Análise Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça (PS5)
Esquadrão Suicida flutua entre o ótimo e vergonhoso, mas termina decepcionante vindo de uma das desenvolvedoras mais talentosas da indústria.
Jogos de heróis nunca foram uma novidade nos vídeo games, sempre existiram e com certeza sempre irão existir. Mas sua existência em sua grande maioria nunca foi aliada a qualidade. Claro que temos exceções principalmente na época do PS2 onde tivemos bons jogos, inclusive alguns deles baseados no próprios filmes. Mas nem mesmo eles foram capazes de se tornarem um marco, algo que sempre seria lembrado.
Mas tudo isso mudou em agosto de 2009 quando a Rocksteady Studios em parceria com outras desenvolvedoras lançou Batman Arkham Asylum. O jogo que chegou como quem não queria nada e se tornou um dos maiores jogos de todos os tempos, se tornando um marco para os jogos de heróis e parâmetro para tudo que viria a seguir. Principalmente, colocando a desenvolvedora no mundo.
Claro que “só” um jogo não seria o suficiente para colocá-los no mercado, e não foi! Toda série Arkham (dos jogos desenvolvidos por eles) foram games extremamente impactantes que revolucionaram o gênero de herói e tornou a desenvolvedora a queridinha de muita gente.
Alguns estúdios alcançam tanto a popularidade advinda de seu trabalho, que alguns fãs dizem que “aquele estúdio nunca vai errar”, pela tamanha confiança. É claro que isso é uma enorme falácia, e nos últimos anos isso vem se tornando algo até comum, com várias desenvolvedoras tento suas piores fases, seja por jogos, ou decisões comerciais que mancham a empresa da mesma forma.
Desde de seu anúncio em 2020, o novo jogo da desenvolvedora “Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça”, lançado no último 30 de janeiro para PlayStation 5, Xbox Series S/X e PC, nunca caiu nas graças de todos, mas sempre foi alvo de muitos exatamente por muitos acharem que a empresa “jamais erraria”.
Conforme o tempo foi passando e mais informações foram sendo divulgadas, o hype de muitos diminuía cada vez e tudo isso atingiu seu ápice quando ficou claro que o jogo seria um game as a service, ou seja, um jogo com micro transações, focado em modo cooperativo que sempre será atualizado através de temporadas pagas.
Dali em diante o jogo caiu no ostracismo, num modo de que sempre que qualquer coisa saia, virava piada logo em seguida. Chegou a ser tão grave, que o jogo tinha previsão de lançamento para 2023 e foi adiado por quase um ano para que o estúdio trabalhasse em algumas coisas.
Mas agora que saiu, será que é tão ruim assim? Ou as pessoas estão exagerando. Vem que eu te conto.
Do que se trata
Serei bem breve para contar a premissa do jogo, porque está claro em seu título, além disso, spoilers do jogo ficaram bastante famosos na internet e praticamente todos já viram. Basicamente a cidade de Metropolis foi tomada por Braniac, um dos grandes vilões do Superman, que além de ser um “ser” superdesenvolvido, possui habilidades de controlar a mentes das pessoas e copiar suas habilidades caso seja um meta-humano.
O poder do vilão é tão grande, que foi capaz de controlar quase toda Liga da Justiça, e com isso, a cidade ficou completamente desprotegida. Toda população é dizimada e aqueles mais especiais ficaram completamente controlados para servir ao grupo do mal.
Por conta de tamanho desespero a força de segurança Argus, recruta quatro bandidos que estavam presos, para que eles possam ser usados para fazer algo contra a poderosa força, sendo eles Arlequina, Capitão Bumerangue, Pistoleiro e Tubarão-rei. Exceto do último, todos os outros não possuem poderes, além do completo desprezo pela vida de outros.
E por conta disto, eles precisam de um incentivo para agir. Uma bomba remota é inserida na cabeça de todos e caso eles não façam o que é preciso, a chefe da Argus, Amanda Waller, acionará o botão imediatamente. Ou seja, sem muita novidades.
Boa história, ótimos personagens
A narrativa do jogo está longe de ser um problema para mim, durante toda jornada que pode ser completada em umas 12 horas caso você foque só nela, me manteve bastante preso e muitas vezes envolvido. Afinal de contas, mesmo que o gênero de super herói esteja um pouco desgastado por conta de tantos filmes, séries e jogos, nós amamos esses personagens e é sempre divertido vê-los em novas aventuras.
O ritmo de como a narrativa progredi é ótimo e nunca deixa você esperando por tempo demais por uma resposta. Por mais que o jogo tenha dezenas de coisas para você fazer, é possível seguir somente as missões principais. Além disso, o jogo possuí coisas inesperadas e pelo menos uma reviravolta muito boa e engajante.
