Análise Granblue Fantasy: Relink (PS5)
Granblue Fantasy Relink viveu a beira da morte, renasceu com gameplay divertido e personagens interessantes, mas falha na forma de contar sua história.
Sempre que nos deparamos com um projeto promissor que sofre maus bocados durante sua fase de desenvolvimento, sempre ficamos com aquela sensação de que as chances de o projeto ainda ser bom, são pequenas! Granblue Fantasy: Relink, que finalmente será lançado em 1º de fevereiro de 2023, para PlayStation 5, PlayStation 4 e PC, é um desses casos.
Para quem não se lembra, o jogo foi anunciado em 2016, em uma parceria da Cygames com a Platinum Games, prometendo ser uma grande JRPG de ação ainda para PlayStation 4.
Bom, apesar de seu início promissor, deixando todos os fãs, não só da franquia, mas do gênero, muito empolgados, durou pouco. Mesmo após uma demonstração de gameplay no ano seguinte de seu anúncio, em fevereiro de 2019, a Platinum Games deixou o jogo por completo, anunciando que não teria qualquer tipo de envolvimento ao longo do projeto, e claro, isso deixou todos com um baita pé atrás e receio de que o promissor projeto pudesse ser abandonado.
Após a desenvolvedora japonesa deixar o projeto, ele foi adiado para 2022 e depois para 2023, passando por um longo período de silêncio absoluto, levando os fãs a acreditarem que o projeto nunca veria a luz do dia.
Mas, após o longo silêncio, novas informações sobre o jogo finalmente começaram a aparecer, ganhando uma projeção de lançamento para 2024. Porém, mesmo com os lindos trailers, é fato também, que todos ainda tinham um pé atrás, devido ao longo período e conturbado de desenvolvimento, além disso sempre foi difícil acreditar que o jogo ainda conseguiria alcançar o mesmo escopo de projeto que havia sido prometido lá trás.
Mas, e aí, será que mesmo depois de tantos buracos, Granblue Fantasy: Relink cumpre a promessa de ser um dos melhores JRPG já feito?
O que é?
Para quem não conhece, a franquia Grablue Fantasy é bem conhecida no mercado japonês e para os fãs de jogos de luta, além disso, ela ainda possuí mangás e até um anime. Eu confesso, que nunca fui uma pessoa ligado a franquia, nem mesmo para com os jogos de luta, que inclusive recentemente ganhou um novo jogo em dezembro de 2023, fazendo até grande sucesso, principalmente no mercado brasileiro, recebendo campeonatos patrocinados por grandes empresas nacionais.
Mas, desde o anuncio de Relink, o jogo sempre possuiu minha atenção, principalmente pelo foco em uma história focada na narrativa e ação, além de prometer aprofundados sistemas de RPG e um foco em seus personagens que sempre esbanjaram carisma.
A história
A narrativa começa com os amigos a bordo do navio voador “Grandcypher”, você sob o controle do capitão ou capitã dessa turma, busca seguir para ilha de Estalucia, e levar uma garota com poderes especiais chamada Lyria. Mas, durante o caminho até o destino, algo inesperado acontece e a jornada da equipe que seguia tranquila, passará por uma enorme tribulação que contará com a união dos amigos, e novos aliados, em busca de respostas de tudo que vem acontecendo com um membro da equipe.
Isso tudo somada, a uma inimiga que surge com grande interesse em um integrante do grupo, que pode ser a chave da libertação de uma força maligna, capaz de destruir que existe.
Como de costume, eu não irei me aprofundar em detalhes da história, pois creio que você deve descobrir sozinho, além do mais, os próprios trailers foram bem tímidos na revelação destes mistérios então farei o mesmo.
