Análise Graveyard Keeper (PlayStation 4)
Com um toque leve de humor negro, Graveyard Keeper é uma excelente novidade para o gênero de gerenciamento de fazendas popularizado por Harvest Moon e Stardew Valley.
Quais elementos compõem um bom jogo de gerenciamento de fazenda? Gráficos bonitos são obrigatórios, o loop de gameplay precisa ser divertido e quanto mais recompensa melhor para manter os jogadores presos a uma sucessão de tarefas que irão representar trabalho braçal, basicamente. Curiosamente, eu não imaginava que autópsia de cadaveres também pudesse compor essa lista características positivas.
O pulso
Numa bela noite, nosso protagonista barbudo está voltando pra casa quando é atingido por um carro e transportado para a era medieval, sabe-se-lá em qual ano. Uma figura sombria o instrui a desenterrar Gary, um crânio falante que foi sepultado atrás da casa em que estamos. A partir daí temos um burro entregando cadáveres, um padre como chefe e um cemitério acabado pra ser consertado enquanto funciona.
Não há como evitar compará-lo com Stardew Valley mas apesar do visual em pixel art, muitos elementos separam esses dois jogos. A começar pela criação de personagem; todos os jogadores controlarão o mesmo cuidador do cemitério já que opções de customização são inexistentes aqui. Uma segunda diferença um tanto negativa está nas animações simples que aparecem quando precisamos cortar madeira, quebrar rochas ou consertar lápides.
Esses dois “defeitos” são coisa boba frente a todo conteúdo apresentado no jogo que possui diferenças mais positivas além da óbvia. Graveyard Keeper é um jogo bem mais complexo de gerenciar, por exemplo. Enquanto em Stardew Valley a ação principal de cultivar lavouras é bastante direta – compra as sementes, prepara o solo, planta e colhe – cuidar do cemitério vai exigir que o jogador faça uma série de preparações prévias. Isso porque apenas enterrar os pobres coitados trazidos pelo burro não configura gerenciar o lugar, ao contrário, soterrar os defuntos só piora a qualidade do cemitério caso não haja, por exemplo, uma cruz de madeira ou sequer um marcador acima da cova. Aí é que conhecemos o intrincado sistema por trás do jogo que envolve conhecimento natural e sobrenatural.
Cemetery Gates
Graveyard Keeper possui um sistema tradicional de habilidades que podem ser desbloqueados com pontos obtidos em ações distintas. Aliás, habilidades que na prática são tecnologias ligadas a algumas áreas como construção, carpintaria, conhecimentos naturais e teologia. Cada objeto construído ou recurso coletado dará ao jogador pontos em três categorias distintas: construção (vermelho), natureza (verde) e fé (azul). Os dois primeiros são os mais simples e depois de juntar alguma quantidade de madeira e frutas, já será possível trocar os pontos pela habilidade de construir uma bancada de marcenaria ou uma fornalha, recursos necessários para obter tábuas e pregos além de peças metálicas que serão usadas para construir (veja só) as benditas cruzes de madeira e reparar as que estão quebradas no cemitério.
A maioria dos objetos mais refinados irá exigir bastante trabalho prévio e isso transforma Graveyard Keeper num gerenciador muito mais robusto e que talvez demore para agradar as pessoas que, como eu, tinham Stardew Valley como única referência no gênero.
Após todo esse trabalho inicial no cemitério – acredite, não é pouco – temos acesso à terceira categoria do jogo: fé. A essa altura, tudo que podia ser desbloqueado na árvore de tecnologias com pontos vermelhos e verdes já terá sido obtido mas várias melhorias estarão trancadas atrás de pontos azuis que só conseguiremos ao gerenciar além do cemitério, a igreja local. Isso adiciona um compromisso semanal a nossa rotina e adivinhou quem pensou em mais um sistema pra gerenciar porque é isso mesmo que recebemos. Temos pontos de fé, itens que representam nossa habilidade como orador e uma bancada de estudo pra aprender mais tecnologias ao custo de pontos de ciência. Não pare pra pensar porque as missas não vão se rezar sozinhas!
O Caminho da Escada e da Corda
Além do cemitério, existe um vilarejo com NPCs trabalhando em diversas funções. Tem ferreiro, granja, serraria (entre outros) e uma estalagem onde iremos vender as certidões de óbito recebidas a cada sepultamento. É nesse lugar chamado Cavalo Morto que iremos receber parte das missões secundárias dadas pelos moradores, ou ser informados de requisitos para completar tarefas do nosso próprio interesse. Você vai precisar, por exemplo, de um selo real para conseguir vender seu estoque de carne conseguida “você-sabe-como”.
Além das suas demandas, os NPCs também possuem rotina determinada em dias da semana, que por alguma razão, possui 8 dias identificados por símbolos mostrados no canto superior esquerdo da tela. Eu demorei pra entender como funcionava o ciclo de dia/noite e a marcação dos dias porque o ciclo não interfere nas tarefas do jogador, apenas a quantidade de energia disponível, isso faz com que seja possível trabalhar por quantos dias forem possíveis desde que o personagem não esteja com a barra de resistência vazia. Mais um sistema pra gerenciar pois o preparo de comida exige combustível (lenha ou gravetos) também conseguidos das matérias primas usadas em todo o resto. Ninguém disse que cuidar do cemitério seria fácil.
Pra nossa sorte, o jogo está totalmente localizado para português brasileiro o que torna a nossa jornada por essa quantidade de missões e informações um pouco mais fácil, mas não muito. É comum ter que consultar o menu de tecnologias repetidas vezes pra se certificar de que a construção que estamos vendo disponível num canteiro é de fato a que queremos e que nos permitirá produzir pregos, por exemplo. E em Graveyard Keeper nós somos a pessoa que irá construir todas essas coisas, em vez de um NPC.
Now That We’re Dead
Talvez esse review possa afastar quem olhou pra Graveyard Keeper apenas como um “Stardew no cemitério” e devo confessar que essa era minha impressão inicial, só que apesar da premissa semelhante, o jogo da Lazy Bear é tão diferente que é impossível não recomendá-lo exatamente por isso. A complexidade das tarefas desse jogo, a diferença nos ciclos e a objetividade na interação com os NPCs agregam muito bem aquilo que é o maior atrativo e objetivo final desse gênero de jogo: manter o jogador ocupado pelo maior tempo possível. Recomendadíssimo.
A análise de Graveyard Keeper foi feita com uma cópia do jogo fornecida pelo desenvolvedor.