E tudo ainda fica ainda melhor por conta de seus quatro protagonistas. Como não podia ser diferente a Rocksteady entendi muito desses personagens e com uma ótima escrita, consegue dar personalidade de sobra para cada um. Mesmo que em alguns momentos eles exagerem nas piadas tornando alguns momentos que seriam mais dramáticos em “graça”, de modo geral, você se importa com eles.
Não sei você, mas quando um jogo consegue fazer o player realmente sentir vontade de matar um integrante da Liga, eu creio que ele realmente fez um ótimo trabalho.
Estrutura problemática
Mas nem tudo é flores, na verdade, bem, bem longe disto. Um jogo não é analisado somente por narrativa e personagens, eu diria até que isso que nem são as principais coisas, porque o você mais faz em um jogo é jogar, e jogar Esquadrão Suicida é um mix de prazer e desprazer quase todo tempo, mas fato que ao longo de minhas 28 horas, tudo ficou um gosto extremamente amargo.
Vejo que muito disso é por sua estrutura de jogo por serviço. Para quem não sabe, jogos que buscam este tipo de gênero apostam firmemente em seu gameplay, pois o jogador terá que ficar preso naquele loop de missões que muitas vezes serão repetidas, mas ainda assim ele sentirá prazer de prosseguir. E hoje há inúmeros casos de jogos que conseguiram fazer isso, mas não é algo simples de se fazer.
Não estou sendo irônico que ao longo de toda a campanha e depois dela, você verá no máximo quatro tipo de missões, que as vezes serão mais longas e mais curtas, mas sempre a mesma coisa. E por mais que a gameplay seja boa, e eu achei ela divertida, depois de um tempo, isso se torna algo a ser ignorado, pois a estrutura de missões é extremamente enjoativa. Eu provavelmente eu nunca mais vou jogar este jogo na minha vida. A não ser que aja um patch que adicione sei lá, pelo menos outros 10 tipos de missões para que eu nunca mais veja as antigas na vida essa estrutura.
E isso fica ainda mais triste quando analisamos o estúdio por trás disso. Quando vemos os jogos da série Batman, é inacreditável que as mesmas pessoas conseguiram criar essa estrutura. Ao longo de todo jogo eu ficava me perguntando se a Rocksteady realmente quis criar isso ou foi forçada, porque não é possível que a criatividade do estúdio acabou, e quando vemos coisas realmente boas no jogo, fica claro que não, então porque? Sério, não há resposta. Acho que nem eles mesmo conseguem responder.
Eu vi algumas pessoas falaram que essa estrutura fica menos cansativa jogando com amigos e talvez fique, eu joguei todo ele offline. Na verdade eu até tentei jogar online com outras pessoas, mas a missão bugou no meio do caminho e daí decide abrir mão de vez desta opção.
Mas de verdade, eu acho que não muda nada. Porque esse jogo de fato começa quando você acaba a campanha, isso é uma norma desta estrutura de jogo, e acho que isso jamais irá funcionar, porque quando você termina, você não quer mais jogar. Eu ainda tentei por mais algumas horas somente porque tinha que escrever essa review e queria ser justo, mas caso não precisasse, não faria.
É uma pena, porque como disse antes o jogo tem coisa boas e ainda falarei demais algumas, mas tudo se perde devido a essa estrutura chata, repetitiva e sendo bem sincero, bastante preguiçosa. Isso sem contar a nulidade de variedades de inimigos e chefes, mas nem vou entrar neste ponto, só saiba que é muito ruim.
E para não dar Spoilers eu não vou falar sobre as batalhas contra os heróis da Liga da Justiça. Mas é um verdadeiro show de falta de criatividade. Eu entendo que é muito difícil você colocar quatro “ninguéns” para lutar contra verdadeiros deuses, mas qualquer outra abordagem teria sido melhor do que é apresentada no jogo. Em alguns casos, é vergonhoso.
Parte técnica padrão Rocksteady
Algo que não é justo de grande parte das pessoas é a crítica sobre a parte técnica do jogo. Eu cheguei a ver alguns vídeos de comparação entre Esquadrão Suicida e Batman Arkham Knight, dizendo que o jogo mais antigo é melhor em muita coisa. E isso é MENTIRA!
Você pode até discutir questão de direção de arte, sobre o jogo do Batman ser mais criativo, mas não existe comparação quanto a gráfico.