Mas fato que é que a história de Granblue Fantasy: Relink, é boa, mas demora para empolgar e quando empolga, já acabou, ficou confuso? Vou explicar – Eu acredito que ela extremamente falha em como ela é inserida para o jogador. Como assim? Como eu disse, você já começa abordo com a equipe no navio, sem nenhum tipo de explicação prévia de como foram parar ali, nem mesmo de quem são aquelas pessoas. É claro que o jogo faz um bom trabalho em aos poucos ir demonstrando as características de cada personagem, mas você descobre muito pouco sobre seus passados e como acabaram unidos, porque o jogo deixa claro que além de unidos, eles são extremamente íntimos.
Sinto que faltou esse pedaço como acontece em Tales Of Arise, quando você inicia sozinha e aos poucos vai encontrando os aliados, onde é demonstrado a motivação de cada um, até chegar no objetivo em comum. Aqui tudo é feito de forma apressada demais e você fica completamente perdido, principalmente no início da história.
Em Granblue Fantasy, você controla o capitão da turma que é chamado exatamente desta forma “capitão”, bom, na verdade você pode até dar um nome para ele, já que o jogo oferece essa opção de customização, onde o nome inserido sempre irá aparecer nos diálogos, porém, sempre será chamado de capitão, e isso ainda vai além, mas explico daqui a pouco. Mas assim como os outros, nada é explicado, nem mesmo para o ponto principal da narrativa.
O jogo até tentar oferecer um background para seus principais personagens, com um campo de “histórias de personagens”, onde pode ser acessado a qualquer momento nas cidades que você passa durante a jornada, mas sinto que foram feitos extremamente às pressas, já que são apenas textos, alguns bem longos inclusive, que você pode ler para entender melhor a união da equipe. Mas, mesmo essa tentativa eu a julgo como algo ruim, pois acaba sendo algo extremamente denso e, de difícil compreensão, já que não existe nem mesmo animações para auxiliar o que está sendo contado, como são em mangás por exemplo.
Sei que parece que não gostei da história, mas não é verdade, minha lamentação é exatamente porque tudo que é apresentado ao longo da jornada é ótima, e a narrativa é competente ao internar bem o jogador sobre o que está sendo contado nessa história especificamente, isso aliado a seus excelentes personagens. Mas faltou um introdução.
A alma do jogo
Assim que terminei a campanha de Granblue, depois de 17 horas, algo que definitivamente ficou em minha mente, foram seus personagens. E existe dois pontos aqui, o positivo – que mesmo com uma campanha enxuta para esse estilo de JRPG, o jogo consegue fazer você se interessar por todos seus personagens e se importar com cada um de forma diferente. Eles possuem personalidades diferentes e funções diferentes que somadas casam perfeitamente.
Por exemplo, Katalina: É a típica soldada, que é focada em fazer tudo de forma correta e leal aos princípios de servir e proteger, mas deixa escapar de vez em quando que é meiga e preocupada com os amigos, “IO”, é jovem e cheia de vida, engraçada e focada do seu jeito, esbanjando carisma com diálogos engraçados e, em determinados momento, até fofo, e por assim vai.
O lado negativo, é que a franquia Granblue é conhecida por ter diversos personagens, e ao longo da jornada, você irá descobrir a função de “contratar tripulantes”, ou seja, inserir novos personagens ao grupo, mas achei isso um tanto desnecessário. Eu sei que ela agrega gameplay, já que cada um possui um estilo de jogo diferente e isso é ótimo, mas depois que você inicia com aquele grupo carismático, é muito difícil você se importar com outros “intrusos”, não sei se irá ser assim para todos, mas foi assim para mim.
É claro que isso pode variar de pessoa para pessoa, pois quem é fã da franquia, vai encontrar personagens que gosta ali e com certeza vai fazer com que eles se juntem ao time, mas, para mim, não! Me mantive ao time original até o fim, exceto alguns experimentos rápidos que fiz. Mas, são de fato bem recompensadores, dos que testei, eles são fortes e possuem habilidades bastante diversificadas.
Dito isso, eu amei a equipe de “aeroviajantes”, e apesar da frustação de não conseguir saber mais deles, eu fiquei feliz com o que foi me oferecido até o fim da jornada, com certeza este grupo vai ficar em minha mente durante um tempo.
