Análise Dragon’s Dogma 2 (PS5)

Dragons Dogma 2 melhora cada aspecto do primeiro jogo, criando uma experiência que brilha na exploração e combate.

Arte da capa de Dragon's Dogma 2, mostra 03 personagens.

Dragons Dogma foi lançado em 2012 e trazia ingredientes novos para os RPG de ação. Um JRPG com vários elementos emprestados dos jogos ocidentais. A mistura de características não convencionais resultaram em um jogo único, para o bem e para o mal, que embora não tenha sido tão celebrado quanto o The Elder Scrolls V Skyrim ou Dragon Age Origins, conseguiu se destacar com uma mecânica de combate excelente e um sistema único de party, formada por peões (pawns) compartilháveis com outros jogadores.

Deu tão certo, que deu origem a uma versão repaginada chamada Dark Arisen, ao MMORPG Dragon’s Dogma Online (infelizmente lançado apenas no Japão) e um anime lançado pela Netflix. Nada mal para o primeiro ARPG de mundo aberto da Capcom até então. Doze anos depois, a Capcom lança Dragons Dogma 2. Sera que vale a pena?

A História de Dragon’s Dogma 2

A premissa do jogo é interessante. Passando-se no mesmo mundo fictício do primeiro jogo, Dragon’s Dogma 2 conta a história do Nascen (Arisen, no original), uma pessoa predestinada a ter seu coração roubado por um dragão. Essa pessoa deve buscar e enfrentar o dragão para reclamar seu coração de volta. Existe apenas um Nascen a cada geração e esse ser humano é escolhido o governante de um dos principais reinos presentes em Vermund.

No entanto, assim como em um conto de fadas, para não perder o direito ao trono, a atual regente em exercício moveu esforços para aprisionar o Nascer em uma mina-prisão, bem longe do reino. Agora livre, o Nascen deverá reivindicar seu lugar de direito no trono, ao mesmo em que prova seu valor realizando as mais variadas missões.

A imagem mostra Brant o guarda do palácio de Vernworth. Ele é negro, forte com postura austera.
Brant é o guarda do palácio de Vernworth. Ele acredita que o trono é ocupado por um impostor.

Embora seja uma premissa simples, a narrativa impulsiona os acontecimentos em Dragon’s Dogma 2 de maneira satisfatória, entregando motivação suficiente para desbravar que agora deve retornar a seu lugar, ao mesmo tempo em que busca o dragão que lhe roubou o coração.

Um mundo de encher os olhos em Dragon’s Dogma 2!

Dragon’s Dogma 2 melhora todos os aspectos possíveis em relação ao primeiro jogo. A ambientação utiliza a RE Engine para entregar uma ambientação lindíssima, com paisagens medievais ricas em um mundo que parece estar vivo.

Começando pela criação de personagem, que mantém o nível de atenção do primeiro jogo, mas aumenta consideravelmente todas as opções disponíveis de personalização, sendo um dos sistemas de criação mais completos que vi recentemente em um jogo. No entanto, podemos escolher entre humanos e leoterians (leões humanoides), não havendo, no lançamento, a opção de criar um personagem elfo, por exemplo (embora existam elfos no jogo).

A imagem mostra a tela de criação de personagens de Dragon's Dogma 2. À esquerda, vários quadros com opção de penteados. À direita, a personagem exibe as alterações escolhidas.
O sistema de criação de personagens de Dragon’s Dogma 2 é um dos mais completos dos RPGs.

Grande parte do jogo é passada na estrada, em busca de itens e novas localidades para cumprir missões. Assim como em The Elder Scrolls V Skyrim e Zelda Breath Of The Wild, a exploração é o ponto forte do jogo e sempre recompensa o jogador que resolve sair da trilha. Paisagens deslumbrantes emolduram o percurso e perigos aguardam o jogador a cada curva. De fato, a Capcom construiu um mundo dinâmico em que dificilmente conseguimos sair do ponto A até o ponto B sem encontrar algum evento interessante, como um grifo atacando carroças, um ogro ou um ciclope armando uma emboscada, sobretudo se a viagem acontece durante a noite.

Nas cidades, encontramos vários personagens não-jogáveis interessantes à história, mas o nosso grupo é composto apenas por peões que não possuem qualquer pano de fundo, o que é uma pena.

A imagem mostra um campo na área externa da cidade, onde um grifo ataca um animal em Dragon's Dogma 2.
A imprevisibilidade dos eventos de Dragon’s Dogma 2 é o ponto forte do jogo!

