Análise Dreams (PS4)
Dreams é uma poderosa ferramenta para exercitar a criatividade, uma rede social, uma biblioteca com diferentes estilos de jogos e um pouco mais.
A melhor analogia que consegui pensar para definir Dreams é que ele é como um parque de diversões em que você paga um ingresso único e pode andar em todos os brinquedos sem precisar ficar em filas e se não gostar de nenhum pode tal qual um Walt Disney moderno construir o seu próprio.
Dreams é um título que te permite construir outros jogos dentro dele com diversas ferramentas até então disponíveis apenas em editores e motores gráficos profissionais e de uma forma inusitada: com um controle de videogame.
Mas além disso é também uma rede social colaborativa em que jogadores do mundo inteiro estão constantemente criando e se ajudando a construir mídias audiovisuais.
Desenvolvida pela Media Molecule, a mesma de Little Big Planet e Tearaway, e publicada pela Sony Interactive Entertainment, Dreams foi lançado em 14 de fevereiro de 2020 exclusivamente para PlayStation 4, após sete anos de desenvolvimento e um ano de acesso antecipado, período que com certeza foi absolutamente necessário para transformar uma ferramenta de criação complexa em algo intuitivo e de fácil assimilação para o jogador.
Os vários tutorais ensinam o desde o básico até noções avançadas de programação de jogos de forma lúdica e simplificada através de vídeos na sua maioria dublados em português do Brasil.
Mas não se engane, se tiver interessem em criar algo original seu vai precisar dedicar muitas horas dentro do Sonho Cosmo, como o universo de Dreams é chamado, antes de fazer algo realmente bom e profissional.
Mas se desenvolvimento é algo que não te interessa ou se o seu objetivo é apenas experimentar a criação de outras pessoas prepare-se para entrar em uma dimensão com potencial para sugar horas do seu dia testando as muitas novidades que aparecem diariamente no Sonho Cosmo.
Oficina de Sonhos
Dreams é dividido em duas partes: o Sonho Navegar onde é possível jogar, visualizar e interagir com o que outros jogadores disponibilizarem online e criações da própria desenvolvedora e o Sonho Criar onde o jogador dá vazão a criatividade ao criar diversos projetos artísticos não só referentes a games, mas também esculturas, pinturas, animações, curta metragens, músicas, etc.
Uma das criações da Media Molecule é o equivalente ao que seria mais tradicionalmente caracterizado como a campanha de Dreams e se chama O Sonho de Art, que pode ser jogada solo ou em co-op local.
Durante ela o jogador controla o músico Art em um estilo de exploração adventure point and click e que varia quando a mente do baixista assume o controle de brinquedos que ele tinha na infância e que agora adulto o ajudam a lidar com raiva, medo e rejeição.
E é na imaginação surreal de Art que a campanha de Dreams brilha se transformando em um verdadeiro carrossel de estilo, indo desde jogabilidade em plataformas para se tornar um brawler, acrescentar elementos de tiro em terceira pessoa e por fim se tornar um shoot and up de naves, no maior estilo Resogun.
E apesar de ser uma campanha curta de 3 horas no máximo, ela serve como uma vitrine do que pode ser feito dentro de Dreams, tanto visualmente como em estilos visto que foi toda construída usando recursos do próprio jogo.
E se o Sonho de Art é importante como showcase, o que movimenta o Sonho Cosmo é a comunidade em torno do game e como novas criações surgem todos os dias com uma velocidade incrível e cabe ao jogador explorar esse universo em expansão.
Brainstorm coletivo
E bom ressaltar que essas centenas de possibilidades nem sempre estão completas e é bem comum se deparar com mensagens de “versão em progresso” o que é perfeitamente compreensível visto que por mais simplificada que a ferramenta seja se comparada a softwares clássicos de programação ainda é preciso bastante dedicação para construir com maestria.
Mesmo que os tutoriais sejam bem didáticos existem muitos aspectos ao se “programar” um jogo.
Tomando uma parede como exemplo, além da parte de cor e textura, como ela irá reagir a interação com o jogador? É um bloco maciço ou destrutível? É possível atravessá-la com algum item ou escalá-la? Faz o barulho ao contato?
Se tem uma coisa que Dreams me fez perceber é quão maravilhoso, complexo e demandante de tempo é a programação de jogos.
Além de todas essas variáveis manipular as criações e elementos usando o dualshock ou sensores de movimento é uma questão de costume e muita prática, por conta disso atualmente as versões mais completas de criações são as feitas por usuários que estão trabalhando nelas desde o early access.
O lado bom do título ter foco grande na parte social em torno de uma comunidade é que o jogador pode fazer um remix de um projeto ou itens já existentes.
Então por exemplo, se quiser usar veículos em alguma criação já existem centenas de assets prontos que outros jogadores construíram e que podem ser inseridos e/ou modificados dentro do seu projeto com os devidos créditos ao criador.
Então se não se sentir confiante ainda para criar um jogo completo, você pode elaborar elementos como um personagem, um item de cenário ou uma música que depois podem ser usados para diversos fins por outros usuários.
Como diria a célebre frase de Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Também é possível enviar feedback diretamente para criadores através de comentários, ao curtir o projeto ou relatando bugs e essas ações funcionam como uma curadoria, destacando as criações mais bem avaliadas pela comunidade.
Você também pode seguir esses criadores favoritos e ficar sempre por dentro dos seus últimos projetos, participar de game jams quando elas estiverem acontecendo ou votar em premiações dentro do Sonho Cosmo.
Mantendo a chama acessa
Dreams é um título único, ambicioso e bem diferente de tudo que existe hoje no mercado, mesmo considerando títulos como Super Mario Maker 2 ou mesmo os construtores de níveis da própria Media Molecule feitos para Little Big Planet, e essa diferença se dá sobretudo na quantidade de ferramentas disponíveis, variedade das criações e no foco pesado na parte social.
E caso a promessa da Sony em oferecer suporte para Dreams por 10 anos se concretize e com o engajamento da comunidade cada vez elaborando mais projetos diferentes e interessantes vale muito a pena sonhar juntos.
É difícil não encontrar algo que você goste aqui, mas não espere (pelo menos não atualmente) títulos complexos no nível de jogos que contam com investimento financeiro, a maioria dos projetos feitos por usuários são curtos ou demonstrações com potencial para se tornarem cada dia melhores.
Dreams é um grande laboratório em que é possível apreciar ou exercer a criatividade e aprender os mecanismos por trás de criações digitais, sejam elas pinturas, músicas, efeitos sonoros, esculturas, curta metragens, animação ou jogos.
Acredito que da mesma forma que ferramentas como RPG Maker anos atrás ou mesmo Minecraft mais recentemente foram a porta de entrada para muita gente no mercado de games, Dreams também tenha potencial para instigar algumas pessoas a se profissionalizar e se tornarem desenvolvedores em um futuro não muito distante.
E se você ainda está com dúvidas se deve experimentar Dreams com suas próprias mãos termino esse review parafraseando John Lennon:
“Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único e espero que um dia você se junte a nós…”.
A análise de Dreams foi escrita com base em uma cópia de PS4 fornecida pela assessoria de imprensa do jogo.