Gameplay divertida e variada
Outro enorme acerto, é todo seu esquema de gameplay. Apesar de simples, por não oferecer nada original que você já não tenha visto em outros jogos do gênero, ele é extremamente capaz ao oferecer uma ótima variedade de inimigos. Principalmente as lutas de chefes que são sempre batalhas empolgantes que oferecem algumas surpresas, como uma boa gama de habilidades para os personagens controláveis do jogo.
Como dito antes, você pode controlar todos os personagens do jogo ao longo da jornada, eu não sei como funciona isso no fim do jogo, pois, o capitão “original” é fundamental para o andamento da história, mas você pode jogar com os outros personagens e isso claro oferece uma diversidade grande de gameplay, além de um forte fator replay.
Cada personagem possuí características especificas: alguns são focados em combate corpo a corpo, outros em magias que oferece um jogo mais a distância, além de alguns que pode funcionar como um tipo de tanque ou suporte.
Cada um possuí uma árvore de habilidade únicas. Claro que alguns itens são iguais, como aumentar vida, resistência e afins, mas cada personagem possuí ataques especiais, que diferenciam muito um personagem para o outro. Ao apertar R1, você abre uma lista de habilidades extras que auxiliam muito no combate, pois variam como um tipo de golpe forte, um arremesso de magia ou cura para o grupo, e essas habilidades após serem usadas, necessitam de um tempo de carregamento que varia de uma para outra. De resto, é tudo padrão, com ataque padrão e forte, pulo e esquiva.
Além disso, as armas dos personagens podem ser aprimoradas no ferreiro, ou conforme você sobe de nível, ou termina determinadas quests, consegue liberar novas armas que podem ser forjadas para todos os membros do time, uma específica para cada personagem.
Eu joguei no normal e devo dizer que após metade da aventura, o jogo se tornou um pouco desafiador, contanto com algumas mortes, principalmente no último boss, então fique ciente que é necessário dar uma “farmada” de nível ao longo do jogo, para que você não sofra tanto.
Aliada aos personagens, eu digo com tranquilidade que seu gameplay foi algo que me manteve focado ao jogo. Apesar de haver sim algumas reciclagens, os combates são divertidos, bem animados e contam com aqueles momentos bem animes, com a junção dos poderes de os personagens que funciona quase um golpe especial de um jogo de luta, que é lindo de ser ver e empolgante de fazer.
E um último adento nesse ponto, é que o jogo em determinados momentos dá uma grande exagerada na quantidade de efeitos de magia na tela, por alguns momento, você não faz a mínima ideia do que estava fazendo, ás vezes perdendo até seu personagem de vista. É claro que visualmente impacta e os golpes são bonitos de se ver, mas acho que poderia ser um pouco menos.
Estrutura que pode decepcionar
Como dito antes, a Cygames prometeu um grande JPRG, e para mim, na grande maioria ele entrega, mas tenho certeza que sua duração por exemplo, irá decepcionar muita gente. Como disse, eu terminei a campanha e o prólogo com 17 horas, e poderia até feito com menos. Eu sei que existe um grande debate sobre duração em jogos e sou do time “menor melhor”, mas sei que os amantes do gênero gostam de jogos longos e mais complexos em sua estrutura de RPG e não é caso. Tudo é muito simples e prático, podendo ignorar por completo alguns itens que você possuí. É um jogo bem direto ao ponto e sinto que isso pode deixar muitos fãs tristes.
Isso se reflete muito em sua estrutura de missões secundárias, para mim elas deveriam ser chamadas de atividades paralelas, porque é exatamente o que são. Todas as disponíveis você irá conseguir fazer somente seguindo a história principal, porque são coisas do tipo mate tanto tipos de inimigos, ou colete determinado item. Nada profundo, com uma história dedicada ou algo do tipo.