Mas além da beleza dos cenários, o que mais chama a atenção e certamente é o ponto forte de Dragon’s Dogma 2 é a dinâmica do mundo e como as coisas acontecem nele, sobretudo em como a passagem do tempo afeta o jogo.

Assim como na vida real, o tempo é inexorável em Dragons Dogma 2 e os eventos designados para ocorrer em determinada hora, não mais estarão lá se chegarmos atrasados. Os NPCs possuem rotinas com ciclos de dia e noite e a cada período do dia, novos inimigos são encontrados, os itens consumíveis encontrados durante as jornadas apodrecem no inventário e algumas modificações no mundo são permanentes. Por exemplo, é possível matar NPCs e eles de fato permanecem mortos até serem ressuscitados no cemitério, o que é relevante pois o personagem pode ter um papel fundamental em alguma missão e precisa estar vivo para encerrarmos a pendência.

Também os NPCs possuem um vínculo de afinidade com o jogador e lembram-se dos últimos encontros com o Nascen. Inclusive, se for o dono de uma loja, pode dar bons descontos em itens (algo que vemos também em Baldur’s Gate 3).

A imagem mostra o Nascen e 3 peões, sentados em um acampamento em Dragon's Dogma 2.
Escolher bem os peões é importante para a aventura e confraternizações.

É difícil descrever como o mundo de Dragon’s Dogma 2 é rico e parece estar sempre em movimento, independentemente do jogador, algo parecido com a Hyrule de Zelda BOTW. Aliás, em Dragon’s Dogma 2 tenho a sensação de estar jogando um filhote de Zelda BOTW com TESV Skyrim, no qual o mundo aberto e a sensação de descoberta são a principal característica e não cansam de surpreender.

Mecânicas de Gameplay

Com exceção do combate, é nas mecânicas de gameplay que Dragon’s Dogma 2 tem alguns de seus pontos baixos.

Em relação à movimentação dos personagens e combate, não há ressalvas a serem feitas. Tudo que havia de bom no primeiro jogo, aqui permanece inalterado ou melhorado. O combate acontece em tempo real e possui alguns elementos de hack ‘n’ slash, principalmente quando a vocação “Ladrão” está em cena.

As Vocações (como são chamadas as classes de personagens) são bastante variadas e complementam-se entre si, não havendo uma ou outra que seja desbalanceada, mais ou menos eficiente. O jogo permite a alteração de vocações de maneira simples e podemos brincar com qualquer uma das 04 vocações principais, desde o começo do jogo.

À medida em que avançamos e subimos de nível, as habilidades ficam mais poderosas e os combates ficam até bonitos de se ver, com magias, saltos, piruetas e toda sorte de acrobacias que também são realizadas em conjunto. Podemos, por exemplo, agarrar um peão e lançá-lo para cima de um Ciclope ou usar o escudo para que um dos peões dê um salto para cima de um monstro. Absolutamente divertido!

A imagem mostra a Nascen enfrentando um ogro em uma paisagem bonita, com grama e árvores ao fundo em Dragon's Dogma 2.
Encontrar inimigos gigantes em Dragon’s Dogma 2 é muito bom!

Como além do Nascen, também temos um peão principal, a escolha de vocações que se complementam é essencial para conseguir desbravar o mundo de Dragon’s Dogma 2. A adição de mais 02 peões contratados (que podem ser NPCs da Capcom ou peões de amigos) completa de maneira satisfatória o grupo. Inclusive, a boa combinação de habilidades pode deixar o jogo um pouco fácil demais (eu, por exemplo, resolvi viajar com um grupo de apenas 03 personagens).

Os peões são um show à parte. Eles conversam entre si, possuem humor característico (que pode ser alterado) e interagem com o jogador de maneira útil, indicando a localização de itens e como resolver missões. Como nem tudo é perfeito, ficamos reféns da IA dos peões e não podemos dar ordens mais diretas se não “vá”, “venha”, “espere” e “ajude”. Existe toda uma mecânica em relação à contratação de peões em Pedras da Fenda (de onde os peões vem), encontro de peões na estrada e até mesmo uma doença infecciosa que aflige os peões em suas viagens para outros mundos.

A tela mostra a "fenda", local onde os peões podem ser encontrados. O lugar é escuro e os peões ficam esperando o chamado do personagem.
A “fenda” é onde encontramos os peões para auxiliar durante a jornada.

Outro ponto alto do jogo é a liberdade que temos em explorar o mundo e as mecânicas que interagem entre si. A interação entre itens e objetos no mundo é louvável e traz um pouco do que vimos em Zelda BOTW, ainda que em menor escala.

