Análise Devil May Cry 5
A franquia Devil May Cry não tenta reinventar a roda e apresenta um jogo que parece saído diretamente do PlayStation 2. No entanto, o que poderia ser um demérito, na verdade é o coração do jogo.
Eu tenho a sensação de que já disse isso por aqui, mas parece que a Capcom está tendo um momento precioso dentro da indústria. Desde Resident Evil VII a empresa japonesa vem entregando jogos com alto nível de polimento e diversão. Provavelmente, alguém dentro da empresa lembrou da fórmula secreta dos jogos eletrônicos, que aparentemente esteve perdida desde o final do século passado. É exatamente nesse contexto que chega Devil May Cry 5.
O jogo começa com a jornada do caçador de demônios Nero, em sua missão de salvar Dante e o mundo todo do demônio, Urizen. No desenrolar dos acontecimentos, vemos que Nero está aleijado, sem o braço direito, fato que justifica a introdução da arma mais bacana do jogo: o Devil Breaker, um braço mecânico com poderes especiais.
Juntamente com Nero está Nico, personagem que dá suporte aos protagonistas, criando novos Devil Breakers e fazendo melhorias nas habilidades dos personagens jogáveis, Nero, Dante e V. Personagem novo, V é um sujeito misterioso capaz de invocar criaturas para lutar em seu lugar: Sombra, Grifo e Pesadelo.
Cortar e Fatiar
Jogar com Nero e Dante é o ponto central do jogo, cada um em seu momento. A mecânica de combate hack and slash funciona de forma excepcional, permitindo criar combos nos mais variados estilos possíveis. Nero pode agarrar os inimigos com qualquer dos Devil Breakers, uma excelente maneira de iniciar os combos, com espada ou armas de fogo, mesmo à distância. Dante também tem um arsenal à sua disposição, tendo como arma primária a espada, podendo alternar para armas de fogo (as clássicas Ivory e Ebony) e também ataques corpo a corpo, literalmente caindo no soco com demônios. Dante também adquire novas armas durante o jogo, mas eu prefiro não falar muito sobre isso (a verdade é que eu fiquei muito impactado).
Todos os personagens possuem melhorias em seus combos. As melhorias podem ser desbloqueadas com a Nico, usando pontos que adquirimos coletando “orbes vermelhos”. Também existem orbes verdes e brancos, que volta a saúde do personagem e preenchem a barra de “furia” que possibilita a execução de ataques especiais por Dante e V.
Mais e mais e mais… e mais!
Embora as mecânicas de combate de Devil May Cry 5 sejam excepcionais (com a exceção de V, que não luta), o que mais me chamou a atenção foi a dinâmica de eventos crescente, sempre buscando superar o momento anterior. Se Nero tem uma postura agressiva e cheia de marra, fazendo combos e eliminando os inimigos com frases de efeito, V não fica pra trás e também faz toda uma cena em suas lutas, declamando monólogos enquanto seus animais demoníacos lutam em seu lugar. As performances de Nero e V estão muito estilosas? Vamos então chamar Dante pra mostrar o que é aniquilar demônios com um sorriso no rosto!
Devil May Cry 5 sempre cresce trazendo mais cenas de ação, uma mais grandiosa que a outra e nesse quesito, dá a impressão que nem o céu é o limite. Até mesmo os personagens coadjuvantes são todos cheios de estilo e personalidade, seja Nico, Trish ou Lady. A aparição de Dante (próxima da metade da história) é um dos pontos altos do jogo e a partir daí, tudo ganha novas proporções – sempre megalomaníacas.
Em relação ao visual do jogo, é imprescindível destacar sobre como a RE Engine é maravilhosa. Tudo é absurdamente lindo em Devil May Cry 5, passando pelos efeitos visuais, até os modelos dos personagens, com destaque óbvio para Nico, que chega ser difícil de acreditar que é apenas uma personagem animada. Quanto à estrutura narrativa, Devil May Cry 5 é apresentado em capítulos, o que lembra bastante um anime, inclusive com cortes anticlimáticos de alguns eventos.
Como antigamente
Uma das primeiras coisas que se pode perceber é que Devil May Cry 5 não busca a reinvenção do gênero de ação. Muito pelo contrário, o jogo resgata tudo que ele próprio ajudou a sedimentar dentro do Hack and Slash, sem muitas preocupações sobre estar datado ou não. É nesse aspecto que encontram-se os pontos fracos do jogo. A ação, embora seja excelente, é toda compartimentada, dividida em “salas” onde temos que derrotas uma ou duas ondas de inimigos até partirmos para o próximo local de combate. O jogo progride dessa forma até o derradeiro encontro com um chefe de fase ou fim de um capítulo, momento em que podemos gastar os “orbes vermelhos” em melhorias para o personagem selecionado. Também existem fases secretas com desafios de combate, onde devemos eliminar um numero específico de demônios correndo contra o tempo. Totalmente old school.
E talvez manter a essência de como eram os vídeo games há 10 ou 15 anos atrás seja uma dos pontos altos de Devil May Cry 5. Ao não tentar reinventar a indústria, o jogo mantém-se fiel às suas origens e a seu público cativo, sem carregar o peso e a responsabilidade de ser um jogo maduro como God Of War foi em 2018. Muito pelo contrário, Devil May Cry 5 é aquele jogo de ação moleque, raiz e de várzea, perfeito pra quem quer um entretenimento descompromissado e boas horas de diversão estilosa. E a cada dia mais penso que esse deve ser o segredo que a Capcom redescobriu.