Na questão de conteúdo, é um jogo decepcionante, se você somar a campanha, as atividades, e as missões que podem serem feitas em co-op, eu não acredito que você irá passar de 30 horas. Em conversa com um fã por exemplo, ele tinha expectativa de uma campanha de 40 horas. Então é claro que haverá sim uma quebra de expectativa e realidade que não sei o quanto pode impactar.
Sinto que esse não era o desejo do time inicialmente, mas devido aos inúmeros problemas de desenvolvimento que o jogo sofreu, isso com certeza afetou seu conteúdo, levando o time a focar mais em qualidade do que quantidade, o que achei uma decisão inteligente. Mas o que é bom e o que é ruim, vai de cada um.
Bonito de ver e bom de se ouvir
Se existe que é quase impossível de acontecer, é encontrar um jogo japonês que não tenha uma trilha sonora marcante e bonita, e aqui, não é diferente. Apesar da trilha ser um pouco tímida em alguns momentos, ela consegue ser marcante e cativar de uma sútil e se tornar algo muito presente e impactante nas lutas de chefes.
Além disso, o jogo segue os padrões de visual anime, mas nem por isso não deixa de esbanjar beleza. É fato que os cenários são simples, sem muitos detalhes, mas é sempre vibrante com cores fortes e por conta da boa variedade de biomas, tudo fica lindo na sua TV ou monitor.
Isso ainda se soma as boas expressões faciais do personagens, suas roupas e visuais de chefes que apesar de não ser algo tão original, mas assim como outras coisas que já citei, possuem muita identidade que combina perfeitamente com a proposta dos personagens.
Embora, eu devo destacar que ele decepciona na questão de desempenho. Não digo que o jogo possua bugs, porque ao longa de toda minha jornada eu não sofri um único bug ou crash, porém, caso você opte em jogar no modo desempenho priorizando 60 fps, saiba que a resolução cai para 1080p o conhecido Full HD, isso no PlayStation 5, onde joguei o game.
Não sei dizer se o modo gráfico que prioriza o 4k, e foi o modo em que joguei, realmente atinge a resolução, mas os 30fps se mantém, exceto em raras exceções, quando tem muitos inimigos na tela e devido a quantidade de efeitos que o jogo tem, é quase impossível o console processar tudo ao mesmo e dá uma quedinha, mas não chega a atrapalhar.
Em português do Brasil
Algo que sempre costuma destacar é se o jogo está localizado em português do Brasil, e com muita felicidade digo que está 100% localizado. O jogo não contém dublagem, o que é uma pena, mas o trabalho da localização é muito bem feito, com o uso até de algumas gírias brasileiras que são bem vinda para adaptar um diálogo para nosso idioma. E fico ainda mais feliz com a tradução do jogo, por ser um jogo japonês que em sua maioria, infelizmente não chega localizado ou chega somente meses depois.
Vale a pena?
Claro que valer a pena ou não é subjetivo e neste caso ainda mais, já que existe o apelo emocional por ser uma franquia que traz muitos fãs, mas para mim foi uma ótima experiência. O jogo não apresenta nada fora do comum e não creio que se tornará um jogo que será um marco para os JPRG, mas irá divertir os fãs e amantes de jogos de ação.
Sua beleza visual, seu gameplay divertido e principalmente seus personagens cheios de personalidade, me empolgaram na medida certa ao longo de todo jogo e diferente de outros jogos do gênero, sinto que ele acabou quando tinha que acabar, mostrando ter sido sábia a decisão de ir direto ao ponto.
É claro que um pouco mais de cuidado com o desenvolvimento de sua narrativa fez falta, pois de fato há potencial neste mundo, ele consegue compensar.
Mas reforço, caso você seja uma pessoa que acha que irá encontrar algo único e especial e com muito conteúdo, eu digo para que contenha as expectativas, porque se é isso que busca, irá se decepcionar.
A análise de Granblue Fantasy: Relink foi escrita com base em uma cópia de review gentilmente cedida pela Nuuvem. Jogo disponível para PC, PlayStation 4 e PlayStation 5. Acesse o link e garanta o seu.