Nada nos impede de ir para qualquer lugar do mapa (com exceção de cursos de água profundos) e certamente existe algo nos esperando em todas essas localidades. A exploração é incentivada no jogo e sempre recompensada. É possível usar a criatividade para chegar a locais inacessíveis, agarrando e arremessando um peão por exemplo, ou mesmo montar em um Grifo (precisa de coragem) para explorar áreas ainda não acessadas do mapa.

A imagem mostra uma porção do mapa de Dragon's Dogma 2.
Uma parcela do mapa de Dragon’s Dogma 2. Com exceção das missões principais, não há marcadores de itens e podemos explorar livremente.

Falando em exploração, chegamos a um dos pontos controversos do jogo. O mapa de Dragon’s Dogma 2 é bem grande, cerca de 04 vezes maior do que o do jogo original, mas a principal forma de viajar é a pé. Não há montarias para os personagens, mas apenas um carro-de-boi que sai de uma cidade para outra, que é lento e pode ser emboscado durante o caminho. Além disso, existem marcos de pedra chamados Cristalportos (também presentes no primeiro jogo) que podem ser utilizados como pontos de viagem rápida, mas precisamos primeiro encontrá-los, ativá-los e usar um item chamado pedra-barca para poder viajar. No entanto, as pedras-barca são caríssimas, o que limita bastante as opções de viagem.

Por fim, os aspectos mais controversos do jogo são relacionados às micro-transações presentes e à performance. Itens de conveniência (sobretudo itens necessários para viajar rapidamente entre locais) são vendidos por dinheiro real, o que deixou muitos jogadores insatisfeitos e gerou uma repercussão negativa na internet, principalmente porque Dragon’s Dogma 2 possui apenas uma campanha para 01 jogador e foi lançado com o preço mais alto dos jogos AAA atuais.

A imagem mostra a Nascen em cima do corpo de um minotauro, que está no chão, derrotado.
Os problemas técnicos não diminuem as qualidades de Dragon’s Dogma 2.

Pessoalmente, apenas um aspecto me incomodou: o jogo foi lançado sem a opção de criar mais de um personagem e, com uma severa limitação de itens para mudança da aparência do Nascen e do Peão Principal (apenas 02 são vendidos). Ou seja, iniciamos a aventura e estamos presos a ela até o final, a menos que o arquivo de salvamento seja apagado.

Essa escolha controversa e, na minha opinião, deliberada, podem significar algumas coisas: a Capcom buscava entregar uma aventura linear para cada jogador e uma conexão forte com o personagem principal e seu peão; a Capcom queria evitar que o número de peões armazenados em seus servidores escalasse de maneira exponencial ou, sendo mais ousado, pretendia usar o jogo como uma plataforma para a próxima iteração de Dragon’s Dogma Online, com a abertura de um novo jogo mediante pagamento (algo comum em MMOPRGs gratuitos). De qualquer forma, somente nos resta imaginar o motivo, uma vez que hoje, uma semana após o lançamento do jogo, a Capcom lançou uma atualização que aumenta o número de itens de alteração da aparência para 99 e disponibilizou o início de um novo jogo, além de outras melhorias em relação à performance.

Battahl, a cidade dos Leoterians em Dragon's Dogma 2.
Os cenários de Dragon’s Dogma 2 são deslumbrantes!

Quanto à performance do jogo, de modo geral, tudo funciona bem no PlayStation 5 com uma taxa de quadros satisfatória, embora não atinja 60 fps. Existe um problema mais grave quando entramos em uma cidade, notadamente em Vernworh, em que a taxa de quadros cai severamente. Na minha experiência, abrir qualquer menu ou mapa e depois voltar para a cidade resolve facilmente o problema que, no entanto, não precisava existir.

Conclusão

A imagem mostra o Dragão, principal inimigo do jogo.
O destino do Nascen está ligado ao Dragão.

Dragon’s Dogma 2 é um jogo incrível. A Capcom conseguiu melhorar todos os aspectos do primeiro jogo de maneira que parece até mesmo como um remake do original. Apesar dos problemas (que são pontuais), o jogo oferece um dos mundos mais bonitos e convidativos à exploração dos RPGs, além de apresentar sistemas e mecânicas que interagem entre si de maneira a criar uma experiência de gameplay sempre nova. Um excelente título para os fãs, tanto de RPGs ocidentais como de JRPGs.


Dragon’s Dogma 2 foi desenvolvido e publicado em março/2024 pela Capcom para as plataformas PlayStation 5, Xbox Series X/S e PC (via Steam). A análise foi feita com base em uma cópia digital para PlayStation 5 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo. 

Tiago Matias Escobar
Metaleiro não uniformizado. Cerveja, pizza, games e viagens ocasionais.