Análise Deep Sky Derelicts: Definitive Edition (PlayStation 4)
Deep Sky Derelicts: Definitive Edition é um excelente RPG de turnos com elementos de Card Game, ambientado em uma distopia espacial. A edição definitiva traz duas expansões com ótimo custo-benefício.
Logo de início, quero deixar uma informação muito clara para todos que se interessarem pelo jogo: Deep Sky Derelicts é quase um Card Game com elementos de RPG. Digo isso pois esse gênero pode acabar afastando alguns jogadores, como eu por exemplo. Mas não se engane, Deep Sky Derelicts apresenta as habilidades dos personagens por meio de cartas, mas não é como Heartstone, Magic The Gathering ou Thronebreaker com seu combate de Gwent, uma vez que quem está presente nas batalhas são os personagens e não as cartas. Deep Sky Derelicts é divertido, viciante e muito bem construído em suas mecânicas e sistemas. Para ser franco, o jogo possui uma complexidade que pode assustar os iniciantes, mas não tema! Estamos aqui para te ajudar nessa aventura distópica.
O jogo começa com criação do seu personagem principal e recrutamento de mais 2 personagens para compor a party. Começando pela escolha das classes para os nossos personagens. Existem 6 classes disponíveis, Bruiser, Scrapper, Medic, Technician, Leader, e Tracker, cada uma com suas habilidades próprias, como sempre, e limitações em relação aos equipamentos que podem ser equipados.
Após a escolha dos 3 mercenários, recebemos a missão principal do Sub-Governador do setor Deep Sky: localizar uma nave alien lendária, que possui recursos valiosos. Em troca poderemos receber uma preciosa recompensa, a cidadania. Todavia a nave alien está desaparecida e existem fragmentos de informação sobre sua localização na ponte de comando de vários “Derelicts”. Logo estamos a bordo do primeiro Derelict, uma espécie de estação espacial alienígena completamente sucateada, onde devemos coletar quaisquer equipamentos e itens que pudermos localizar, inclusive lixo, enquanto buscamos pela valiosa informação.
Ao pousar no Derelict, somos recepcionados por uma tela parecida como essa:
Eu também não entendi nada do que eu estava vendo, pois a introdução jogo acontece de forma muito rápida a ponto de ser difícil de entender e assimilar a quantidade de informações que são exibidas na tela. Para explorar o Derelict, usamos um scanner que revela o que existe à nossa volta. Traços representam loot; triângulos são os NPCs ou inimigos. Esse é o básico. Mover-se gasta energia e podemos escolher entre 3 modos de movimentação: Stealth, Normal e Rush. Quanto mais discreta a movimentação, menor a chance de sermos interceptados por inimigos, mas gastamos mais energia. Você não vai querer ficar sem energia em uma estação espacial alienígena desconhecida.
Durante a exploração e após o combate, localizamos e coletamos sucata ou equipamentos. As sucatas servem apenas para serem vendidas. Já os equipamentos dividem-se entre “Cores” e “Mods”. “Cores” são as armas e utilitários que podem ser equipados por cada personagem, de acordo com a classe deste. “Mods”, são os anexos que encaixam-se nos espaços (slots) de cada arma ou equipamento. Um “Tech Mod”, por exemplo, só pode ser usado por um personagem que possua um “Tech Core”, que por sua vez só pode ser equipado se a classe do personagem for Technician. Cada equipamento dá ao personagem uma série de habilidades representadas pelas cartas a serem jogadas nas batalhas ou habilidades passivas que garantem vantagens na exploração ou em diálogos com NPCs, sendo que os “Mods” acrescentam variações e novas habilidades ao personagem. Ainda existem equipamentos que compartilham habilidades, podendo atribuir habilidades de uma classe diferente aos personagens.
Voltando à exploração, essa é um mistério nas primeiras horas de jogo, no pior sentido da palavra, pois Deep Sky Derelicts não pega na mão do jogador para ensinar o que cada item na tela significa. Mas assim que nos familiarizamos com a movimentação, a jogabilidade se torna mais simples, pois sabemos onde ficam os inimigos, os NPCs e o tão precioso loot. Com o domínio sobre a mecânica de movimentação e gerenciamento do inventário, o jogo flui de modo excepcional. Cada Derelict tem suas próprias características e conforme vamos avançando e subindo de nível, encontramos cenários com modificadores que tornam a exploração mais difícil.
O combate é ótimo, com uma complexidade razoável (mas bem mais simples do que aprender a gerenciar o inventário, por exemplo), sendo o melhor aspecto do jogo. As ações acontecem em turno e a boa interação entre as cartas de cada personagem é essencial para o sucesso. Embora Deep Sky Derelicts seja apresentado todo em gráficos 2D como em uma HQ e quase sem animações, a atmosfera do jogo é muito bem construída, de modo que o ciclo de gameplay seja muito agradável e, ouso dizer, quase viciante, já que tudo acontece muito rápido, sem longas telas de carregamento que poderiam atrapalhar o ritmo do jogo.
Deep Sky Derelicts segue muito bem a cartilha de RPGs e, a seu modo, apresenta elementos clássicos como loja para compra e venda de equipamentos/sucata, uma taberna para contratar novos mercenários e conseguir novas missões, uma customização muito bem-vinda dos personagens (ainda que bastante simples), a compra de melhorias em habilidades entre outros. Todas são localizadas no hub inicial, de modo que o acesso e a utilização desses recursos é muito rápido.
Eu diria que os pontos negativos do jogo são a ausência de um tutorial, ainda que rápido, para acolher os jogadores que não são habituados com o gênero, uma interface de inventário um pouco mais simplificada e a ausência do idioma português. Na verdade, como o jogo é totalmente baseado na leitura do que está na tela, a ausência de uma localização para o Brasil é um obstáculo imenso àqueles que não dominam o idioma da Rainha Elizabeth II, pois Deep Sky Derelicts possui puzzles e um gerenciamento bastante detalhado de habilidades dos personagens.
Por outro lado, àqueles que conseguirem compreender o que está se passando na tela é garantida uma experiência profunda e altamente viciante, com bons gráficos (logicamente dentro de sua proposta) e um loop de gameplay apurado.
A exploração acaba sendo muito recompensadora e as peculiaridades desse universo é desvendada a cada diálogo com os NPCs. Como não poderia deixar de ser, a ambientação de Deep Sky Derelicts é opressora e suja, digna das distopias futuristas de Ridley Scott e seus discípulos vistas em Alien, Blade Runner, Event Horizon e Sunshine, por exemplo. A palavra “Derelict” possui um significado um pouco vago para uma tradução precisa. Designa objetos abandonados, sucateados ou pessoas em situação de miserabilidade, como um maltrapilho/rejeitado. A ambiguidade do termo funciona muito bem para ilustrar tanto as estações espaciais, como as pessoas que habitam esse universo ficcional.
Enfim, Deep Sky Derelicts: Definitive Edition é um ótimo jogo para quem gosta de Card Games e RPGs de turnos e também pode agradar quem não gosta muito desse gênero, mas gosta de obras de ficção científica como é o meu caso. Infelizmente a ausência da localização em português e uma curva de aprendizado exigente podem afastar alguns jogadores. Mas para aqueles que superarem essas barreiras, a recompensa é ótima, sobretudo com a adição de 2 DLCs New Prospects e Station Life que melhoram significativamente o custo-benefício do game.
Deep Sky Derelicts: Definitive Edition está disponível para PlayStation 4, Nintendo Switch e PC. O jogo foi desenvolvido pela Snow Hound e publicado pela 1C Entertainment.
A análise do jogo foi realizada com base em uma cópia digital de PS4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.
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