Análise DREDGE (PlayStation 5)
Dredge acrescenta uma camada de horror cósmico a um relaxante jogo de pesca e mostra que algumas coisas não deveriam sair do fundo do mar.
Dredge é sobre loucura, pesadelos e obsessão. Ingredientes que poderiam estar na formação de títulos como Silent Hill ou a tão aguardada sequência de Bloodborne. Mas quis o destino que esses temas fossem trabalhados em um título indie, com gráficos cartunescos, capazes de criar uma atmosfera tão sombria e opressora como os melhores jogos da indústria.
Ao responder um anúncio para preencher a vaga de um pescador, um acidente faz com que o personagem principal fique preso em Medula Maior, uma pequena cidade litorânea. Não há escolha senão enfrentar o mar para pagar o conserto do seu barco. Contudo, após alguns dias longe da terra firme, percebemos que o mar esconde mais do que cardumes.
Navegar é preciso
A jogabilidade de Dredge é simples e efetiva. Controlamos o barco pesqueiro e devemos buscar itens valiosos no mar, inclusive peixes. Ao encontrar um ponto de pesca, um singelo mini-game de pescaria se inicial e vamos enchendo o porão do navio com tudo que encontramos. Por vezes temos que atender alguma encomenda, encontrando cardumes específicos para o mercado local e também acabamos fazendo favores, como levar uma encomenda de uma ilha para outra.
Para tanto temos itens, como uma luneta e lanterna que podem ser acionadas a qualquer momento. Outros itens são desbloqueados conforme avançamos no jogo, como covos e redes que permitem a pesca passiva. Reparos no barco devem ser feitos sempre que necessário e itens valiosos encontrados podem ser vendidos no mercado local, assim como melhorias podem ser compradas no estaleiro para aumentar o espaço do porão de carga, incrementar a velocidade dos motores e possibilitar a captura de peixes distintos, localizados em outros ambientes marinhos.
Parece simples, não? De fato, o gameplay de Dregde é um dos pontos altos do jogo, mas os demais sistemas não ficam para trás.
O mar não está para peixe
A pequena cidade localizada na ilha Medula Maior guarda um mistério. A população local pouco fala sobre o pescador anterior (de quem assumimos o posto) e existe um rumor de que o antigo prefeito teria enlouquecido a ponto de jogar todos os seus pertences no mar. Uma senhora cuida do farol, um colosso que se estende a dezenas de metros acima da linha da água: um verdadeiro alento para quem se aproxima da ilha cercada por rochas. A única coisa certa é que os peixes são comprados todos os dias e o aviso: não fique no mar durante a noite.
O sol se põe. A escuridão avança e com ela uma névoa espessa toma conta da superfície. Voltar para a doca, algo antes trivial, não é mais tão simples. De repente, rochas surgem à frente. Poderia jurar que não estavam ali um minuto atrás. Uma luz crepita sobre a água e parece sussurrar alguma coisa incompreensível diretamente no meu cérebro. Alguma coisa pulou no convés e está se esgueirando até o porão. Finalmente a cidade aprece e estamos mais uma vez em porto seguro. O prefeito alerta mais uma vez: não fique no mar durante a noite e não se esqueça de dormir.
Essa tentativa de narrativa é para ilustrar a riqueza da ambientação de Dredge. Um mistério bem construído, com uma ambientação fantástica são capazes de carregar a nossa imaginação juntamente com a narrativa simples, que se desenvolve como em uma história em quadrinhos, sem personagens animados ou dublagens. O jogo nos convida a avançar na descoberta do grande mistério envolvendo o arquipélago e reunir itens misteriosos para um não menos enigmático colecionador.
Esses artefatos estão espalhados por 5 ilhas, cada uma com características e horrores próprios. À medida em que avançamos, nos é concedidos novos poderes para facilitar o cumprimento da da tarefa.
É assim que Dredge mescla um jogo de pesca e exploração com uma envolvente aventura de horror cósmico. A cada minuto a mais que passamos sem descansar, ficamos mais encurralados pelo pânico a ponto de ver e ouvir coisas que podem ser fruto de nossa imaginação, mas certamente causam dano real e pode levar ao game over, pois a cobiça por içar do mar peixes e artefatos sempre nos coloca no limite da sanidade.
Beleza mortal
Tecnicamente, Dredge é igualmente competente, com destaques para a trilha sonora e o design de som. Os gráficos são belos, utilizando estilo cartunesco, mas sem impactar negativamente na atmosfera. As cinco ilhas disponíveis para exploração possuem identidade visual únicas, assim como os peixes e suas respectivas deformações; o cenário marítimo é lindo e cada melhoria equipada em nosso barco impacta em seu visual.
A trilha sonora, no entanto, é excepcional, sobretudo em sua ausência. Durante o dia, um tema calmo dá o tom da aventura, evocando um clima misterioso. Já durante a noite, não trilha sonora e somente ouvimos os barulhos do mar, com ondas batendo nas pedras e o motor de nossa embarcação. Uma solução simples, elegante e que funciona muito para criar o clima de horror. Incrível.
Uma aventura formidável
Dredge é um jogo simples, mas muito competente. Com uma duração razoável consegue evocar os sentimentos presentes em jogos clássicos de horror de sobrevivência, como Resident Evil, além da excelente exploração, digna de Zelda e, por que não, Shadow Of The Colossus. Para usar um clichê dos videogames, Dredge consegue ser maior que a soma de suas partes e entrega uma aventura cheia de emoções, com o melhor que essa mídia interativa pode oferecer.
Dredge foi desenvolvido pela Black Salt Games e publicado pela Team17. O jogo será lançado em 30/03/2023 para PC, Nintendo Switch, PlayStation 4, PlaySation 5, Xbox One e Xbox Series X/S.
A análise foi feita com base em uma cópia digital para PlayStation gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.