Esquadrão Suicida é lindo, seja sua cidade, personagens, iluminação e áudio. Tudo é feito com um enorme cuidado de um estúdio que sempre foi competente nisto.
Ao longo do jogo eu tenho certeza que você irá tirar bastantes fotos de determinados lugares e personagens devido a beleza que eles possuem. Ressalto ainda a modelagem dos personagens, que é impressionante. A expressão facial dos bonecos chegam beirar a perfeição do que já vimos na indústria. Então não caia nesta que o jogo é ruim em tudo e feio, porque não é, longe disto.
Um enorme nada
Apesar de ter tocado nisto antes eu irei me aprofundar em falar sobre a cidade de Metrópoles. Que é bela, grande e cheias de coisas para fazer, porém, não existe um pingo de motivação para fazer qualquer coisa. Como dito, tudo é extremamente repetitivo, com exceção aos desafios do charada que voltam a ser reproduzidos aqui.
Mas, diferente de Batman Arkham Knight onde existe uma grande variedade de desafios, aqui em Esquadrão Suicida é muito repetitivo e zero criativo. Eu não vou dar spoiler sobre o que você faz neste pontos, mas assim que você fizer três deles, você nunca mais fará nenhum, principalmente quando ver a recompensa, que olha, é deprimente e completamente desmotivador.
O jogo ainda conta com uma grande quantidade de atividades extras ao término do jogo, dando ao jogador um conteúdo enorme que caso você queira irá passar horas ali, mas tudo é como dito antes, então, vai de cada um.
Progressão de gameplay
Diferente da Liga da Justiça onde os poderes dos personagens são bastante distintos, o Esquadrão não possuí sequer poderes, exceção ao Tubarão-rei que possuí grande força. Então tudo que eles fazem para combater os inimigos é através de armas.
O jogo conta com uma boa variedade de armas como pistolas, rifles de assalto e precisão, escopetas, armas pesadas e granadas. Além disso, o jogo possuí um esquema de personalização dessas armas que podem ganhar determinas propriedades como gelo ou fogo. E tudo isso pode ser feito no armeiro do jogo com os itens que você ganha ao cumprir missões e matar inimigos.
Além disso, o jogo ainda tenta priorizar armas para cada personagem, por exemplo, Arlequina não consegue usar Rifles de Precisão, o Tubarão-rei não usa pistolas, entre outros. Tudo para dar uma certa identidade que até faz sentido. O problema é quando tudo isso é posto em pratica.
A movimentação dos personagens eu devo dizer que é bastante divertida e bem diferente entre eles. O que eu mais joguei foi o Capitão Bumerangue, com o uso de uma manopla que ele consegue dos laboratórios STARS, permite ele andar muito rápido por um determinado período de tempo utilizando o bumerangue. E isso é muito divertido pois possibilita uma grande verticalidade e precisão que em meio ao combate se torna muito divertido.
Enquanto aos outros, Arlequina é basicamente a mesma movimentação do Batman; Pistoleiro usa um propulsor a jato; e o Tubarão usa seus poderes para saltar longas distâncias, igualmente o Hulk.
Mas essa diferenciação para ai, depois disso, não existe nenhum tipo de diferença entre eles, tudo se torna igual, ou seja, suas abordagens sempre funcionaram da mesma forma. O jogo até possui uma mecânica divertida de atirar nas pernas dos inimigos e ao ficar atordoada você pode golpeá-lo para absolver escudo, mas não é suficiente. Sob controle de quem for é sempre correr, esquivar e atirar.
Deus que me perdoe sobre o que vou dizer agora, mas até Marvel’s Avengers conseguiu diferenciar o gameplay dos heróis muito melhor que Esquadrão Suicida, então dá para ver o nível do que estou falando.
Vale a pena?
Vou ser direto, não! Apesar do jogo não ser essa bomba que muitos falam como se tudo nele fosse absurdamente ruim, o jogo passa longe de qualquer jogo anterior da desenvolvedora e mesmo para mim que passou horas nele, eu rapidamente vou esquecer de sua existência.
E fico muito triste em dizer isso. Porque tem muita Rocksteady nesse jogo e com isso é possível identificar lampejos caso sua estrutura fosse outra.
Eu recomendo que você jogue quando ele entrar em algum serviço ou ficar por um preço menor e tirar suas próprias conclusões, e caso você for um desses que acha que jogo é ruim e pronto, ele pode até te surpreender.
Se fosse para descrever Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça em uma palavra seria “decepcionante”.
A análise de Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça foi escrita com base em uma cópia de review gentilmente cedida pelos nossos parceiros da Nuuvem. Jogo disponível para PC, PlayStation 5 e Xbox Series.