Análise Final Fantasy XV
Final Fantasy XV finalmente chegou para todos depois de muitos anos em desenvolvimento. O jogo além de feito para fãs e novatos é o RPG mais charmoso do ano.
Apesar de uma certa bagagem com jogos RPG, os títulos principais da franquia Final Fantasy ficaram de fora das minhas experiências com o gênero, muitas vezes pela falta de interesse em jogar o datado por melhor que fosse. A vontade de finalmente jogar um jogo principal da franquia surgiu de um despertar de sentimentos ao consumir mídias diversas de Final Fantasy XV em massa. O fantástico admirável do novo jogo instigou meu gosto e simplesmente me fisgou.
FFXV soube propor uma introdução para um paraquedista dentro deste universo ao defende seu lado convidativo com a seguinte frase inicial: “Um Final Fantasy para fãs e novatos”. Sendo ou não o jogo mais acessível da franquia até então, seu esforço em abraçar a todos parece ter funcionado. O jogo consegue ser cativante, acessível e desafiador sem subestimar novatos.
No jogo você é um quarteto de rapazes bonitões e carismáticos que falando assim até parecem extraídos de alguma revista feminina qualquer, todavia Noctis, Prompto, Gladiolus e Ignis são personagens de personalidade forte cativantes. O quarteto fantástico consegue entrelaçar você através do relacionamento verdadeiro que existe entre eles, transformando a ideia de amizade exagerada e até meio batida em algo acertado e característico deste grupo em si. Cada um dos amigos transparece seus sentimentos da maneira que consegue, e ao longo do jogo a amizade deles é trabalhada em momentos individuais, inclusive alguns no qual você mesmo participa com escolhas pessoais suas, e principalmente ao decorrer da história.
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A história do jogo se passa em Eos, planeta semelhante ao nosso, porém anos há frente, e como não poderia deixar de ser, repleto de elementos fantásticos característicos da franquia. Existe um império chamado Niflheim que domina a maioria das nações deste mundo, exceto o reino de Lucis, habitar natural de Noctis, que aliás é filho do rei. Através de uma espécie de golpe de estado, o reino de Lucis se encontra em uma situação complicada, e Noctis é uma peça chave para restabelecer a paz comprometida.
Enquanto as coisas desandam no reino, Noctis e seus amigos viagem no Regalia, seu veículo de luxo. Noctis ainda é jovem, ver tudo ao seu redor com aquele brilho incrédulo nos olhos, e mesmo com as suas habilidades especiais poderosas, tem um longo caminho pela frente até conseguir entender e dominar os poderes que tem em mãos, — e como diria o tio Ben: “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”.
Os acontecimentos são contados a medida que Noctis e seus amigos vão concluindo as missões principais, e a maneira escolhida a princípio parece um pouco confusa, afinal houve uma espécie de projeto multimídia para promover o jogo, deixando o enredo menos esclarecido. O tal projeto propôs contar exclusivamente através do filme Kingsglaive acontecimentos importantíssimos do jogo, prejudicando o aprofundamento nos acontecimentos em Lucis que desencadearam o maior conflito de toda a história para quem deixou de assistir ao longa. Pelo menos algo similar não aconteceu com o anime Brotherhood, embora também seja relevante para mostrar a relação do grupo de amigos antes de se juntarem.
O enredo acaba se desenvolvendo com pouca profundidade devido a falta de complemento do que é tratado com relevância, então você acaba apenas digerindo a importância da coisa sem uma razão propriamente dita — e o filme é somente uma parte deste problema, — a história não se preocupa em explicar a razão do que transparece importância outras vezes. É ruim ter de encarar um desafio no qual você se sente perdido com as motivações, ainda mais se levarmos em consideração a personalidade meio rebelde de Noctis. Quando começamos Noctis é aparentemente um jovem que só quer apreciar as maravilhas que o mundo tem a oferecer, e de repente é alguém devoto as suas obrigações e responsabilidades. Mesmo com ressalvas, o enredo tem seu charme e consegue prender sua atenção, principalmente se você teve a oportunidade de conferir o filme e anime ou foi atrás de informações e teorias em outras fontes.
Sempre com o pé na estrada, o grupo de amigos se locomovem para todos os cantos no Regalia, Chocobo e à pé — fica a seu critério. A ideia de liberdade existe, mas é conservadora, bem diferente do que estamos acostumados em outros jogos que trabalham em cima deste conceito. A progressão acaba se mostrando fundamental para quem almeja mais liberdade, porém mesmo assim é algo meio genérico. Ao “controlar” o Regalia, por exemplo, dar para fazer coisas básicas como acelerar, frear e direcionar, mas o o carro nunca vai sair das estradas. Quando queremos simplesmente ir pelo caminho mais conveniente, precisamos rodear todo local devido a clássica parede invisível. O jogo provoca uma sensação de liberdade incrível, mas impede que você seja livre quando não for conveniente. Até que ponto tudo isso é um problema chega a ser difícil dizer quando se trata de um típico RPG japonês, quem conhece sabe que independente da evolução, as escolhas de produção do gênero costumam compensar limitações com elementos de progressão satisfatórios.
