria ou saúde e quando equipado no slot correspondente além da habilidade descrita também concede um efeito bônus.
Além disso como já é lugar comum na série, ao avançar na história novos poderes são concedidos ao jogador para que possa resolver puzzles e alcançar áreas não disponíveis anteriormente, incentivando a repetição de fases para coletar todos os seus segredos.
Explorar para conquistar
E a estrutura de fases de Darksiders Genesis foi justamente pensada com foco nesse vai e vem entre cenários para obtenção de recursos.
Obviamente é possível terminar as 17 fases avançando de uma para outra e nunca repetir nenhuma anterior, mas talvez isso torne o jogo um pouco mais difícil se o jogador não tiver os upgrades ou poder necessário para enfrentar alguns inimigos.
O game usa como moeda de troca duas coisas: almas e moedas do barqueiro.
Almas é o recurso básico conquistado ao derrotar inimigos, já as moedas do barqueiro estão espalhadas/escondidas nas fases, então se o jogador liberou uma habilidade que permite revistar uma área bloqueada, um dos pagamentos é provavelmente encontrar mais moedas do barqueiro.
E os melhores upgrades com os dois mercadores sempre requerem essas moedas, então explorar além de interessante muitas vezes pode ser um facilitador em fases mais complicadas.
Mas se fazer esse backtracking não é tanto a sua praia existem 2 outras formas de se obter essas moedas, cernes de criatura e almas: completar desafios secundários nas missões e lutar na arena.
Are you not entertained!?
Cada fase em Darksiders Genesis tem uma série de missões secundárias com recompensas variadas como almas, moedas e cernes e como normalmente são simples de serem completadas vale a pena ficar de olho nelas. Essas missões variam entre destruir X elemetos do cenário, coletar itens, ou matar os chefes de fase de uma determinada maneira.
Por falar em chefões, esse é um ponto que tenho algumas ressalvas, os principais são bem variados e tem combates bem distintos e é necessário sempre uma estratégia diferente para derrotá-los com facilidade, já os sub-chefes que o jogador encontra normalmente nos meios de fase são repetidos à exaustão e o maior desafio em relação a eles é muitas vezes delimitado pelo cenário e não pelo inimigo em si.
Já a Arena, que é liberada gradualmente após concluir o capítulo 6, é uma boa opção para farmar cernes de criaturas, além de melhores pontuações concederem prêmios melhores.
Nessa Arena o jogador precisa enfrentar 10 ondas de inimigos sem que os dois personagens morram e ao final delas uma pontuação é concedida baseada na quantidade de inimigos, dificuldade da Arena e tempo necessário para dizimar todos.
Para competir nessas Arenas é necessário ter um nível mínimo de poder e avançar na história para liberar as mais complexas e difíceis, mas que em contrapartida oferecem melhores pontuações possíveis, principalmente a última que não tem limite de tempo e só acaba quando o jogador morrer (nessa eu consegui chegar até a onda 60).
O início do fim
Darksiders Genesis é um título que faz um ótimo trabalho em manter viva essa franquia amada por muitos e audacioso por transformar radicalmente o que era conhecido até então como um jogo da série.
Porém não é um game livre de defeitos e talvez os seus maiores advenham justamente dessa audaz mudança de perspectiva de câmera.
Diferente de vários jogos nesse estilo isométrico que eliminam paredes e teto assim que o jogador entra na área, os desenvolvedores resolveram manter algumas estruturas por questão estética, porém em determinados momentos isso atrapalha muito a movimentação e visão da batalha.
E apesar de isso ser facilmente resolvido saindo desse canto obstruído ainda é algo que incomoda um pouco em determinados locais, principalmente os mais fechados e cheios de inimigos.
Outro ponto que fica aquém do esperado justamente por conta da câmera são algumas sessões de plataforma em que meu boneco caia sempre por conta da plataforma parecer estar logo a minha frente, mas na verdade estar um pouco na diagonal ou em um nível mais alto.
E não que isso seja um demérito tão grande assim e talvez algumas pessoas nem tenham esses mesmos problemas, mas eu não poderia deixar de apontar porque foi essa a experiência que tive com essas partes.
Porém esses pequenos defeitos não estragam a experiência excelente de Darksiders Genesis.
Com seu gameplay diferente e familiar ao mesmo tempo, hora se comportando como um hack’n slash, hora se comportando como um twin stick shooter, é um título obrigatório para os fãs da franquia, principalmente para quem há 10 anos atrás presenciou o lançamento do primeiro Darksiders, e uma ótima oportunidade de entrada para novos jogadores que querem entender a história a partir do seu início de fato.
A análise de Darksiders Genesis foi escrita com base em uma cópia de PS4 fornecida pela assessoria de imprensa do jogo.