A maneira que o mundo de FFXV foi feito aos moldes do nosso propõe percepção harmoniosa da realidade e fantasia. Uma criatura colossal fantástica beirando uma estrada pavimentada é assimilada tão naturalmente a ponto de você acreditar no que está diante dos seus olhos. A contemplação é onipresente no jogo, e as primeiras viagens de carro obrigatórias para cada localização são só a primeira demonstração do potencial da coisa. Noctis e seus amigos viajam esboçando diversos comportamentos, cada um aproveita a viajam como lhe convém, e você como espectador é gratificado com momentos de aproximação e descoberta maravilhosos.
A vastidão do mundo presenciado é mais admirável do que explorável e o problema não é pela falta de conteúdo, há bastante coisa espalhada por vários locais, especialmente coletáveis, mas o que encontramos dificilmente motivam a exploração espontânea. Talvez a grande sacada esteja no quanto é magnifico o mundo fantástico de FFXV e como este consegue transportar você e dar relevância a tudo ao seu redor, e por incrível que pareça, você sente prazer no que está fazendo mesmo quando mal recompensado.
A primeira vista as mecânicas de batalha de FFXV parecem confusas, mas em questão de pouco tempo você pega o jeito e percebe sua genialidade. Tem ação do começo ao fim de cada batalha, Noctis se movimenta como um relâmpago, e defere ataques com movimentos impactantes orquestrados por você. Para manter o equilíbrio das batalhas, existe uma barra de PM (pontos de magia) sendo consumida pela esquiva, arma e demais recursos que necessitarem. O consumo precoce ou indevido de PM pode ser amenizado indo aos locais marcados para teletransporte, uma das especialidades de Noctis. A recuperação deve ser levada em consideração sempre que possível para evitar danos na segunda parte da barra de PV (pontos de vida), caso contrário sua barra será comprometida de acordo com o dano levado, e você será obrigado a usar uma Elixir.
Noctis é a peça chave das batalhas, enquanto seus amigos dão suportes variados, podendo inclusive serem requisitados para ataques sincronizados. As batalhas são simples de serem conduzidas, mas complexas em termos de efetividade. O tempo ideal é bastante explorado nas batalhas, esquivar no momento certo poupa PM, PV e ainda posiciona seu personagem de forma eficaz. Os benefícios da precisão são muito recompensadores, e se você ainda souber lidar com as características estratégicas de armamentos, magias, acessórios e roupas, terá grandes vantagens.
A evolução dos personagens é diferente do que estamos acostumados, e ao invés de acumular experiência e evoluir consequentemente, é preciso descansar para contabilizar toda a exp adquirida. Através de um conceito de pausas “necessárias” o jogo influencia você, principalmente durante a noite, a procurar o acampamento ou motel mais próximo. Ao optar por alguma das possibilidades de descanso, sua exp é finalmente contabilizada. Em acampamentos a prática é mais interessante, possibilitando a utilização das habilidades culinárias de Ignis, capazes de beneficiar todo o grupo com buffs variados conforme a receita escolhida. Assim como Ignis, cada personagem possui uma habilidade única, e quanto mais você conseguir explorá-las, melhor elas ficam. Aprimorar as habilidades de cada personagem sempre que possível desencadeia vantagens individuais que acabam beneficiando a todos.
Alguns consideram as dezenas de horas da campanha (~50 horas) pouco se comparado aos jogos anteriores da franquia, mas não entre em pânico! As missões secundárias contabilizam dezenas de horas adicionais, isso sem falar na quantidade de coisas além que você pode fazer como: coletar vários tipos de itens, batalhar entre inimigos especiais, explorar meticulosamente cada pedacinho do mapa, investir na obtenção de PA (pontos de ascensão) para aprimorar ao limite sua árvore de ascensão, e muito mais… FFXV é um jogo rico em conteúdo, mas também não chega a ser incrível em tudo que se propõe a oferecer. Se levarmos em consideração as missões secundárias, muitas são superficiais e repetitivas, e poucas vezes oferecem recompensas envolventes.
É difícil não se encantar pela beleza do jogo, arrebatadora mesmo quando parece menos trabalhada. Tecnicamente falando dos visuais, seu padrão gráfico provavelmente ficará datado rapidamente com o passar dos anos, embora sua personalidade sempre conseguirá passar sensações de admiração. A maneira que o jogo visualmente coloca você em um estado de êxtase é de tamanha competência.
A maravilhosa Yoko Shimomura sabe transportar direto para os nossos ouvidos a personalidade audível do universo do jogo com canções feitas cuidadosamente para cada momento, seja ele de menor ou maior escala. As sensações mais diversas serão despertas pela trilha sonora no momento exato. Apreciadores das belas canções de toda a franquia poderão comprar os discos de cada jogo anterior para escutar no Regalia. Tem como a sua viagem ser entediante? É muito amor a cada parada.
Defender que durante os 10 anos de desenvolvimento, independente das condições do processo, os produtores acreditaram no potencial do que estavam fazendo em Final Fantasy XV é uma das razões do jogo conquistar um marco para a franquia. FFXV entrega bastantes sentimentos, algumas vezes em seu enredo, muitas na sua serenidade. As falhas presentes poderiam ter ofuscado o seu brilho se ele não fosse tão radiante quanto um belo dia ensolarado.
Final Fantasy XV foi lançado no PlayStation 4 e Xbox One. Análise feita a partir de uma cópia da versão PS4 cedida pela assessoria de imprensa da Square Enix.